Maria Alzira Seixo

Maria Alzira Semião dos Santos Seixo GOIH (Barreiro, Barreiro, 29 de abril de 1941), viveu sempre na Moita até 1966, fixando-se então em Lisboa. É professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dedicando-se a estudos de história e crítica literária.

Maria Alzira Seixo
Maria Alzira Seixo
Nascimento 29 de abril de 1941 (82 anos)
Barreiro, Barreiro
Nacionalidade portuguesa
Ocupação Professora e ensaísta
Prémios Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio (1987, 2002)

Grande Prémio de Ensaio Literário APE/PT (2002)
Prémio Vergílio Ferreira (2011)

Vida e obra editar

Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde teve como mestres, entre outros, Jacinto do Prado Coelho e David Mourão-Ferreira. Ainda antes de concluir a sua licenciatura em Filologia Românica, foi contratada como professora no Liceu Rainha Dona Leonor, em Lisboa, no ano de 1963-64, e no Liceu Nacional de Setúbal, em 1964-65. De seguida partiu para Paris, tendo frequentado a École Pratique des Hautes Études, onde estudou com Roland Barthes (co-orientador do seu doutoramento) e Greimas, frequentando em simultâneo, na École Normale Supérieure, as aulas de Todorov, Lacan e Kristeva. Tornou-se em 1966 docente do departamento de Literatura Francesa na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo posteriormente ensinado Literatura Comparada. Em 1979 concluiu o doutoramento em Literatura Francesa. Foi diretora da Faculdade de Letras durante o mandato de 1996-98, tendo dado início à construção do atual edifício da Biblioteca de Letras.

Maria Alzira Seixo dedica-se ao estudo da Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea, da Literatura Francesa Clássica e Contemporânea e de questões de pedagogia literária. É autora de obras de investigação nas suas áreas, de ensaios sobre literatura portuguesa e de alguns livros de poesia. Publicou o primeiro livro em 1968, com o título Para um Estudo da Expressão do Tempo no Romance Português Contemporâneo, que inclui estudos sobre a obra de Agustina Bessa Luís, Vergílio Ferreira, Maria Judite de Carvalho e Augusto Abelaira. Frequentou as tertúlias de Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira, e os encontros regulares do que seria mais tarde o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, com Jorge Peixinho e Mário Falcão, e a companhia de Emanuel Nunes, então estudante de Direito.

Criou e dirigiu as revistas Ariane (estudos franceses) e Dedalus, esta última da Associação Portuguesa de Literatura Comparada, instituição que fundou em 1988. A revista Dedalus foi uma das principais responsáveis pela divulgação, em Portugal, do chamado Pós-Modernismo. Tem colaborado na Colóquio/Letras e no Jornal de Letras, Artes e Ideias, e em muitas revistas estrangeiras. Participou na elaboração de antologias de Literatura Portuguesa (Poesia + Prosa, 1 e 2, com Eduardo Prado Coelho; Portugal, a Terra e o Homem, com David Mourão-Ferreira), e na antologia comentada de O Livro do Desassossego de Bernardo Soares, em 1986. Dirigiu a colecção Práticas de Leitura (Editora Arcádia), que publicou textos de problemática marxista, semiológica e estruturalista, a colecção Textos Literários (Editorial Comunicação), de introdução à leitura de escritores portugueses (com 54 volumes publicados sob sua direcção) e a colecção Viagem da Editora Cosmos.

Fundou, em 1987, a Associação Portuguesa de Literatura Comparada, à qual presidiu. Foi também Presidente da Associação Internacional de Literatura Comparada, eleita em Tóquio, 1991, até 1994, Edmonton, e da Federação Internacional de Línguas e Literaturas Modernas, eleita em Harare, 1999, e até 2002, em Bangkok; foi Presidente do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, entre 1984 e 1987, sucedendo no cargo a Jacinto do Prado Coelho.

