Desajustamento é um termo usado na psicologia para se referir à "incapacidade de reagir com sucesso e de forma satisfatória às demandas do ambiente".[1] O termo desajustamento pode se referir a uma ampla gama de condições sociais, biológicas e psicológicas. [2]

O desajustamento pode ser intrínseco ou extrínseco. Desajustes intrínsecos são as disparidades entre as necessidades, motivações e avaliações de um indivíduo, com o real ganho de recompensa por meio das experiências. Já o desajustamento extrínseco é referido quando o comportamento de um indivíduo não atende às expectativas socioculturais da sociedade. [3]

As causas do desajuste podem ser atribuídas a uma ampla variedade de fatores, incluindo: ambiente familiar, fatores pessoais e fatores relacionados à escola. [4] O desajustamento afeta o desenvolvimento de um indivíduo e a capacidade de manter relacionamentos interpessoais positivos com os outros. Frequentemente, o desajustamento surge durante os primeiros estágios da infância, quando a criança ainda está a aprender métodos de resolução de problemas que ocorrem nos seus relacionamentos interpessoais. [5] Indivíduos que não tiveram apoio especializado quanto ao seu desajustamento têm maior risco de sofrer efeitos negativos mais tarde nas suas vidas.[6] 

Causas editar

Crianças criadas em certas condições são mais propensas a desajustamentos. Existem três causas principais associadas ao desajustamento:[4] 

Causas familiares editar

Socialmente, as crianças que vêm de lares disfuncionais muitas vezes são desajustadas. Sentimentos de frustração em relação à sua situação decorrem de inseguranças e da negação de necessidades básicas como comida, roupas e abrigo. Crianças cujos pais estão desempregados ou possuem baixo nível socioeconómico estão mais sujeitas a desajustamentos. Pais abusivos e altamente autoritários podem causar efeitos nocivos para as necessidades psicológicas que são essenciais para uma criança estar socialmente bem ajustada. [4]  O vínculo entre pais e filhos pode afetar o desenvolvimento psicológico do adolescente. Conflitos nos relacionamentos entre pais e filhos podem fazer com que os adolescentes tenham um ajustamento inadequado. O nível de conflito que ocorre entre um pai e um filho pode afetar a percepção do filho sobre o relacionamento com os pais e a auto-percepção do filho. A percepção de conflito entre pais e filhos pode ser atribuída a dois mecanismos: crença filial recíproca e ameaças percebidas. A crença filial recíproca refere-se ao amor, cuidado e afeto que uma criança tem com os seus pais, representando o nível de intimidade entre os mesmos. Altos níveis de conflito percebido entre pais e filhos reduzem os sentimentos de empatia, a criança pode se sentir isolada e, portanto, alienar-se dos seus pais, o que reduz a quantidade de crença filial recíproca. Adolescentes com níveis mais baixos de crença filial recíproca são conhecidos por apresentarem características de um indivíduo desajustado. Ameaças percebidas podem ser caracterizadas como a antecipação de dano a si mesmo durante um evento emocional que induz uma resposta ao estresse. A preocupação, o medo e a incapacidade de lidar com o estresse durante os conflitos são indicadores de um aumento no nível de ameaça percebida no relacionamento entre pais e filhos. Níveis mais altos de ameaças percebidas em um relacionamento entre pais e filhos podem exacerbar a auto-percepção negativa e enfraquecer a capacidade de enfrentamento. Isso intensifica o comportamento anti-social, que é uma característica associada ao desajustamento. [7]

Causas pessoais editar

Crianças com problemas físicos, emocionais ou mentais geralmente têm dificuldade em se manter socialmente aptas quando comparadas a outras crianças "normais". Isso pode fazer com que a criança se sinta isolada e limite o nível de interação com os outros, o que acarreta um desajustamento. [4]  Regulação emocional desempenha um papel no desajustamento. Geralmente, as emoções são respostas adaptativas que permitem que um indivíduo tenha a capacidade para mudar as mesmas com base na demanda do seu ambiente. A inércia emocional refere-se ao "grau em que os estados emocionais são resistentes à mudança"; há uma falta de responsividade emocional devido à resistência a mudanças ambientais externas ou a influências psicológicas internas. O alto nível de inércia emocional pode ser indicativo de desajustamento, pois o indivíduo não apresenta uma variabilidade típica de emoções em relação ao seu entorno social. Um alto nível de inércia emocional também pode representar prejuízo na habilidade de regulação emocional, que é conhecido por ser um indicador de baixa autoestima e neuroticismo . [8]

Causas relacionadas à escola editar

As crianças que são vítimas de bullying pelos seus colegas na escola correm maior risco de se tornarem desajustadas. Estas crianças são propensas a ansiedade, sentimentos de insegurança e de aversão à escola, podendo começar mesmo a evitá-la.[9] Os professores que apresentam atitudes injustas e tendenciosas em relação aos seus alunos causam-lhes, também, dificuldades na sua adaptação à sala de aula e à vida escolar. Más influências, como delinquentes, podem fazer com que as crianças se desajustem em relação ao seu ambiente social. [4] 

