Luís de Camões: diferenças entre revisões

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Provavelmente nesta época já iniciara a escrita de ''Os Lusíadas''. Ao retornar a Goa em 1556, encontrou no governo [[Francisco Barreto|D. Francisco Barreto]], para quem compôs o ''[[Filodemo|Auto de Filodemo]]'', o que sugere que Barreto lhe fosse favorável. Os primeiros biógrafos, contudo, divergem sobre as relações de Camões com o governante. Na mesma época teria surgido a público uma [[sátira]] anónima criticando a imoralidade e a corrupção reinantes, que foi atribuída a Camões. Sendo as sátiras condenadas pelas ''Ordenações Manuelinas'', terá sido preso por isso. Mas colocou-se a hipótese de a prisão ter ocorrido graças a dívidas contraídas. É possível que permanecesse na prisão até 1561, ou antes disso tenha sido novamente condenado, pois, assumindo o governo [[Francisco Coutinho, 3.º Conde de Redondo|D. Francisco Coutinho]], foi por ele liberto, empregado e protegido. Deve ter sido nomeado para a função de Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes para [[Macau]] em 1562, desempenhando-a ''de facto'' de 1563 até 1564 ou 1565. Nesta época, Macau era um entreposto comercial ainda em formação, sendo um lugar quase deserto.<ref>[http://www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/01_2008/01_2008.htm Ribeiro, pp. 1-5]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=ApgtGMkV_DEC&pg=PP1&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1950&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=4#v=onepage&q&f=false Le Gentil, pp. 22-25]</ref> Diz a tradição que ali teria escrito parte d{{'}}''Os Lusíadas'' numa gruta, que mais tarde recebeu o seu nome.<ref name="Saldanha"/>
 
Na viagem de volta a Goa, naufragou, conforme diz a tradição, junto à foz do [[rio MekongMecom]], salvando-se apenas ele e o manuscrito d{{'}}''Os Lusíadas'', evento que lhe inspirou as célebres [[redondilha]]s ''Sobre os rios que vão'', consideradas por António Sérgio a coluna vertebral da lírica camoniana, sendo reiteradamente citadas na literatura crítica. O trauma do naufrágio, conforme disse Leal de Matos, repercutiu mais profundamente numa redefinição do projeto d{{'}}''Os Lusíadas'', sendo perceptível a partir do Canto VII, sendo acusada já por [[Diogo do Couto]], seu amigo, que em parte acompanhou a escrita. Provavelmente o seu resgate demorou meses a ocorrer, e não há registo de como isso ocorreu, mas foi levado a [[Malaca]], onde recebeu nova ordem de prisão por apropriação indébita dos bens dos defuntos a ele confiados. Não se sabe a data exata de seu retorno a Goa, onde pode ter continuado preso ainda algum tempo. Couto refere que no naufrágio morreu [[Dinamene]], uma donzela chinesa pela qual Camões se terá apaixonado, mas Ribeiro e outros afirmam que a história deve ser rejeitada.<ref name="Ribeiro, pp. 11-20">[http://www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/01_2008/01_2008.htm Ribeiro, pp. 11-20]</ref> O vice-rei seguinte, [[Antão de Noronha|D. Antão de Noronha]], era um amigo de longa data de Camões, tendo-o encontrado em [[Marrocos]]. Certos biógrafos afirmam que lhe foi prometido um posto oficial na [[feitoria]] de Chaul, mas não chegou a tomar posse. [[Manuel Severim de Faria|Severim de Faria]] disse que os anos finais passados em Goa foram entretidos com a poesia e com as atividades militares, onde sempre demonstrou bravura, prontidão e lealdade à Coroa.<ref>[http://books.google.com/books?id=ApgtGMkV_DEC&pg=PP1&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1950&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=4#v=onepage&q&f=false Le Gentil, pp. 26-27]</ref>
 
