Alcino (filósofo)

Alcino (em grego clássico: Ἀλκίνους; romaniz.:Alkinous), ou Alcínoo, foi um filósofo médio-platônico. Provavelmente viveu no século II,[1] embora nada se saiba sobre sua vida.[2] É autor do Manual do platonismo, um epítome do médio platonismo, com o objetivo de servir de manual para professores. Foi, por vezes, identificado por alguns estudiosos, com o médio-platônico do século II, Albino.

Alcino
Pseudônimo(s) Albino
Nascimento Ἀλκίνοος
Ocupação filósofo
Religião deísmo

Obras editar

 
O início do Manual de Alcino no manuscrito mais antigo, Paris, Biblioteca Nacional da França, gr. 1962, fol. 147 recto (século IX)

Alcino é autor da obra intitulada O Manual do platonismo (em grego: Ἐπιτομὴ τῶν Πλάτωνος δογμάτων), uma das poucas obras sobreviventes do período médio-platônico, ou platonismo intermediário, (cerca de 90 a.C. - 250 d.C.). O livro contém trinta e seis capítulos que seguem a tricotomia helenística clássica da filosofia em lógica, física e ética. Pensa-se ter sido concebido como um manual, não para os alunos do platonismo, mas, para seus professores. O tratado é escrito na forma esotérica típica do Corpus aristotelicum, e que muitas vezes se apropria de conceitos populares de outras escolas filosóficas, em especial da escola peripatética e da estoica, o que poderia ser visto como tendo sido prefigurado nas obras de Platão.

O manual de Alcino foi datado para o meio do século II.[1] Em 1879, o estudioso alemão Jacob Freudenthal argumentou que Alcino era realmente o filósofo Albino, o professor de Galeno, o médico. Esta teoria manteve-se praticamente inalterada até 1974, quando John Whittaker fez uma nova afirmação, de forma convincente, reafirmando a autenticidade de Alcino.[3][4]

Alcino afirma que o mundo e sua alma animadora são eternos.[5] Essa alma do universo não foi criada por Deus, mas, para usar a imagem de Alcino, foi despertada por Ele como de um sono profundo e voltado para si mesmo, "que poderia cuidar das coisas intelectuais e receber as formas e ideias da mente divina".[5] Foi o primeiro de uma sucessão de seres intermediários entre Deus e o homem.[6] As ideias procederam imediatamente da mente de Deus, e eram o maior objeto do nosso intelecto; a "forma" da matéria, os tipos de coisas sensíveis, tendo um ser real em si".[7] Ele diferia dos primeiros platônicos em confinar as "ideias" às leis gerais: parecia uma noção indigna a de que Deus pudesse conceber uma "ideia" das coisas artificiais ou anômalas, ou de indivíduos ou elementos, ou de qualquer coisa relativa".[8] Parece ter visado harmonizar as visões de Platão e Aristóteles sobre as "ideias", uma vez que as distinguia dos eidos, formas das coisas, que admitiu serem inseparáveis: uma visão que parece necessariamente ligada à doutrina da eternidade e da auto-existência da matéria.[9] Deus, a fonte primeira das "ideias", não poderia ser conhecido como Ele é: é apenas uma fraca noção Dele que obtemos das negações e analogias: sua natureza está igualmente além do nosso poder de expressão ou concepção.[10] Abaixo Dele estão uma série de seres (daimones)[11] que fiscalizam a produção de todas as coisas vivas, e mantêm intercâmbio com homens. A alma humana passa por diversas transmigrações, ligando-se às classes mais baixas do ser, até que finalmente é purificada e se torna aceitável a Deus.[12] Seu sistema é entendido como uma síntese de Platão e Aristóteles, com alguns elementos emprestados do Oriente e, talvez, derivado de um estudo do sistema pitagórico, que experimentou um renascimento de espécie concomitante àquele que produziu o médio platonismo.

Notas

  1. a b "Alcino se encaixa mais confortavelmente em um período delimitado pelos escritos de Plutarco por um lado, e Galeno e Alexandre de Afrodísias por outro, com Apuleio, Albino, Ático, Numênio, o peripatético Aspásio, ... e Máximo de Tiro como contemporâneos aproximados". John Dillon, 1993, Alcinous, The Handbook of Platonism, página xiii. Oxford.
  2. Schmitz, Leonhard (1867). «Alcinous (3)». In: William Smith. Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. 1. Boston: Little, Brown and Company. pp. 102–103 
  3. John Whittaker, (1974), Parisinus Graecus 1962 and the Writings of Albinus, Phoenix 28, 320-54, 450-56.
  4. Bryn Mawr Classical Review 94.10.14
  5. a b Alcino, Manual, 14.3.
  6. Alcino, Manual, 14.6-7, 15.1.
  7. Alcino, Manual, 9.1.
  8. Alcino, Manual, 9.2.
  9. Alcino, Manual, 9.3.
  10. Alcino, Manual, 10.4-6.
  11. Alcino, Manual, 15.1.
  12. Alcino, Manual, 16.1-2.

Referências