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|ocupação =Explorador e pioneiro da [[arqueologia]]
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'''Giovanni Battista Belzoni''' ([[Pádua]], [[5 de novembro|5 de Novembro]] de [[1778]] — [[Nigéria]], [[3 de dezembro|3 de Dezembro]] de [[1823]]) foi um [[explorador]] [[Itália|italiano]] e pioneiro da [[arqueologia]], considerado um dos primeiros nomes da [[Egiptologia]].
 
== BiografiaO FILHO DO BARBEIRO ==
Giovanni Battista Bolzon (era este o seu verdadeiro sobrenome) nasceu na cidade de Pádua, na época parte da República de Veneza, no nº 2.946 da Via Paolotti - o actual nº 42 da Via Giambattista Belzoni -, a 5 de Novembro de 1778. Era filho do barbeiro Jacopo Bolzon e de Teresa Pivato, ambos naturais de Pádua. Era uma família pobre mas com uma rica descendência: catorze filhos.
Para evitar ser alistado no exército [[Napoleão Bonaparte|napoleônico]] em 1803 refugiou-se na [[Inglaterra]], onde trabalhou em circos devido à sua altura incomum (cerca de dois metros).
 
Giovanni começou a trabalhar muito jovem como barbeiro na barbearia do seu pai. Aos 16 anos, mudou-se para Roma, onde estudou engenharia hidráulica e onde, fascinado pelas ruinas da capital, começou a aproximar-se do mundo da arqueologia. Em Roma fez-se monge, mas a invasão das tropas napoleónicas convenceu-o a renunciar ao votos e a virar a sua atenção para aquilo que era a sua grande paixão desde criança: viajar.
Depois de uma série de viagens pela [[Europa]], chegou ao Egito onde, usando noções de [[mecânica]] e [[hidráulica]] construiu uma bomba hidráulica com a esperança de vendê-la a [[Maomé Ali]], vice-rei do Egito, mas não obteve sucesso. Pouco tempo depois, conseguiu ser contratado pelo [[Reino Unido|britânico]] [[Henry Salt (egiptólogo)|Henry Salt]] para transportar do [[Ramesseum]] ao [[Nilo]] a gigantesca [[estátua]] de [[Ramessés II]] (doze toneladas). Ajudado pela sorte, completou o trabalho em duas semanas e deixou gravada sua assinatura atrás de uma das orelhas da colossal estátua.
 
= O FUGITIVO =
Começou assim, aproveitando-se da ausência total de regras, sua carreira de arqueólogo que o fez conhecido no mundo todo, mas não rico. É importante recordar que à época, o Egito não era percorrido por "verdadeiros" arqueólogos, mas sim por aventureiros com poucos escrúpulos pagos por grande [[museu]]s europeus e, principalmente, por colecionadores. Belzoni diferenciou-se de outros exploradores, pois não usava explosivos para penetrar nas tumbas.
A primeira viagem foi para Paris, onde não teve muito sucesso como vendedor de objectos sagrados. Voltou a Pádua. A segunda viagem foi aos Países Baixos onde, em contacto com as forças de ocupação francesas, aprofundou os seus conhecimentos de hidráulica. Quando regressou a Pádua, marcado pelas suas experiências no estrangeiro e pela excepcional força física, teve algum êxito que atraiu ciúmes.
 
Envolvido na agitação política que se seguiu à queda da República de Veneza, ele acabou em apuros, e, juntamente com o seu irmão Francesco, retomou as suas viagens para evitar ser preso.
Em poucos anos percorreu todo Egito, chegando até a região de [[Assuão]], descobrindo sob as areias do deserto o templo de [[Abul-Simbel]]. Descobriu também a cidade de [[Berenice (Egito)|Berenice]], explorou o [[Vale dos Reis]] descobrindo a tumba de {{lknb|Seti|I}}, uma das mais belas do vale.
 
