Teosofia: diferenças entre revisões
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'''Teosofia''' refere-se a um conjunto de doutrinas [[filosóficas]], [[Misticismo|místicas]], [[ocultistas]] e especulativas<ref>{{citar periódico|título=Forward, to the East: Mapthali Herz Imber's Perception of Kabbalah|último=Huss|primeiro=Boaz|ano=2013|periódico=Journal of Modern Jewish Studies|volume=12|número=3|página=398|doi=10.1080/14725886.2013.826464}}</ref> que buscam conhecimento direto dos mistérios presumidos da vida e da natureza, particularmente da natureza da divindade e da origem e propósito do universo. Esta escola mística/movimento iniciático propõe que todas as religiões surgiram a partir de ensinamentos de tronco comum, que se foram, de certa forma, recombinando e permutando, nas suas diversas mutações e encarnações, e que, apesar de comungarem de um tronco comum, acabam muitas vezes por deturpar os ensinamentos da doutrina original.<ref>{{citar livro|título=Western Esotericism: A Guide for the Perplexed|último=Wouter J|primeiro=Hanegraaff|local=Londres; Nova Iorque|editora=Bloomsbury Academic|ano=2013|páginas=35, 99|isbn=9781441146748|lccn=2012019254|oclc=777652932}}</ref> A teosofia é considerada parte do [[esoterismo ocidental]], que acredita que o conhecimento escondido ou a sabedoria do passado antigo oferece um caminho para a [[iluminação]] e a [[salvação]], tendo base nos ensinamentos de [[Jakob Boehme]], [[Friedrich Cristoph Oetinger]], [[Paracelsus]], [[Emanuel Swedenborg]] e [[Louis Claude de Saint-Martin]] assim como a [[Kabbalah]] Judaica . De notar que quando colocamos a teosofia nestes termos estamo-nos a referir a todo e qualquer movimento que tenha surgido no pré-Blavatskismo, estando, portanto, conotado com o movimento de gnose cristã do século XVI, XVIII e XIX
A origem etimológica do termo teosofia vem da ''{{ling|grc|theosophia}}'' ({{lang|grc|θεοσοφία}}), grega (θεοσοφία), que combina ''{{ling|grc|theos}}'' (θεός), "Deus" e ''sophia'' (σοφία), "sabedoria", que significa "sabedoria divina", remontando assim para uma dimensão conotada com o universo do neoplatonismo (quer o movimento do século XVI, iniciado sobretudo a partir de Itália, quer o movimento do século XIX, iniciado sobretudo na Alemanha). A partir do final do século XIX, o termo teosofia geralmente foi usado para se referir às doutrinas religioso-filosóficas da [[Sociedade Teosófica]], fundadas em Nova York em 1875 por [[Helena Blavatsky]], [[William Quan Judge]] e [[Henry Steel Olcott]]. O trabalho principal de Blavatsky, ''[[The Secret Doctrine]]'' (1888), foi uma das obras fundamentais da teosofia moderna.<ref>{{harvnb|Blavatsky|1888}}</ref>
Contudo existem diferenças substancias, entre o movimento de gnose espiritualista cristã do século XVI-XVIII e aquilo que viria a ser a doutrina sincrética de [[Helena Blavatski]] (quase comparáveis à diferença entre o movimento rosacruciano ortodoxo, e depois encarnações que este viria a ter mais tarde como é o caso da [[Ordo Templi Orientis]] ou da [[Ordem Hermética da Aurora Dourada]], movimentos com conotações substancialmente diferentes dos originais. No caso da teosofia a semelhança mantém-se na ideia de [[transmigração da alma]] e no conceito de [[metempsicose]] que é aceite quer por pelo movimento da teosofia cristã, quer pela síntese de blavatski, com nuances. Convém referir que a ideia latente em
== Origens do nome ==
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== Conceitos básicos ==
{{Artigo principal|[[Doutrina teosófica]]}}
[[
Emblema da Sociedade Teosófica, sincretizando diversos conceitos básicos da Teosofia, como os ciclos cósmicos, a eternidade da vida, e a polaridade Espírito-Matéria]]
Para os teosofistas, este ''corpus'' de conhecimento, a Sabedoria de Deus, com a [[ética]] a esse associada, é tão antigo quanto o mundo, e a rigor é o único conhecimento que vale a pena ser adquirido. Sua realidade e importância são relembradas às pessoas periodicamente, sob diversas denominações e formalizações, adequadas ao espírito de cada época, local e povo para quem é apresentado, e é o tronco vivo e eterno de onde brotam as flores do ensinamento original todas as grandes religiões do mundo, do passado e do presente. Segundo um dos inspiradores do movimento teosófico contemporâneo, o [[Kut Humi|Mestre K.H.]], a quem Blavatsky dizia seguir, ''"a Teosofia não é uma nova candidata à atenção do mundo, mas é apenas uma declaração nova de princípios que têm sido reconhecidos desde a infância da humanidade"''.<ref>'''K.H.''' ''The Mahatma Letters to A. P. Sinnett - Letter 8'', de 20 de fevereiro de 1881. Theosophical University Press Edition [http://www.theosociety.org/pasadena/mahatma/ml-8.htm]</ref>
