Música do Brasil: diferenças entre revisões

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{{AP|Lundu|Modinha|Choro}}
[[Imagem:Rugendas lundu 1835.jpg|thumb|left|180px|O lundu praticado no século XIX, em gravura de [[Rugendas]].]]
A música popular brasileira é resultado da confluência cultural de três etnias: o índio, o branco e o negro, dos quais herdamos todo o instrumental, o sistema harmônico, os cantos e as danças.<ref name="DINIZ/2006-19p">Diniz, 2006, p.19</ref> Como manifestação cultural expressiva, ela surgiu no início do [[século XIX]], nos principais centros do então [[Brasil Colônia]], notadamente [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], [[Pernambuco]] e [[Bahia]], entoada por pessoas que cantavam [[modinha]]s e [[lundu]]s ao violão, ao piano ou acompanhadas por bandas instrumentais.<ref name="DINIZ/2006-20p">Diniz, 2006, p.20</ref> Os dois principais gêneros musicais urbanos nos tempos do [[Império Brasileiro|Império]] e do [[Brasil República|início da República]] eram o lundu e a modinha, apreciados tanto em saraus literário-musicais da elite da época e quanto nas ruas, tabernas e lares mais simples. Sozinhos ou em grupo, instrumentistas ao violão saíam à noite pelas ruas e residências entoando músicas românticas e cristalizando, ao final do [[século XIX]], a tradição da [[seresta]].<ref name="DINIZ/2006-22p">Diniz, 2006, p.22</ref><ref name="Edilson">Lima, Edilson Vicente de. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista12-mat6.pdf "A modinha e o lundu no Brasil"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista12-mat6.pdf |date=20150629021945 }}. In: ''Textos do Brasil'', nº 12</ref>
[[Imagem:Joaquimcalado.jpg|thumb|150px|Joaquim Calado.]]
[[Imagem:Chiquinha 6a.jpg|thumb|150px|Chiquinha Gonzaga.]]
 
Originalmente uma dança africana que chegou ao Brasil, via [[Portugal]], ou diretamente, com os escravos vindos de [[Angola]], o lundu tinha uma natureza sensual e humorística que foi censurada na metrópole, mas no Brasil recuperou este caráter, apesar de ter incorporado algum polimento formal e instrumentos como o [[bandolim]]. Mais tarde o lundu, que de início não era cantado, evoluiu assumindo um caráter de canção urbana e se tornando popular como dança de salão.<ref name="Fluminense">Abreu, Martha. [http://www.historia.uff.br/nupehc/files/martha.pdf "Histórias da Música Popular Brasileira, uma análise da produção sobre o período colonial"]. Núcleo de Pesquisas em História Cultural da Universidade Federal Fluminense</ref><ref name="Portal">[http://www.portaledumusicalcp2.mus.br/Apostilas/PDFs/8ano_06_HM%20Popular%20Brasileira.pdf ''História da Música Popular Brasileira''] {{Wayback|url=http://www.portaledumusicalcp2.mus.br/Apostilas/PDFs/8ano_06_HM%20Popular%20Brasileira.pdf |date=20150630144952 }}. Portal de Educação Musical do Colégio Pedro II</ref> Outra dança muito antiga é o [[cateretê]], de origem indígena e influenciada mais tarde pelos escravos africanos.
 
