Cilícia: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
situação aproximada na atualidade (é mais fácil de localizar)
Linha 4:
 
== Geografia ==
A Cilícia se estende ao longo da costa mediterrânea a partir da [[Panfília]], que está a oeste, até os [[Montes Nur|Montes Amano]], que a separava da [[Síria romana|Síria]]. Para o norte e leste estavam os [[Montes Tauro]], que a separavam do elevado platô da Anatólia central. A região era entrecortada por um estreito [[cânion]] chamado na Antiguidade de [[Portas da Cilícia]]<ref>Ramsay, William Mitchell (1908) ''The Cities of St. Paul Their Influence on His Life and Thought: The cities of Eastern Asia Minor'' A.C. Armstrong, New York, [http://books.google.co.uk/books?id=JryEbmKool0C&pg=PA112 page 112], [http://www.worldcat.org/oclc/353134 OCLC 353134]</ref><ref>Baly, Denis and Tushingham, A. D. (1971) ''Atlas of the Biblical world'' World Publishing Company, New York, page 148, [http://www.worldcat.org/oclc/189385 OCLC 189385]</ref>. A antiga Cilícia era naturalmente dividida em duas regiões chamadas '''Cilícia ''Trachaea''Traqueia''' e '''Cilícia ''Pedias''Pédias''', separadas pelo [[rio Lamas]] (''Limonlu Çayı''). [[Salamina (Chipre)|Salamina]], uma importante cidade na costa leste de [[Chipre romana|Chipre]] fazia parte também desta jurisdição. Os [[gregos]] inventaram para a Cílicia um [[epônimo]] fundador helênico na figura do mitológico [[CilixCílix]], mas o histórico<ref name="CAH-680">Edwards, I. E. S. (editor) (2006) ''The Cambridge Ancient History, Volume 2, Part 2, History of the Middle East and the Aegean Region c. 1380–1000 B.C.'' (3rd edition) Cambridge University Press, Cambridge, England, [http://books.google.co.uk/books?id=n1TmVvMwmo4C&pg=RA1-PA680 page 680], ISBN 0-521-08691-4</ref> fundador da dinastia que reinou sobre a Cilícia ''Pedias''Pédias era [[Mopsus]]<ref name="CAH-680"/><ref name="Fox-211ff">Fox, Robin Lane (2009) ''Travelling Heroes: In the Epic Age of Homer'' Alfred A. Knopf, , New York, [http://books.google.co.uk/books?id=9k8Frkhiq_MC&pg=PA211 pages 211-224], ISBN 978-0-679-44431-2</ref>, que aparece nas fontes [[fenícios|fenícias]] como Mpš<ref name="Fox-216">Fox, Robin Lane (2009) ''Travelling Heroes: In the Epic Age of Homer'' Alfred A. Knopf, , New York, [http://books.google.co.uk/books?id=9k8Frkhiq_MC&pg=PA216 page 216], ISBN 978-0-679-44431-2</ref><ref name="CAH-364">Edwards, I. E. S. (editor) (2006) ''The Cambridge Ancient History, Volume 2, Part 2, History of the Middle East and the Aegean Region c. 1380–1000 B.C.'' (3rd edition) Cambridge University Press, Cambridge, England, [http://books.google.co.uk/books?id=n1TmVvMwmo4C&pg=RA1-PA364 page 364], ISBN 0-521-08691-4</ref>, o fundador de [[Mopsuéstia]]<ref name="CAH-364"/><ref>Smith, William (1891) ''A Classical Dictionary of Biography, Mythology, and Geography based on the Larger Dictionaries'' (21st edition) J. Murry, London, [http://books.google.co.uk/books?id=MaQUAAAAYAAJ&pg=PA456 page 456], [http://www.worldcat.org/oclc/7105620 OCLC 7105620]</ref> que emprestou seu nome para um [[oráculo]] nas proximidades<ref name="CAH-364"/>. [[Homero]] menciona o povo de Mopsus, que podem ser os [[cilícios]], como oriundos da [[Trôade]], na região mais a noroeste da península anatólica<ref name="Grant">{{cite book|last=Grant|first=Michael|title=A Guide to the Ancient World|publisher=Barnes & Noble, Inc.|year=1997|location=New York|pages=168|isbn=0-7607-4134-4}}</ref>.
 