Foi professora convidada nas Universidades de Poitiers, da Califórnia em Santa Barbara, de Chicago, de Johns Hopkins em Baltimore, e da Polinésia Francesa no Tahiti; leccionou nos Centros Universitários de Faro e do Funchal, e prestou colaboração nas Universidades de Évora e do Minho. Fez conferências e orientou seminários em muitas universidades e instituições culturais dos vários continentes.

A diversidade dos lugares por onde teve ocasião de trabalhar diz do empenho que colocou na difusão da Literatura Portuguesa, a qual quase sempre incluiu nos seus estudos de índole comparatista. Por outro lado, essa disseminação global ter-lhe-á proporcionado perspectivas de reflexão diferenciadas, nas quais colheu muita da sua formação, de tipo abrangente, e compreensiva dos fenómenos da alteridade.

Entre 1990 e 2000 dirigiu o Seminário de Estudos A Viagem na Literatura, da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, cientificamente integrado, como grupo de investigação, na Associação Internacional de Literatura Comparada, que realizou seis colóquios internacionais em Portugal e no estrangeiro, e publicou mais de uma dezena de volumes (com textos em português, francês e inglês) sobre Literatura de Viagens.

No quadro do Erasmus intensive Program, desenvolveu actividade como professora de Literatura Europeia durante seis anos, representando a Universidade de Lisboa, num curso para estudantes da U.E., que abrangia ainda as universidades de Utrecht, Götingen, Paris IV e Lovaina, tendo a primeira sessão desse curso inaugurado, no Convento da Arrábida, as instalações que desde então se consagram a reuniões científicas.

Tem sido membro de júris de prémios literários, entre os quais os da APE, PEN, Dom Dinis, Prémio de Literatura Europeia, Juan Rulfo, Universidade de Évora, Camões e Fernando Namora.

Foi ainda a coordenadora da ne varietur[1] da obra de António Lobo Antunes, de 2002 a 2008, concebendo e preparando, na sequência dessa actividade, o Dicionário da obra deste autor. Actualmente, entre outras actividades relacionadas com o Ensino e a Literatura, dirige a colecção António Lobo Antunes – Ensaio, que publica, na LeYa, textos e teses sobre a obra deste escritor.

Dirige a Colecção Camiliana, da Parceria António Maria Pereira, onde publicou Livro de Consolação, O Livro Negro do Padre Dinis e Memórias do Cárcere.

Colabora regularmente, desde sempre, no Jornal de Letras, Artes e Ideias, com actividade de crítica literária.

Aposentou-se em 2001, continuando, porém, a ser membro do Centro de Estudos Comparatistas, da FLUL, que integra desde a sua fundação.

É Membro do Conselho das Ordens Nacionais.[2]

É sócia correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa.

Contra o "Acordo Ortográfico" editar

Desde 2008, sobre a aplicação do Acordo Ortográfico, à semelhança de Vasco Graça Moura,[3] Maria Alzira Seixo tem manifestado a maior discordância. Terá comentado então, numa das suas várias intervenções na televisão: A ortografia não é a roupagem da língua, indiscriminada ou meramente funcional; ela é uma parte basilar e inalienável, de profundo sentido histórico, do seu corpo significante. A ortografia tem um funcionamento orgânico na linguagem, à semelhança da epiderme no corpo humano; esta parece não ser de importância vital na sobrevivência, mas os maus tratos que lhe forem infligidos acabam por provocar, com a continuidade e o grau atentatório, danos gravosos que atingem a integridade do organismo sobre o qual incidem.

Maria Alzira Seixo é hoje um dos signatários da Petição em Defesa da Língua Portuguesa e de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC) contra o Acordo Ortográfico que decorre em Portugal.