Já a modinha tem origem possivelmente portuguesa a partir de elementos da ópera italiana, foi citada pela primeira vez na literatura por [[Nicolau Tolentino de Almeida]] em [[1779]], embora seja ainda mais antiga.<ref>'''Fryer, Peter''' (1 de março de 2000). ''Rhythms of Resistance''. Pluto Press, 142-143. ISBN 0-7453-0731-0.</ref> [[Domingos Caldas Barbosa]] foi um de seus primeiros grandes expoentes, publicando uma série que foi extremamente popular na época. A modinha é em linhas gerais uma canção de caráter sentimental de feição bastante simplificada, muitas vezes de estrutura estrófica e acompanhamento reduzido a uma simples [[Viola caipira|viola]] ou [[guitarra]], sendo de apelo direto às pessoas comuns. Mesmo assim era uma presença constante nos [[sarau]]s dos aristocratas, e podia ser mais elaborada e acompanhada por [[flauta]]s e outros instrumentos e ter textos de poetas importantes como [[Tomás Antônio Gonzaga]], cujo ''Marília de Dirceu'' foi musicado uma infinidade de vezes. A modinha era tão apreciada que também músicos da corte criaram algumas peças no gênero, como Marcos Portugal, autor de uma série com letras extraídas da ''Marília de Dirceu'', e o Padre José Maurício, autor da célebre ''Beijo a mão que me condena''.<ref name="Edilson"/><ref name="Fluminense"/><ref name="Portal"/>
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Inspirado no modelo das [[opereta]]s, o [[Teatro de Revista]] teve seu início no Brasil em meados do século XIX com a apresentação em 1859 da peça ''As Surpresas do Sr. José da Piedade'', de [[Justiniano de Figueiredo Novaes]]. O gênero caiu no agrado das massas e se caracterizava por ser uma crítica satírica aos costumes. Os números apresentados eram em geral canções populares ou paródias de obras célebres, acompanhadas por uma orquestra de câmara. Nos [[Década de 1930|anos 30]] atingiu seu auge, com encenações luxuosas que apresentavam as suas estrelas, as ''vedetes'', com trajes sumários, o que deu origem à derivação do [[Teatro Rebolado]]. As companhias mais famosas foram as de [[Walter Pinto]] e [[Carlos Machado (produtor)|Carlos Machado]], revelando talentos como [[Carmen Miranda]], [[Wilza Carla]], [[Dercy Gonçalves]] e [[Elvira Pagã]], que fizeram imenso sucesso.<ref name="Portal"/>
 
Também no fim dos anos 30 iniciou no Brasil a chamada ''Era do Rádio'', acompanhando um maciço crescimento no número de compositores e no público consumidor, formando um enorme mercado potencial. Como o processo de gravação de discos ainda era primitivo, com resultados de baixa qualidade, o rádio veio a ser o canal privilegiado para a circulação desta produção nova. Como disse Tom Tavares, "a deficiência não era no campo da criação. Era na área da gravação, uma vez que os estúdios existentes não dispunham, ainda, de recursos técnicos ideais para captação e reprodução sonora. E, se os discos gravados em 78 rotações não ofereciam fidelidade, tampouco os microfones, tampouco os transmissores e, menos ainda, os raríssimos receptores. [...] E o rádio caiu no gosto do povo".<ref name="rádio"/> Este meio de comunicação assumiu um importante papel de divulgador de música popular até bem dentro da década de 1950, lançando muitos novos talentos e tendo uma programação diversificada. Várias emissoras mantinham grandes orquestras e importantes cantores fixos, mas perdeu rapidamente espaço quando se popularizou a televisão. No rádio alguns intérpretes conquistaram uma audiência nacional, como [[Dolores Duran]], [[Dalva de Oliveira]], [[Cauby Peixoto]], [[Nora Ney]], [[Emilinha Borba]], [[Marlene]], [[Vicente Celestino]] e [[Ângela Maria]].<ref name="rádio">Tavares, Tom. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat9.pdf "Dos reis do rádio à boquinha da garrafa"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat9.pdf |date=20150629060916 }}. In: ''Textos do Brasil,'' (11):85-89</ref><ref>Cabral, Sérgio. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat11.pdf "A Rádio Nacional..."] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat11.pdf |date=20150629065153 }}. In: ''Textos do Brasil,'' (11):85-89</ref>
 