A Cilícia ''Trachea''Traqueia ("Cilícia acidentada"; {{langx|el|Κιλικία Τραχεία}}; chamada de ''Khilakku'', ''Khilikku'', ''Hilakku'' ou ''Hilikku'' em [[neo-assírios|assírio]]), a Cilícia "clássica"<ref>Sayce, A. H. (October 1922) "The Decipherment of the Hittite Hieroglyphic Texts" ''The Journal of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland'' 4: pp. 537–572, page 554</ref><ref>Edwards, I. E. S. (editor) (2006) ''The Cambridge Ancient History, Volume 2, Part 2, History of the Middle East and the Aegean Region c. 1380–1000 B.C.'' (3rd edition) Cambridge University Press, Cambridge, England, [http://books.google.co.uk/books?id=n1TmVvMwmo4C&pg=RA1-PA422 page 422], ISBN 0-521-08691-4</ref><ref>Toynbee, Arnold Joseph and Myers, Edward DeLos (1961) ''A Study of History, Volume 7'' Oxford University Press, Oxford, England, page 668, [http://www.worldcat.org/oclc/6561573 OCLC 6561573]</ref>, é um acidentado distrito montanhoso<ref>Bean, George Ewart and Mitford, Terence Bruce (1970) ''Journeys in Rough Cilicia, 1964–1968'' (Volume 102 of Österreichische Akademie der Wissenschaften, Philosophisch-Historische Klasse.Denkschriften) Böhlau in Komm., Vienna, ISBN 3-205-04279-4</ref> caracterizado por prolongamentos dos Montes Tauro que geralmente terminam em [[promontório]]s rochosos formando pequenas baías naturais<ref name="Rife">Rife, Joseph L. (2002) "Officials of the Roman Provinces in Xenophon's "Ephesiaca"" ''Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik'' 138: pp. 93–108 , page 96</ref>, uma característica que transformou a região, na Antiguidade, no abrigo de diversos bandos de [[pirata]]s<ref name="Rife"/><ref>Ver também [[Side|Side (Σίδη)]]</ref>, e, na [[Idade Média]], em postos avançados dos [[República de Gênova|genoveses]] e [[República de Veneza|venezianos]]. O distrito era cortado pelo [[rio Calicadno]]<ref>Wainwright, G. A. (April 1956) "Caphtor - Cappadocia" ''[[Vetus Testamentum]]'' 6(2): pp. 199–210, pages 205–206</ref> e estava coberta por florestas que eram exploradas por fenícios e [[Egito Antigo|egípcios]]. Em compensação, a região não tinha nenhuma cidade grade.
 