Chegaram aos Países Baixos, e de lá para Inglaterra, em 1803.
Transportou a [[Londres]] milhares de objetos, entre os quais o colossal [[obelisco]] que serviu depois a [[Jean-François Champollion|Champollion]] (1822) para verificar a sua decifração dos [[hieróglifos]].
 
= HOMEM FORTE DO CIRCO =
Entre suas muitas descoberta, a mais importante e conhecida foi a entrada da [[pirâmide de Quéfren]] (1818), a segunda em altura depois da [[pirâmide de Quéops]]. Visto que muitos se apropriavam de suas descobertas, deixou uma enorme assinatura no interior da câmara mortuária, onde permanece até hoje.
Permaneceu na Inglaterra, que se tornaria a sua segunda pátria, por nove anos, chegado a adquirir a cidadania do então Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Casou-se em 1813 com Sarah Bane, uma inglesa natural de Bristol, com quem partilhou o amor pela viagem e que o acompanharia em quase todas as suas aventuras.
 
Agora conhecido como "o Grande Belzoni", ganhou a vida tirando partido do seu tamanho notável (tinha dois metros de altura) e da sua força hercúlea, trabalhando como "homem forte" com o nome de "Patagonian Samson" ("Sansão da Patagónia") no Sadle’s Wells Theatre e no Astley’s Amphitheatre, em Londres. O ponto alto do espectáculo era quando, carregando sobre os seus ombros uma espécie de jugo, Giovanni conseguia suportar, sozinho, uma pirâmide humana composta por dez pessoas e carregá-la ao redor do palco.
{{quote|Scoperta da G. Belzoni, 2 marzo 1818|Inscrição no interior da [[pirâmide de Quéfren]] em [[Guizé]]}}
 
Em seguida, levou este espectáculo por todo o país, juntamente com um sistema de fontes que criava um original jogo de água movido por uma máquina hidráulica por ele inventada, e obteve uma quantidade razoável de sucesso.
 
Na Inglaterra foi recebido numa Loja Maçónica e obteve o alto grau de "Cavaleiro Templário". No período compreendido de 1820 a Setembro de 1821, os Belzoni habitaram no nº 4 da Downing Street, depois no nº 5.
 
= RUMO AO EGIPTO =
Depois de vaguear por Inglaterra durante muito tempo, Belzoni foi tomado pela nostalgia das grandes viagens e decidiu actuar no estrangeiro.
 
Após uma série de espectáculos em Espanha, Portugal e Sicília, desembarcou em Malta, onde conheceu Ismael Gibraltar, um emissário do paxá (vice-rei) do Egipto, Muhammad Ali. O Egipto era na época uma província do Império Otomano, e Belzoni soube que no país africano estava prestes a empreender-se um programa agrícola que incluía obras de irrigação. Belzoni partiu imediatamente, seguro de que alcançaria o sucesso com os seus projectos hidráulicos.
 
Desembarcou em Alexandria a 9 de Junho de 1815, acompanhado por sua esposa e pelo jovem irlandês Henry James Curtin, no momento em que grassava uma epidemia de peste. Curtin, natural de Limerick, que passará muito tempo com Belzoni nas suas viagens, será a principal fonte das suas notícias autobiográficas, trabalhando para ele como empregado e intérprete de línguas orientais.
 
Assim que pôde, chegou ao Cairo, onde ficou maravilhado com as belezas arqueológicas, uma paixão que permanecera depois dos anos passados em Roma.{{quote|«A visão que então desfrutámos era de uma beleza tal, que a caneta tentaria em vão descrevê-la. O nevoeiro estendeu sobre as planícies do Egipto um véu, que se levantava e desaparecia à medida que o Sol se aproximava do horizonte: enquanto esse véu de luz se dissolvia, ele deixou-nos ver todo o distrito da antiga Mênfis.»|Narrativa das Operações e Descobertas Recentes no Egipto e na Núbia...}}Ficou fascinado pela cultura e pelas tradições locais, tão diferentes das europeias. Conheceu Bernardino Drovetti, um piemontês que se tornara cônsul-geral de França, bem como um explorador e coleccionador de antiguidades, que facilitaria o seu acesso à corte do paxá. Também conheceu o grande explorador suíço Johann Ludwig Burckhardt, cujos conselhos o guiariam nos anos seguintes, bem como o novo Cônsul-geral Britânico Henry Salt, outro egiptólogo que se tornaria um grande rival de Drovetti na corrida pelas descobertas arqueológicas. Tornou-se amigo de outro explorador italiano, o genovês Giovanni Battista Caviglia, conhecido pelas suas escavações e pelas suas investigações relacionadas com a Esfinge de Gizé. O carisma e a capacidade persuasiva de Caviglia fascinaram-no e tornaram-se um exemplo para ele.
 