Destaca-se na sequência a [[bossa nova]], um movimento basicamente urbano, originado no fim dos anos 50 em saraus de universitários e músicos da classe média. De início era apenas uma forma (''bossa'') diferente de cantar o [[samba]], mas logo incorporou elementos do [[Jazz]] e do [[Impressionismo]] musical de [[Debussy]] e [[Maurice Ravel|Ravel]], e desenvolveu um contorno intimista, leve e coloquial, baseado principalmente na voz solo e no [[piano]] ou violão para acompanhamento, ainda que com refinamentos de harmonia e ritmo. Dentre seus maiores nomes estão o de [[Nara Leão]], [[Carlos Lyra]], [[João Gilberto]], [[Toquinho]], [[Vinícius de Morais]] e [[Tom Jobim]].<ref name="barquinho">Maciel, Luiz Carlos. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat14.pdf "O Conteúdo Político e a Evolução da MPB: Chico Buarque: sai o barquinho, entra o conteúdo"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat14.pdf |date=20150629022431 }} In: ''Textos do Brasil'', (11):104-109</ref> De acordo com Luiz Carlos Maciel,
 
::"Seu objetivo era colocar a música popular brasileira na vanguarda musical do planeta. Contudo, em extensa medida, ela obedecia à tradição. O ritmo básico continuava a ser o samba, embora enriquecido por recursos mais sofisticados, como as [[Síncope (música)|síncopas]] criadas por João Gilberto; as melodias eram líricas e ternas; e, finalmente, as letras ainda tinham como principal tema os problemas das relações afetivas, as dores do amor, e preservavam o prazer no sofrimento que caracteriza tradicionalmente as canções românticas. As novidades, portanto, eram mais formais do que conteudísticas. Mas essas inovações formais eram importantes e manifestavam um novo espírito, urbano, culto e mesmo sofisticado. [...] Evidentemente, a música popular brasileira tradicional já era notável pelo lirismo de sua invenção melódica e, principalmente, por sua vitalidade rítmica. A proposta fundamental, agora, era de enriquecê-la com um avanço em termos de harmonia. [...] Mas não foi apenas no plano estritamente musical que se verificou uma evolução. Ao contrário dos antigos artistas da música popular brasileira tradicional, vindos das camadas mais pobres da população brasileira, de instrução modesta e informação escassa, os novos artistas tinham freqüentemente formação universitária, eram informados e até cultos. As letras das canções passaram a manifestar uma inédita intenção literária, fazendo com que muitos desses compositores acabassem sendo considerados ''poetas'' até mesmo por critérios acadêmicos".<ref name="barquinho"/>
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No entanto, no início dos anos 60, à medida que o movimento da bossa nova evoluía, o esteticismo original dava lugar à introdução de temas políticos, tendência exemplificada em [[Zé Keti]] e [[João do Vale]], fazendo com que ela sofresse uma cisão em duas correntes opostas, abrindo o campo para a polêmica. A politização da música popular ganharia corpo sob a [[Ditadura militar no Brasil|ditadura]] implantada em 1964, aparecendo o gênero da "canção de protesto", como a famosa "[[Pra não Dizer que não Falei das Flores|Caminhando]]", de [[Geraldo Vandré]]. É a época dos grandes festivais musicais na [[TV]], onde surgiu uma geração universitária de compositores e cantores, entre os quais [[Chico Buarque]] e [[Edu Lobo]], que seria idolatrada pela intelectualidade e classificada sob a sigla MPB (Música Popular Brasileira). Era um movimento intimamente ligado ao engajamento político contra a ditadura.<ref name="barquinho"/>
 