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A Teosofia diz que a fonte de todo mal é a ignorância. O conhecimento, segundo prega, é ilimitado, mas se bem que sua totalidade esteja além do alcance de qualquer ser individual, é em vasta medida acessível a todos através de um longo processo de evolução, aprendizado e aperfeiçoamento, que necessariamente exige múltiplas encarnações, e continua até mesmo para regiões e idades onde a encarnação deixa de ser compulsória e a vida progride de beatitude em beatitude. A Teosofia é uma doutrina essencialmente otimista, pois refuta qualquer condenação eterna e não nega o mundo, ainda que declare que este que vemos e tocamos não é o único nem o maior, mais feliz ou mais desejável, e prevê para todos os seres sem exceção um progresso constante e um destino glorioso e absolutamente feliz. Como todas as grandes doutrinas espirituais, a Teosofia exalta o bem, a paz, o amor, o [[altruísmo]], e promove a cessação da pobreza, da ignorância, da opressão, das discórdias e desigualdades.
Apesar de reconhecer a importância das religiões em estado mais puro como disseminadoras de ensinamentos importantes, não é uma filosofia [[Teísmo|teísta]], se bem que possa ser descrita como [[Panteísmo|panteísta]], já que como um dos Mahatmas declara<ref>'''Mestre K.H.''' ''O que é Deus - A visão de um Mestre de Sabedoria'' com rigor cartesiano, a existência de [[Deus]] como uma entidade distinta do universo dificilmente pode ser provada, mas reconhece níveis diferentes de evolução entre os seres, numa escada graduada que se ergue a alturas insondáveis.== Literatura ==[[Imagem:Helena Petrovna Blavatsky.jpg|thumb|180px|direita|Helena Blavatsky.]]Entre as exposições contemporâneas da Teosofia mais importantes e originais estão sem dúvida os escritos da própria Helena Blavatsky, que incluem ''[[Ísis sem véu]]'' ([[1877]]), ''[[A Doutrina Secreta]]'' ([[1888]]) e uma infinidade de panfletos, cartas e artigos sobre o tema, traduzindo, divulgando e esclarecendo uma massa de conceitos filosóficos e religiosos e princípios morais orientais, até então mal conhecidos e ainda menos compreendidos pelos povos do ocidente. Além de pintar um vasto painel da religião universal, utilizando especialmente o pensamento do oriente, analisa os dados comparando-os com as tradições do ocidente, lançando luz nova sobre pontos obscuros, desfazendo conceitos errôneos de nossas próprias linhas de pensamento e em outros casos corroborando com definições Hinduístas ou Budistas muitos dos elementos basilares das doutrinas [[Cristã]], [[Judaísmo|Judaica]], [[Islamismo|Islâmica]], [[Gnosticismo|Gnóstica]] e outras de importância para a metade ocidental do globo.Blavatsky foi uma escritora prolífica e incandescente, e sua memória para fontes raras e mesmo desconhecidas no ocidente era notoriamente prodigiosa. Contudo, de acordo com a autora, muitas vezes foram usados meios [[esotérico]]s para a composição dos textos, não podendo ela reivindicar a verdadeira autoria de grande parte do que havia escrito.<ref>Citada por '''Heindel, Max'''. In ''Blavatsky and The Secret Doctrine'' [http://members.tripod.com/rosanista/library01/bsdeng01.htm]</ref> De qualquer forma, quando ''A Doutrina Secreta'' apareceu, como uma continuação, ampliação e aprofundamento de material já abordado em ''Ísis sem Véu'', foi imediatamente reconhecida como uma obra-prima por inúmeros luminares da Europa, e é a pedra angular da Teosofia contemporânea. O texto é um debate filosófico monumental, onde a autora cita uma profusão inacreditável de fontes e esgrime com estonteante erudição argumentos históricos, antropológicos, arqueológicos, mitológicos, filosóficos, biológicos, químicos, hermenêuticos, filológicos e muitos outros, contra as superstições insensatas travestidas de [[dogma]]s das religiões, demonstrando a raiz comum a todos os credos, e tecendo duros ataques a todo formalismo religioso vazio e a toda fé cega, mas reconhecendo o valor de todas as [[Igreja]]s como instituições divinas e caminhos válidos para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo, sendo possuidoras de parcelas importantes da Verdade Única. Seguiram-se outros escritos, e dentre eles merece destaque ''[[A Voz do Silêncio]]'' ([[1889]]), uma pungente e exaltada descrição do íngreme mas glorioso [[Senda|Caminho]] que leva à [[santidade]], ao mesmo tempo que é um manual prático para aspirantes.▼