Conseguiu finalmente ser recebido pelo paxá, que declarou-se interessado no projecto da sua máquina, mas que, não tendo ficado satisfeito com a demonstração que se seguiu, recusou a oferta. O projecto custara-lhe um ano de trabalho e muito dinheiro, pelo que o desapontamento foi grande.
 
Porém, não perdeu a coragem, pois tinha já ouvido falar do grande projecto que Salt e Burckhardt tinham em mente. Pediu, e conseguiu, que esse projecto lhe fosse confiado, um projecto que o catapultaria para a fama internacional.
 
= “JOVEM MÉMNON” =
Um busto colossal de granito bicolor com 2,67 metros de altura e pesando mais de sete toneladas jazia nas areias da planície de Deir el-Bahari, perto da antiga Tebas (actual Luxor).
 
O projecto de Salt e Burckhardt consistia em transportar o busto por terra até ao Nilo, a cerca de 1200 metros de distância, onde um navio o aguardaria para levá-lo para o Museu Britânico de Londres.
 
O busto era erroneamente chamado de "Jovem Mémnon". Na mitologia grega, Mémnon era um rei etíope, sobrinho do rei de Tróia, Príamo, que foi morto por Aquiles durante a Guerra de Tróia.
 
Descobriu-se posteriormente que retractava o faraó Ramsés II, o que não é de surpreender, pois perto do busto situava-se o Ramesseum, o templo funerário de Ramsés II, do qual ele fazia parte.
 
Alguns anos antes, durante a ocupação napoleónica, o transporte do busto para França havia sido tentado. Recorrera-se a dinamite para separar a face do tronco, de forma a torná-lo mais leve. Não resultou, e desde então o busto permaneceu nas areias do deserto. Uma recordação desta tentativa mal-sucedida ficou para sempre gravada pelo orifício no ombro direito do busto, onde estava previsto ser inserido mais dinamite.
{{Quote|texto=«A visão que então desfrutámos era de uma beleza tal, que a caneta tentaria em vão descrevê-la. O nevoeiro estendeu sobre as planícies do Egito um véu, que se levantava e desaparecia à medida que o Sol se aproximava do horizonte: enquanto esse véu de luz se dissolvia, ele deixou-nos ver todo o distrito da antiga Mênfis.»|fonte=Narrativa das Operações e Descobertas Recentes no Egipto e na Núbia...}}
O acordo com Salt custou-lhe a amizade com Drovetti, e deu início a uma rivalidade entre eles. A 30 de Junho de 1816, partiu do porto do Cairo.
 
Depois de superar enormes dificuldades, a 27 de Julho de 1816, com oitenta homens locais, meteu mãos à obra. Começou por construir um trenó rudimentar. Em apenas quinze dias, e com a ajuda de quatro alavancas, conseguiu transportar o imponente busto até à margem do Nilo.
 
Até ao momento, Belzoni havia sido mais um transportador do que um arqueólogo, mas a sua proximidade directa com as escavações e as noites passadas no templo haviam-no inflamado.
 
Partiu sem demora e, esperando que o navio chegasse para transportar o colosso, embarcou para o sul, para uma das maiores maravilhas do Antigo Egipto: Abu Simbel.
 