O movimento [[Tropicália|tropicalista]], também caracterizado como uma música de protesto, surgindo na mesma época e nos mesmos palcos da TV, distinguiu-se por associar numa mistura eclética, reminiscente do [[movimento antropofágico]], elementos da cultura pop, como o [[rock]], e da cultura de elite, como as escolas modernista e [[concretismo|concretista]] das artes visuais, tendo um caráter mais erudito e experimental. Os baianos [[Caetano Veloso]] e [[Gilberto Gil]] foram os principais expoentes desse movimento.<ref>Toffano, Maria Jaci. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat15.pdf "Caetano Veloso e a Tropicália: a releitura da antropofagia"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat15.pdf |date=20150629003631 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):</ref> Já o Iê Iê Iê ligava-se basicamente ao rock produzido nos Estados Unidos, embora no Brasil tenha se suavizado e adotado uma temática romântica em uma abordagem muitas vezes ingênua, numa corrente que veio a ser conhecida como [[Jovem Guarda]], de grande apelo entre as massas, tendo como grandes nomes [[Roberto Carlos]], [[Erasmo Carlos]], [[Tim Maia]], [[Wanderléa]], [[José Ricardo]], [[Wanderley Cardoso]] e conjuntos como [[Renato e Seus Blue Caps]], [[Golden Boys]] e [[The Fevers]].<ref name="Ulhôa"/>
 
A transição para a década de 1970 foi marcada pela consolidação da MPB, "incorporando gêneros os mais variados ao seu repertório, não somente de outras origens regionais (como o baião nordestino), mas também estrangeiros (como o [[reggae]] jamaicano). Nesse cenário a Jovem Guarda foi considerada como 'alienada' dos problemas sociais e políticos do país sob ditadura militar", como referiu Ulhôa, e logo o movimento perdeu sua força.<ref name="Ulhôa"/> Nesse contexto se destacam artistas como os Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, [[Gal Costa]], [[Simone]], [[Elis Regina]], [[Rita Lee]] e [[Maria Bethânia]].
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Na mesma época surge também um gênero diferenciado de música romântica popular, que ganharia o epíteto pejorativo de "cafona", depois substituído por "[[brega]]", com a intenção de desqualificar o gênero, mas logo o nome foi assumido pelos seus adeptos, tornando-se uma corrente que ganhou um vasto público. Teve como precursores [[Orlando Dias]], [[Silvinho]], [[Carlos Alberto]], [[Cláudio de Barros]] e [[Evaldo Braga]], entre outros, mas a fama do gênero se consolidou com [[Waldick Soriano]], com sua "[[Eu não Sou Cachorro não]]", [[Odair José]], com "[[Pare de Tomar a Pílula]]", e [[Sidney Magal]], com "[[Sandra Rosa Madalena]]". No início dos anos 80 a música brega se funde a outras correntes e se torna de difícil caracterização, mas continua de grande apelo para as massas, surgindo novos sucessos como "[[Fuscão Preto]]", de [[Atílio Versutti]] e [[Jeca Mineiro]], e "[[Garçom (canção)|Garçom]]", do chamado "Rei do Brega", [[Reginaldo Rossi]].<ref name="Música Brega"/><ref name="Belisário"/><ref>Teles, José. [http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2013/11/24/odair-jose-de-copia-de-roberto-carlos-ao-brega-cultuado-106609.php "Odair José: de cópia de Roberto Carlos ao brega cultuado"]. ''Jornal do Commercio'', 24/11/2013</ref> Com o fim da Jovem Guarda, Roberto Carlos também se aproximou de um estilo romântico que lhe valeu a classificação de brega, mas através dele firmou sua posição de cantor mais popular do país.<ref>Graieb, Carlos. [http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/a-ditadura-da-vaidade-de-roberto-carlos/ "A ditadura da vaidade de Roberto Carlos"]. ''Veja'', 25/04/2013</ref><ref>Paixão, Sara. [http://extra.globo.com/tv-e-lazer/roberto-carlos-se-entrega-ao-brega-ao-samba-ao-sertanejo-universitario-em-especial-de-fim-de-ano-que-vai-ao-ar-hoje-7130109.html "Roberto Carlos se entrega ao brega, ao samba e ao sertanejo universitário em especial de fim de ano que vai ao ar hoje"]. ''Extra'', 25/12/2012</ref>
 
