Direitos LGBT no Afeganistão

direitos das pessoas LGBT no Afeganistão

Os direitos de pessoas LGBT no Afeganistão enfrentam certos desafios legais e sociais únicos. A homossexualidade e travestismo são considerados crimes graves no Afeganistão, e uma possível punição pode incluir a pena de morte.[1] Em áreas rurais do país, geralmente, os moradores locais tomam a lei em suas próprias mãos. A partir de 2008, parece que a mudança de regime não teve muito impacto sobre o estatuto jurídico de lésbicas, gays e bissexuais no Afeganistão. Em 2012, Nemat Sadat, um ex-professor de ciência política na Universidade Americana do Afeganistão, mobilizou um movimento LGBT e em 22 de agosto de 2013, ele se tornou a primeira figura pública a se assumir como gay em uma campanha pela libertação sexual.[2][3]

Atitudes sociais editar

A população do Afeganistão é composta em mais de 99% por muçulmanos, e a Constituição afegã estipula que o Islã é a religião oficial. A homossexualidade e travestismo são amplamente vistos como atividades tabu e indecentes, devido aos costumes islâmicos tradicionais em matéria de papéis de gênero adequados e conduta sexual.[2]

Quando discutido publicamente, a homossexualidade é frequentemente associada com a prostituição e pedofilia e o nível de consciência sobre a orientação sexual ou identidade de gênero é limitado. Em 2011, repórteres afegãos entrevistaram homens que tinham símbolos LGBT em seus veículos, para descobrir que os homens não tinham conhecimento do significado das bandeiras do arco-íris e das etiquetas, pensando que era apenas mais um modismo ocidental, e começaram a remover rapidamente a arco-íris para evitar ser visto como uma pessoa LGBT ou como defensor dos direitos LGBT.[4]

Regime do Talibã editar

Quando o Talibã assumiu o controle do país na década de 1990, passou a criminalizar todas as relações sexuais fora do casamento heterossexual, cometendo a execução pública, muitas vezes, de homens e mulheres que cometessem fornicação e adultério e por envolvimento em sodomia.[5]

Em 1994, o líder supremo do Talibã, mulá Omar, salvou um menino de ser sodomizado por dois generais rivais em Kandahar, e quando ele foi posteriormente dado ao controle da cidade, decretou que tanto violenta quanto mutuamente consensual, a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo seria um dos crimes capitais.[5]

Práticas homossexuais no Talibã editar

 Ver artigo principal: Bacha bazi

Em 2009, um estudo solicitado pelas Forças Oficiais Britânicas e Americanas e conduzido pela equipe da pesquisadora Anna Maria Cardinalli relatou comportamentos com tendências homossexuais por parte dos membros do movimento Talibã. O estudo também relata a prática de sequestrar e aprisionar meninos para serem humilhados e estuprados por homens adultos.[6] No mesmo ano, o manual Afghanistan Operational Culture for Deploying Personnel de autoria do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos afirma que "o comportamento homossexual é relativamente comum, mas tabu, na zona rural do Afeganistão, porque não há outras saídas para energias sexuais normais". [7]

O livro Viagem ao Mundo dos Taleban relata a arriscada cobertura no Afeganistão e Paquistão, em 2001, e descreve como as mulheres têm, tradicionalmente, um papel secundário na sociedade Pashtun, que é a etnia predominante entre os talibãs.[8] Historicamente, a primeira geração dos talibãs cresceu separada das mulheres, eram filhos de refugiados da guerra contra a União Soviética, entre 1979 e 1989[9], e, órfãos que cresceram do lado paquistanês da fronteira. Muitos foram abrigados em internatos religiosos, onde foram acolhidos.[10] Nessas escolas – talibã significa estudante –, eles ficavam separados das meninas.

Este ambiente é relatado como dominado pela relação homossexual entre os professores e os alunos, algo que também é tradicional, sobretudo nas regiões mais isoladas do sul do Afeganistão, em que o prazer muitas vezes acontece entre homens adultos e adolescentes, meninos, uma prática conhecida como bacha bazi.

Após a invasão ao Afeganistão, eles mantiveram essa prática. Segundo o jornalista Lourival Sant'Anna, eles não consideram uma prática homossexual já que cumprem suas "obrigações religiosas": casar com mulheres e terem filhos.[11]

Durante a Guerra Civil Afegã (1996–2001), o bacha bazi.aparentemente foi proibido sob punição de pena de morte de acordo com a lei talibã. A prática da "brincadeira com garotos" é ilegal para a lei afegã, mas as leis raramente são aplicadas contra infratores poderosos e há relatos de que a polícia é conivente com esse tipo de crime.[12]

Em 2007, relatórios afirmaram que a prática do bacha bazi ainda prevalece em partes do norte do Afeganistão. Essa prática envolve meninos adolescentes sendo vestidos com roupas de mulheres e obrigados a participar de competições de dança e praticar atos sexuais.[13]

Sobre a prática entre adultos, Lourival Sant'Anna relatou "Eles apenas praticam, em silêncio. Não diria que chega a ser um tabu, porque eles flertam com os homens, são explicitamente sedutores. E não são só os talibãs. Os mujahedins, que lutaram contra os soviéticos, também tinham essa prática. Eles desfilavam com os tanques soviéticos, que tinham confiscado depois da guerra, maquiavam e desfilavam com os meninos, exibidos como troféus.". [11]

Referências

  1. «Afghanistan - Gay Travel, Life & Culture. Photo Galleries, Stories, Links, News & Reports». Globalgayz.com. Consultado em 20 de janeiro de 2011 
  2. a b «As Russia Runs For the Closet, Afghanistan Comes Out». Consultado em 15 de maio de 2016 
  3. http://www.theguardian.com/world/interactive/2013/nov/15/gay-lesbian-around-world
  4. Nushin Arbabzadah. «Afghanistan's accidental gay pride». the Guardian. Consultado em 15 de maio de 2016 
  5. a b Reid, Tim (12 de janeiro de 2002). «Kandahar Comes Out of the Closet». sodomylaws.org. Consultado em 14 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 11 de setembro de 2004 
  6. «Afghan sex practices concern U.S., British forces». Washington Examiner (em inglês). 20 de dezembro de 2010. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  7. «Afghanistan: Operational Culture for Deploying Personnel» (PDF). Public Intelligence. 1 de maio de 2009. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  8. Sant'Anna, Lourival (2002). Viagem ao mundo dos Taleban 1a ed ed. São Paulo, SP: Geração Editorial. OCLC 52220997 
  9. Cockburn, Patrick (2015). The rise of Islamic state : ISIS and the new Sunni revolution. London: [s.n.] OCLC 886745941 
  10. Crooke, Alastair; Author, ContributorFmr MI-6 agent;; Revolution', 'Resistance: The Essence of Islamic (27 de agosto de 2014). «You Can't Understand ISIS If You Don't Know the History of Wahhabism in Saudi Arabia». HuffPost (em inglês). Consultado em 3 de setembro de 2021 
  11. a b Welle (www.dw.com), Deutsche. «"Prazer entre homens é prática comum entre os talibãs" | DW | 26.08.2021». DW.COM. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  12. «Bacha Bazi: The Tragedy of Afghanistan's Dancing Boys». thediplomat.com (em inglês). Consultado em 3 de setembro de 2021 
  13. Staff, Reuters (19 de novembro de 2007). «Afghan boy dancers sexually abused by former warlords». Reuters (em inglês). Consultado em 3 de setembro de 2021