Bibliografia activa editar

  • A expressão do tempo no romance português contemporâneo (Ensaio), 1968 ; 1986
  • Discursos do texto (Ensaio), 1977
  • Letra da terra (Poesia), 1983
  • Le parcours du plaisir. Essai d'analyse d'un texte français du XVIIe. siécle: "Francion" de Charles Sorel (Ensaio), 1985
  • "O Amor Primeiro", Introdução a Garvaia, de Pai Soares de Taveirós. Com David Mourão-Ferreira, Eugénio de Andrade, Natália Correia, Alexandre O’Neill, Pedro Tamen, Vasco Graça Moura, Nuno Júdice, Vespeira. (Ensaio), 1985
  • A palavra do romance. Ensaios de genologia e análise (Ensaio), 1986
  • O essencial sobre José Saramago (Monografia), 1987
  • Poéticas da viagem na literatura (Ensaio), 1998
  • Lugares da ficção em José Saramago. O essencial e outros ensaios, 1999
  • Le sens du voyage dans l'écriture romanesque, ed. bilingue francês/grego (Ensaio), 2000
  • Outros erros. Ensaios de literatura (Ensaio), 2001
  • Eu fui ao mar às laranjas : ensaio sobre Luísa Dacosta (Ensaio), 2001
  • Os romances de António Lobo Antunes : análise, interpretação, resumos e guiões de leitura (Ensaio), 2002
  • Diário do lago (Poesia), 2002
  • Dicionário da Obra de António Lobo Antunes (direcção e co-autoria), 2008
  • Memória Descritiva da fixação do texto para a edição ne varietur da obra de António Lobo Antunes, com Graça Abreu, Eunice Cabral, Agripina Carriço Vieira, 2010
  • As Flores do Inferno e Jardins Suspensos, Volume II de Os Romances de António Lobo Antunes, com colaboração de António Bettencourt (Ensaio), 2010

Outras obras em colaboração editar

  • Três Ensaios sobre a Obra de Manuel da Fonseca, Comunicação, Lisboa, 1980
  • Leituras de Roland Barthes, Dom Quixote, Lisboa, 1982
  • Poéticas do Século XX, Horizonte, Lisboa, 1984
  • O Corpo e os Signos (ensaios sobre O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena), A História Trágico-marítima. Análises e Perspectivas, Cosmos, Lisboa,1996
  • Viagem e Literatura, Europa-América, Lisboa, 1997
  • Lesen, Unbegrenzt Reisen. Die Portugiesen Und Die Welt./ O Livro e a Viagem sem limites. As Letras Portuguesas e o Mundo. Catálogo da exposição homónima do Ano de Portugal em Frankfurt, Introdução e Antologia, Lisboa, 1997
  • Les Récits de voyage: typologie, historicité, Cosmos, Lisboa, 1998
  • O Discurso Literário da "Peregrinação", Cosmos, Lisboa, 1999
  • A Vertigem do Oriente. Modalidades discursivas no encontro de culturas, Cosmos, Lisboa, 1999
  • Colloque de Cerisy / Pessoa, Christian Bourgois, Paris, 2000
  • The Paths of Multiculturalism. Travel Writings and Postcolonialism, Cosmos, Lisboa, 2000
  • Travel Writing and Cultural Memory, Rodopi, Amsterdam – Atlanta GA, 2000

Tem muitos trabalhos dispersos em periódicos e revistas, nacionais e estrangeiros, não recenseados.

Prémios e distinções editar

Condecorações[4] editar

Notas

  1. «Edição ne varietur da obra de António Lobo Antunes» [ligação inativa] 
  2. «Ordens Nacionais». Presidência da República Portuguesa. Consultado em 5 de março de 2015 
  3. «Acordo Ortográfico: a perspectiva do desastre, comunicação de Vasco Graça Moura à Assembleia da República em 7 de Abril de 2008» 🔗 [ligação inativa] [ligação inativa]
  4. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Maria Alzira Seixo". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 13 de fevereiro de 2015 
  5. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Maria Alzira Seixo". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 30 de maio de 2014 

Ligações externas editar

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