▲Blavatsky foi uma escritora prolífica e incandescente, e sua memória para fontes raras e mesmo desconhecidas no ocidente era notoriamente prodigiosa. Contudo, de acordo com a autora, muitas vezes foram usados meios [[esotérico]]s para a composição dos textos, não podendo ela reivindicar a verdadeira autoria de grande parte do que havia escrito.<ref>Citada por '''Heindel, Max'''. In ''Blavatsky and The Secret Doctrine'' [http://members.tripod.com/rosanista/library01/bsdeng01.htm]</ref> De qualquer forma, quando ''A Doutrina Secreta'' apareceu, como uma continuação, ampliação e aprofundamento de material já abordado em ''Ísis sem Véu'', foi imediatamente reconhecida como uma obra-prima por inúmeros luminares da Europa, e é a pedra angular da Teosofia contemporânea. O texto é um debate filosófico monumental, onde a autora cita uma profusão inacreditável de fontes e esgrime com estonteante erudição argumentos históricos, antropológicos, arqueológicos, mitológicos, filosóficos, biológicos, químicos, hermenêuticos, filológicos e muitos outros, contra as superstições insensatas travestidas de [[dogma]]s das religiões, demonstrando a raiz comum a todos os credos, e tecendo duros ataques a todo formalismo religioso vazio e a toda fé cega, mas reconhecendo o valor de todas as [[Igreja]]s como instituições divinas e caminhos válidos para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo, sendo possuidoras de parcelas importantes da Verdade Única. Seguiram-se outros escritos, e dentre eles merece destaque ''[[A Voz do Silêncio]]'' ([[1889]]), uma pungente e exaltada descrição do íngreme mas glorioso [[Senda|Caminho]] que leva à [[santidade]], ao mesmo tempo que é um manual prático para aspirantes.
Outros seguidores imediatos também deram contribuições volumosas, valiosíssimas e originais ao tesouro da Teosofia contemporânea, entre eles [[Annie Besant]], [[Alfred Sinnett]], [[Henry Olcott]], [[Charles Leadbeater]] e [[George Robert Stowe Mead|George Mead]], e desde lá a literatura teosófica não cessou de crescer, com a produção mais recente de [[Radha Burnier]], [[Geoffrey Farthing]], [[Geoffrey Hodson]] e uma legião de pensadores contemporâneos.
== A Teosofia na prática ==
A Teosofia, com o vasto acervo de informações de variada natureza, sua [[didática]] cristalina, o idealismo e formosos panoramas, oferece alimento espiritual e instrução prática para toda classe de pessoas, do rude ao educado, do cientista ao devoto. A aquisição metódica e progressiva do conhecimento teosófico, seja individualmente ou através de associações e grupos de estudo ou Lojas Teosóficas, com sua necessária aplicação prática, impele em todos os casos a uma mudança para melhor no estilo de vida. Sua descrição científica, objetiva, mas não menos entusiasta e bela do mundo, e a explicação clara dos mecanismos gerais invisíveis, esclarece o propósito da existência, dissipa muitos terrores religiosos arcaicos, ensina a evitar muitas aflições e sofrimentos supostamente inescapáveis, dá vida nova a formas religiosas tradicionais cujo poder motivador se perdera para o fiel, e ensina o caminho para uma vida material e espiritualmente frutífera em harmonia com tudo o que vive, em obediência às leis eternas que regem e sustentam os mundos manifestos. Também sistematiza técnicas graduadas de autoaprimoramento físico, moral e espiritual, e desvenda novos horizontes e novas possibilidades para a humanidade a cada novo conceito apreendido e posto em prática, em direção à materialização da paz na Terra a todos os seres.<ref>
== Influência ==
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Com sua abordagem lógica, positiva, ética e científica da natureza, do divino, do homem, da vida, do misticismo e dos fenômenos ocultos, exerceu grande influência em estadistas como [[Gandhi]]. É de se frisar, contudo, que Gandhi nunca considerou a possibilidade de aceitar-se como membro da Sociedade Teosófica, negando todos os convites feitos. Ao dar-se conta das críticas severas e fundamentadas que a Teosofia tinha já desde sua origem, Gandhi deixou claro que, de forma alguma, se renderia associar seu nome a esta sociedade.
