Nota: Para outros significados, veja Cabeceira (desambiguação).

O termo arquitectónico cabeceira designa, numa igreja ou principalmente numa catedral com orientação Oeste-Este, o conjunto das áreas situadas a Leste (o lado oposto à fachada principal - a cabeça do corpo de Cristo numa planta em cruz) quando vistas do exterior (abside + deambulatório + capelas radiantes).

Plano da cabeceira da Catedral de Amiens, França.
Cabeceira da Catedral de Notre-Dame de Paris, França.

Em igrejas de planta mais simples é comum visualizar-se do exterior somente uma abside, mas em construções mais complexas, como nas catedrais góticas francesas, o remate após o coro pode ser de tal modo complexo, com arcobotantes e diversos elementos decorativos a fazer a interligação, que se torna difícil distinguir as diferentes componentes do todo. A este remate, como peça única, dá-se o nome de cabeceira.

Evolução da cabeceira editar

 
Abside românica da igreja de Saint-Léonard-de-Noblat.
 
Chevet de la basilique de Paray le Monial.

Nos templos romanos, a abside era um nicho onde ficava a estátua de uma divindade. Este nome foi também dado posteriormente às êxedras das basílicas romanas, ou seja, aos espaços semicirculares dotados de assentos no interior do edifício entre os quais se situava a cadeira do magistrado presidente. Na frente dele às vezes era colocado um altar para fazer oferendas e sacrifícios. A Basílica Ulpia de Trajano pode ser um bom exemplo disso, com as suas duas absides, uma em cada extremidade da nave principal e uma exedra independente.

Os primeiros templos cristãos foram construídos seguindo as orientações da basílica romana e incorporaram a abside como elemento regular na sua arquitetura. Nela foram integrados o presbitério e o altar. Nos atos litúrgicos, os clérigos ou sacerdotes (cabidos) ocupavam os assentos que correspondiam aos tribunos nas absides romanas, enquanto o bispo sentava-se na cadeira presidencial em frente ao altar-mor. A utilização da abside nas suas variadas formas e traçados não só se manteve como se generalizou, a ponto de ser considerada uma dos componentes mais característicos da arquitetura bizantina, românica e gótica. No Românico possui uma planta semicircular ou poligonal. Em alguns casos encontram-se os absidíolos perfilados na sua superfície em forma de pilastras (cabeceira trebolada, ou com planta em forma de trevo). No Gótico, a cabeceira das igrejas e catedrais adquiriu uma grande complexidade, ao ponto de anular por vezes as restantes partes do templo. É o que se denomina planta macrocéfala. Os estilos arquitectónicos posteriores tenderam a simplificar o esquema da cabeceira, pelo menos em termos de estructura, uma vez que o interior era profusamente decorado, sobretudo com a colocação de retábulos.

O século X é caracterizado pelo estabelecimento progressivo de princípios arquitectónicos que não serão mais postos em causa a partir de então.

A planta constituída por uma abside enquadrada por dois absidíolos, difundida desde a época carolíngia, teve e continuará a ter muito sucesso ao longo dos séculos, mais particularmente em edifícios de média dimensão (ou seja, a igreja de Saint-Généroux e a igreja de Saint-André-de-Sorède). No entanto, esta planta evolui: poderemos assim constatar que os absidíolos ou tocam a abside, ou dela estão separados. Esta última característica, específica do período carolíngio e mais particularmente dos edifícios com transepto, tendeu a desaparecer durante o século X.

Além disso, com a importância crescente dada às relíquias desde a época carolíngia e o aumento espetacular dos objetos de veneração (especialmente a partir do século XI), surgiu a necessidade de dedicar um lugar na igreja à sua exposição. Começou assim a tendência de agrupar altares e relíquias em capelas anexas ao coro, parte mais sagrada do edifício, mas também pela adição, de cada lado da abside, nos braços do transepto, de vários absidíolos alinhados: igreja abacial de Saint-Michel-de Cuxa, a igreja colegiada de Saint-Vorles, a igreja da abadia de Ripoll na Catalunha, a igreja da abadia de Saint-Arnould em Metz ou a igreja da abadia de Saint-Remi em Reims, etc. Nasceram cabeceiras com absidíolos.

Outro desenvolvimento que surgiu neste período, as absides com capelas escalonadas com profundidade decrescente: igreja abacial de Déols, igreja de Bernay, igreja prioral de Perrecy-les-Forges, etc. Esta planta teve grande sucesso durante o século XI.

Foi também durante este século X que os arquitectos criaram uma espécie de abside combinando um corredor de circulação semicircular e um certo número de capelas abrindo-se em torno do seu perímetro: a abside com capelas ambulatórias e radiantes. O deambulatório é a solução ideal encontrada pelos arquitectos românicos para fazer face ao número cada vez maior de peregrinos. O deambulatório permite-lhes desfilar diante das capelas sem perturbar a missa que se realiza na nave principal: igreja da abadia de Saint-Philibert de Tournus que certamente tem uma abside do século XII, mas cuja planta repete fielmente a do século x, a cripta da igreja de Saint-Aignan em Orleães, etc. Esta planta será adoptada em muitos edifícios ambiciosos que acolhem peregrinos.

A hierarquia dos volumes aparece como o único elemento estável e muitas vezes é a mesma: a abside é mais alta e mais larga que as absidíolas. A abside também é frequentemente precedida por um tramo. Este não será mais o caso no século seguinte.

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Ver também editar

Bibliografia editar

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