A Cilícia ''Pedias''Pédias ("Cilícia plana"; {{langx|el|Κιλικία Πεδιάς}}; ''Kue'' dos assírios), a leste da ''Trachea''Traqueia, contava também com prolongamentos dos Montes Tauro e tinha uma grande planície costeira de um rico solo argiloso conhecido pelos gregos - como [[Xenofonte]], que atravessou a região com seus [[dez mil gregos|dez mil mercenários gregos]]<ref>[[Xenofonte]], ''[[Anabasis (Xenofonte)|Anabasis]]'' 1.2.22</ref> - por sua abundância (''euthemia'')<ref>Robin Lane Fox, ''Travelling Heroes in the Epic Age of Homer'', 2008:73 e ss</ref> de [[gergelim]], [[painço]] e [[azeitona]]s<ref>Atualmente planta-se ali [[algodão]] e [[citricultura|laranjas]]</ref>. Ela era famosa também por ter servido de pastagem aos cavalos importados pelo [[rei Salomão]] ({{citar bíblia|I Reis|10|28}}<ref>Fox 2008:75 nota 15.</ref>). Muitos de seus locais mais elevados eram fortificados. A planície era cortada por três grandes rios, o Cidno (''Tarsus Çay''), o {{ilc|rio Saro||rio Sarus}} (''Seyhan'') e o {{ilc|rio Piramo||rio Pyramus}} (''Ceyhan''), cada um deles carregando para a costa uma enorme quantidade de sedimentos da região desflorestada no interior, enriquecendo suas margens e criando diversos [[mangue]]s ou [[pântano]]s. O Saro atualmente deságua no Mediterrâneo ao sul de Tarso, mas há claros indícios que ele se unia antigamente ao Piramo e os dois juntos corriam para o mar a oeste de Kara-tash. Era através da rica planície de Isso que passava a antiga estrada que ligava o oriente e o ocidente, às margens da qual estavam as grandes cidades de [[Tarso na Cilícia|Tarso]], no Cidno, [[Adana]], no Saro, e [[Mopsuéstia]] no Piramo.
 
== Antiguidade ==
Linha 20:
As cidades cilícias, desconhecidas de Homero, ostentavam seus nomes pré-helênicos já na época: [[Tarzu]] (Tarso), Ingira (''[[Anchiale]]''), [[Adana|Danuna-Adana]], que ainda é chamada assim, ''Pahri'' (talvez a moderna [[Misis]]), Kundu (''Kynda'' e, depois, [[Anazarbo]]) e [[Karatepe]]<ref>Fox 2008:75.</ref>.
 
Há evidências de que, por volta de {{AC|1650|x}}, os reis hititas [[Hattusili I]] e [[Mursili I]] conseguiam atravessar livremente o rio Piramo, o que é um bom sinal de que eles controlavam a região na época. Depois da morte de Mursili por volta de 1595, os [[hurrianoshurritas]] conquistaram a região, que ficou livro por dois séculos. O primeiro rei da Cilícia livre, [[Isputahsu]], filho de [[Pariyawatri]], foi reconhecido como "grande rei" em tabletes [[cuneiformes]] e nos [[hieróglifos hititas]]. Outro registro da origem hitita da Cilícia, um tratado entre Ishputahshu e [[Telepinu]], rei dos hititas, foi relatado tanto em hitita quanto em [[língua acadiana|acadiano]]<ref>{{cite book|last=Hallo|first=William W.|title=The Ancient Near East: A History|publisher=Harcourt Brace Jovanovich|year=1971|location=New York|pages=111–112}}</ref>.
 
No século seguinte, o [[rei cilício]] [[Pilliya]] firmou tratados tanto com o rei [[Zidanta II]] dos hititas quanto com [[Idrimi]] de [[Alalakh]], que menciona ter atacado diversos alvos militares por toda a Cilícia oriental. [[Niqmepa]], sucessor de Idrimi como rei de Alalakh, chegou a ponto de pedir ajuda a um rival hurrianohurrita, [[Saushtatar]] de [[Mitani]], para conseguir reduzir o poder cilício na região. Ficou aparente muito cedo, porém que o crescente poder hitita logo se mostraria irresistível e a cidade de Kizzuwatna foi a primeira a cair, ameaçando toda a Cilícia. O rei [[Sunassura II]] foi forçado a aceitar a [[vassalo|vassalização]] sob os hititas e tornou-se o último rei da antiga Cilícia<ref>Hallo, p. 112.</ref>.
 
No {{AC|século {{séc|XIII}}|x}}, deu-se um enorme deslocamento de pessoas conforme os [[povos do mar]] invadiram a região. Os hurrianoshurritas que ali moravam rapidamente se mudaram para o nordeste, em direção aos Montes Tauro, assentando-se na região da [[Capadócia]].<ref>Hallo, pp. 119–120.</ref>.
 
