Folclore brasileiro: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Rugendascongada.jpg|thumb|Um Congado no século XIX, fixado por Rugendas. Ao centro, o Rei do Congo, coroado]]
 
;==== [[Carnaval]] ====
{{AP|Carnaval}}
Tem uma origem antiquíssima; há mais de seis mil anos, no [[Egito]], quando se comemoravam as colheitas, nasceu o Carnaval. Depois se alastrou pelo [[Mediterrâneo]] e [[Europa]], onde especialmente a [[Roma Antiga]] e mais tarde [[Veneza]] desenvolveram carnavais suntuosos. Hoje é festejado em quase todo o mundo. No Brasil fez sua aparição por volta de 1640, sendo conhecido pelo nome de [[entrudo]], uma festa que simbolizava a liberdade mas amiúde acabava em tumultos violentos, pelo que acabou sendo banido várias vezes, sempre sem efeito, até a década de 1930, quando passou a ser substituído pelos folguedos mais aceitáveis do Carnaval como hoje o conhecemos. Mas também as elites promoviam seu próprio carnaval, sendo o primeiro deste gênero registrado no tempo de [[Dom João IV]], e realizado em sua homenagem. Contou com desfiles de rua, bloco de sujos ([[travesti]]s) e mascarados, corridas e combates simulados. Em torno de 1840, realizou-se o primeiro baile público de máscaras, no Rio. A mascarada carnavalesca, que predominava nos teatros e salões frequentados pela elite, foi aos poucos ganhando forças até, por volta de 1850, se projetar para a rua. Os mascarados desfilavam a pé ou de carro puxado a cavalos, origem dos [[carro alegórico|carros alegóricos]], estendendo-se até os arrabaldes. Desfilavam grupos numerosos de estranhos personagens fantasiados como figuras cômicas ou elegantes. Festa disseminada em todo o Brasil, consolidou-se apenas em meados do século XX e hoje tem diversas variantes regionais, que adotam ritmos e decorações específicos a cada local. Permanece até hoje forte influência europeia, que transmitiu personagens carnavalescos típicos como o [[Rei Momo]], o [[Pierrô]], a [[Colombina]] e o [[Arlequim]].<ref>Faleiro, Angelita. [http://books.google.com/books?id=WA9vLY2AKX0C&pg=PA58&dq=%22festas+folcl%C3%B3ricas%22&hl=pt-BR&ei=3BlTTfy1J4HrgQefwczTCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC4Q6AEwAA#v=onepage&q=%22festas%20folcl%C3%B3ricas%22&f=false ''Desbravando nosso folclore'']. Biblioteca24x7, 2010. pp. 56-70</ref><ref>Lima, Claudia. [http://www.claudialima.com.br/pdf/O%20ENTRUDO%20E%20O%20CARNAVAL%20BRASILEIRO.pdf ''O Entrudo e o Carnaval Brasileiro'']. Página da pesquisadora, 2011.</ref>
 
==== Congada ====
; [[Congado]]
{{AP|Congada}}
Também chamado de '''Congo''' ou '''Congada''', nasceu entre as irmandades de negros em Portugal, no século XV, recordando as festas que homenageavam a realeza africana, absorvendo também traços católicos. Trazida para o Brasil, teve ampla difusão, mas a festa se fortaleceu na região das [[Minas Gerais]] no século XVIII, quando da chegada, capturados como escravos, de membros da realeza congolense, que aglutinaram os negros em torno a si dentro da moldura das irmandades católicas. É uma festa de apoteose e redenção, encenando a coroação do Rei do Congo, acompanhado de um cortejo compassado, cavalgadas, levantamento de mastros e música. São utilizados instrumentos musicais tipicamente africanos, como a [[cuíca]], a [[caixa]], o [[pandeiro]], o [[reco-reco]], que sustentam a [[batucada]]. Na celebração dos santos associados, frequentemente [[São Benedito]] e [[Nossa Senhora do Rosário]], a aclamação é animada através de danças, e há uma hierarquia, onde se destaca o rei, a rainha, os generais, capitães, etc. O resto do povo é dividido em grupos de número variável, chamados ternos: Moçambiques, Catupés, Marujos, Congos, Vilões e outros. Cada terno desempenha uma função ritual própria na festa e no cortejo.<ref>Gabarra, Larissa Oliveira. ''Congado: A Festa do Batuque''. IN ''Caderno Virtual de Turismo'', Vol. 3, N° 2, 2003</ref>
 
