Marco Sanudo (1153 (?) - entre 1220 e 1230, possivelmente 1227) foi o fundador e primeiro duque do ducado de Naxos, no seguimento da Quarta cruzada.

Sobrinho do Doge de Veneza Enrico Dandolo, participou na Quarta Cruzada de 1204 e na negociação para a compra de Creta por Veneza a Bonifácio de Montferrat. Fundou o ducado de Naxos entre 1205 e 1207 ou pouco depois de 1213-1214, conforme as versões, e ali mandou construir uma nova capital à volta da sua fortaleza, o castro. Vassalo do imperador latino Henrique de Hainaut por volta de 1210 ou 1216, combateu o Império de Niceia ao seu lado. Continuou no entanto a servir Veneza, como na expedição à Creta de 1211.

Sob o seu governo, o ducado de Naxos funcionou de forma mista sob os métodos bizantinos e ocidentais.

Fontes e interpretações editar

Todas as biografias de que dispomos de Marco Sanudo são interpretações de várias fontes posteriores aos eventos mencionados. Trata-se, na maioria, de crónicas venezianas dos séculos XIV e XV, ou seja, mais de um século e meio após os eventos.

A "Istoria di Romania" de Marino Sanudo Torsello (c. 1270-1343), membro da família Sanudo, invoca sucintamente a história de Marco Sanudo: “ele adquiriu as ilhas[1].” O doge Andrea Dandolo escreveu uma história de Veneza desde as origens (dita “Chronica extensa”) por volta de 1350. É nesse texto que a menção à conquista das ilhas do Egeu aparece pela primeira vez, baseando todos os textos posteriores[2] :

«Navegando separadamente, Marco Sanudo e os que o seguiam tomaram as ilhas de Naxos, Paros, Milos e Santorini, e Marino Dandolo Andros. […] De forma idêntica, Andrea e Geremia Ghisi recolheram Tinos, Míconos, Esquiro, Escópelos e Escíatos

Uma crónica de Veneza datada de 1360-1362 e atribuída a um Enrico Dandolo propõe uma rápida biografia de Marco Sanudo a partir da sua intervenção em Creta contra Enrico Pescatore, mas embeleza os eventos, inventando feitos não provados e contrariados pelos documentos oficiais. É também a primeira fonte a invocar o parentesco de Marco Sanudo com o doge homónimo do autor[3]. Em 1454, o humanista Flávio Biondo publica “De Origine et gestis Venetorum” onde se inspira quase na íntegra do texto de Andrea Dandolo, introduzindo o primeiro conceito de autorização concedida por Veneza aos seus cidadãos em tomarem as terras a Oriente com a condição de que nunca passariam para um não-Veneziano. Estende aqui, no início do século XIII, uma doutrina política atestada a meio do século XV[4].

A crónica mais utilizada, e porque fornecia mais pormenores cronológicos e topográficos, foi a redigida por Daniele Barbaro no século XVI. Combina as diferentes versões anteriores, juntando principalmente os textos de Andrea Dandolo e Enrico Dandolo. A versão de Barbaro foi também a mais aceite e copiada pelos crónicos e historiadores seguintes, tais como J.K Fotheringham em 1915. Guilhaume Saint-Guillain, num artigo de 2004 (publicado em 2006), põe em causa a versão sobre uma conquista em dois tempos tendo em conta que Barbaro misturou dois textos, e propõe uma outra interpretação dos documentos e portanto uma outra cronologia[5].

Finalmente, a "Histoire nouvelle des anciens Ducs de l’Archipel", que é também uma das principais referências, foi redigida na segunda metade do século XVII por um padre jesuíta do convento de Naxos, o Padre Saulger.

Família e juventude editar

 
Armas de Pietro I Candiano.

A família Sanudo descenderia de famílias de tribunos e de primazes da cidade de Eraclea que se teriam instalado no arquipélago veneziano (Malamocco, Rialto e Torcello) no início do século IX após a destruição da sua cidade. Em tempos teria tido o nome de Candiano e teria dado origem a diversos doges: Pietro I Candiano (887), Pietro II Candiano (932-939), Pietro III Candiano (942-959), Pietro IV Candiano (959-976) e Vitale Candiano (978-979). Os últimos Candiani diretos seriam desacreditados após uma tentativa de instauração de uma dinastia à cabeça da República. Depois disso, apenas temos a família dos Sanudi[6].