Depois de ser rejeitado em peso pelas correntes dominantes da música popular, o brega vem recebendo apreciações positivas como um gênero que tem legitimidade, espelhando o gosto de expressiva parcela da população.<ref name="Música Brega">[http://www.dicionariompb.com.br/musica-brega/dados-artisticos "Música Brega"]. ''Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira''.</ref><ref name="Belisário">Belisário, Adriano. [http://www.rhbn.com.br/secao/gente-da-historia/o-brega-desconstruido "O brega desconstruído"] {{Wayback|url=http://www.rhbn.com.br/secao/gente-da-historia/o-brega-desconstruido |date=20160303190917 }}. ''Revista de História'', 06/10/2008</ref><ref>Figueiredo, Alexandre. [http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/midia-glamuriza-a-cafonice/ "Mídia glamuriza a cafonice"]. ''Observatório da Imprensa'', 02/05/2006</ref> Paulo César de Araújo, pesquisador do gênero, afirmou que "o brega está mais forte do que nunca. Assim como o samba, ele agoniza mas não morre. Ele se transforma. Estamos hoje no tecno-brega, que é dançante e mexe com o corpo. Nos anos 70 era algo mais romântico, você ouvia mais contemplativo".<ref name="Belisário"/> Adriano Belisário também atestou o vigor do brega:
 
::"Se vivo, [[Euclides da Cunha]] concordaria: o cantor brega também é, antes de tudo, um forte. Sobreviventes da pobreza e do trabalho infantil, estes artistas conviveram com duras críticas a seus trabalhos mesmo depois de se tornarem celebridades. O enorme sucesso não evitou que fossem excluídos da historiografia da música brasileira por décadas. [...] Ao contrário dos artistas da MPB, eles não tiveram formação universitária e não compunham prioritariamente canções de protesto. O Brasil dos cafonas era outro. Suas músicas falavam quase sempre sobre a rejeição, seja ela amorosa ou social. Por conta disso, foram taxados de alienados e ignorados pelas elites culturais. No entanto, está em marcha uma retomada do brega. [[Patrícia Pillar]] lançou recentemente o documentário ''Waldick, Sempre no meu coração'' e bandas jovens, como [[Los Hermanos]] e [[Mombojó]], já regravaram canções de artistas considerados cafonas".<ref name="Belisário"/>
 
Durante os anos oitenta, com o fim da ditadura, o aparecimento de um novo sentimento de liberdade e prazer e o esvaziamento das pesquisas em torno do nacionalismo musical, o [[rock brasileiro]] ganhou grande impulso, nascendo o movimento BRock, onde a "brasilidade" desta produção já era tomada como garantida, embora em vários aspectos se alinhasse a correntes internacionais.<ref name="Ulhôa"/><ref name="Dado">Villa-Lobos, Dado. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat16.pdf "A Explosão das bandas de rock, blocos afro e novos ritmos"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat16.pdf |date=20150629071044 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):117-119</ref> Neste momento surgem bandas emblemáticas como [[Blitz]], [[Paralamas do Sucesso]], [[Titãs (banda)|Titãs]], [[Ultraje a Rigor]] e [[Legião Urbana]]. Segundo Mauro Ferreira, "os grupos de rock desempenharam, a partir dos anos 80, o papel revolucionário feito pela estupenda geração revelada nos anos 60". No final da década de 1980, gêneros populares ou regionais como o [[música sertaneja|sertanejo]], o [[pagode (música)|pagode]], a [[samba-reggae|música afro]] e o [[axé music]] passavam a ganhar espaço considerável.<ref name="Dado"/> Nos anos noventa, o [[funk carioca]] e o [[hip hop]] se popularizava entre jovens do Sudeste brasileiro, enquanto que o brega resistia e se renovava, mantendo-se popular especialmente no Norte e Nordeste.<ref name="Mauro">Ferreira, Mauro. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat18.pdf "A contemporaneidade da música brasileira"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat18.pdf |date=20150629073917 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):130-133</ref>
 
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[[File:Clara Nunes.jpg|thumb|150px|Clara Nunes.]]
 