;==== [[Farra do Boi|Farras de Boi]]boi e [[Cavalhadas]] ====
{{AP|Farra do boi|Cavalhadas}}
Suas muitas variantes florescem por grande parte do Brasil são em essência teatralizações dramáticas que envolvem um ou mais animais, respectivamente bois e cavalos. Às vezes o animal é real, como nos [[rodeio]]s, e a festa se centra em torno da doma da besta, simbolizando o domínio do ser bruto pelo homem pensante e sendo uma prova de coragem e habilidade; ou, no caso mais comum do cavalo, se presta a corridas e outros exercícios montados, em exibições de destreza e arte; às vezes o animal é um personagem criado, uma estilização, como no caso do [[Boi-bumbá]], com os conhecidos bois-ícones do [[Festival de Parintins]], chamados Garantido e Caprichoso, representantes de grêmios rivais. A representação é dramática porque o boi é às vezes um mártir, transfigurado pela sua ressurreição, a exemplo da festa do [[Boi Calumba]], ligada ao ciclo do Natal, ou acontece uma luta, ou ele escapa da morte por um triz, novamente características do Bumbá. Às vezes as cavalhadas reencenam as lutas entre mouros e cristãos e os torneios medievais, com trajes apropriados, como no caso das [[Cavalhadas de Pirenópolis]], hoje tombadas pelo [[IPHAN]] como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Também é comum a inserção de trechos satíricos na narrativa encenada.<ref>[http://books.google.com/books?id=WA9vLY2AKX0C&pg=PA58&dq=%22festas+folcl%C3%B3ricas%22&hl=pt-BR&ei=3BlTTfy1J4HrgQefwczTCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC4Q6AEwAA#v=onepage&q=%22festas%20folcl%C3%B3ricas%22&f=false Faleiro, p. 219]</ref><ref>[http://www.brazilsite.com.br/teatro/teat02a.htm ''Bumba Meu Boi'']. Brasil Site, Gen Produções Culturais Ltda. 2011</ref><ref>[http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL466094-5598,00-ENCENACAO+DE+BATALHA+ENTRE+CRISTAOS+E+MOUROS+E+TRADICAO+EM+GO.html ''Encenação de batalha entre cristãos e mouros é tradição em GO'']. Globo, 12/05/08 - 09h58</ref>
 
;==== [[Folia de Reis]] ====
{{AP|Folia de Reis}}
Tem origem europeia e foi trazida para o Brasil pelos portugueses, sendo comemorada em todo o território nacional entre a véspera de [[Natal]], 24 de dezembro, e o [[dia de Reis]], 6 de janeiro. Em geral grupos de cantadores e instrumentistas se reúnem e, acompanhados de multidão e às vezes outros personagens, como o Louco, o Juiz, palhaços e porta-estandartes, saem pelas ruas a pedir esmolas. Suas cantigas evocam e parafraseiam os textos e eventos bíblicos referentes a estas datas, como se lê em um verso recolhido por Faleiro:<ref>[http://books.google.com/books?id=WA9vLY2AKX0C&pg=PA58&dq=%22festas+folcl%C3%B3ricas%22&hl=pt-BR&ei=3BlTTfy1J4HrgQefwczTCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC4Q6AEwAA#v=onepage&q=%22festas%20folcl%C3%B3ricas%22&f=false Faleiro, pp. 59-61]</ref>
 
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[[Imagem:Mastrodivino noname.jpg|thumb|Devoto levantando o Mastro do Divino na festa de [[Pirenópolis]]]]
 