Características associadas editar

Existem algumas características que estão associadas a desajustamentos. [10] 

  • Comportamento nervoso - hábitos e tiques em resposta ao nervosismo (por exemplo, roer as unhas, inquietação, abanar a cabeça, brincar com o cabelo, incapacidade de ficar parado).
  • Reações emocionais exageradas e desvios - A tendência para responder a uma situação com emoções e ações desnecessariamente excessivas ou extravagantes (por exemplo, evitar a responsabilidade devido ao medo, retraimento, facilmente distraído devido ao menor aborrecimento, ansiedade injustificada por pequenos erros).
  • Imaturidade emocional - a incapacidade de controlar totalmente as próprias emoções (por exemplo, indecisão, dependência excessiva dos outros, insegurança e desconfiança excessivas, incapacidade de trabalhar de forma independente, hiperatividade, medos e preocupações irracionais, níveis elevados de ansiedade).
  • Comportamento exibicionista - comportamentos conduzidos na tentativa de obter atenção ou retratar uma imagem positiva (por exemplo, culpar os outros pelo próprio fracasso, simpatizar com a autoridade, ferir fisicamente os outros).
  • Comportamento antisocial - comportamentos e atos hostis e agressivos (por exemplo, crueldade para com os outros, uso de linguagem obscena e abusiva, intimidação, comportamentos destrutivos e irresponsáveis)
  • Perturbações psicossomáticas - Isso pode incluir: complicações na evacuação, náuseas e vómitos, comer demais e outras dores.

Efeitos negativos editar

Baixo desempenho académico editar

Os desajustamentos podem afetar o desempenho académico de um indivíduo. [4]  Indivíduos com comportamentos desajustados tendem a ter um menor comprometimento com a escola, o que causa baixos resultados nos testes, absenteísmo escolar e maior risco de abandono escolar. 

Comportamento suicida editar

Nos casos em que uma criança sofra abusos físicos ou sexuais, o desajustamento pode levar acomportamento suicida . Indivíduos com história de abuso na infância tendem a ser desajustados devido à sua insatisfação com o suporte social e à prevalência de um estilo de vinculação ansioso . A implicação clínica sugere que, na terapia, se focar no desajustamento em indivíduos com história de abuso na infância, o risco de comportamento suicida pode ser atenuado. [6]

Ver também editar

Referências

  1. «the definition of maladjustment». www.dictionary.com (em inglês). Consultado em 24 de junho de 2018 
  2. Khanfer, Riyad; Ryan, John; Aizenstein, Howard; Mutti, Seema; Busse, David; Yim, Ilona S.; Turner, J. Rick; Troxel, Wendy; Holt-Lunstad, Julianne (2013), «Maladaptive/Maladjustment», ISBN 9781441910042, Springer New York, Encyclopedia of Behavioral Medicine (em inglês): 1187–1188, doi:10.1007/978-1-4419-1005-9_32 
  3. Bergman, Iarsr. «The Development of Patterns of Maladjustment» (PDF) 
  4. a b c d e f Manichander, T (2016). Psychology of the learner. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1329997929 
  5. Ladd, Gary W.; Price, Joseph M. (1987). «Predicting Children's Social and School Adjustment Following the Transition from Preschool to Kindergarten». Child Development. 58: 1168–1189. ISSN 0009-3920. JSTOR 1130613. doi:10.2307/1130613 
  6. a b Restrepo, Danielle M.; Chesin, Megan S.; Jeglic, Elizabeth L. (Outubro de 2016). «The Relationship between Social Maladjustment, Childhood Abuse and Suicidal Behavior in College Students». International Journal of Psychology and Psychological Therapy. Volume 16 Num. 3: 235–248. PMC 2901421 . PMID 20501521. doi:10.1177/0956797610372634 
  7. Yeh, Kuang-Hui; Tsao, Wei-Chun; Chen, Wei-Wen (2010). «Parent–child conflict and psychological maladjustment: A mediational analysis with reciprocal filial belief and perceived threat». International Journal of Psychology. 45: 131–139. ISSN 0020-7594. PMID 22043893. doi:10.1080/00207590903085505 
  8. Kuppens, Peter; Allen, Nicholas B.; Sheeber, Lisa B. (25 de maio de 2010). «Emotional Inertia and Psychological Maladjustment». Psychological Science. 21: 984–991. ISSN 0956-7976. PMC 2901421 . PMID 20501521. doi:10.1177/0956797610372634 
  9. Kochenderfer, Becky J.; Ladd, Gary W. (1996). «Peer Victimization: Cause or Consequence of School Maladjustment?». Child Development. 67: 1305–17. ISSN 0009-3920. JSTOR 1131701. PMID 8890485. doi:10.2307/1131701 
  10. Singh, Vijay Pratap (2004). Problems Of Educational Backwardness. New Delhi: Sarup & Sons. ISBN 978-8176254564