Canella winterana

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Canella é um género monotípico de plantas com flor pertencente à família Canellaceae,[5] do grupo da magnoliídeas, cuja única espécie validamente descrita é Canella winterana, uma pequena árvore nativa das Caraíbas, onde ocorre desde as Florida Keys até Barbados. A sua casca é utilizada como planta medicinal e especiaria, sendo um sucedâneo da canela,[6] dando origem ao nome comum canela-branca.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCanella
Canella winterana
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante [1]
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
(sem classif.) magnoliídeas
Ordem: Canellales
Família: Canellaceae
Género: Canella
P.Browne, 1756
Espécie: C. winterana
Nome binomial
Canella winterana
(L.) Gaertn., 1788[2]
Sinónimos
Hábito de Canella winterana.

Descrição editar

Morfologia editar

Canella winterana é um arbusto de grandes dimensões, podendo alcançar o tamanho de uma pequena árvore, com 4 a 15 m de altura, com ritidoma (casca) acinzentado e escamoso, aromático, com numerosos ramos robustos de cor acinzentada, marcados por grandes cicatrizes orbiculares das folhas. Toda a planta é aromática, com um odor que evoca o cheiro da groselha-negra (plantas do género Cassis), mas que não deve ser confundido com a canela verdadeira (género Cinnamomum).

Espécimes de Canella atingem na Flórida uma altura de 8 a 9 metros, com um tronco reto de 20 a 25 centímetros de diâmetro. Nas montanhas da Jamaica, diz-se que atinge por vezes uma altura de 15 metros. Os ramos principais são delgados, horizontais e espalhados, formando uma copa compacta de estrutura arredondada. A casca cinzenta clara do tronco tem cerca de 0,3 cm de espessura, com a superfície dividida em múltiplas escamas curtas e grossas, raramente com mais de 0,6-0,9 cm de comprimento, e cerca de duas vezes a espessura da casca interior amarela pálida e aromática.[7]

A madeira de Canella é muito densa e extremamente dura, forte e de grão fechado, com numerosos raios medulares finos e imperceptíveis; é castanho-avermelhada escura, e o alburno espesso consiste em 25 a 30 camadas de crescimento anual, de cor castanha clara ou amarela. A gravidade específica da madeira absolutamente seca cultivada na Flórida é de 0,9893; um metro cúbico da madeira seca pesa 989 kg.[7]

As folhas são pecioladas, de filotaxia alterna, obovadas ou oblanceoladas, coreáceas, de coloração verde-escuro, pelúcido-puntadas, salpicadas de glândulas translúcidas, redondas ou ligeiramente emarginadas no ápice e contraídas num pecíolo curto, robusto e estriado. A lâmina foliar tem 3,5-5,0 cm de comprimento, 1,5-2,0 cm de largura, com a superfície superior mais escura, de um verde profundo, brilhante e lustroso, e a superfície inferior de coloração verde brilhante, mais claro e mate.

Flores dispostas numa panícula subcorimbosa terminal ou subterminal, multifloral, composta por várias cimas dicotomicamente ramificadas a partir do eixo das folhas superiores ou de minúsculas brácteas caducas. As flores são perfeitas, regulares, com 3 sépalas, de 2–3 mm de espessura, e pétalas imbricadas e persistentes, suborbiculadas, côncavas, coriáceas, erectas, com as margens ciliadas.

As pétalas são hipóginas, imbricadas, obovadas a oblongas, côncavas, arredondadas na extremidade e carnudas, com 5–6 mm de comprimento (cerca do dobro do comprimento das sépalas), de coloração vermelho brilhante, com uma base de coloração amarelada. As pétalas inserem-se em fila única sobre um recetáculo ligeiramente convexo.

