O Culto Decadário (Culte Decadeire), ou Culto do Décimo Dia, foi uma religião civil semi-oficial da França durante o período do Diretório (1795-1799), destinada a oferecer uma alternativa não-cristã após a descristianização do país.

O Calendário Republicano Francês e suas "décadas" (décadi), dias de descanso que substituíam o domingo em uma semana de 10 dias.

Substituiu o culto cristão dominical por um feriado quase religioso no décadi, o dia de descanso da semana de 10 dias do Calendário Republicano Francês.[1]

Contexto editar

 
Nicolas-Louis François de Neufchâteau, membro do Diretório e responsável pela oficialização do Culto Decadário na França.

No período revolucionário francês houveram várias tentativas de se estabelecer uma religião civil oficial para a França, apesar do anticlericalismo revolucionário e da separação formal entre o Estado e a Igreja consagrada pela Constituição de 1795 (Ano III). Estas incluíram o Culto da Razão, o Culto ao Ser Supremo e, após o Terror, a Teofilantropia.

O Culto Decadário foi oficialmente estabelecido pelo decreto de François de Neufchâteau, membro do Diretório, em 6 de setembro de 1798 (20 de Frutidor do Ano VII), sendo suprimido por Napoleão Bonaparte após o golpe de 18 de Brumário do Ano VIII (1799)[2] e oficialmente abolido pela "Lei Sobre Cultos" de 7 de abril de 1801 (18 de Germinal do Ano X). O calendário revolucionário também seria abolido por Napoleão em 1805.

Princípios editar

O culto era baseado em festas, as chamadas fêtes decadeires, que eram celebradas a cada “década" (décadi) da semana de 10 dias do calendário revolucionário. Além disso, existia um ciclo de festivais anuais, nos quais eram celebrados vários temas como a juventude, a velhice, a fundação da República Francesa e a execução de Luís XVI. Os festivais incluíam canções patrióticas, banquetes, jogos e entrega de prêmios.

O culto não era um movimento propriamente deísta, embora definitivamente não fosse ateu, estando ligado à ideais de virtude e à glorificação da natureza, e sendo, em alguns casos, realizado em templos específicos e ministrado por autoridades públicas. Buscava, acima de tudo, substituir a religiosidade do domingo cristão. Foram eventos patrióticos altamente politizados, destinados a promover normas e valores republicanos entre a população francesa.[3]

Bibliografia editar

  • CATROGA, Fernando. A religião civil do Estado-Nação: os casos dos EUA e da França. Revista da História das Ideias. Coimbra, v. 26, p. 503-661, 2005.
  • SABORIT, Ignasi. Religiosidade na Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009.
  • VOVELLE, Michel. A revolução francesa contra a Igreja: da razão ao ser supremo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1989.

Referências editar

  1. JAINCHILL, Andrew (2008). Reimagining Politics After the Terror: The Republican Origins of French Liberalism. New York: Cornell University Press. pp. 84–88 
  2. FRANCESCHI, Michel (2008). Wars Against Napoleon: Debunking the Myth of the Napoleonic Wars. California: Savas Beatie 
  3. VOEGELIN, Eric (1982). From Enlightenment to Revolution. Durham: Duke University Press. p. 172 

Ver também editar