Cânhamo

Variedade de maconha com baixo ou nenhum nível THC
 Nota: Para outros significados de Cannabis, veja Cannabis.

Cânhamo, cânave (Cannabis sativa L. ) ou cânhamo industrial são variedades da planta Cannabis sativa[1] e a fibra que se obtém destas, que tem, entre outros, usos têxteis. Além de tecidos, o cânhamo é utilizado na fabricação de papel, cordas, alimentos (principalmente forragem animal) e para a fabricação de óleos, resinas, cerveja e combustíveis.[2]

Fibras do caule do cânhamo

Em muitos países, os limites máximos de concentração do psicoativo tetrahidrocanabinol (THC) no cânhamo são fixados por lei, o que estimula o cultivo de linhagens da planta com baixo nível de THC ou mesmo a remoção dessa substância das plantas.[3]

Colheita do cânhamo

Cultivo editar

Muito cultivado em várias partes do mundo, inclusive na Europa, onde a União Europeia em 1998 o legalizou e autorizou inclusive o subsídio ao linho de cânhamo. Não existem limitações quanto ao seu cultivo, sendo apenas necessário informar o Ministério da Agricultura e as autoridades nacionais e locais. Não confundir com a marijuana, cujo teor de THC é bem superior ao do cânhamo, apesar de ambos pertencerem ao mesmo género, Cannabis.

Em Portugal existiu uma única empresa especializada, a "Cânhamo de Portugal, Ltda.", estatal, que prestava apoio ao agricultor no que ele necessitasse em todo o processo, desde a compra de sementes até à venda da produção. À data de 2016, existia uma cooperativa de agricultores interessados em relançar Portugal no cultivo de cânhamo, a CANAPOR.

Portugal editar

O cultivo de cânhamo em terras portuguesas iniciou-se por volta do século XIV e seguintes, pois era matéria-prima para a preparação de cabos e velas para as embarcações portuguesas. Nas colônias portuguesas, foram criadas feitorias para produção de linho de cânhamo, como a Real Feitoria do Linho Cânhamo no Brasil.[4]

Depois da Restauração da Independência, em 1640, a fim de recuperar a combalida frota naval portuguesa, incentivou-se o seu cultivo, conforme o decreto real de D. João IV, em 1656. Nessa altura, o seu cultivo era realizado em Trás-os-Montes, na zona de Torre de Moncorvo, mais precisamente no Vale de Vilariça. Nessa zona, existem terras férteis para qualquer cultivo de regadio, sendo essa uma área muito grandee plana. A zona situa-se entre o vale da Serra de Bornes.[carece de fontes?]

Em 1971, esta cultura foi considerada ilegal devido à maconha, uma decisão posteriormente revogada pela União Europeia.

Entretanto, em 2013 foi criada uma cooperativa (CANAPOR) para recomeçar o cultivo do cânhamo em Portugal.

Em 2015, foi Fundada a AgroCan, Agricultura e todos os processos ao Escoamento de Cânhamo.

Utilização editar

A planta é integralmente utilizada para os mais diversos fins, mas destaca-se especialmente a sua fibra, também chamada de "filame", muito usada na indústria de papel, pois um hectare de cânhamo produz o mesmo que quatro hectares de eucaliptos, num período de vinte anos.

 
Fibras de cânhamo

A indústria têxtil também é um bom mercado para o cânhamo, por este ser cinco vezes mais resistente que o algodão, e com seus longos feixes de até 4,5 m é usado para fabricar cordas e amarras de navios, pois são bastante resistentes.

Uma patente italiana introduziu em 2019 o primeiro cânhamo elástico do mundo, chamado "Herotex". O cânhamo elástico é composto por 92% de cânhamo, 4% de licra e 4% de poliéster e demonstrou uma respirabilidade recorde de 2165 g / (m2 x 24 horas) em laboratório.

Da semente, extrai-se um óleo muito usado na indústrias de cosméticos como base para cremes, xampus ou óleos hidratantes - entre outros produtos de cuidado pessoal -, na indústria mecânica (para vernizes, lubrificantes, combustíveis, tintas e outros produtos), bem como para a alimentação e nutrição humana e animal, em óleo, tempero, margarina, flocos de cereais, snacks, entre outros.

Alimentação editar

As sementes de cânhamo podem ser ingeridas cruas, preparadas junto de outros alimentos, germinadas, transformadas em leite de cânhamo ou sob forma de chá. Também podem ser usadas para cozinhar. As folhas frescas podem ser consumidas em saladas. Produtos já produzidos com cânhamo incluem cereais, waffles, tofu, creme, óleos, farinhas, bolos, suplementos em pó, cereais orgânicos, leite e até mesmo sorvetes.