;==== [[Festa do Divino]] ====
{{AP|Festa do Divino Espírito Santo}}
Foi um desenvolvimento germânico da festa romana ''Floralia'', que celebrava a renovação da vida na primavera. Introduzida em Portugal pela esposa do rei [[Dinis I de Portugal|Dom Dinis]], [[Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal|Dona Isabel de Aragão]], depois santa, que, segundo a tradição, teve um sonho que lhe indicou um local onde deveria erguer uma igreja em honra ao [[Divino Espírito Santo]]. No século XVII a Festa do Divino jé era comemorada em todas as colônias portuguesas, com muitas variantes. No Brasil se fundiu a outras tradições: índias, emprestando por exemplo a dança do [[cateretê]], e africanas, entre elas a [[congada]], a [[marujada]], o [[maracatu]]. Conforme a localidade, coretos animam as praças, descem os blocos de foliões e bandas de música pelas ruas, correm [[cavalhada]]s, dançam bailes de fandangos e quadrilhas, passam em desfile carros de boi enfeitados, seguidos de escolares, devotos e quantos queiram; outros se entretêm com números circenses. Vários rituais compõem a festa, que simbolizam relações de classe e onde se perpetuam valores coletivos. Elege-se um "Imperador do Divino" para presidir a festa, lembrando o rei e a corte lusitana; ergue-se um mastro com uma pomba no topo, há procissões com cantorias visitando casas, rezam novenas, ocorrem encontros com bênçãos e saudações cerimoniais. Em [[Mogi das Cruzes]], por exemplo, Fernando de Moraes coletou este refrão:<ref>De Moraes, Fernando Oliveira. [http://books.google.com/books?id=DUQT0NOl7TkC&pg=PA111&dq=%22festa+do+divino%22&hl=pt-BR&ei=0ixTTcyGMYrqgQfEkqi_CA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCgQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false ''A Festa do Divino em Mogi das Cruzes: folclore e massificação na sociedade contemporânea'']. Annablume, 2003. pp. 39-43; 88-111</ref><ref>Moraes Filho, Melo. [http://books.google.com/books?id=H7jO5rdnW6wC&pg=PA86&dq=%22festa+do+divino%22&hl=pt-BR&ei=0ixTTcyGMYrqgQfEkqi_CA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CDIQ6AEwAg#v=onepage&q=%22festa%20do%20divino%22&f=false ''Festas e Tradições Populares do Brasil'']. Singular Digital, s/d. pp. 86-89</ref>
::Ao chegar o grupo a uma casa, saúdam dizendo:
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::::''Há de ser abençoada por esta bandeira donzela"''.<ref>[http://books.google.com/books?id=DUQT0NOl7TkC&pg=PA111&dq=%22festa+do+divino%22&hl=pt-BR&ei=0ixTTcyGMYrqgQfEkqi_CA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CCgQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false De Moraes, pp. 93-94]</ref>
 
; [[Festas Juninas]]
Comemoram os santos católicos [[João Batista]], [[Santo Antônio de Pádua|Antônio]] e [[São Pedro|Pedro]], são possivelmente uma herança de antigas tradições agrícolas [[pagã]]s. Vieram com os portugueses, enraizaram-se primeiro no Nordeste e logo se espalharam por todo o Brasil. As referências mais antigas foram dadas no século XVI pelo Frei [[Vicente de Salvador]]:<ref name="Lima"/>
 
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As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:
 
;==== [[Adivinhação|Adivinhações]] ====
{{AP|Adivinhação}}
Também chamadas de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.
* '''Exemplo:'''
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**** ''Olhos''
 
;==== [[Provérbios]] ====
{{AP|Ditado popular}}
Ditos que contém ensinamentos, como ''"[[Dinheiro]] compra [[pão]], mas não compra gratidão"''; ''"A fome é o melhor tempero"''; ''"Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão"'', e ''"Pagar e morrer é a última coisa a fazer"''.
 
==== Quadrinhas ====
; [[{{AP|Quadrinha]]s}}
Estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.
 
;==== [[Piada]]sPiadas ou anedotas ====
{{AP|Piada}}
História curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de [[humor]] que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia. No Brasil são muito comuns piadas envolvendo o Joãozinho ou a Mariazinha, personagens supostamente ingênuos mas de fato espertos e ferinos; as piadas de papagaio, sexo e pescaria, e as ironizando portugueses, mulheres burras ou feias, bêbados, caipiras, padres e homossexuais. Um exemplo de piada de papagaio:
 
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[[Imagem:Quote truck.jpg|thumb|Frase de para-choque: ''Trabalho com minha família para servir a sua'']]
 