= A MARAVILHA SOTERRADA =
A 22 de Março de 1813, durante as suas viagens pela Núbia, Burckhardt descobriu dois templos mandados construir por Ramsés II soterrados sob a areia. Alegadamente, Burckhardt descobriu os templos com a ajuda de um jovem guia local chamado Abu Simbel, e os templos foram nomeados em sua homenagem.
 
O templo principal, dedicado a Ramsés II, estava tão soterrado que Burckhardt não conseguiu entrar para o seu interior.
 
Belzoni quis tentar a sua sorte, mas, depois de sete dias de tentativas inúteis, sem comida e dinheiro, regressou a Luxor.
 
= PHILAE E KARNAK =
Parou na ilha de Philae, perto de Assuão, onde se ergue o templo dedicado a Ísis. Aqui tomou posse, em nome do consulado britânico, de um obelisco com inscrições perfeitamente preservadas. Partiu a 16 de Junho de 1817.
 
Regressou a Luxor, onde teve tempo, antes de embarcar com o colosso, para fazer escavações em Karnak, trazendo à luz estátuas preciosas.
 
Virou depois a sua atenção para a margem oposta do Nilo, para um local onde, tal como as assinaturas que deixava por onde passava, o seu nome ficaria para sempre gravado: o Vale dos Reis.
 
= VALE DOS REIS =
No Inverno de 1816, Belzoni descobriu o seu primeiro túmulo, o do faraó Ai. Acima da porta de entrada, gravou em inglês "Discovered by Belzoni – 1816".
 
A partir de 1827, o egiptólogo inglês John Gardner Wilkinson passou a catalogar os túmulos descobertos no Vale dos Reis com o acrónimo KV (King Valley), um sistema de numeração que ainda hoje está em vigor. O túmulo do faraó Ai é o actual KV23.
 
O navio partiu acompanhado por uma segunda embarcação, onde havia uma carga pesada das suas descobertas a bordo. Chegou ao Cairo a 15 de Dezembro de 1816.
 
Imediatamente preparou uma segunda viagem.
 
= KARNAK =
A 20 de Fevereiro, partiu para Karnak, onde trouxe à luz uma série de artefactos, incluindo o sarcófago do faraó Ramsés III. O sarcófago seria mais tarde vendido ao rei de França, Luís XVIII, e está actualmente no Louvre. Também descobriu uma estátua de calcário da rainha Ahmose Meritamon, esposa do faraó Amen-hotep I.
 
A esta altura, o governador local, instigado por Drovetti, proibiu-o de continuar as escavações, e Belzoni dirigiu-se para um local já por ele visitado: Abu Simbel.
 
= ABU SIMBEL DESENTERRADO =
A 1 de Agosto de 1817, conseguiu finalmente entrar no templo inviolado de Abu Simbel, onde não encontrou todos os tesouros que ele esperava.
 
O excepcional significado histórico da descoberta não teve, portanto, qualquer vantagem económica.
 
= O TÚMULO DE SETI I =
Voltou a Tebas e fez escavações no Vale dos Reis.
 
A 18 de Outubro de 1817, fez a sua maior descoberta: o túmulo de Seti I (KV17), pai de Ramsés II.
 
Inteiramente decorado com belos baixos-relevos e frescos policromos, o túmulo, o maior do Vale dos Reis, foi imediatamente chamado de "a Capela Sistina da arte egípcia". Também é chamado de "o túmulo de Belzoni". O esplêndido sarcófago do faraó em alabastro translúcido foi oferecido ao Museu Britânico e a Drovetti, que recusou a oferta, considerando o preço muito alto.
 
Antes de regressar, começou o mapeamento do túmulo, o inventário do quanto estava no seu interior e a fazer moldes gráficos dos baixos-relevos que seriam usados para recriar o local numa exposição que planeava organizar em Londres.
 
Quando chegou ao Cairo, acompanhado por Giovanni d'Athanasi, intérprete de Salt, a 21 de Dezembro de 1817, Belzoni soube da morte de Burckhardt, vitimado pela disenteria a 15 de Outubro de 1817.
 