No Reino Unido, o cânhamo ainda não é tratado como uma cultura para alimentação, porém podem-se comprar sementes no mercado alimentício legal, e licenças para cultivo estão disponíveis para este propósito. Uma pesquisa de 2003 mostrou que mais de 95% de todas sementes de cânhamo vendidas na União Europeia eram usadas para alimentar animais (sob a forma de sementes para pássaros ou iscas para peixes).

Nutrição editar

Aproximadamente 44% do peso total da semente de cânhamo é composto por óleos comestíveis, contendo cerca de 80% de ácidos graxos essenciais, tais como o ácido linoleico, ômega-6, ômega-3 ou o ácido estearidônico. Proteínas, incluindo a edestina, são o segundo principal componente das sementes e ainda assim perdem apenas para soja em sua concentração(33%). Os aminoácidos da semente de cânhamo são tão "completos" quanto fontes comuns de proteínas, tais como o trigo, o leite, os ovos e a soja.[5] A proteína do cânhamo contém todos os 20 aminoácidos conhecidos, incluindo os nove essenciais[6] que os indivíduos adultos não podem produzir.

As proteínas são consideradas completas quando contêm todos os aminoácidos essenciais, em proporções e quantidades suficientes para atender às necessidades do organismo.[7] A quantidade de ácido linoleico e ácido alfa-linoleico contida em uma colher de sopa (15 ml) por dia de óleo de cânhamo supre as necessidades diárias de aminoácidos essenciais do organismo humano.

Diferentes variedades de cânhamo possuem diferentes concentrações do psicoativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC).

Produção mundial editar

Atualmente os maiores produtores são.

  • A China, considerada o maior exportador mundial de têxteis e papel de cânhamo;
  • A França, que em 1994 colheu mais de dez mil toneladas, com crescente aumento da produção.

No que se refere à ampliação de semeadura agrícola, no ano de 1999 observou-se o crescimento na área de plantio em alguns países, como:

  • A Romênia que, nesse ano, semeou 40000 acres;
  • O Canadá, com 30000 acres;
  • O Reino Unido, com apenas 4000 acres, mas com muito boas perspectivas de crescimento para os anos seguintes.
 
Mecanização da colheita de cânhamo

Produção em toneladas: 2003-2004
Dados da FAOSTAT (FAO)

China 23000 79 % 24000 79 %
França 4300 15 % 4300 14 %
Chile 1250 4 % 1250 4 %
Rússia 200 1 % 300 1 %
Turquia 150 1 % 150 < 1 %
Ucrânia 150 1 % 150 < 1 %
Roménia 100 < 1 % 100 < 1 %
Hungria 40 < 1 % 40 < 1 %
Polônia 15 < 1 % 15 < 1 %
Espanha 8 < 1 % 8 < 1 %
Sérvia e Montenegro 2 < 1 % 2 < 1 %
Total 29215 100 % 30315 100 %

Ver também editar

Referências

  1. Pollio, Antonino (1 de outubro de 2016). «The Name of Cannabis: A Short Guide for Nonbotanists». Cannabis and Cannabinoid Research (1): 234–238. ISSN 2378-8763. PMC 5531363 . PMID 28861494. doi:10.1089/can.2016.0027. Consultado em 30 de agosto de 2021 
  2. Hemp Industries Association. How is industrial hemp used? Basic Uses of Industrial Hemp: Food, Fuel, Fiber Arquivado em 10 de outubro de 2013, no Wayback Machine.. Por Mari Kane.
  3. «Industrial Hemp». Agriculture and Agrifood Canada. Government of Canada. Consultado em 28 de fevereiro de 2013 
  4. JOHANN, Renata Finkler. Na trama dos Escravos de Sua Majestade: o batismo e as redes de compadrio dos cativos da Real Feitoria do Linho Cânhamo (1788-1798) Trabalho de conclusão de curso. UFRGS, 2010. PDF
  5. Callaway, J. C. (1 de janeiro de 2004). «Hempseed as a nutritional resource: An overview» (PDF). Kluwer Academic Publishers. Euphytica. 140 (1-2): 65–72. doi:10.1007/s10681-004-4811-6. Arquivado do original (PDF) em 4 de novembro de 2013 
  6. Characterization, amino acid composition and in vitro digestibility of hemp (Cannabis sativa L.) proteins. Por Xian-Sheng Wanga, Chuan-He Tanga, Xiao-Quan Yanga, Wen-Rui Gaob. Food Chemistry, volume 107, n° 1, 1° de março de 2008, P. 11–18.
  7. ROBINSON, ROWAN. O Grande Livro da Cannabis. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.