A Teosofia também influenciou artistas como [[Mondrian]], [[Scriabin]] e [[Yeats]]. Além disso, deu subsídios a Igrejas progressistas como a [[Igreja Católica Liberal]], originou um sem-número de escolas, dissidências e derivações mais ou menos inspiradas, e deu um impulso ao renascimento de cultos arcaicos ou à fundação de outros de tom futurista que são encontráveis na cultura ocidental de hoje, como os movimentos [[Wicca]] e [[New Age]].
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O casal Coulomb foi um dos primeiros detratores de Blavatsky, acusando-a de ser uma embusteira. Outro dos críticos foi [[Richard Hodgson]], autor de um relatório sobre o caso Coulomb, onde ratificava as acusações contra ela. Também foi suspeita de ser uma agente do governo russo. Contudo, tais ataques foram mais tarde reavaliados por outros autores como [[Adlai Waterman]] e [[Vernon Harrison]], e suas conclusões revelaram que os argumentos e provas levantados contra Blavatsky eram tão duvidosos quanto suas alegadas fraudes, estando longe de adotarem uma postura imparcial e científica.<ref>'''Thackara, Will.''' ''On Theosophy and Madame Blavatsky''. The Theosophical Society, Pasadena. [http://www.victorianweb.org/religion/theosophy2.html]</ref><ref>'''Harrison, Vernon.''' ''H. P. Blavatsky y la Sociedad para las Investigaciones Psíquicas - Un estudio del Reporte Hodgson de 1885.'' Theosophical University Press, Online Edition. [http://www.theosociety.org/pasadena/hpb-spr/hpbspr-hp.htm]</ref> Os escritos de Blavatsky também foram acusados de [[racista]]s, denegrindo [[etnia]]s como os [[árabe]]s e [[aborígene]]s. Porém estas opiniões aparentemente são baseadas na leitura descontextualizada de certos trechos, e devem ser entendidas com um grão de sal, no panorama mais amplo da [[teleologia]] Teosófica, onde é pregada a [[evolução]] das formas de vida, necessariamente incluindo estágios primitivos e outros mais avançados. Ela jamais defendeu, por exemplo, coisas como "limpezas étnicas", mas não se pode dissimular o fato de que tais argumentos podem ter sido tendenciosamente usados por outros para apoiar movimentos de fato racistas e [[genocídio|genocidas]] como o [[Nazismo]]. [[Peter Washington]] escreveu recentemente um livro de crítica de grande repercussão intitulado ''Madame Blavatsky's Baboon: Theosophy and the Emergence of the Western Guru'', mas foram detectados diversos erros e omissões significativos no texto e o uso de fontes de segunda e terceira mão, contribuindo para perpetuar inverdades já esclarecidas mas, por outro lado, também para renovar o interesse pela matéria<ref>[http://www.theosophy-nw.org/theosnw/theos/baboon.htm '''Thackara, Will.''' ''Notes on Madame Blavatsky's Baboon'']</ref>
Leadbeater foi o foco de um escândalo sexual envolvendo jovens pupilos que o obrigou à renúncia de suas funções na Sociedade Teosófica, mas aparentemente tudo teria sido um mal-entendido, o simples resultado da [[educação sexual]] clara e objetiva que dava a eles e que incluía a recomendação da prática da [[masturbação]] em casos específicos, quando a natureza do jovem era excessivamente passional e a fim de evitar que ele se entregasse a relações sexuais impulsivas ou potencialmente prejudiciais.<ref>Citado por '''Lutyens, Mary.''' ''Krishnamurti: The Years of Awakening'', Avon Books, in ''Charles Webster Leadbeater''. Wikipedia, The Free Encyclopedia
Outro grave momento disruptivo ocorreu com o fracasso da instituição da Ordem da Estrela do Oriente, quando [[Krishnamurti]] desautorizou o movimento, lançado pelo antigo preceptor Leadbeater e secundado por Annie Besant, para torná-lo o novo veículo do Instrutor do Mundo, e rompeu com a ST, declarando-se independente. Estes eventos, mais outras dissidências internas, contribuíram para o descrédito da Teosofia e da Sociedade Teosófica, especialmente após a retirada de membros importantes como [[William Quan Judge|William Judge]] e George Mead.
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