Quatro gerações após Pietro IV, surge um Marco Sanudo na segunda metade do século XI. Parece ter tido os títulos de conselheiro e de capitão. Teria sido também embaixador de Veneza em Constantinopla onde teria negociado o reconhecimento pelo imperador bizantino do poder de Veneza sobre a Dalmácia e Croácia por volta de 1084-1085. Teria então tido numerosos e frutuosos contatos na Grécia e ilhas do Mar Egeu. Foi-lhe atribuído o sobrenome de “Costantinopolitani’’ (o “Constantinopolitano”). Teria tido um filho, Pietro, sobre o qual a única informação de que dispomos é o seu casamento com Zabarella, irmã de Enrico Dandolo. Desse casamento teriam nascido três filhos: Marco, Bernardo e Lunardo[7].

Bernardo Sanudo, como jovem adulto, fez parte dos eleitores do Doge Enriço Dandolo, em 1192. Quanto a Lunardo, fazia parte dos oficiais que comandavam a frota veneziana para Abidos em 1196. Lunardo, ou segundo alguns cronistas medievais Bernardo, tinha o título de "Capitan delle Navi" (Capitão de uma parte da frota) de Enrico Dandolo durante a conquista de Constantinopla em 1204[8].

A data de nascimento de Marco Sanudo não é certa. É normalmente deduzida pela subtração da sua provável idade à possível data de sua morte. Segundo o Padre Saulger, teria 67 anos em 1220, caso a sua idade e a sua data de falecimento sejam justas[9]. Teria então nascido em 1153. As crónicas medievais mencionam-no pela primeira vez durante um combate naval de trinta Galeras venezianas comandadas por Sebastian Ziani contra 75 galeras lideradas por Otão, filho do imperador Frederico I, por volta de 1176-1177. No entanto, a realidade histórica desse episódio não está comprovada[10].

A primeira menção historicamente fiável de Marco Sanudo seria a sua presença na quarta cruzada. Ter-se-ia distinguido, sem mais detalhes, durante as tomadas de Zara e Constantinopla. No entanto o seu nome não surge nas listas de oficiais comandantes de navios. É possível que tenha estado presente numa galé liderada pelo seu irmão (Bernardo ou Lunardo) ou pelo seu tio Enriço Dandolo[11].

Bibliografia editar

  • Guillaume Saint-Guillain, ‘’Les Conquérants de l'Archipel. L'Empire latin de Constantinople, Venise et les premiers seigneurs des Cyclades.”, in Gherardo Ortali, Giorgio Ravegnani e Peter Schreiner (dir.), Quarta Crociata. Venezia - Bisanzio - Impero Latino., Istituto Veneto di Scienze, Lettere ed Arti, Venise, 2006. ISBN 88-88143-74-2
  • Padre Robert Saulger, ‘’'Histoire nouvelle des Ducs de l'Archipel.’’, Paris, 1699. (retomado por Luís Lacroix, ‘’Îles de la Grèce’’, 1853 e Ernst Curtius)
  • J.K. Fotheringham e L.R.F Williams, ‘’Marco Sanudo, conqueror of the Archipelago.’’, Clarendon Press, Oxford, 1915.

Notas editar

  1. Guillaume Saint-Guillain, p.130
  2. Guillaume Saint-Guillain, p. 140-142
  3. Guillaume Saint-Guillain, p. 149-152
  4. Guillaume Saint-Guillain, p. 160-164.
  5. Guillaume Saint-Guillain, p. 127 e 178
  6. J.K. Fotheringham, p. 1-12.
  7. J.K. Fotheringham, p. 12-13.
  8. J.K. Fotheringham, p. 13.
  9. J.K. Fotheringham coloca a data de sua morte por volta de 1229 e G. Saint-Guillain coloca-a em 1227.
  10. J.K. Fotheringham, p. 14-15.
  11. J.K. Fotheringham, p. 15.
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