;==== [[Literatura de Cordel]]cordel ====
{{AP|Literatura de cordel}}
Também chamada de '''Folheto''' ou '''Romance''', tem origem nas tradições medievais da literatura europeia. As canções de gesta, as narrativas históricas, novelescas ou fantásticas, as histórias bíblicas e os exemplários (contos usados para ilustrar tratados morais) são algumas das fontes que contribuíram para o seu surgimento. Introduzida no Brasil via Portugal, se consolidou em meados do século XVIII, ligada ao nascimento das feiras de agricultores. Comum no nordeste brasileiro, consiste de livrinhos com narrativas em verso, que são expostos para venda pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos a situações sociais, políticas e econômicas atuais. Muitas vezes são ilustrados com [[xilogravura]]s de caráter ingênuo mas muito expressivo, o que lhes aumenta o interesse e os torna rica fonte iconográfica do imaginário popular. Entre seus autores mais notórios estão [[Leandro Gomes de Barros]], [[Zé Limeira]], [[João Martins de Athayde]] e [[Cuíca de Santo Amaro]].<ref>[http://www.ablc.com.br/historia/hist_cordel.htm ''História do Cordel'']. Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2011</ref><ref>Vieira, Antônio. [http://www.portaldocordel.com.br/oQueE.html ''O que é o Cordel?'']. Portal do Cordel, 2011</ref><ref>[http://www.lendo.org/o-que-e-literatura-de-cordel-autores-obras/ ''Literatura de Cordel: a literatura popular no país da falatória'']. Lendo.org, Abr 09 2008</ref><ref>[http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=definicoes_texto&cd_verbete=5217&cd_item=46 ''Literatura de Cordel'']. Enciclopédia Itaú Cultural, 28/04/2010</ref> Um trecho de Zé Limeira:
 
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::''Três anjos na farinhada"''.<ref>Monk, Moziel T. [http://www.blodega.com/index.php/2009/07/18/o-surreal-ze-limeira/ ''O Surreal Zé Limeira'']. Blodega, 18 julho 2009</ref>
 
;==== Frases de para-choque de caminhão ====
{{AP|Frase de pára-choque}}
Frases que caminhoneiros pintam em seus para-choques, podendo ser humorísticas, sexuais, moralidades, devoções, ou podem revelar sucintamente uma visão de mundo e de vida, em pérolas de sabedoria prática. Exemplos: ''"Mulher bonita e melancia grande, ninguém consegue comer sozinho"; "Na subida, paciência; na descida, dá licença"; "Nasci pelado, careca e sem dente: o que vier é lucro".''<ref>[http://pt.wikiquote.org/wiki/Frases_de_p%C3%A1ra-choque_de_caminh%C3%A3o ''Frases de para-choque de caminhão'']. Wikiquote, 2011</ref>
 
;==== [[Trava-Língua]]slínguas ou parlendas ====
{{AP|Trava-línguas}}
É um pequeno texto, rimado ou não, que constitui um desafio de [[pronúncia]]. Os exemplos são ilustrativos: ''"Um tigre, dois tigres, três tigres"; "Atrás do quadro da escola bibliotécnica estava um papibaquígrafo"; "Num ninho de mafagafos tem seis mafagafinhos; quem desmafagafizar esses seis mafagafinhos bom desmafagafizador será"''.
 
==== Algumas lendas e mitos bem conhecidos ====
{{AP|[[Lendas do folclore brasileiro]]}}
 
;==== [[Boitatá]] ====
{{AP|Boitatá}}
Uma lenda indígena que descreve uma cobra de fogo de olhos enormes ou flamejantes. Foram encontrados relatos do Boitatá em cartas do padre jesuíta [[José de Anchieta]], em 1560. Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios. A narrativa varia muito de região para região. Único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra, o Boitatá escapou entrando num buraco e lá ficando, no escuro, motivo pelo qual seus olhos cresceram. Outros dizem que é a alma de um malvado, que vai incendiando o mato à medida que passa. Por outro lado, em certos locais ele protege a floresta dos incêndios. Algumas vezes persegue os viajantes noturnos, ou é visto como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. Tem vários outros nomes: Cumadre Fulôzinha, Baitatá, Batatá, Bitatá, Batatão e Biatatá. O Boitatá pode ser uma explicação mágica para o fenômeno do [[fogo-fátuo]].<ref name="Lendas brasileiras"/>
 
