Saartjie Baartman: diferenças entre revisões

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{{Info/Biografia
[[File:Sawtche ( dite Sarah Saartjie Baartman), étudiée comme Femme de race Bôchismann, Histoire Naturelle des Mammifères, tome II, Cuvier, Werner, de Lasteyrie.jpg|thumb|Sarah ''Saartjie'' Baartman]]
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[[Ficheiro:Baartman.jpg|thumbnail|right|300px|Caricatura de Baartman, desenhada no início do [[século XIX]]]]
|nome = Saartjie Baartman
'''Saartjie "Sarah" Baartman''' ([[1789]]-[[1815]]) foi a mais famosa de, pelo menos, duas mulheres [[Khoisan|hotentotes]] usadas como atrações secundárias de [[circo]] na [[Europa]] do [[século XIX]] sob o nome de '''Vénus Hotentote'''.
|imagem = La Belle Hottentot.jpg
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|imagem_legenda = ''La Belle Hottentot'', pintura do século XIX de Baartman.
|nome_completo = Sarah "Saartjie" Baartman
|nascimento_data = 1789<ref name="crais_scully"/>
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'''Sarah "Saartjie" Baartman''' (1789<ref name="crais_scully"/> - 29 de dezembro de 1815)<ref name="crais_scully">{{cite book|title=Sara Baartman and the Hottentot Venus: a ghost story and a biography|year=2009|publisher=Princeton University Press|isbn=978-0-691-13580-9|page=184|authors=Clifton C. Crais, Pamela Scully|accessdate=1 October 2010}}</ref> foi a mais famosa de ao menos duas<ref>Outra "Vênus Hotentote" foi apresentada em 1829 para a [[Princesa Caroline de Nápoles e Sicília|Duquesa de Berry]] [http://www.ph-ludwigsburg.de/html/2b-frnz-s-01/overmann/baf4/colonisation/petitjournal/petitjournalcolonies.html :Poster]</ref> mulheres [[Negros|negras]] do povo [[khoisan]] que foram exibidas como [[Show de aberrações|aberrações]] em eventos na [[Europa]] do século XIX sob o nome de "Vênus Hotentote" ("hotentote" era o nome para o povo [[khoi]], mas que hoje é considerado um termo ofensivo,<ref name=atrest>{{cite web| url=http://www.southafrica.info/about/history/saartjie.htm |title=Sarah Baartman, at rest at last |work=SouthAfrica.info |first=Lucille |last=Davie |date=14 de maio de 2012 |accessdate=6 de agosto de 2012}}</ref> enquanto que "[[Vênus (mitologia)|Vênus]]" é referência à deusa romana do amor.
 
== Biografia ==
=== Sul da África ===
Saartjie Baartman nasceu no seio de uma família [[khoisan]] no vale do [[rio Gamtoos]], na atual província do [[Cabo Oriental]], na [[África do Sul]]. Esta é a forma [[Língua africâner|africânder]] do seu nome, cujo original é desconhecido. ''Saartjie'' (que se pronuncia «Sarqui») pode ser considerado equivalente ao português «Sarazinha».
 
Saartjie era criada de servir numa fazenda de holandeses perto da [[Cidade do Cabo]]. Hendrick Cezar, irmão do seu patrão, sugeriu que ela se exibisse nano [[InglaterraReino Unido]], prometendo que isso a tornaria rica. Lord Caledon, governador do Cabo, permitiu a viagem, embora tenha lamentado tal decisão após saber o seu verdadeiro propósito.
 
=== Exibições na Europa ===
Saartjie foi para [[Londres]] em [[1810]] e viajou por toda a [[Inglaterra]] exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» (segundo a perspetiva europeia), o que levou à opinião generalizada de que estas eram típicas entre os hotentotes.
[[FicheiroImagem:Baartman.jpg|thumbnail|right|300px|Caricatura de Baartman, desenhada no início do [[século XIX]]]]
 
Saartjie foi para [[Londres]] em 1810 e viajou por toda o [[Reino Unido]] exibindo as suas dimensões corporais «inusitadas» (segundo a perspetiva europeia), o que levou à opinião generalizada de que estas eram típicas entre os hotentotes. Mediante um pagamento extra, os seus exibidores permitiam aos visitantes tocar-lhe as nádegas, cujo invulgar volume ([[esteatopigia]]) parecia estranho e perturbador ao europeu da época.
 