= A ENTRADA DA PIRÂMIDE DE QUÉFREN =
Há muito que Belzoni tinha planeado desvincular-se de Salt, para poder gerir o seu próprio trabalho e desfrutar de todos os lucros.
 
Foi assim que durante a sua curta estadia, depois de ter recebido o dinheiro necessário por empréstimo, conseguiu realizar outra descoberta memorável: descobriu em Gizé, perto da capital, a entrada para a pirâmide de Quéfren, a segunda mais alta depois da de Quéops.
 
Foi bem-sucedido no seu intento depois de ter estudado escrupulosamente a estrutura interna da pirâmide vizinha de Quéops. Como com frequência outros se apropriaram das suas descobertas, Belzoni deixou a sua assinatura bem visível dentro da câmara funerária:
{{Quote|texto=«Scoperta da G. Belzoni, 2 marzo 1818»|fonte=(Descoberta por G. Belzoni, 2 de Março de 1818)}}
Este empreendimento, como de Abu Simbel, revelou-se infrutífero. Todas as câmaras estavam despojadas de qualquer artefacto de valor.
 
Depois de decifrada, ficou-se a saber a partir de uma inscrição árabe encontrada no interior que a pirâmide já havia sido violada 600 anos antes pelo sultão al-Aziz Uthman, filho do famoso Saladino.
 
Durante o seu reinado, al-Aziz tentara demolir a Grande Pirâmide, mas teve de desistir por causa da tarefa ser demasiado colossal. Contudo, teve sucesso em danificar a pirâmide de Miquerinos.
 
Mesmo assim, o empreendimento gerou tal entusiasmo na Inglaterra que uma moeda de bronze foi cunhada em sua honra, com a sua efígie num lado e, erroneamente, a pirâmide de Quéops do outro.
 
= BERENICE =
Partiu imediatamente acompanhado pelo médico e artista Alessandro Ricci.
 
Quando chegou a Tebas, constatou que Drovetti e Salt tinham compartilhado os direitos exclusivos da escavação dos locais arqueológicos mais ricos.
 
Relegado para uma zona secundária, teve a sorte de encontrar, entre outras coisas, uma bela estátua de Amen-hotep III. Com Ricci, terminou depois o inventário e a descrição do túmulo de Seti I.
 
Dando-se conta que não tinha mais nada a fazer naquela zona, partiu para Berenice, um antigo porto no Mar Vermelho descoberto pouco antes pelo mineralogista francês Jean Baptiste Bourguignon d'Anville.
 
Rumou pelo Nilo em direcção ao sul, até Edfu, e a partir de lá atravessou o deserto. Quando chegou ao local descrito por d'Anville, Belzoni percebeu que as ruínas nada mais eram do que o que restava de um antigo assentamento de mineração.
 
Seguiu para sul e descobriu pela primeira vez a verdadeira Berenice, mas por falta de comida teve de fazer o caminho de volta, sem ser capaz de realizar escavações aprofundadas.
 
Fizera mais uma vez uma grande descoberta histórica, da qual não podia desfrutar dos frutos.
 
= O OBELISCO DE PHILAE =
Desde o início que o relacionamento com Ricci, que mal tolerava o temperamento vulcânico de Belzoni, era conflituante, e quando regressaram a Tebas, eles separaram-se.
 
Quando chegou mais uma vez a Tebas, encontrou-se com Salt e com o grande explorador e egiptólogo inglês William John Bankes, que o encarregou de transportar, do templo de Philae para Luxor, o obelisco de que ele tinha tomado posse na sua primeira viagem.
 
O obelisco, descoberto em 1815 pelo próprio Bankes, além de hieróglifos, continha as frases correspondentes em grego antigo.
 
Em 1822, comparando as gravuras do obelisco, o egiptólogo francês Jean-François Champollion  daria o passo decisivo para a decifração dos hieróglifos.
 