;==== [[Capelobo]] ====
{{AP|Capelobo}}
É um monstro com corpo de homem, focinho de anta ou de tamanduá e pés de girafa, que perambula durante as noites, em busca de algum alimento, lá pelas bandas do [[rio Xingu]]. Adora comer as cabeças de cães e gatos recém-nascidos. Também adora beber o sangue de gente e de outros animais, rasgando-lhes a carótida. Só pode ser morto com um tiro na região do umbigo. É uma espécie de lobisomem indígena.<ref name="ReferenceA">Pericão, Alexandra. ''Uaná, um curumim entre muitas lendas''. São Paulo: Editora do Brasil; 2011; 1ª ed.</ref>
 
;==== [[Cobra-Grande]]grande ====
{{AP|Cobra-Norato}}
Serpente lendária da Região Norte, que mora entre as rochas dos rios e lagoas, de onde sai para afundar barcos. Quando ela sai das rochas, troveja, lança raios e faz chover. Se a chuva é muito forte e ameaçadora de novo dilúvio, toma a forma de arco-íris e serena as águas. Ainda segundo a lenda, a lua é a cabeça da serpente, as estrelas são os olhos e o arco-íris é o sangue da ''cobra-grande''.<ref>Espinheira, Ariosto. ''Viagem Através do Brasil'', Volume 1, 6a. Edição, Edições Melhoramentos.</ref>
 
;==== [[Corpo-seco|Corpo-Seco]] ====
{{AP|Corpo-seco}}
Um homem muito cruel, que surrava a própria mãe. Ao morrer, foi rejeitado por Deus e o Diabo. Não foi enterrado, porque a própria terra, enojada, vomitou seu corpo. Assim, perambula por aí, com o corpo todo podre, ainda cheio de ódio no coração, fazendo mal a todos os que cruzam o seu caminho. Há relatos desta lenda nos estados de São Paulo, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e na região Centro-Oeste.<ref name="ReferenceA"/>
 
;==== [[Lenda do boto|Boto]] ====
{{AP|Lenda do boto}}
Acredita-se que a lenda do [[boto]] tenha surgido na [[região amazônica]]. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto. Esta lenda pode ser uma versão sobrevivente do Ipupiara original, que depois se transformou na [[Iara]].<ref>[http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/boto.htm ''O Boto que vira um rapaz bonito ou Ipupiara'']. Brasil Folclore, 2011</ref>
[[Imagem:Curupira.png|thumb|130px|Curupira]]
[[Imagem:Lobisomem.jpg|thumb|130px|Lobisomem]]
 
;==== [[Cuca]] ====
{{AP|Cuca}}
Diz a lenda que era uma velha feia com forma de [[jacaré]], que rouba as crianças desobedientes. A figura da Cuca tem afinidades funcionais com a do '''[[Bicho-papão]]''' e do '''[[Velho-do-saco]]''', seres medonhos a quem alguns pais ameaçam entregar as crianças rebeldes.<ref>[http://www.radardanet.com/folclore-brasileiro-%E2%80%93-o-bicho-papao-e-a-cuca ''Folclore Brasileiro – O Bicho Papão e a Cuca'']. Radar da Net, 2011</ref>
 
;==== [[Curupira]] ====
{{AP|Curupira}}
Também conhecido como '''Caipora''', '''Caiçara''', '''Caapora''', '''Anhanga''' ou '''Pai-do-mato''', todos esses nomes identificam uma entidade da [[mitologia tupi-guarani]], um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um [[anão]] de cabelos vermelhos e compridos, e com os pés virados para trás, que fazem se perder aqueles que o perseguem pelos rastros. Monta um porco do mato e castiga todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira. Os índios, para agradá-lo, deixavam oferendas nas clareiras, como penas, esteiras e cobertores. Também se dizia que uma pessoa deveria levar um rolo de fumo se fosse entrar na mata, para lhe oferecer caso o encontrasse. Sua presença é relatada desde os primeiros tempos da colonização. Conforme a região ele pode ser uma mulher ou uma criança de uma perna só que anda pulando, ou um homem gigante montado num porco do mato, tendo como acompanhante o cachorro Papa-mel.<ref name="Lendas brasileiras">[http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/lendas.htm ''Lendas brasileiras'']. Brasil Escola</ref>
 
