Estigma (fenômeno)

marcas manifestadas fisicamente mas que tradicionalmente são reputadas como tendo origem espiritual
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Os estigmas são marcas manifestadas fisicamente mas que tradicionalmente são reputadas como tendo origem espiritual, e que alguns acreditam reproduzirem as cinco chagas de Jesus Cristo. Os estigmas podem tomar formas variadas, como úlceras, chagas, ferimentos, queimaduras, bolhas e lacerações, dentre outros, e normalmente são verificados em um dos cinco pontos do corpo pelos quais Jesus teria sido pregados à cruz: pés, punhos e tórax.

Ícone do recebimento das estigmas em São Francisco de Assis

Enquanto festividade católica, em Portugal é realizada especialmente no dia 7 de Fevereiro.[1]

Pesquisa científica

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Estigmatização de Santa Catarina de Siena (c. 1515) por Domenico Beccafumi

Muitos estigmatizados têm sido expostos por se utilizarem de artifícios fraudulentos.[2][3] Magdalena de la Cruz, por exemplo, que durante sua vida foi venerada como santa, confessou à beira da morte que seus estigmas haviam sido criados artificialmente e de forma deliberada.[4]

Um dos primeiros neurologistas, Désiré-Magloire Bourneville, publicou diversos trabalhos afirmando que santos afirmando produzir milagres ou estimas, e aqueles alegando serem possuídos por entidades demoníacas, na realidade são afetados por epilepsia ou histeria.[5][6] Outros estudos modernos têm mostrado que estigmas têm origem histérica, ou são produtos de transtornos dissociativos de identidade.[7][8][9][10]

Diversos estudos tem demonstrado que existem relações claras entre constrições produzidas pela fome, estresse mental e auto-mutilação, principalmente no contexto de crenças religiosas.[11] Casos de anorexia nervosa frequentemente apresentam auto-mutilações semelhantes a estígmas, como parte de rituais típicos de transtornos obsessivo-compulsivos. Além disso, a relação entre fome e auto-mutilação tem sido verificada entre prisioneiros de guerra e durante episódios de fome generalizada.[12][13][14]

O psicólogo Leonard Zusne em seu livro Anomalistic Psychology: A Study of Magical Thinking (1989) conclui que:

Casos de estigma recaem em duas categorias: feridas auto-infligidas, que podem ser tanto casos de fraude quanto de auto-mutilação inconsciente, e feridas causadas por estados emocionais... auto-indução (através de auto-sugestão) de coceiras e subsequentes arranhões, dos quais o indivíduo não tem consciência, tem grande chance de ocorrer em pessoas impressionáveis, na presença de estímulos como imagens mentais ou físicas de cenas da crucificação usadas em meditação, e quando deseja-se receber estigmas. O motivo por detrás disso pode ser um conflito inconsciente e um desejo de escapar de uma situação intolerável, para uma situação de invalidez na qual as necessidades da pessoa recebem atenção e cuidado. [...] Muitos casos de estigmas podem ser explicados como fraude ou como feridas auto-provocadas.[15]

Em seu Stigmata: A Medieval Phenomenon in a Modern Age, Ted Harrison sugere que não existe um único mecanismo que produza marcas de estigmas. Harrison não encontrou quaisquer evidências, em estudos de casos contemporâneos, de que estigmas possam ser produzidos de maneira supernatural. Ele conclui, no entanto, que feridas de origem natural nem sempre precisam ser fraudes, no sentido mais comum do termo, pois os motivos que levam pessoas a se auto-mutilarem de maneira inconsciente podem constituir verdades para a pessoa que se auto-mutila. Por exemplo alguns estigmatizados mutilam-se como forma de sofrer com Cristo, como forma de piedade. Outros mutilam-se acidentalmente, e suas feridas são consideradas estigmas por outras pessoas. Segundo ele, frequentemente feridas causadas naturalmente possuem profundas e genuínas respostas religiosas.[16]

Outros estudos têm apontado que os raros casos de estigmas que não resultam de auto-mutilação condizem com sintomas de condições como a painful bruising syndrome.[10][17][18][19][20]

O investigador cético Joe Nickell, que tem investigados casos recentes de estigmas, como aquele de Katya Rivas, afirma que esses casos não podem ser distinguidos de fraudes. [21]

Em 2002, um estudo psicoanalítico da estigmatizada Therese Neumann apontou que suas feridas resultavam de sintomas de estresse pós-traumático, expressos de forma inconsciente em auto-mutilação, por força de uma auto-sugeribilidade anormal.[22]