Por outro lado, Saartjie tinha ''sinus pudoris'', também conhecido por «avental», «cortina da vergonha» ou «bandeja», em referência aos longos [[pequenos lábios|lábios da genitália]] de algumas Khoisan. Segundo [[Stephen Jay Gould]], «os pequenos lábios ou lábios internos dos genitais da mulher comum são extremamente longos nas mulheres khoi-san e podem sobressair da [[vagina]] entre 7,5 e mais de 10 cm quando a mulher está de pé, dando a impressão de uma cortina de pele distinta e envolvente» (Gould, 1985). Em vida, Saartjie nunca permitiu que este seu derradeiro traço fosse exibido.
 
A sua exibição em [[Londres]] causou escândalo, tendo a sociedade filantrópica [[''African Association]]'' criticado a iniciativa e lançado um processo em tribunal. Durante o seu depoimento, Sarah Baartman declarou, em [[holandês]], não se considerar vítima de coação e ser seu perfeito entendimento que lhe cabia metade da receita das exibições. O tribunal decidiu arquivar o caso, mas o acórdão não foi satisfatório, devido a contradições com outras investigações, pelo que a continuação do espetáculo em Londres tornou-se impossível.
 
No final de [[1814]], Saartjie foi vendida a um francês, [[domador]] de animais, que viu nela uma oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como [[prostituta]] ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras. Foi exposta em [[Paris]], tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da reentronização de [[Napoleão Bonaparte]] no início de 1815 incluíram festas noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher.
 
Foi depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês [[Georges Cuvier]] e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no [[Jardin du Roi]]. O corpo foi totalmente investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do [[clitóris]], dos [[lábios (genitais)|lábios]] e dos [[mamilos]] para museus e institutos zoológicos e científicos. Com a nova derrota de Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a prostituir-se e tornou-se [[alcoolismo|alcoólica]].
 
== Uso de seu corpo ==
No final de [[1814]], Saartjie foi vendida a um francês, [[domador]] de animais, que viu nela uma oportunidade de enriquecimento fácil. Considerando que a adquirira como [[prostituta]] ou escrava, o novo dono mantinha-a em condições muito mais duras. Foi exposta em [[Paris]], tendo de aceitar exibir-se completamente nua, o que contrariava o seu voto de jamais exibir os órgãos genitais. As celebrações da reentronização de [[Napoleão Bonaparte]] no início de 1815 incluíram festas noturnas. A exposição manteve-se aberta durante toda a noite e os muitos visitantes bêbados divertiram-se apalpando o corpo da indefesa mulher.
[[FileImagem:Sawtche ( dite Sarah Saartjie Baartman), étudiée comme Femme de race Bôchismann, Histoire Naturelle des Mammifères, tome II, Cuvier, Werner, de Lasteyrie.jpg|thumb|Sarah ''Saartjie'' Baartman representada em ''Illustrations de Histoire naturelle des mammifères'']]
Desde sua ascensão à fama, o corpo de Baartman foi usado para definir uma fronteira entre a mulher africana "anormal" e a mulher [[Brancos|branca]] "normal". O fato de que ela tinha nádegas protuberantes e uma sociedade [[Lábios (genitais)|lábios menores]] estendidos a fez ser considerada como uma "mulher selvagem". Suas "anomalias", como [[Georges Cuvier]] menciona em ''The Gender and Science Reader'', faziam ela se parecer com tudo, menos com uma mulher branca. Ela tinha uma estrutura mandibular peculiar, um queixo curto e um nariz achatado, que se assemelhava ao de um "negro". Ela então foi considerada parte da "[[raça negra]]", o que na época era considerado o menor tipo de [[seres humanos]]. Ela às vezes era comparada a um [[orangotango]].<ref name="Ingrid Bartsch 2001">The Gender and Science Reader ed. Muriel Lederman and Ingrid Bartsch. New York, Routledge, 2001.</ref>
 
