Batalha de Adrianópolis (378): diferenças entre revisões

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== Cerco de Adrianópolis ==
[[Imagem:Via Egnatia-pt.jpg|250px|thumb|Via Egnácia, principal via romana dos Bálcãs. Adrianópolis fica perto do seu percurso, próximo do ponto em que a orientação muda para sudeste e conduz a Constantinopla. Depois de tomar Adrianópolis, os godos teriam chegado à capital imperial depressa e sem oposição.]]
Os visigodos não se detiveram após a batalha. Acabavam de destruir o maior exército visto na zona e podia-se dizer que já eram os donos dos [[Bálcãs]]. Até mesmo mataram o imperador, ficando o Impérioimpério órfão. O passo mais lógico foi prosseguir a sua política de saques e decidiram começar por Adrianópolis, a pouca distância, com o tesouro imperial no seu interior e para onde conseguira fugir ao redor de um terço (20 000) dos homens de [[Valente (imperador)|Valente]]. Adrianópolis era uma pilhagem muito valiosa, e ainda mais pelo fato de dominar os caminhos para [[Constantinopla]], a própria capital dos romanos do Oriente.
 
A captura da cidade não viria a ser fácil. À guarda urbana somaram-se os soldados sobreviventes da batalha, embora as autoridades locais não permitiram a estes entrar na cidade. No seu lugar deveram construir a toda a pressa um segundo muro de barricadas em torno da cidade atrás dos quais se refugiarem eles e a própria Adrianópolis, onde a própria população começou a colaborar maciçamente com o exército para fazer face à iminente chegada dos godos.
 
Estes chegaram pouco depois. Visando dificultar ainda mais a entrada do inimigo na cidade, bloquearam as portas colocando grandes pedras atrás estas e montaram algumas máquinas de guerra. O bloqueio das portas deixava os restos do exército de Valente sem possibilidade de fugir e refugiar-se. Assim, não é de estranhar que os romanos que avistaram os godos fossem 300 [[Tropas auxiliares romanas|auxiliares]], e que iniciassem a nova batalha lançando-se numa carga tão heroica quanto suicida. Todos os seus integrantes faleceram.
 
Os germanos avançaram até as linhas de defesa da cidade, onde se viram obrigados a deter-se e lutar sob os muros da fortificação, enquanto os romanos que havia em cima lhes lançavam todo tipo de projéteis. Os godos também lançavam as suas próprias armas de arremesso, mas após um determinado momento, os sitiados perceberam que os bárbaros coletavam lanças e flechas do campo de batalha e as voltavam a lançar contra eles, sinal de que as suas ficaram esgotadas. Para deixar os godos sem possibilidade de usar os projéteis que lhes chegavam, ordenou-se quebrar a união entre as pontas e o resto da flecha ou lança. Assim, as armas de arremesso podiam ser usadas uma vez mais, mas quando impactavam com algo (acertassem ou não) quebravam e ficavam inutilizáveis. Adicionalmente, as pontas soltas cravavam-se nos soldados inimigos, sem possibilidade de ser extraídas.
 
Enquanto a luta prosseguia assim nos muros, terminou-se de armar e dispor para o combate um [[onagro (arma)|onagro]]. Os romanos apontaram para o grosso das tropas godas e lançaram a primeira pedra; esta errou o tiro, mas teve certo impacto psicológico sobre os atacantes, que não dispunham de armas de assédio. Não souberam como reagir e perderam momentaneamente a coesão entre as suas forças, facilitando o contra-ataque dos romanos. Após sofrer inúmerasnumerosas baixas e fracassar em cada uma das suas cargas, sendo expulsos dos muros tão pronto apostavam uma escala, os visigodos viram-se finalmente obrigados a retirarem-se e marchar novamente para noroeste, salvando-se Adrianópolis e Constantinopla de sofrer a sua conquista.
 
Uma vez marcharam os godos, os soldados voltaram com o tesouro imperial para Constantinopla ou refugiaram-se em outras cidades mais seguras das imediações. Muitos dos habitantes de Adrianópolis abandonaram também as suas casas por medo a que os bárbaros voltassem, se bem que estes não chegaram a fazê-lo.
 
== Consequências ==
A primeira consequência da esmagadora derrota do [[Império Romano dedo Oriente]] foi o trono vago que Valente deixou em [[Constantinopla]]. Antes que o caos se apropriasse do Oriente, o imperador do Ocidente e sobrinho do defunto, [[Graciano]], encomendou o governo ao general [[Hispânia|hispânico]] Flávio Teodósio, que foi coroado em 379 e chegaria a ser conhecido como [[Teodósio I]]. Teodósio adquiriu o trono do Ocidente anos mais tarde e foi o último homem que governou o [[Império Romano]] na íntegra, pelo que é chamado ''o último dos romanos''.
 
Teodósio dirigiu pessoalmente uma nova campanha contra os godos, que terminou ao cabo de dois anos, após os quais conseguiu derrotá-los e negociar um pacto em 382 com o seu novo chefe, Atanarico, no que voltava a restituí-los como [[federados (Roma Antiga)|federados]] na Mésia. Fritigerno morrera por causas naturais no ano anterior.
 
Ainda que o novo pacto supostamente retornava ao ''[[statu quo]]'' inicial, já nada voltaria a ser igual para os godos nem para os romanos. Após Adrianópolis, os visigodos eram conscientes da sua força e continuaram extorquindo os romanos quanto lhes parecia conveniente. Foi [[Alarico I]] quem chegou mais longe com esta política, e até mesmo aspirou a ocupar algum cargo importante no governo do Império do Oriente. Ao não ver resolvidas as suas demandas, submeteu os Bálcãs a uma nova política de saques, chegando a entrar em [[Atenas]]. Somente cessou quando Rufino, o tutor ostrogodo do filho de Teodósio, o reconheceu como [[mestre dos soldados]] (''magister militum'') da província da [[Ilíria]] {{dn}}. Tal concessão foi na realidade um autêntico roubo, pois forçou os visigodos a instalarem-se numas terras menos ricas e férteis que as que deixavam, e que, além disso, eram disputadas pelos Impérios do Oriente e Ocidente.
 
As desavenças de Alarico com os seus novos vizinhos ocidentais (que não reconheciam o governo do Oriente nem de Alarico sobre a Ilíria) conduziriam ao [[Saque de Roma (410)]], visto pelos contemporâneos como o fim do mundo conhecido.
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Finalmente, o caos ocasionado pelos godos em Adrianópolis foi aproveitado pelos hunos para cruzarem o Danúbio e imitar a política de saques e extorsões que tão bons resultados tinha dado aos visigodos. Quando [[Átila, o Huno|Átila]] chegou ao trono huno em 434, esta política era algo comum para o seu povo, e foi ele que a levou a sua máxima expressão acelerando a [[Queda do Império Romano|queda do Imperio Romano de Occidente]].
 
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{{Tradução/ref|es|Batalla de Adrianópolis}}
 
== Bibliografia ==
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* Amiano MARCELINO, Storie (tradução para o italiano do original latim: ''Rerum Gestarum libri'' XXII), Milão, 2001.
* Amiano MARCELINO, ''The Roman History of Ammianus Marcellinus During the Reigns of The Emperors Constantius, Julian, Jovianus, Valentinian, and Valens'' (Londres: G. Bell & Sons, 1911), pp. 609-618. Cfr.[http://www.fordham.edu/halsall/ancient/378adrianople.html Ancient History Sourcebook: Ammianus Marcellinus (330-395 CE): The Battle of Hadrianopolis, 378 CE]
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== Ligações externas ==