No {{AC|século {{séc|VIII}}|x}}, a Cilícia foi unificada sob o reinado da dinastia de ''Mukšuš'', que os gregos chamaram de [[Mopsus]]<ref name="Fox-211ff"/> e a quem eles creditaram a fundação de Mopsuéstia<ref name="CAH-364"/>, mesmo a capital sendo em Adana. E o caráter multicultural da região nesta época aparece nas inscrições bilíngues dos séculos IX e VIII, escritas tanto em [[língua luvita|luvita]] (uma língua [[línguas indo-europeias|indo-europeia]]) quanto no [[língua fenícia|fenício]] ([[língua semítica ocidental|semítica ocidental]]).
 
No {{AC|século {{séc|IX}}|x}}, os assírios começaram a conquistar a região e ela foi finalmente anexada ao [[Império Neoassírio]], onde permaneceu até o {{AC|século {{séc|VII}}|x}}.
 
== Império Persa ==
Linha 35:
Durante o domínio do [[Império Aquemênida]], a Cilícia aparentemente era governada por [[reino cliente|reis nativos]] pagadores de tributos e que tinham o nome helenizado de ''"Sienesis"''; mas ela foi oficialmente incluída na quarta [[satrapia]] por [[Dario, o Grande|Dario]]<ref name="Grant">{{cite book|last=Grant|first=Michael|title=A Guide to the Ancient World|publisher=Barnes & Noble, Inc.|year=1997|location=New York|pages=169|isbn=0-7607-4134-4}}</ref>. [[Xenofonte]] relata uma rainha e afirma que a grande marcha de [[Ciro, o Jovem|Ciro]] atravessou a região sem enfrentar resistência.
 
A [[Estrada Real Persa|grande estrada]] para o ocidente já existia antes de Ciro conquistar a Cilícia. Em seu longo trecho de descida a partir do platô anatólico até chegar em Tarso, ela atravessava um estreito [[passo de montanha|passo]] entre as paredes de um cânion chamado [[Portas da Cilícia]]. Depois de atravessar as colinas a leste do Piramo, ela atravessava um outro portão de tijolos chamado "Demir Kapu" e adentrava a planície de Isso. A partir dali, uma estrada corria para o sul através de outro portão de tijolos até chegar em [[Alexandreta]]. De lá, ela atravessava os {{ilc|Montes Amano||montes Amanus}} pela Porta da Síria, o Passo Beilan, chegando finalmente em [[Antioquia]]; outra corria para o norte em direção a um portão de tijolos ao sul de Toprak Kale e atravessava os Montes Amano pela Porta da Armênia, o Passo de Baghche, e chegava até a região norte da Síria e o alto [[Eufrates]]. Através deste último passo, que aparentemente não era conhecido por [[Alexandre, o Grande|Alexandre]], Dario cruzou as montanhas antes da [[Batalha de Isso]]. Ambos os passos são curtos, fáceis de atravessar e ligam a Cilícia ''Pedias''Pédias geograficamente com a Síria e não com a [[Ásia Menor]].
 
== Alexandre, o Grande ==
Linha 41:
[[Alexandre, o Grande|Alexandre]] atravessou o [[rio Hális]] no verão de {{AC|333|x}} e terminou entre o sul da [[Frígia]] e a Cilícia. Ele conhecia bem as obras de Xenofonte e como as Portas da Cilícia era ''"impassáveis se defendidas por um inimigo"''. O plano dele era tentar amedrontar seus inimigos com uma demonstração de força e avançar sem combate. Na calada da noite, os gregos atacaram e, pegos de surpresa, os guardas e o [[sátrapa]] iniciaram uma fuga para [[Tarso (Mersin)|Tarso]] depois de incendiar as plantações. O plano funcionou e Alexandre e seu exército conseguiram passar ilesos pela Porta e invadiram a Cilícia<ref>{{Cite book|last=Fox|first=Robin Lane|title=Alexander the Great|publisher=The Dial Press|year=1974|pages=154–155}}</ref>.
 