=== Racismo ===
Foi depois exposta a multidões, que zombavam dela. Era alvo de caricaturas, mas chamou também o interesse de cientistas e pintores. O anatomista francês [[Georges Cuvier]] e outros naturalistas visitaram-na, tendo sido objeto de numerosas ilustrações científicas no [[Jardin du Roi]].
[[Imagem:A_Pair_of_Broad_Bottoms.jpg|thumb|Caricatura de Baartman por William Heath (1810).]]
Nas [[caricatura]]s e representações as características de Baartman eram muitas vezes exageradas para destacar sua diferença em relação às mulheres brancas, consideradas "normais". Esta [[construção social]] da imagem visual provavelmente amplificava e reforçava perspectivas [[Racismo|racista]]s. Desde que Baartman passou a estar sujeita a apresentações, não podia usar roupas de estilo europeu. "As pessoas vinham para vê-la, porque a viam não como uma pessoa, mas como um exemplo puro de uma parte presente do mundo natural", diz Crais.<ref>{{cite book|last=Crais and Scully|first=Clifton and Pamela|title=Sara Baartman and the Hottentot Venus: A Ghost Story and a Biography|year=2009|publisher=Princeton University Press}}</ref> Em [[Paris]], os promotores de Baartman não precisavam se preocupar com taxas de [[escravidão]]. "No momento em que ela chegou a Paris", diz Crais, "sua existência foi realmente muito infeliz e extraordinariamente pobre. Sarah estava literalmente sendo tratada como um animal. Há algumas evidências que sugerem que chegaram a colocar uma [[coleira]] ao redor de seu pescoço. "Após sua morte, o corpo de Baartman foi enviado para o laboratório de [[George Cuvier]], no [[Museu Nacional de História Natural (França)|Museu Nacional de História Natural]], para exames. Cuvier queria analisar seus genitais para testar sua teoria de que quanto mais "primitivo" era o [[mamífero]], mais acentuados seriam seus [[órgãos sexuais]] e [[desejo sexual]]. Baartman recusou-se a ser um experimento, enquanto estava viva. Com a permissão da polícia, Cuvier, que acumulou a maior coleção do mundo de espécimes humanos e animais, realizou uma [[autópsia]] no corpo de Baartman. Primeiro, ele fez um molde do corpo, então ele preservou o cérebro e genitais.<ref>{{cite journal|last=Quresh|first=Sadiah|title=Displaying Sarah Baartman, The 'Hottentot Venus'|journal=History of Science|date=June 2004|volume=42}}</ref> Cuvier concluiu que "os hotentotes" eram mais próximos dos [[grandes primatas]] do que os humanos em geral. Os restos foram resumidos a ossos, que foram exibidos por muitos anos depois. O corpo de Baartman não recebeu um enterro apropriado até muito tempo após a sua morte. Crais diz: "Hoje ela está atrás das grades, mesmo em seu túmulo, e ninguém vai visitá-la."<ref>{{cite web|last=Frith|first=Susan|title=Searching for Sara Baartman|url=http://www.jhu.edu/jhumag/0609web/sara.html|publisher=Johns Hopkins Magazine}}</ref>
 
=== Sexismo ===
O corpo foi totalmente investigado e medido, com registo do tamanho das nádegas, do [[clitóris]], dos [[lábios (genitais)|lábios]] e dos [[mamilos]] para museus e institutos zoológicos e científicos.
Entre 1814 e 1870, houve pelo menos sete descrições científicas onde a [[anatomia]] dos corpos de mulheres negras eram comparadas. A dissecção de Baartman por Cuvier ajudou a moldar a ciência europeia. Usando a ciência, a elite francesa tentou vencer seus próprios medos às custas de muitos outros infelizes. Baartman, juntamente com várias outras mulheres africanas que foram dissecadas, eram referidos como "hotentotes". A mulher selvagem era muito distinta do feminino civilizado europeu. Os cientistas do século XIX eram fascinados pela "Vênus Hotentote".<ref>{{cite book|last=ed. Lederman and Bartsch|first=Muriel and Ingrid|title=The Gender and Science Reader|year=2001|publisher=Routledge|location=Nova York}}</ref> Dois séculos atrás, as pessoas em Londres eram capazes de pagar dois [[xelins]] para contemplar seu corpo maravilhadas. Baartman era considerado uma [[aberração]] da natureza. Através de um pagamento extra, podia-se até mesmo cutucá-la com um pedaço de pau ou com o dedo.<ref>{{cite book|last=Crais|first=Clifton|title=Sara Baartman and the Hottentot Venus: A Ghost Story and a Biography|year=2008|publisher=Princeton}}</ref> Enquanto Baartman viveu na Europa, ela foi constantemente caricaturada em desenhos, estudada, exibida ao público e, após a sua morte, dissecada.
 
