Comunidade Quilombola de Dandá

quilombo em Simões Filho, Bahia, Brasil
Quilombo Dandá
Apresentação
Tipo
Estatuto patrimonial
quilombo tombado pela Constituição Federal do Brasil de 1988 (d)Visualizar e editar dados no Wikidata
Localização
Localização
Coordenadas
Mapa

Dandá é uma comunidade remanescente de quilombo, população tradicional brasileira, localizada no município brasileiro de Simões Filho, na Bahia.[1][2] A comunidade de Dandá é formada por uma população de 31 famílias, distribuídas em uma área de 347,684 hectares. O território foi certificado como remanescente de quilombo (reminiscências históricas de antigos quilombos), pela Fundação Cultural Palmares, Portaria n° 35/2004.[3][4][5][6] Esta comunidade teve o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação publicado em 2007(etapa da regularização fundiária), mas ainda está com a situação fundiária em análise (não titulada) no INCRA.[7][8] Nele consta a seguinte descrição:

Dandá, comunidade composta por mulheres e homens negros, preservando herança e manifestações culturais de matriz africana, bem como seus membros estão unidos, há mais de três gerações, em virtude da ancestralidade comum, o que a caracteriza como tradicional remanescente de quilombo...[9]

Os moradores do Quilombo de Dandá receberam posse da terra em 2013, mas em 2014 ainda enfrentava a falta de serviços básicos e a infraestrutura ainda era precária.[10]

Atualmente, é gerido pela Associação dos Quilombolas da Fazenda Coqueiro e Mata Grossa.[11]

História editar

Samuel Lopes e Joana dos Santos são tidos como fundadores da comunidade. Criaram o quilombo junto com outras 10 pessoas que fugiram de uma fazenda da região. A população havia sido trazida para trabalhar na produção de carvão. Como não recebiam remuneração, lhes foi prometido um pedaço de terra. A comunidade viveu pacificamente no território por cerca de seis décadas.[9][10]

Em 1980, a herdeira loteou as terras onde a comunidade vive e as vendeu, com o intuito de expulsar os quilombolas. A imobiliária não repassou os valores para a proprietária e ela entrou com ação de reintegração de posse. Isso afetou também os membros da comunidade, já que a justiça aprovou a ação contra a comunidade negra.[9]

A certificação da FCP levou a problemas com os posseiros da fazenda (supostamente a filha do fazendeiro havia vendido partes da fazenda) e eles cobravam a saída da comunidade. Contudo, ela faleceu e o INCRA só poderia comprar as terras dela, pois era quem tinha a certidão de posse da terra.[9]

Tombamento editar

O tombamento de quilombos é previsto pela Constituição Brasileira de 1988, bastando a certificação pela Fundação Cultural Palmares:[12]

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira [...]
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

Portanto, a comunidade quilombola de Dandá é um patrimônio cultural brasileiro, tendo em vista que recebeu a certificação de ser uma "reminiscência histórica de antigo quilombo" da Fundação Cultural Palmares no ano de 2004.[3][4][5]

Situação territorial editar

A falta do título da terra (regularização fundiária) cria para as comunidades quilombolas uma dificuldade de desenvolver a agricultura, além dos conflitos com os fazendeiros de suas regiões e a impossibilidade de solicitar políticas sociais e urbanas para melhorias de condições de vida, como infraestrutura urbana de redes de energia, água e esgoto.[13][14]

Povos Tradicionais ou Comunidades Tradicionais são grupos que possuem uma cultura diferenciada da cultura predominante local, que mantêm um modo de vida intimamente ligado ao meio ambiente natural em que vivem.[15] Através de formas próprias: de organização social, do uso do território e dos recursos naturais (com relação de subsistência), sua reprodução sócio-cultural-religiosa utiliza conhecimentos transmitidos oralmente e na prática cotidiana.[16][17]

Curiosidades editar

  • O território quilombola Dandá foi uma das três locações escolhidas pela ONU para gravação de um documentário para o projeto “International Decade for people of African Descent”.[18][19][20]

Ver também editar

Referências

  1. Levantamento de Comunidades Quilombolas (PDF). Col: Fundação Cultural Palmares. [S.l.]: Ministério do Desenvolvimento Social do Brasil. Consultado em 2 de junho de 2023 
  2. Quilombos certificados (PDF). Col: Fundação Cultural Palmares. [S.l.]: Fundação iPatrimônio. 2020. Consultado em 2 de junho de 2023 
  3. a b «Dandá - BA | ATLAS - Observatório Quilombola». kn.org.br. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  4. a b «Simões Filho – Quilombo Dandá | ipatrimônio». Consultado em 23 de setembro de 2023 
  5. a b fw2 (25 de novembro de 2013). «Incra regulariza terras da comunidade quilombola de Dandá». OQ. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  6. Bellinger, Carolina (13 de abril de 2017). «Terra Quilombola Dandá | Observatório Terras Quilombolas». Comissão Pró-Índio de São Paulo. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  7. INCRA. Acompanhamento dos processos de regularização quilombola. 11.08.2023. Acesso em: 19/09/2023.
  8. fw2 (19 de abril de 2007). «Publicado relatório técnico da comunidade quilombola Dandá». OQ. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  9. a b c d «Quilombo e suas histórias: com gestão coletiva, Dandá sobrevive em Simões Filho - Bahia». Farol da Bahia. 19 de agosto de 2023. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  10. a b BA, Danutta RodriguesDo G1 (30 de novembro de 2014). «Quilombolas lutam para preservar cultura e superar dificuldades na BA». Bahia. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  11. «Quilombo e suas histórias: com gestão coletiva, Dandá sobrevive em Simões Filho - Bahia». Farol da Bahia. 19 de agosto de 2023. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  12. Câmara dos Deputados. «Constituição da República Federativa do Brasil (1988)». www2.camara.leg.br. Consultado em 18 de junho de 2023 
  13. «Terra Amarela - PA | ATLAS - Observatório Quilombola». kn.org.br. Consultado em 18 de junho de 2023 
  14. Bellinger, Carolina (13 de abril de 2017). «Lagoa do Peixe». Comissão Pró-Índio de São Paulo. Consultado em 21 de setembro de 2023 
  15. «Por que tradicionais?». Instituto Sociedade População e Natureza. Consultado em 18 de julho de 2018 
  16. «Comunidades ou Populações Tradicionais». Organização Eco Brasil. Consultado em 18 de julho de 2018 
  17. «Povos e Comunidades Tradicionais». Ministério do Meio Ambiente. Consultado em 18 de julho de 2018 
  18. Nations, United. «International Decade for People of African Descent». United Nations (em inglês). Consultado em 23 de setembro de 2023 
  19. fw2 (23 de junho de 2015). «ONU grava documentário no território quilombola Dandá (BA)». OQ. Consultado em 23 de setembro de 2023 
  20. «CADERNO DE CAMPO – Dona Dandinha e o quilombo Pitanga dos Palmares (BA)». CONAQ. Consultado em 23 de setembro de 2023