As flores apresentam 10-20 estames hipogínicos, monadelfos, com filamentos unidos num tubo estaminal de 3–4 mm de comprido, crenulado no ápice, e ligeiramente estendidos acima das anteras lineares, que estão adnadas à sua face externa, e longitudinalmente bivalvuladas. As anteras são de cor amarela a alaranjada,

O estilete é curto, mas maior que o tubo estaminal. Apesar das flores serem hermafroditas, comportam-se como flores unissexuais. A floração dura de junho a setembro e os frutos amadurecem em março e abril, quando são de cor carmesim brilhante, macios e carnudos, e são comidos por muitas aves.[7]

Ovário livre, incluído no androceu, cilíndrico ou oblongo-cónico, unicelular, com duas placentas parietais, pouco ovulado; estilete curto, carnudo, com o ápice bipartido ou trilobado, estigmático; óvulos arqueados, horizontais ou descendentes, imperfeitamente anátropos, ligados por um funículo curto. [7]

O fruto é uma baga globosa ou ligeiramente ovalada, de cor verde, evoluindo para vermelho e, finalmente, quase negra na maturação, de 7–10 mm de diâmetro, carnudo, minuciosamente pontiagudo com a base do estilete persistente, indeiscente, com 2 a 5-sementes. Sementes reniformes, suspensas, de coloração negra brilhante, oblongas, de 5–6 mm de comprimento, com testa espessa, crustácea, negra brilhante; tegmen mole, membranáceo. Embrião curvo, próximo ao ápice da copiosa camada de albúmen oleofoliar, com a radícula próxima do hilo; cotilédones oblongos.[7]

Distribuição editar

O género Canella está amplamente distribuída, e não é incomum nas Florida Keys, onde foi descoberto pela primeira vez por John Loomis Blodgett. Cresce geralmente à sombra de árvores de maior porte em florestas densas compostas por Sideroxylon, Lysiloma, Swietenia, Bursera, Hypelate, Dipholis e Nectandra.[7]

A Canella foi uma das primeiras árvores americanas a atrair a atenção dos europeus e é mencionada nos relatos de muitas das primeiras viagens à América:[7]

«Encontrámos ali uma árvore cuja folha tinha o melhor cheiro a cravinho que alguma vez encontrei; era como uma folha de loureiro, mas não tão grande: mas penso que era uma espécie de loureiro
Diego Álvarez Chanca, janeiro de 1494.[8]

A casca branca, a folhagem verde profunda e brilhante e os frutos carmesim fazem da Canella uma das árvores mais ornamentais do sul da Flórida. Foi introduzida em Inglaterra em 1738, e foi cultivada pela primeira vez na Europa por Philip Miller.[7]

Fitoquímica e usos editar

Os tecidos desta espécie, em especial o ritidoma dos ramos juvenis e as folhas, são ricos em princípios activos, entre os quais se destaca o pentosano (16,7% em peso), o manitol (8,71% em peso), substâncias azotadas (8,5%), substâncias redutoras (16%), cinzas (7,4%), para além de pequenas quantidades de arabano, galactano e xilano.[9]

Em medicina tradicional a espécie é considerada como um aromático, estimulante, digestivo, estomacal, tónico e antiescorbútico. A casca macerada em solução alcoólica é usada em fricções contra o reumatismo. Cozida é usada para afecções do estômago, sendo igualmente ministrada como febrífugo. A espécie está incluída entre os estimulantes gerais e os afrodisíacos. É um dos ingredientes do vinho de ruibarbo da farmacopeia tradicional britânica, no qua se usa a casca.[9]

Taxonomia editar

Canella winterana foi descrita por L. Gaertn. e publicado em De Fructibus et Seminibus Plantarum. . . . 1: 373, t. 77, f. 2. 1788.[10]

O nome genérico Canella, diminutivo de cana, foi inicialmente aplicado à casca da cassia (Cinnamomum aromaticum), uma árvore do Paleártico, devido à forma de rolo ou pena que assumia ao secar, e foi mais tarde transferido para a árvore das Índias Ocidentais.[7] O género Canella foi ereto em 1756 por Patrick Browne.[11][12]

O epíteto específico winterana é um artefacto de um período em que esta planta foi confundida com a casca de Winter, Drimys winteri, que por sua vez foi assim designada em homenagem a William Wynter, oficial da Royal Navy.[13]

A espécie apresenta sinonímia variada, entre a qual:[14]

  • Canella alba Murray
  • Canella canella (L.) H.Karst.
  • Canella laurifolia Sweet
  • Canella obtusifolia Miers
  • Laurus winterana L. basónimo
  • Winterana canella L.
  • Winterana obtusifolia (Miers) Warb.