Depois de [[morte de Alexandre, o Grande|sua morte]], uma [[Guerras dos Diádocos|longa batalha]] se seguiu entre os monarcas e reinos helênicos. A Cilícia foi dominada por um tempo pelo [[Egito ptolemaico|Egito de Ptolemeu]], mas terminou nas mãos dos [[selêucidas]], que, porém, jamais assumiram controle efetivo da região ocidental (a ''Trachaea''Traqueia). Durante a época helênica, diversas cidades foram fundadas na região, todas cunhando suas próprias moedas com seus próprios símbolos (deuses, animais e objetos)<ref>Veja Asiaminorcoins.com - [http://www.asiaminorcoins.com/gallery/index.php?cat=21 ancient coins of Cilicia]</ref>.
 
== Cilícia romana ==
[[Imagem:Arab-Byzantine frontier zone.svg|thumb|300px|Fronteira bizantino-árabe e os principais fortes e passos na Cilícia.]]
{{AP|Cilícia (província romana)|Thema Cibirreota}}
A Cilícia ''Trachaea''Traqueia tornou-se um santuário de [[pirata]]s durante este período e eles só foram conquistados por [[Pompeu]] em {{AC|67|x}} depois da [[Batalha de Coracésio]] (a moderna cidade de [[Alanya]]). Tarso foi transformada na capital da nova [[província da Cilícia]].
 
A Cilícia ''Pedias''Pédias, por outro lado, foi anexada pelos romanos ainda em {{AC|103|x}}, conquistada primeiro por [[Marco Antônio Orador]] em sua campanha contra os piratas. O primeiro governador foi [[Lúcio Cornélio Sula|Sula]], que frustrou uma invasão de [[Mitrídates II da Pártia|Mitrídates]]. Quando Pompeu conquistou a região, ela foi unida à província da Cilícia, que também contou, por um tempo, com uma parte da [[Frígia]].
 
[[Júlio César]] reorganizou novamente a região em {{AC|47|x}} e, vinte anos depois, a Cilícia tornou-se parte da província da [[Síria-Cilícia Fenícia]]. Num primeiro momento, o distrito ocidental foi deixado a cargo de reis nativos (ou sacerdotes hereditários) e um pequeno reino, comandado por [[{{ilc|Tarcodímoto||Tarcondimotus]]}}, conseguiu se manter independente no oriente. Porém, toda a região foi finalmente anexada à província por [[Vespasiano]] em 72 d.C.<ref>''A Dictionary of the Roman Empire''. By Matthew Bunson. ISBN 0-19-510233-9. See page 90.</ref>. A região era considerada importante o suficiente para ser governada por um [[procônsul]] e ostentava 47 cidades.
 
Durante a [[reforma de Diocleciano]] ({{nwrap|r. |284-|305)}}, por volta de 297, a Cilícia passou a ser governada por um ''[[consularis]]'' e foi subordinada à [[Diocese do Oriente]] da [[Prefeitura pretoriana do Oriente]]. A região exportava um tecido de pelo de cabras, ''cilicium'', com o qual se faziam tendas. Tarso se destacou na época também por ser a cidade natal de [[Paulo de Tarso|São Paulo]], tradicionalmente considerado como o autor de 13 dos 27 livros do [[Novo Testamento]].
 
Depois da divisão do Império Romano, a Cilícia foi herdada pelo [[Império Bizantino]]. No século {{séc|VII}}, a região foi invadida durante a [[expansão muçulmana]]. A região tornou-se, por algum tempo, uma [[terra de ninguém]]. Os [[Califado Omíada|árabes]] conseguiram conquistar a região no início do século {{séc|VIII}} e, depois, durante o [[Califado Abássida]], a Cilícia foi repovoada e transformada numa região de fronteira fortificada (''[[thughur]]''). Tarso, reconstruída entre 787 e 788, rapidamente tornou-se a maior cidade da região e também a mais importante base árabe para os frequentes [[raide]]s às terras muçulmanas para além dos Montes Tauro.
 