;==== [[Lobisomem]] ====
{{AP|Lobisomem}}
Lenda que aparece em várias regiões do mundo, falando da desgraça de um homem que tem sua natureza humana fundida com a de um lobo periodicamente, sob influência da [[Lua cheia]]. Nesta condição ele é uma criatura feroz que ataca pessoas. Ele pode ser o resultado de um pacto de alguém com as forças do mal, ou nasceu na condição de sétimo filho homem de seus pais.<ref>[http://www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/lobisomem.htm ''Lobisomem'']. Brasil Folclore, 2001</ref>
 
;==== [[Iara]] ====
{{AP|Iara}}
Relatada no Brasil desde o século XVI, a lenda da Iara é parte da [[mitologia]] universal, sendo uma variante da figura da [[sereia]]. No princípio, a Iara se chamava Ipupiara, um homem-peixe que levava pescadores para o fundo do rio, onde os devorava. No século XVIII ocorreu a mudança, e o Ipupiara se tornou a sedutora sereia Uiara ou Iara, que enfeitiça os pescadores com sua beleza e canto e os leva para o fundo das águas. Por vezes ela assume a forma humana completa e sai em busca de suas vítimas.<ref name="Lendas brasileiras"/>
 
;==== [[Mandioca]] ====
{{AP|Mandioca}}
Um mito indígena que tem seu princípio na menina Mara, filha de um cacique, que vivia sonhando com o amor e um casamento feliz. Certa noite, adormeceu e sonhou com um jovem loiro e belo que descia da Lua e dizia que a amava. Mara apaixonou-se, mas logo o jovem desapareceu de seus sonhos, e embora virgem, percebeu que esperava um filho. Deu à luz uma graciosa menina, de pele branca e cabelos loiros, a quem chamou Mandi. Em sua tribo foi adorada como uma divindade, mas adoeceu e acabou falecendo. Mara sepultou a filha em sua [[oca]] e, inconsolável, de joelhos, chorava todos os dias sobre a sepultura, deixando cair leite de seus seios, para que a filha revivesse. Um dia brotou ali um arbusto. Cavando a terra, Mara encontrou raízes muito brancas, brancas como Mandi, que, ao serem raspadas, exalavam um aroma agradável. Todos entenderam que criança viera à Terra para alimentar seu povo. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca, pois Mandi fora sepultada na oca.<ref>[http://singrandohorizontes.wordpress.com/2009/01/11/folclore-indigena-mandioca-mavutsin-o-primeiro-homem-o-primeiro-kuarup-festa-dos-mortos/ ''Mandioca – o pão indígena'']. Singrando Horizontes, 1 janeiro 2009</ref>
 
;==== [[Mapinguari]] ====
{{AP|Mapinguari}}
Monstro que ainda hoje atemoriza os moradores da floresta na região amazônica. Segundo as descrições o Mapinguari é uma criatura parecida com um macaco, mais alto que um homem, de pelo escuro, com grande focinho que lembra o de um cachorro, garras pontiagudas, uma pele de jacaré, um ou dois olhos e que exala um forte mau cheiro. Segundo o índio Domingos Parintintin, líder de uma tribo, ele só pode ser morto com uma pancada na cabeça. Mas há grande risco, pois a criatura tem o poder de fazer a vítima ficar tonta e ''"ver o dia virar noite"''. David Oren, ex-diretor de pesquisa no [[Museu Paraense Emílio Goeldi]], afirma que a lenda do Mapinguari é uma reminiscência de possíveis contatos de homens primitivos com as últimas [[Preguiça-gigante|preguiças gigantes]] que viveram na região. A persistência de relatos recentes de avistamento levou a cientistas organizarem expedições à região, que não resultaram, contudo, em encontro com ou identificação do animal.<ref>[http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1742556-EI306,00.html ''Cientistas tentam encontrar "monstro da Amazônia"'']. Terra notícias, 07 de julho de 2007 - 18h13</ref><ref>Mesquita, Paulo Aníbal G. [http://www.malima.com.br/amazonia/blog_commento.asp?blog_id=32 ''Mapinguari - Fato ou Mito?'']. IN ''Revista Sexto Sentido''. 2010-05-06 16:05</ref>
 