A espécie é conhecida pelos nomes comuns de barbasco, canela-branca e pau-malambo.[9]

Referências editar

  1. IUCN SSC Global Tree Specialist Group; Botanic Gardens Conservation International (BGCI) (2020). «Canella winterana». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2020: e.T181217390A181464875. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T181217390A181464875.en . Consultado em 7 Dezembro 2022 
  2. «Canella winterana (L.) Gaertn.». Agricultural Research Service (ARS), United States Department of Agriculture (USDA). Germplasm Resources Information Network (GRIN). Consultado em 10 de outubro de 2009 
  3. Linnaeus, Carl; Murray, Johan Andreas (1784). Systema Vegetabilium 14th ed. [S.l.]: Typis et impensis Jo. Christ. Dieterich. pp. 443–444. Consultado em 10 de outubro de 2009 
  4. Linnaeus, Carl (1753). «Laurus foliis enerviis obovatis obtusis». Species Plantarum. [S.l.: s.n.] p. 371 
  5. «Canella — World Flora Online». www.worldfloraonline.org. Consultado em 19 de agosto de 2020 
  6. Austin, Daniel F.; Honychurch, P. Narodny (2004). Florida ethnobotany. [S.l.]: CRC Press. pp. 162–164. ISBN 978-0-8493-2332-4 
  7. a b c d e f g h i Sargent, Charles Sprague; Faxon, Charles Edward (1891). The silva of North America. 1. Boston, New York: Houghton, Mifflin and company. pp. 35–38. Consultado em 11 de outubro de 2009  This article incorporates text from Sargent, which is in the public domain.
  8. Major, Richard Henry, ed. (1847). «A Letter addressed to the Chapter of Seville by Dr. Chanca, native of that city, and physician to the fleet of Columbus, in his second voyage to the West Indies, describing the principal events which occurred during that voyage». Select letters of Christopher Columbus. 2. [S.l.: s.n.] p. 23 
  9. a b c «Canella winterana». Plantas útiles: Linneo. Consultado em 23 de Novembro de 2015  |arquivourl= é mal formado: timestamp (ajuda)
  10. «Canella winterana». Tropicos.org. Missouri Botanical Garden. Consultado em 22 de maio de 2013 
  11. Canella in International Plant Names Index. (see External links below).
  12. Patrick Browne. 1756. The Civil and Natural History of Jamaica:275. T.Osborne & J. Shipton: London, UK. (See External links below).
  13. Woodville, William (1792). Medical botany. 2. London: James Phillips. p. 320 
  14. Canella winterana em PlantList

Bibliografia editar

  • ----. 1986. List-Based Rec., Soil Conserv. Serv., U.S.D.A. Database of the U.S.D.A., Beltsville.
  • Davidse, G., M. Sousa Sánchez, S. Knapp & F. Chiang Cabrera. 2013. Cycadaceae a Connaraceae. 2(1): ined. In G. Davidse, M. Sousa Sánchez, S. Knapp & F. Chiang Cabrera (eds.) Fl. Mesoamer.. Universidad Nacional Autónoma de México, México.
  • Flora of North America Editorial Committee, e. 1997. Magnoliidae and Hamamelidae. Fl. N. Amer. 3: i–xxiii, 1–590.
  • Hokche, O., P. E. Berry & O. Huber. (eds.) 2008. Nuevo Cat. Fl. Vasc. Venezuela 1–860. Fundación Instituto Botánico de Venezuela, Caracas.
  • Martínez Salas, E. M., M. Sousa Sánchez & C. H. Ramos Álvarez. 2001. Región de Calakmul, Campeche. Listados Floríst. México 22: 1–55.
  • Small, J. K. 1933. Man. S.E. Fl. i–xxii, 1–1554. Published by the Author, New York.
  • Wunderlin, R. P. 1998. Guide Vasc. Pl. Florida i–x, 1–806. University Press of Florida, Gainseville.

Ligações externas editar

 
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