== Morte e legado ==
Com a nova derrota de Napoleão, o fim do seu governo e a ocupação da França pelas tropas aliadas em junho de 1815, as exposições tornaram-se impossíveis. Saartje foi levada a prostituir-se e tornou-se [[alcoolismo|alcoólica]]. Morreu em dezembro de 1815, ao cabo de 15 meses em França. Como causa da morte, foram aventadas várias hipóteses: [[varíola]], [[sífilis]] ou [[pneumonia]].
[[Imagem:Saartjie_Baartman-001.JPG|thumb|Memorial em homenagem a Baartman no Vale do [[Rio Gamtoos]], [[Cabo Oriental]], [[África do Sul]]]]
Ela morreu no dia 29 de dezembro de 1815 por conta de uma doença inflamatória indeterminada,<ref name="jsa-154">{{cite journal|journal=The Journal of Science and the Arts|year=1818|volume=III|issue=V|page=p. 154|url=http://www.archive.org/stream/journalsciencea02britgoog#page/n187/mode/1up/search/venus|accessdate=19 de julho de 2010|title=Proceedings of the Academy of Sciences of the Royal Institute of France}}</ref> possivelmente [[varíola]],<ref>''In The Blood'' por Steve Jones (p. 204).</ref><ref> Times [London, England] 6 Jan. 1816: 3. The Times Digital Archive. Web. 7 Ago. 2012.</ref> enquanto outras fontes sugerem que ela tenha contraído [[sífilis]]<ref name=atrest/> ou [[pneumonia]]. A [[dissecção]] de seu corpo foi realizada e publicada pelo anatomista francês [[Henri Marie Ducrotay de Blainville]] (1816) e republicado pelo naturalista francês [[Georges Cuvier]] em ''Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle'' (1817). Cuvier, que conhecera Baartman, observou em sua monografia que o seu objeto de estudo era era uma mulher inteligente, com uma memória excelente, especialmente para rostos. Além de sua língua nativa, ela falava [[Língua neerlandesa|neerlandês]] fluentemente, tinha um [[Língua inglesa|inglês]] razoável e algum conhecimento de [[Língua francesa|francês]]. Ele descreve os ombros e costas dela como "graciosos", com "braços delgados", mãos e pés como "encantadores" e "bonitos". Ele acrescenta que ela era adepta de [[berimbau de boca]], dançava de acordo com as tradições de seu país e tinha uma personalidade alegre. Apesar disso, ele interpretou seus restos mortais, de acordo com suas teorias sobre [[Raças humanas|evolução racial]], como a manifestação de traços semelhantes a [[macaco]]s. Ele acreditou que suas orelhas pequenas eram semelhantes as de um orangotango e também comparou sua vivacidade, quando viva, à rapidez de um macaco.<ref name="Qureshi">Sadiah Qureshi, Displaying Sara Baartman, the ‘Hottentot Venus’ History of Science, Volume 42, Parte 2, Número 136, Junho de 2004, p.233-257</ref> Seu esqueleto, órgãos genitais e cérebro foram preservados e colocados em exposição em Paris, no [[Musée de l'Homme]],<ref name="rumor">Hal Morgan and Kerry Tucker. ''Rumor!'' Fairfield, Pennsylvania: Penguin Books, 1984, p. 29.</ref> até 1974, quando então foram retirados da visitação pública e guardados; ainda assim, um acervo foi exibido pelos dois anos seguintes.<ref>{{cite book|title=Untrodden fields of anthropology : observations on the esoteric manners and customs of semi-civilized peoples|publisher=American Anthropoligical society|url=http://www.archive.org/stream/cu31924029859174#page/n459/mode/1up/search/venus|author=X, Jacobus, Dr., pseud; Carrington, Charles|accessdate=19 de julho de 2010}}</ref>
 