Em linhas muito gerais, o samba se caracteriza pela melodia sincopada, a grande ênfase rítmica e uso importante da percussão. Contudo, enquanto ia dando origem à bossa nova, o samba carioca recebia influência de muitos outros gêneros urbanos, como o rock e o funk, em sínteses desenvolvidas por artistas como [[Jorge Ben]] e [[Dom Salvador]]. Neste ínterim, já espalhado para todo o Brasil, alguns grupos absorviam elementos da música folclórica, dando origem a correntes de caráter tradicional e regionalista. Hoje a denominação abrange uma grande variedade de linhas distintas, como [[samba de roda]], o [[samba-raiado]], [[samba-corrido]], [[samba-chulado]], [[Partido-alto|samba de partido alto]], [[pagode (música)|pagode]], o [[samba-rap]], [[samba-rock]], [[samba-reggae]] e o [[samba-enredo]] das [[escolas de samba]] de carnaval, entre inúmeros, cada qual incorporando influências diferentes e evoluindo com independência. Durante algum tempo o samba foi uma das formas de resistência contra a penetração da influências estrangeiras, mas com a crescente diversificação do gênero, que absorve hoje muitos elementos internacionais, há grande polêmica a respeito da justeza de apelidar alguns dos subtipos como verdadeiro samba.<ref name="Sandroni">Sandroni, Carlos. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat10.pdf "Transformações do samba carioca no século XX"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat10.pdf |date=20150629044623 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):78-83</ref><ref name="Paranhos">Paranhos, Adalberto. [http://www.scielo.br/pdf/his/v22n1/v22n1a04.pdf "A invenção do Brasil como terra do samba: os sambistas e sua afirmação social". In: ''História'', 2003; 22 (1):81-113 ]</ref><ref name="Frota">Frota, Wander Nunes. ''Auxílio luxuoso: Samba símbolo nacional, geração Noel Rosa e indústria cultural''. Annablume, 2003</ref> Diz Adalberto Paranhos:
::"Denominador comum da propalada identidade cultural brasileira no segmento da música, o samba urbano teve que enfrentar um longo e acidentado percurso até deixar de ser um artefato cultural marginal e receber as honras da sua consagração como símbolo nacional. Essa história, cujo ponto de partida pode ser recuado até a virada dos séculos XIX e XX, foi toda ela permeada por idas e vindas, marchas e contramarchas, descrevendo, dialeticamente uma trajetória que desconhece qualquer traçado uniforme ou linear".<ref name="Paranhos"/>
 
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=== A música popular hoje ===
Com a crescente abertura do Brasil à cultura globalizada dos anos 90 em diante, concomitante ao maior conhecimento, valorização e divulgação de suas próprias raízes históricas, sua música vem mostrando grande originalidade e variedade, observadas na criativa fusão de influências diversas e na riqueza de [[Gênero musical|gêneros musicais]] encontrados hoje em dia, como o [[samba]], a [[música sertaneja]], o [[rock brasileiro]], o [[samba-reggae]], o [[Baião (música)|baião]], o [[forró]], a [[lambada]], a [[música eletrônica]], os regionalistas, entre tantos outros. Depois de pioneiros como Carmen Miranda, muitos outros nomes deram à música popular brasileira divulgação internacional, e hoje ela tem aceitação em muitas partes do mundo, e apesar de fazer uso de uma pluralidade de referenciais globais, mantém um caráter distintivo que é rapidamente reconhecido e apreciado no estrangeiro.<ref name="Mauro"/><ref>Martins, Sérgio. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat19.pdf "Perspectivas para a nova MPB"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat19.pdf |date=20150629043104 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):134-137</ref> Diz Martha Tupinambá de Ulhôa:
 