= O FIM DA AVENTURA EGÍPCIA =
Belzoni conseguiu transportar o artefacto monumental para Luxor e Drovetti, que há anos planeava trazê-lo para a Europa, quando o viu, ficou furioso e pôs a cabeça de Belzoni a prémio.
 
Drovetti era uma personagem demasiado influente, a ponto de ser também o conselheiro militar do paxá; com este incidente, Belzoni percebeu que a sua carreira como explorador no Egipto tinha acabado. O processo judicial que se seguiu foi longo e, com os bons ofícios de Salt, não resultou em nada, mas, ao contrário do que Belzoni planeara, obrigou-o a ficar no Egipto em vez de regressar de imediato à Europa.
 
Foi assim que ele partiu de novo, desta vez em busca do oásis de Siwa, onde se encontrava o templo do oráculo de Amon, famoso na antiguidade por ter predito o futuro a Alexandre, ''o Grande''.
 
Depois de atravessar o deserto, descobriu o oásis de Bahariya, convencido de que era o oásis de Siwa. Porém, mesmo aqui ele não encontrou nada de valor. Acabou por se revelar outra expedição que colocou as suas finanças à prova.
 
No final da sua aventura egípcia, além de várias outras descobertas, Belzoni tinha trazido à luz oito túmulos no Vale dos Reis
{| class="wikitable sortable"
|+
|KV23
|Túmulo de Ai
|-
|KV25
|Julga-se ser o túmulo de Akhenaton
|-
|KV16
|Túmulo de Ramsés I, pai de Seti I e avô de Ramsés II
|-
|KV21
|Desconhecido
|-
|KV19
|Túmulo de Mentuherjepeshef, filho de Ramsés IX
|-
|KV17
|Túmulo de Seti I
|-
|KV30
|Desconhecido
|-
|KV31
|Desconhecido
|}
Concluído o processo e terminados os preparativos, Belzoni deixou o Egipto em meados de Setembro de 1819. Chegou a Pádua a 6 de Dezembro.
 
= O HERÓI DE PÁDUA =
A recepção em Pádua foi calorosa. O eco das suas façanhas e as duas estátuas da deusa Sekhmet com que presentou o município levou os governantes a conferirem-lhe grandes honras, incluindo a cunhagem de uma medalha comemorativa. As duas estátuas estão hoje guardadas no Palazzo della Ragione.
 
Tornou-se amigo do arquitecto neoclássico Giuseppe Jappelli, dando-lhe inspiração para o projecto da sala egípcia no famoso Café Pedrocchi.
 
No Musei Civici agli Eremitani de Pádua, duas salas egípcias, contendo alguns dos seus achados, foram-lhe dedicadas.
 
Começou imediatamente a escrever um livro sobre as suas viagens ao Egipto.
 
Depois de apenas dois meses, Belzoni embarcou para Londres para dar a conhecer os seus feitos. Chegou a 31 de Março de 1820.
 
= SUCESSO LITERÁRIO E EXPOSIÇÃO NA PICCADILLY =
No final de 1820, o livro de Belzoni foi publicado sob um título colossal: "Narrative of the Operations and Recent Discoveries Within the Pyramids, Temples, Tombs and Excavations in Egypt and Nubia and of a Journey to the Coast of the Red Sea, in search of the ancient Berenice; and another to the Oasis of Jupiter Ammon".
 
O livro é acompanhado de esplêndidas aquarelas, a maioria das quais desenhadas por Ricci e também da sua autoria, e por mapas. Foi um grande sucesso, e novas edições foram logo impressas e traduzidas para francês, alemão e italiano.
 
Organizou então uma grande exposição dos achados que tinha trazido do Egipto e da reprodução do túmulo de Seti I no Egyptian Hall, em Piccadilly, feita usando os moldes gráficos que tinha feito. As esplêndidas ilustrações de Ricci foram também exibidas.
 
Tornou-se famoso em Londres e teve acesso às salas de estar mais exclusivas, incluindo à de Walter Scott.
 