É difícil determinar como terá sido o seu quotidiano no Oriente, além do que se pode extrapolar a partir de sua condição de militar. Parece certo que viveu sempre modestamente e pode ter compartilhado casa com amigos, ''"numa dessas repúblicas em que era costume associarem-se os reinóis"'', como citou Ramalho. Alguns desses amigos devem ter possuído cultura e assim a companhia ilustrada não devia estar ausente naquelas paragens. Ribeiro, Saraiva e Moura admitem que ele pode ter encontrado, entre outras figuras, com [[Fernão Mendes Pinto]], [[Fernão Vaz Dourado]], [[Fernão Álvares do Oriente]], [[Garcia de Orta]] e o já citado Diogo do Couto, criando-se oportunidades de debates literários e assuntos afins. Pode ter frequentado também preleções em algum dos colégios ou estabelecimentos religiosos de Goa.<ref>[http://www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/01_2008/01_2008.htm Ribeiro, p. 7]</ref> Ribeiro acrescenta que
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[[Ficheiro:Jeronimos 12.jpg|thumb|left|250px|Túmulo do poeta no [[Mosteiro dos Jerónimos]].]]
 
Viveu seus anos finais num quarto de uma casa próxima da [[Convento de Santana|Igreja de Santa Ana]], num estado, segundo narra a tradição, da mais indigna pobreza, ''"sem um trapo para se cobrir"''. Le Gentil considerou essa visão um exagero romântico, pois ainda podia manter o escravo [[Jau]], que trouxera do oriente, e documentos oficiais atestam que dispunha de alguns meios de vida. Depois de ver-se amargurado pela derrota portuguesa na [[Batalha de Alcácer-Quibir]], onde desapareceu D. Sebastião, levando Portugal a perder sua independência para [[Espanha]], adoeceu, segundo Le Gentil, de [[peste (doença)|peste]]. Foi transportado para o hospital,<ref>Fray Josepe Indio, um religioso que afirmou ter estado presente no leito de morte de Camões, traz credibilidade à história de o poeta ter morrido num hospital, ao escrever: ''"Que cosa mas lastimosa que ver un tan grande ingenio mal logrado! yo lo bi morir en un hospital en Lisbon, sin tener una sauana con que cubrirse, despues de aver triunfado en la India oriental y de aver navigado 5500 leguas por mar: que auiso tan grande para los que de noche y de dia se cançan estudiando sin provecho como la araña en urdir tellas para cazar moscas."'' Reportado em Souza-Botelho, Joze Maria de (Morgado de Matteus). ''Os Lusiadas, Poema Epico''. Didot, 1818, p. lxiii</ref> e morreu em 10 de junho de 1580, sendo enterrado, segundo [[Manuel de Faria e Sousa|Faria e Sousa]], numa campa rasa na [[Convento de Santana|Igreja de Santa Ana]], ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital, segundo [[Teófilo Braga]].<ref>[http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=dqg4AAAAYAAJ&oi=fnd&pg=PA1&dq=%22camoes%22+lusiadas&ots=tZG7WV6roT&sig=8kM7pMEiloy-qzzlgZhUVVL_4ss#v=onepage&q&f=false Mourão e Vasconcelos, pp. 44-45]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=ApgtGMkV_DEC&pg=PP1&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1950&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=4#v=onepage&q&f=false Le Gentil, pp. 30-32]</ref> A sua mãe, tendo-lhe sobrevivido, passou a receber a sua pensão em herança. Os recibos, encontrados na [[Torre do Tombo]], documentam a data da morte do poeta,<ref name="Fernandes"/> embora tenha sido preservado um [[epitáfio]] escrito por D. Gonçalo Coutinho, onde consta, erroneamente, como tendo falecido em 1579.<ref>[http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=dqg4AAAAYAAJ&oi=fnd&pg=PA1&dq=%22camoes%22+lusiadas&ots=tZG7WV6roT&sig=8kM7pMEiloy-qzzlgZhUVVL_4ss#v=onepage&q&f=false Mourão e Vasconcelos, p. 45]</ref> Depois do [[terramoto de 1755]], que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se reencontrar os despojos de Camões, todas frustradas. A ossada que foi depositada em 1880 numa tumba no [[Mosteiro dos Jerónimos]] é, com toda a probabilidade, de outra pessoa.<ref>[http://books.google.com/books?id=ApgtGMkV_DEC&pg=PP1&dq=cam%C3%B5es&lr=&as_drrb_is=b&as_minm_is=0&as_miny_is=1950&as_maxm_is=0&as_maxy_is=2010&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=4#v=onepage&q&f=false Le Gentil, pp. 32-33]</ref>
 
==Aparência, carácter, amores e iconografia==