Houve pedidos esporádicos para o retorno de seus restos mortais ao continente africano, começando na década de 1940. Um poema escrito em 1978 por [[Diana Ferrus]], ela própria descendente do povo khoisan, intitulado ''Eu vim para te levar para casa'', desempenhou um papel fundamental no estímulo ao movimento para trazer os restos de Baartman de volta para sua terra natal.<ref name=atrest/> O caso ganhou proeminência mundial só depois de [[Stephen Jay Gould]] escrever '' The Hottentot Venus'' na década de 1980. Após a vitória do [[Congresso Nacional Africano]] na eleição geral na [[África do Sul]] em 1994, o presidente [[Nelson Mandela]] solicitou formalmente que a [[França]] devolvesse os restos mortais. Depois de muita disputa legal e debates na [[Assembleia Nacional Francesa]], o governo francês aceitou o pedido em 6 de março de 2002. Seus restos mortais foram repatriados para sua terra natal, o Vale do [[Rio Gamtoos]], em 6 de maio de 2002<ref name=bbcnews2002>{{cite news |title='Hottentot Venus' goes home|url=http://news.bbc.co.uk/2/low/europe/1957240.stm |publisher=BBC|date=29 de abril de 2002|accessdate=13 de outubro de 2008}}</ref> e eles foram enterrados em 9 de agosto de 2002, sobre Vergaderingskop, uma colina na cidade de Hankey, mais de 200 anos depois de seu nascimento.<ref>{{cite web|url=http://academic.sun.ac.za/history/news/s_kerseboom.pdf|title="Burying Sara Baartman": Commemoration, Memory and Historica Ethics.1|last=Kerseboom|first=Simone|publisher=Stellenbosch University History Department|accessdate=23 de outubro de 2008}}</ref>
== Legado ==
Saartjie Baartman morreu a [[29 de Dezembro]] de [[1815]] de uma doença inflamatória. Para não ter de pagar o enterramento, o domador de animais vendeu o cadáver ao [[Musée de l'Homme]] (Museu do Homem), em Paris, onde foi feito um molde em gesso do corpo. Os resultados da autópsia foram publicados por [[Henri de Blainville]] em [[1816]] e por Cuvier em ''Mémoires du Museum d'Histoire Naturelle'' em [[1817]]. Cuvier anotou, nessa monografia, que Saartjie era uma mulher «inteligente, com excelente memória e fluente em holandês». Além do molde em gesso, o [[Esqueleto humano|esqueleto]], os órgãos [[genitais]] e o [[cérebro]], conservados em formol, estiveram em exibição até [[1974]].
 
Baartman se tornou um ícone na África do Sul, como uma representante de muitos aspectos da história da nação. O Centro Saartjie Baartman para mulheres e crianças,<ref>[http://www.saartjiebaartmancentre.org.za The Saartjie Baartman Centre for Woman and Children]</ref> um refúgio para sobreviventes de [[violência doméstica]], foi inaugurado na [[Cidade do Cabo]] em 1999. A primeira embarcação de proteção ambiental da África do Sul, a Sarah Baartman, leva também o seu nome.<ref>{{cite news |url=http://www.news24.com/News24/Technology/News/0,,2-13-1443_1645283,00.html |title=SA takes on poachers |date= 11 de novembro de 2005 |archiveurl = http://web.archive.org/web/20070930211009/http://www.news24.com/News24/Technology/News/0,,2-13-1443_1645283,00.html |archivedate = 30 de setembro de 2007}}</ref> Atualmente, ativistas e acadêmicos consideram Baartman um símbolo da exploração ocidental dos africanos e do racismo.
A partir da [[década de 1940]], houve apelos esporádicos pela devolução dos seus restos mortais, mas o caso só ganhou relevância após o biólogo [[Estados Unidos|norte-americano]] [[Stephen Jay Gould]] ter pubicado ''The Hottentot Venus'' na [[década de 1980]].
 