Estigmatizados famosos

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Na mídia

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Ver também

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Referências

  1. As Cinco Chagas do Senhor (festa em Portugal), evangelhoquotidiano.org, 07 de Fevereiro de 2012
  2. Carroll, Robert Todd. (2003). The Skeptic's Dictionary: A Collection of Strange Beliefs, Amusing Deceptions, and Dangerous Delusions. Wiley. pp. 366-367. ISBN 0-471-27242-6
  3. Nickell, Joe. (2004). "The Stigmata of Lilian Bernas". Skeptical Inquirer. Retrieved 12 May 2016.
  4. Nickell, Joe. (2001). Real-Life X-Files: Investigating the Paranormal. University of Kentucky Press. p. 281. ISBN 0-8131-2210-4 "That many stigmatics were fakes is well established. For example, Magdalena de la Cruz, having become ill in 1543 and fearful of dying a sinner, confessed that her stigmata, inedia, and other phenomena were deliberate deceptions."
  5. Porter, Dorothy; Porter; Roy. (1993). Doctors, Politics and Society: Historical Essays. Rodopi. pp. 120-121. ISBN 90-5183-510-8
  6. Hustvedt, Asti. (2011). Medical Muses: Hysteria in Nineteenth-Century Paris. Bloomsbury. p. 279. ISBN 978-1-4088-2235-7
  7. Mazzoni, Cristina. (1996). Saint Hysteria: Neurosis, Mysticism, and Gender in European Culture. Cornell University Press. pp. 24-28, pp. 136-140. ISBN 0-8014-3229-4
  8. Seidl, O. (2008). Stigmatisation and Absence of Nutrition in the Case of Therese Neumann (1898-1962). Nervenarzt 79 (7): 836-843.
  9. Regal, Brian (2009). Pseudoscience: A Critical Encyclopedia. Greenwood. pp. 154-155. ISBN 978-0-313-35507-3
  10. a b Kluger, N; Cribier, B. (2013). Stigmata: From Saint-Francis of Assisi to Idiopathic Haematidrosis. Ann Dermatol Venereol 140: 771-777.
  11. Daniel Fessler (2002). «Starvation, serotonin, and symbolism. A psychobiocultural perspective on stigmata» (PDF). Mind and Society: Cognitive Studies in Economics and Social Sciences. Mind and Society: Cognitive Studies in Economics and Social Sciences. 3 (2): 81–96. Consultado em 12 de setembro de 2009 
  12. Yaryura-Tobias, Jose A.; Fugen A. Neziroglu; Steven Kaplan (1995). «Self-mutilation, anorexia, and dysmenorrhea in obsessive compulsive disorder». International Journal of Eating Disorders. 17 (1): 33–38. PMID 7894450. doi:10.1002/1098-108X(199501)17:1<33::AID-EAT2260170104>3.0.CO;2-2 
  13. Curtin, A. P. (1946). «Imprisonment under the Japanese». BMJ. 2 (4476): 585–586. ISSN 0959-8138. PMC 2054516 . PMID 21284113. doi:10.1136/bmj.2.4476.585. Consultado em 12 de setembro de 2009 
  14. University of Minnesota. Laboratory of Physiological Hygiene; Ancel Keys (1950). The Biology of Human Starvation. [S.l.]: University of Minnesota Press 
  15. Zusne, Leonard; Jones, Warren H. (1989). Anomalistic Psychology: A Study of Magical Thinking. Lawrence Erlbaum Associates, Inc. pp. 54-56. ISBN 978-0-805-80507-9
  16. Harrison, Ted (outubro de 1994). Stigmata: A Medieval Phenomenon in a Modern Age. [S.l.]: St Martins Press. ISBN 0-312-11372-2 
  17. Early, Loretta F; Lifschutz, Joseph E. (1974). A Case of Stigmata Loretta. Arch Gen Psychiatry 30 (2):197-200.
  18. Ratnoff O, D. (1980). The psychogenic purpuras: A review of autoerythrocyte sensitization, autosensitization to DNA, “hysterical” and factitial bleeding, and the religious stigmata. Semin Hematol 17: 192-213.
  19. Panconesi, E., & Hautmann, G. (1995). Stress, Stigmatization and Psychosomatic Purpuras. International Angiology 14: 130-137.
  20. Armando De Vincentiis. (2011). "New insights into the phenomenon of Natuzza Evolo". Italian Committee for the Investigation of Claims on the Paranormal. Retrieved 12 May 2016.
  21. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Nickell 2001
  22. Albright, M. (2002). «The Stigmata: The Psychological and Ethical Message of the Posttraumatic Sufferer». Psychoanalysis and Contemporary Thought. 25 (3): 329–358 
  23. True exorcism story of Anneliese Michel
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