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Juízo é um documentário brasileiro de 2008 dirigido e escrito por Maria Augusta Ramos e produzido por Diler Trindade.

Juízo
Juízo (filme)
 Brasil
2008 •  cor •  90 min 
Gênero documentário
Direção Maria Augusta Ramos
Produção Diler Trindade
Produção executiva Telmo Maia
Roteiro Maria Augusta Ramos
Diretor de fotografia Guy Gonçalves
Companhia(s) produtora(s) Diler & Associados
Nofoco Filmes
Distribuição Filmes do Estação
Lançamento 14 de março de 2008
Idioma português

Premissa

Juízo mostra o tratamento de jovens pobres com menos de 18 anos de idade diante da lei, da prisão ao julgamento, por crimes como roubo, tráfico e homicídio. As cenas foram filmadas em audiências reais e durante visitas ao Instituto Padre Severino, que é o local de reclusão de menores infratores.[1] O filme acompanha a rotina em tribunais dos juízes, promotores e defensores (ver abaixo), além de familiares e policiais. Todos os personagens são reais, exceto os menores de idade (ver § Produção para mais informações). O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que o documentário era "uma oportunidade rara", já que documentários não costumavam frequentar tribunais e não procuravam mostrar julgamentos de processos judiciais.[2]

Elenco

A seguir apresenta-se o elenco de Juízo, na ordem dos créditos.[3]

Produção

Juízo foi dirigido e escrito por Maria Augusta Ramos e produzido pelas empresas Diler & Associados e Nofoco Filmes.[3]

Temática

[...] não há um porquê, quando vou fazer um filme é porque aquela realidade desperta em mim uma curiosidade. Tento esvaziar a minha mente e coração de qualquer tipo de preconceito como, por exemplo, de como o Judiciário funciona, tentando mostrar as suas várias facetas. O objetivo é levar o público a refletir sobre esta realidade, levá-la ao público.

Maria Augusta Ramos explicando porquê decidiu produzir o filme.[4]

Maria disse que Juízo é o "filho" de Justiça (2004). Segundo ela, "O teatro da justiça possibilita fazer o cinema documental que gosto de fazer, da interação, da entrevista. É o que me inspira."[4] Em seus filmes, a diretora trabalha apenas com som direto, captado junto com as imagens. Ela declarou: "Para mim, som é 50% de toda realidade. Se eu extirpo o som relacionado à imagem, e o substituo por música ou algum outro ruído criado eletronicamente, a realidade se perdeu. Aumenta a sensação de estar manipulando. Há diretores de documentários que usam a trilha como um coadjuvante, algo que contracena com a imagem, um elemento com função estrutural no filme. Não é o meu caso." Os personagens não falam diretamente para a câmera, não são mostradas entrevistas e não há narração; "o distanciamento formal do que está sendo filmado fica estabelecido desde a primeira tomada".[5]

Filmagem

Gravado em 2006, a equipe de filmagem era pequena, composta por um câmera, um assistente e um engenheiro de som, além de um assistente de produção.[4] As cenas foram filmadas em audiências reais, num Tribunal de Infância e Juventude do Rio,[5] e durante visitas ao Instituto Padre Severino, que é o local de reclusão de menores infratores.[1] Filmar no instituto foi uma das maiores dificuldades da equipe.[4] Em uma entrevista, Maria disse: "Eu não conseguia mais. Tudo me exasperava. Eu ficava tensa a cada ida ao Padre Severino, [...] o lugar é um horror, cheira à morte, a equipe não sabia onde pisar, pois tudo dá nojo, todos ficavam de mau humor".[5] Ela fez uma declaração similar em outra entrevista: "É um lugar muito difícil de filmar, tudo muito precário. E sentimos o sofrimento deles [dos menores infratores] assim como em qualquer presídio. Não tem muita vida, sentimos um pouco uma desilusão, uma decepção. A equipe saia de lá muito cansada e deprimida".[4][a]