== Ver também ==
Quando se tornou presidente da [[África do Sul|República da África do Sul]], [[Nelson Mandela]] requereu formalmente à [[França]] a devolução dos restos mortais de Saartjie Baartman. Após inúmeros debates e trâmites legais, a [[Parlamento|Assembleia Nacional]] francesa acedeu ao pedido em [[6 de Março]] de [[2002]].
*[[Racismo]]
*[[História da colonização de África]]
*[[Comércio atlântico de escravos]]
 
{{referências|col=2}}
Os restos mortais de Sarah Baartman foram inumados na sua terra natal, Gamtoos Valley, a [[3 de Maio]] de [[2002]].
 
=== Bibliografia ===
* Gilman, Sander L. (1985). ''Black Bodies, White Bodies: Toward an Iconography of Female Sexuality in Late Nineteenth-Century Art, Medicine, and Literature''. In: Gates, Henry (Ed.) ''Race, Writing and Difference''. Chicago: University of Chicago Press. p. 223-261. (em inglês)
* Gould, Stephen Jay (1985). ''The Hottentot Venus''. In: ''The Flamingo's Smile.'' New York: W.W. Norton & Company. p. 291-305. (em inglês)
* Crais, Clifton and Pamela Scully (2008). Sara Baartman and the Hottentot Venus: A Ghost Story and a Biography. Princeton, Princeton University Press. ISBN 978-0-691-13580-9
* Fausto- Sterling, Anne (1995). "Gender, Race, and Nation: The Comparative Anatomy of 'Hottentot' Women in Europe, 1815–1817". In Terry, Jennifer Terry and Jacqueline Urla (Ed.) "Deviant Bodies: Critical Perspectives on Difference in Science and Popular Culture", 19-48. Bloomington, Indiana University Press. ISBN 0-253-32898-5.
* Gilman, Sander L. (1985). "Black Bodies, White Bodies: Toward an Iconography of Female Sexuality in Late Nineteenth-Century Art, Medicine, and Literature". In Gates, Henry (Ed.) ''Race, Writing and Difference'' 223-261. Chicago, University of Chicago Press.
* Zhao, V. H., Lin, S. W., Liu, K. J. R. (2011). Behavior dynamics in Afrikaan culture. New York, NY: Cambridge University Press.
* Ritter, Sabine: ''Facetten der Sarah Baartman: Repräsentationen und Rekonstruktionen der ‚Hottentottenvenus‘''. Münster etc.: Lit 2010. ISBN 3-643-10950-4.
* Strother, Z.S. (1999). "Display of the Body Hottentot", in Lindfors, B., (ed.), ''Africans on Stage: Studies in Ethnological Show Business''. Bloomington, Indiana, Indiana University Press: 1-55.
* Qureshi, Sadiah (2004), 'Displaying Sara Baartman, the 'Hottentot Venus', ''History of Science'' 42:233-257. [http://www.negri-froci-giudei.com/public/pdfs/qureshi-baartman.pdf PDF available here].
* Qureshi, Sadiah (2011), ''Peoples on Parade:Exhibitions, Empire and Anthropology in Nineteenth-Century Britain'', University of Chicago Press. ISBN 0-2267-0096-8.
*Willis, Deborah (Ed.) "Black Venus 2010: They Called Her 'Hottentot' ISBN 978-1-4399-0205-9. Philadelphia, PA. Temple University Press
 
== Ligações externas ==
{{Commons category|Saartjie Baartman}}
* [http://www.english.emory.edu/Bahri/Hott.html ''La Belle Hottentot''] (em inglês)
* [http://www.southafrica.info/about/history/saartjie.htm Site do governo sul-africano sobre Baartman] {{en}}
* [http://www.english.emory.edu/Bahri/Hott.html ''La Belle Hottentot''] (em inglês){{en}}
 
{{Biografias}}
{{Portal3|África do Sul}}
 
[[Categoria:Nascidos em 1789]]