= RUMO À ÚLTIMA AVENTURA =
Em 1822, foi convidado para a Rússia, onde em São Petersburgo foi recebido com grandes honras pelo czar Alexandre I, que lhe deu um anel precioso incrustado com topázio.
 
A venda dos achados e o sucesso do seu livro e da exposição mal cobriam as grandes dívidas que ele havia contraído. Muitas das descobertas trouxeram-lhe glória, mas, não tendo encontrado nada de valioso, as suas finanças esgotaram-se.
 
A sua sede de aventura e a necessidade de dinheiro levaram-no a aceitar a oferta que lhe foi feita em 1823 pela African Association de Londres (actual Royal Geographical Society) para realizar uma expedição a uma das nascentes do Níger.
 
O rio Níger era quase desconhecido para os europeus, e tinha sido alcançado pela primeira vez a 21 de Julho de 1796 pelo grande explorador escocês Mungo Park, que a norte do rio encontrou a antiga e lendária cidade de Tombuctu pouco antes de ser morto no próprio rio.
 
Durante anos, a African Association estabeleceu como seus principais objectivos a descoberta das nascentes do Níger e de Tombuctu. Burckhardt morrera na véspera da sua partida para uma expedição, financiada pela African Association, que visava chegar lá a partir do Oriente.
 
= O FIM DO GIGANTE =
Partiu em Abril de 1823 e dirigiu-se para Marrocos, a partir de onde pensava que atravessaria o deserto para chegar a Tombuctu.
 
Chegou a Fez, onde encontrou o sultão Abd al-Rahman, que lhe deu permissão para atravessar os seus territórios e uma escolta. Mas quando empreendeu a viagem, deu-se conta da excessiva hostilidade dos povos indígenas e regressou.
 
Decidiu então chegar a Tombuctu a pelo sul, navegando de Gibraltar até à costa equatorial do Golfo do Benim, e viajar em seguida por terra até à capital do antigo Reino do Benim, a actual Cidade do Benim, na Nigéria, e pedir ao Obá Osemwende permissão e um barco para subir o Níger.
 
Mas, pouco depois de desembarcar em África, morreu, como Burckhardt, vitimado pela disenteria, a 3 de Dezembro de 1823, no porto fluvial de Gwato (a actual cidade de Ughoton, na Nigéria), a cerca de trinta e cinco quilómetros a sudoeste da Cidade do Benim.
 
Um mercador chamado Houston, que o acompanhou nesta expedição, enterrou-o perto de uma árvore nos arredores de Gwato, e mandou afixar uma epígrafe no túmulo com o nome e a data da morte de Belzoni. Escreveu também o seguinte pedido:
{{Quote|texto=«Il gentiluomo che ha messo questa epigrafe sulla tomba del celebrato e intrepido viaggiatore, spera che ogni europeo che visiti questo posto faccia pulire il terreno e riparare lo steccato intorno, se necessario».|fonte=(O cavalheiro que colocou esta epígrafe no túmulo do célebre e intrépido viajante espera que cada europeu que visite este lugar limpe o terreno e repare a cerca à sua volta, se necessário)}}
Em Agosto de 1862, trinta e nove anos após a morte de Belzoni, o célebre Richard Francis Burton, que escreverá uma pequena biografia de Belzoni publicada em Dezembro de 1880 no 42º volume da ''Cornhill Magazine'', regressou ao local e não encontrou nada além da árvore. No seu caderno de esboços, Burton fez dois esboços daquilo que restava do túmulo de Belzoni.
 
== Bibliografia ==
 
* PERETTI, Gianluigi - "''Belzoni'': viaggi, imprese, scoperte e vita", Edizioni GB Padova 2002
*https://it.wikipedia.org/wiki/Giovanni_Battista_Belzoni (versão italiana traduzida para português).
* ZATTERIN, Marco - ''Il gigante del Nilo'', Mondadori 2000
* Biografia de Belzoni escrita por Richard Francis Burton, publicada em Dezembro de 1880 no 42º volume da ''Cornhill Magazine'' (pp. 36-37).