Os [[muçulmanos]] defenderam com sucesso a região até a conquista do [[imperador bizantino]] [[Nicéforo II Focas]] {{nwrap|r.|963|969}} numa série de campanhas entre 962 e 965. A partir daí, a Cilícia passou a receber um crescente número de [[armênios]], especialmente depois que os bizantinos avançaram pelo [[Cáucaso]] no século {{séc|XI}} (veja [[Armênia bizantina]]).
 
== Reino Armênio ==
Linha 64:
Na época das [[Cruzadas]], a região foi controlada pelo Reino Armênio da Cilícia. As invasões dos [[turcos seljúcidas]] na [[Armênia Maior|Armênia]] resultaram numa grande migração de [[armênios]] para o território bizantino no ocidente e, em 1080, [[Ruben I da Armênia|Ruben]], um parente do último rei de [[Reino de Ani|Ani]], fundou, no coração dos Montes Tauro da Cilícia, um pequeno principado que gradualmente se expandiu para tornar-se o Reino Armênio. Este estado cristão, rodeado por outros muçulmanos e hostis, teve uma turbulente história de quase 300 anos, durante os quais serviu de apoio aos cruzados e tornou-se um valioso parceiro comercial das [[repúblicas marítimas]] da Itália.
 
[[Constantino I da Armênia|Constantino I]] ({{nwrap|r. |1095-|1100)}} ajudou os cruzados em sua marcha até Antioquia e foi nomeado [[cavaleiro medieval|cavaleiro]] e [[marquês]]. [[Toros I da Armênia|Toros I]] ({{nwrap|r. |1100-|1123)}}, aliado com os príncipes cristãos da Síria, lutou com sucesso contra bizantinos e turcos. [[Leão II da Armênia|Leão II]], ("o Grande",]] {{nwrap|r. |1187-|1219)}} estendeu o reino para além dos Montes Tauro e fundou sua capital em [[Kozan (Adana)|Sis]]. Ele também ajudou os cruzados, foi coroado rei pelo [[arcebispo de Mainz]] e casou-se com uma princesa do [[Reino de Chipre|reino cruzado em Chipre]] da casa dos [[Lusignan]].
 
[[Hetoum I da Armênia|Hetoum I]] ({{nwrap|r. |1266-|1270)}} aliou-se aos [[mongóis]] e enviou seu irmão, [[Sempad (condestável)|Sempad]] até a corte mongol para se submeter pessoalmente<ref>Peter Jackson, ''Mongols and the West'', p. 74.</ref><ref>Angus Donal Stewart, "Logic of Conquest", p. 8.</ref>. Os novos aliados então ajudaram a proteger a Cilícia dos [[mamelucos]] do Egito até que eles também acabaram se convertendo ao [[islã]]. Quando [[Leão V da Armênia|Leão V]] morreu (1342), João de Lusignan foi coroado rei como [[Constantino IV da Armênia|Constantino IV]], mas ele e seus sucessores alienaram os armênios ao tentar impor os ritos e credos da [[Igreja Latina]] na região (a [[Igreja Apostólica Armênia]] ainda hoje não está em [[comunhão plena|comunhão]] com a Igreja Católica) e ao conceder todos os cargos de honra aos "latinos". O reino, desestruturado pelos conflitos internos e sem seus antigos protetores, finalmente sucumbiu aos ataques mamelucos em 1375.
 
A Cilícia ''Trachea''Traqueia foi conquistada pelo [[Império Otomano]] no século {{séc|XV}} enquanto a Cilícia ''Pedias''Pédias só cairia em 1515.
 