::"São muitos ritmos, tradicionais e importados, locais e transnacionais. Nessa cena globalizada onde fica a especificidade da música brasileira? A questão sugere uma reflexão sobre essa trajetória, com influências e adaptações de música estrangeira e, também, com a articulação de uma linguagem musical muito particular. O aspecto rítmico é sem dúvida o elemento mais marcante dessa discussão. Mas o ritmo é muito mais que uma seqüência de durações organizadas num motivo, reconhecível aqui e ali. Existem aspectos rítmicos muito sutis na música popular brasileira, responsáveis por seu ''molho'' e sua ''ginga''. Esse estilo brasileiro de fazer música foi construído num longo processo histórico de contatos, empréstimos e trocas entre gêneros brasileiros e estrangeiros. [...] Novos gêneros musicais se formam a partir da ação deliberada de músicos ao privilegiar determinadas manifestações melódicas, rítmicas, tímbricas e harmônicas. São práticas musicais, por seu lado fundadas e fundidas a práticas sociais histórica e geograficamente específicas".<ref name="Ulhôa">Ulhôa, Martha Tupinambá de. [http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat17.pdf "Novos ritmos e nomes: Marisa Monte, Carlinhos Brown, Manguebeat, Rap"] {{Wayback|url=http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-e-textos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista11-mat17.pdf |date=20150629050336 }}. In: ''Textos do Brasil'', (11):130-133</ref>
 
Nota-se uma substancial predominância das mulheres no campo da interpretação de canções: desde as divas da era do rádio até os dias atuais as mulheres são maioria. Em 2006 mais de 100 discos de intérpretes femininas foram lançadas. No mesmo período, foram lançados apenas 34 discos de intérpretes masculinos.<ref>[http://veja.abril.com.br/110407/p_120.shtml "A nação das cantoras"]. ''Veja''</ref>
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Dentre as mais típicas estão as [[congada]]s, da região centro-nordeste do país, os [[Folia de Reis|ternos-de-reis]], associados a ritos religiosos [[católico]]s, o [[repente|repentismo]], gênero de desafio musical em improviso, de larga difusão em todo o Brasil com estilos diversos, as [[ciranda]]s, as [[cantiga de roda|cantigas de roda]], que fazem parte do universo infantil, [[catira]], [[cururu (ritmo)|cururu]], [[toada]], [[Fandango (Nordeste do Brasil)|fandango]], [[jongo]] (caxambu), [[samba de roda]], [[Coco (dança)|coco]], [[bambelô]], [[embolada]], [[milonga]], pajada, rancheira, bugio, [[carimbó]], entre muitos outros gêneros que constituem um riquíssimo acervo musical que tem inspirado compositores do porte de [[Villa-Lobos]].
 
A partir do final da década de 60 um trabalho de resgate da música popular brasileira de raiz foi feito pelo pesquisador [[Marcus Pereira]] que através de sua gravadora '[[Discos Marcus Pereira]]' levantou o que ficou conhecido como o 'Mapa musical do Brasil' indo da música da cidade até as regiões mais remotas do interior do país, tendo como destaque uma série de 16 álbuns de música folclórica de cada região do Brasil, podendo ser classificado como um documento da música popular brasileira com dimensões antropológicas e sociológicas.<ref>{{Citar web |url=http://esquizofia.com/2013/04/25/colecao-discos-marcus-pereira-completa-em-torrent/ |titulo=Cópia arquivada |acessodata=2014-05-11 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140507181506/http://esquizofia.com/2013/04/25/colecao-discos-marcus-pereira-completa-em-torrent/ |arquivodata=2014-05-07 |urlmorta=yes }}</ref>
* ''Cantico Salutaris'' - [[Festa do Divino de Pirenópolis]] - Orquestra e Coral Nossa Senhora do Rosário, [[Pirenópolis]]
{{Áudio simples|Pirenópolis - Novena do Divino - Ladainha.ogg|Novena do Divino}}