;==== [[Mula sem cabeça]] ====
{{AP|Mula sem cabeça}}
Lenda hispânico-portuguesa, cuja versão mais corrente é a de uma mulher, virgem ou não, que dormiu com um padre, pelo que sofre a maldição de se transformar nesse monstro em cada passagem de quinta para sexta-feira, numa encruzilhada. Outra versão fala que se nascesse uma criança desse amor proibido, e fosse menina, viraria uma mula sem cabeça; se menino, seria um lobisomem. A Mula percorre sete povoados naquela noite de transformação, e se encontrar alguém chupa seus olhos, unhas e dedos. Apesar do nome, a Mula sem cabeça, acordo com quem já a "viu", aparece como um animal completo, que lança fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro. Às vezes, vista de longe, parece chorar um choro humano e pungente. Se alguém lhe tirar os freios o encanto se quebra; também basta que se lhe inflija qualquer ferimento, desde que verta pelo menos uma gota sangue.<ref name="Lendas brasileiras"/>
[[Imagem:Saci perere.jpg|thumb|130px|Saci Pererê]]
 
;==== [[Negrinho do Pastoreio]] ====
{{AP|Negrinho do Pastoreio}}
Lenda afro-cristã de um menino escravo que é espancado pelo dono e largado nu, sangrando, em um formigueiro, por ter perdido um cavalo baio. No dia seguinte, quando foi ver o estado de sua vítima, o estancieiro tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas, nem fora comido pelas formigas. Ao lado dele, [[Nossa Senhora]], e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu com a tropilha. Depois disso, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam notícia de ter visto passar uma tropilha de tordilhos, tocada por um negrinho montado em um cavalo baio. Então, muitos passaram a acender velas e rezar um [[Pai Nosso]] pela alma do supliciado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma coisa, o que fosse, pedia-la ao Negrinho, que a campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, que ele levava para o altar de sua madrinha, a Virgem que o livrara do cativeiro.<ref>Lopes Neto, João Simões. [http://pt.wikisource.org/wiki/O_Negrinho_do_Pastoreio ''O Negrinho do Pastoreio'']. Disponível em Wikisources</ref>
 
;==== [[Saci Pererê]] ====
{{AP|Saci}}
Provável importação portuguesa, relatado primeiramente na [[Região Sudeste]], no século XIX. O Saci Pererê é um menino negro de uma perna só, e, conforme a região, é um ser maligno, benfazejo ou simplesmente brincalhão. Está sempre com seu cachimbo, e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas. A lenda também diz que o Saci se manifesta como um [[redemoinho]] de vento e folhas secas, e pode ser capturado se lançarmos uma peneira ou um rosário sobre o redemoinho. Se alguém tomar-lhe a carapuça, tem um desejo atendido. Se alguém for perseguido por ele, deve jogar cordões enozados em seu caminho, pois ele vai parar para desatar os nós, permitindo que a pessoa fuja. Às vezes se diz que ele tem as mãos furadas na palma, e que sua maior diversão é jogar uma brasa para o alto para que esta atravesse os furos. Há uma versão que diz que o Caipora é seu pai. Os [[tupinambá]]s tinham uma história afim, uma ave chamada Matita-perera, que com o tempo, passou a se chamar Saci-pererê, deixando de ser ave para se tornar um caboclinho preto e perneta, que aparecia aos viajantes perdidos nas matas.<ref name="Lendas brasileiras"/>
 
;==== [[Lenda da vitória-régia|Vitória Régia]]====
{{AP|Lenda da vitória-régia}}
Lenda de origem tupi-guarani, contando que, no começo do mundo, toda vez que a Lua se escondia no horizonte ia folgar com suas virgens prediletas. Se a Lua gostava de uma jovem, a transformava em estrela. Naiá, filha de um chefe e princesa da tribo, ficou impressionada com a história. Quando todos dormiam e a Lua andava pelo céu, Naiá subia as colinas e perseguia a Lua na esperança que esta a visse e a transformasse em estrela. Fez isso por longo tempo, e chorava porque a Lua não a notava. Certa noite, em prantos à beira de um lago, Naiá viu refletida nas águas a imagem da Lua. Pensado que ela enfim viera buscá-la, Naiá atirou-se nas águas, e nunca mais foi vista. Compadecida, a Lua resolveu transformá-la em uma estrela diferente, a "Estrela das Águas", a planta [[vitória régia]], cujas flores brancas e perfumadas só abrem à noite, e ao nascer do sol ficam rosadas.<ref name="Lendas brasileiras"/><ref>Pericão, Alexandra = Uaná, um curumim entre muitas lendas - Editora do Brasil, 2011</ref>