== Império Otomano ==
No século {{séc|XV}}, a Cilícia foi conquistada e foi anexada ao [[Vilaiete de Adana]]. A região era uma das mais importantes para os armênios otomanos por ter conseguido preservar bem sua característica armênia ao longo dos anos. Na realidade, as regiões mais altas eram densamente povoadas por camponeses armênios, organizados em pequenas e prósperas vilas ou cidades como [[Hadjin]] e [[Süleymanlı|Zeitun]], duas regiões montanhosas que se mantiveram quase autônomas até o final do século {{séc|XIX}}<ref name="The Armenian People From Ancient to Modern Times">Bournoutian, Ani Atamian. "Cilician Armenia" in ''The Armenian People From Ancient to Modern Times, Volume I: The Dynastic Periods: From Antiquity to the Fourteenth Century''. Ed. Richard G. Hovannisian. New York: St. Martin's Press, 1997, pp. 283-290. ISBN 1-4039-6421-1.</ref><ref name="The Treatment of Armenians in the Ottoman Empire">{{cite book| last=Bryce|first=Viscount|title=The Treatment of Armenians in the Ottoman Empire|publisher=Textor Verlag |year=2008|location=Germany|pages=465–467|isbn=3-938402-15-6}}</ref>. Nas cidades e portos da planície de Adana, comércio e indústria eram dominados por armênios e permaneceram assim por conta do constante influxo de armênios das terras altas. A população crescia continuamente na Cilícia, o que não acontecia em outras regiões do império, onde ela decrescia por causa da repressão. Mesmo depois de massacres, como o [[Massacre de Adana|de Adana em 1909]], a tendência se mantinha<ref name="The Treatment of Armenians in the Ottoman Empire"/>. Durante o [[Genocídio Armênio]] em 1915, os armênios de Zeitum organizaram uma vitoriosa resistência contra o impiedoso ataque turco, mas eles também acabaram derrotados depois que uma delegação armênia de Marash foi forçada a pedir que os habitantes da cidade se rendessem<ref>{{cite book|last=Jernazian|first=Ephraim K.|title=Judgment Unto Truth: Witnessing the Armenian Genocide|publisher=Transaction Publishers |year= 1990|location=New Jersey|pages=53–55|isbn=0-88738-823-X}}</ref>.
 
Entre dezembro de 1918 e outubro de 1921, depois da derrota do Império Otomano na [[Primeira Guerra Mundial]], os franceses passaram a controlar a Cilícia. Pelos termos do [[Tratado de Sèvres]], assinado em 1920, a Cilícia tornar-se-ia um estado armênio independente sob a autoridade francesa. Porém, o tratado jamais teve efeito por causa da [[Guerra da Independência Turca]]. Medidas foram tomadas então para repopular a região com armênios e mais de {{formatnum|170000}} refugiados, a maioria de origem cilícia, deveria ser enviados para a Cilícia a partir de suas casas por franceses e britânicos<ref name="Garabed Moumdjian">{{cite web|url=http://www.armenian-history.com/Nyuter/HISTORY/G_Moumdjian/Garabet_M_Cilicia_under_French_mandater_1918_1921.htm|title=Cilicia Under French Mandate, 1918-1921 - Introduction and the French Administration|last=Moumdjian|first=Garabed K.|work=armenian-history.com|accessdate=2010-03-04}}</ref>. Os armênios formaram a [[União Nacional Armênia]], que atuava como um governo armênio extra-oficial, composto pelos quatro grandes partidos políticos e pelas três grandes denominações religiosas armênias<ref>{{cite web|url=http://www.armenian-history.com/Nyuter/HISTORY/G_Moumdjian/Social-Political.htm|title=Cilicia Under French Mandate, 1918-1921 - Social and Political Life|last=Moumdjian|first=Garabed K.|work=armenian-history.com|accessdate=2010-03-04}}</ref>. Porém, as rivalidades entre franceses e britânicos e as incursões [[kemalistas]] destruíram as aspirações armênias na Cilícia. Em 21 de outubro de 1921, a França assinou o [[Tratado de Ankara]] com os revolucionários kemalistas e deixou a Cilícia para a Turquia<ref name="Garabed Moumdjian"/>.