Caranguejo-amarelo

O caranguejo-amarelo (Johngarthia lagostoma, syn. Gecarcinus lagostoma) é um caranguejo da família dos gecarcinídeos, também conhecido como caranguejo-ladrão. Possui carapaça amarela e patas alaranjadas, encontrado nas ilhas brasileiras de Trindade, Fernando de Noronha e Atol das Rocas, e na ilha britânica de Ascensão,[1] onde se constitui em importante predador de filhotes de tartarugas marinhas. Este tipo de caranguejo tem hábitos noturnos, quando adultos são terrestres, porém com desenvolvimento larval marinho, apresentam polimorfismo, com padrão de cores que variam do amarelo ao roxo.[2]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCaranguejo-amarelo
Caranguejo-amarelo
Caranguejo-amarelo
Estado de conservação
Espécie em perigo
Em perigo
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Superclasse: Crustacea
Classe: Malacostraca
Ordem: Decapoda
Família: Gecarcinidae
Género: Gecarcinus
Espécie: G. lagostoma
Nome binomial
Gecarcinus lagostoma
Milne-Edwards, 1835
Sinónimos
Gecarcinus lagostoma H. Milne-Edwards, 1837

Está ameaçado de extinção pela destruição de seus habitats, pelo turismo e por outras ameaças antrópicas, como introdução de espécie exóticas em Fernando de Noronha e Trindade.[3] No Brasil não existem muitas ações de conservação para o Johngarthia lagostoma, porém essa espécie é encontrada em locais com programa de conservação bem estabelecidos, como por exemplo, Parque Nacional e Área de Proteção Ambiental de Fernado de Noronha, mas não existe um plano de manejo e conservação específicos para essa espécie.[4]

Ecologia e conservação

editar

O caranguejo-amarelo é uma espécie insular endêmica de ilhas oceânicas do Atlântico Sul,[5] vulnerável à extinção, sendo afetada por diferentes pressões antrópicas, causadas pela perda, degradação e fragmentação do habitat que ocupa, colocando em risco sua conservação. A principal ameaça está relacionada à introdução de espécie exóticas, por incremento da agricultura e da urbanização, e devido a esse fato a população dessa espécie está sendo bastante reduzida. No final do século XIV, havia uma recompensa pela captura dessa espécie de caranguejo por causa de suas depredações nas lavouras, ocasião em que foram mortos mais de 80 mil caranguejos.[6] Antes da descoberta da ilha Ascensão e colonização no início do século XIX, o caranguejo J. lagostoma era o único animal terrestre grande, e dominava o ecossistema. Hoje compete com outras espécies introduzidas, especialmente ratos e coelhos. Há evidências de um declínio nos números ao longo dos anos dessa população, e uma escassez de juvenis na ilha de Ascensão.[6]

Existem níveis de variação genética de baixo a moderado nas populações encontradas nas ilhas, sendo geneticamente diferenciadas, e essa evidência sugere que, para fins de conservação, pelo menos três unidades de manejo devem ser consideradas: uma da ilha de Ascensão, uma segunda unidade em Trindade e uma outra que possa agrupar as ilhas do Atol das Rocas e Fernando de Noronha.[7] Mas vale ressaltar que um plano de manejo tem que ser bem elaborado, fazendo interação dos padrões espaciais de uso do solo, com a teoria de conservação e planejamento de reservas, pois ações erradas podem prejudicar ainda mais as espécies envolvidas.[8]

Ciclo de vida

editar

Os J. lagostoma quando juvenis e adultos são quase exclusivamente terrestres, as larvas são marinhas e planctônicas. Para libertar a sua descendência os adultos têm de migrar para o mar, são as fêmeas que transportam ovos maduros entram na água brevemente, agitam a massa de ovo, e os ovos eclodem e as larvas nadam afastada.[7] Os ovos são maiores do que em outras espécies de gecarcinídeos e, consequentemente, em menor número.

Na maioria dos membros da família gecarcinidae, a migração coincide com a estação chuvosa, o que reduz o risco de dessecação; nessa espécie o período de migração ocorre de janeiro até março, enquanto o pico de maior precipitação é em março.[7]

Os caranguejos viajam aproximadamente 450 metros por dia, e o acasalamento pode ocorrer em qualquer lugar ao longo da rota. A proporção de machos na migração vai diminuindo à medida que a migração continua. E também, a migração de adultos para áreas de reprodução torna-os vulneráveis a predadores terrestres.[7]

Descrição

editar

As espécimes adultas têm tipicamente 70-110 milímetros, Alimentam-se de folhas, sementes de amendoeiras, restos de animais, ovos e filhotes de tartarugas.[9] Na família gecarcinidae, as espécies são normalmente separadas pela forma do primeiro polipódio, que é usado pelos machos durante o acasalamento, mas não há diferença no polipódio entre as espécies de J. lagostoma e Johngarthia planata. Em vez disso, J. lagostoma difere de outras espécies no gênero, pela forma do terceiro maxilar. Tem uma fissura que é uma fenda estreita, o terceiro maxilípode também é maior, cobrindo o epistoma e as antenas.

Referências

  1. Julião, André (5 de janeiro de 2024). «Estudo aponta áreas prioritárias para a conservação de crustáceo ameaçado de extinção». Agência FAPESP. Consultado em 5 de janeiro de 2024 
  2. Ferreira, Rafael (14 de novembro de 2013). «Caranguejo-Amarelo em Alerta». "((o))eco". Consultado em 15 de fevereiro de 2017 
  3. «Avaliação do risco de extinção do crustáceo no Brasil» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2016. Consultado em 15 de fevereiro de 2017 
  4. Pinheiro, Marcelo (2016). Livro vermelho dos crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014 (PDF). Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Carcinologia - SBC. 172 páginas. Consultado em 23 de fevereiro de 2017 
  5. Serafini, Thiago (2010). «Ilhas oceânicas brasileiras: biodiversidade conhecida e sua relação com o histórico de uso e ocupação humana» (PDF). Consultado em 23 de fevereiro de 2017 
  6. a b Hartnoll, Richard G.; Godley, Brendan J.; Broderick, Annette C.; Saunders, Kate E. (1 de janeiro de 2009). «Population Structure of the Land Crab Johngarthia Lagostoma on Ascension Island». Journal of Crustacean Biology (em inglês). 29 (1): 57–61. ISSN 0278-0372. doi:10.1651/08-2992.1 
  7. a b c d RODRÍGUEZ-REY, Ghennie T; Richard G, HARTNOLL; Antonio M, SOLÉ-CAVA (2016). «Genetic structure and diversity of the island-restricted endangered land crab, Johngarthia lagostoma (H. Milne Edwards, 1837).». Journal of Experimental Marine Biology and Ecology 
  8. Piratelli, Augusto João; FRANCISCO (2003). Conservação da biodiversidade: dos conceitos as ações. Rio de janeiro: Technical Books. pp. 31–32 
  9. Theóphilo, Carolina Yume Sawamura (20 de dezembro de 2013). «Análise de elementos potencialmente tóxicos em material biológico da Ilha da Trindade, Brasil». doi:10.11606/d.21.2013.tde-26112014-161310