Maria disse que conseguir autorização para gravar as audiências foi mais fácil que em Justiça, já que esse filme "abriu muitas portas, além de gerar muitos debates". Este também foi o motivo da juíza Luciana concordar em filmar. A juíza disse em uma entrevista: "Não é comum as audiências serem filmadas, antes nunca havia permitido que elas fossem filmadas. Mas é uma forma de a sociedade acompanhar a realidade vivida no Judiciário". Durante quatro dias, foram filmadas cerca de cinquenta audiências da juíza, com os menores de costas, e através de duas câmeras. Maria escolheu dez das audiências e as editou.[4] As audiências foram filmadas uma única vez.[6]

Atuação

Como é proibido por lei divulgar a imagem de menores infratores, os infratores verdadeiros foram filmados apenas de costas. Para as tomadas de frente, Maria selecionou um elenco de adolescentes não-infratores, fazendo-os repetir palavra por palavra o que constava dos autos de cada caso. Segundo a Revista Piauí, "Na montagem final, o personagem real e seu substituto se fundem de forma tão habilidosa que o espectador pode passar batido pela duplicidade".[5] Esses adolescentes não eram atores profissionais, mas tinham idade aproximada e condições socioeconômicas parecidas ou iguais aos verdadeiros;[4][6] Maria declarou: "Eu não fui atrás de adolescentes com experiência com teatro. Agi no sentido de que não atuassem para que fossem eles mesmos. Isto foi importante porque é a personalidade de cada adolescente que faz esta realidade com falta de perspectiva". Ainda segundo ela, "Os meninos atores viram as audiências editadas e depois trabalhamos os textos com eles".[4]

Luciana disse que sua atuação não foi falsa no filme; "Eu faço audiência exatamente daquele jeito. Não sou atriz e nem quero ser, sou juíza e quero continuar assim. Ali é o meu jeito de ser, são broncas em que me sinto na obrigação de dar".[4]

Lançamento e bilheteria

Antes de ser lançado, foi exibido em diversos festivais nacionais e internacionais, como no Festival Internacional de Documentário e Animação de Leipzig (premiado como melhor filme; Alemanha), na Seleção Oficial da 31ª Mostra de Cinema de São Paulo, no Viennale (Viena), no Festival Internacional de Cinema de Rotterdam (Países Baixos), no Cinema du Réel (França), nos Festivais Internacionais de Filme dos Direitos Humanos de Londres e de Nova York, no Festival Internacional de Cinema Jeonju (Coreia do Sul), no Festival Internacional de Cinema de Locarno (na "Mostra Cineasta do Presente"; Suíça), além de hors concours no Festival do Rio (Brasil).[2]

O filme foi lançado oficialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro no dia 14 de março,[2] distribuido pela Filmes do Estação.[7] Na língua inglesa, o filme é conhecido como Behave.[7][8] Em seu fim de semana de estreia, até o dia 16 de março, o filme já havia gerado uma receita total de 11 628 dólares. No fim de semana de 10 a 13 de abril, o filme conseguiu uma receita total de mais 50 mil. No total, Juízo teve uma receita de 74 163 dólares.[7]

Notas

  1. Após uma crise de depressão, Maria disse que não conseguia mais assistir a Juízo pois "carrega essa coisa trágica [...] me perguntava por que eu tinha optado por fazer um filme tão carregado, depois do Justiça, que já era pesado".[5]

Referências

  1. a b «Juízo». AdoroCinema. Consultado em 27 de maio de 2021 
  2. a b c «Com apoio da OAB/SP, filme Juízo chega aos cinemas da capital paulista». Migalhas. 11 de março de 2008. Consultado em 27 de maio de 2021 
  3. a b Créditos de Juízo (2008)
  4. a b c d e f g h i «Bate-papo com Maria Augusta Ramos e Luciana Siqueira». Bate Papo UOL. 11 de março de 2008. Consultado em 28 de maio de 2021. Arquivado do original em 11 de julho de 2016 
  5. a b c d e «Foco distanciado». Revista Piauí. Consultado em 28 de maio de 2021 
  6. a b «Documentário 'Juízo' traz debate sobre tragédia sem solução». Estadão. Consultado em 28 de maio de 2021 
  7. a b c «Behave». Box Office Mojo. Consultado em 28 de maio de 2021 
  8. «Behave (2007)» (em inglês). Consultado em 28 de maio de 2021