Flutter atrial ou flutter auricular é um tipo de arritmia supraventricular em que os átrios (aurículas) formam um circuito elétrico anormal que causam contrações regulares a um ritmo acelerado (mais de 240 batimentos por minuto, em média 300bpm). No eletrocardiograma é produz diversas ondas P, em forma de serrote, visíveis nas derivações D2, D3 e aVF.

Flutter atrial
Flutter atrial
Atrial flutter com condução AV variável (5:1 e 4:1)
Especialidade cardiologia
Classificação e recursos externos
CID-10 I48
CID-9 427.32
DiseasesDB 1072
MedlinePlus 000184
eMedicine med/185
MeSH D001282
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

Classificação

editar

Baseado na frequência das contrações atriais aceleradas (ondas F):

  • tipo I: 240 a 340 batimentos por minuto.
  • tipo II: 340 a 430 batimentos por minuto.

Baseado na rotação do circuito elétrico atrial[1]:

  • Flutter atrial comum: A rotação do circuito elétrico é no sentido anti-horário (90% dos casos). Apresentam onda positiva em V1 e ondas P com polaridade negativa nas derivações eletrocardiográficas D2, D3 e aVF.
  • Flutter atrial incomum: A rotação do circuito elétrico é no sentido horário. Apresenta onda ampla e invertida em V1 e ondas P positiva nas derivações eletrocardiográficas D2, D3 e aVF.

Causas

editar
Video explicativo legendado.

Fisiopatologia

editar

Se origina a partir de um circuito elétrico de re-entrada, que ocupa grande parte do tecido atrial direito, incluindo o septo, o teto, a região da crista terminallis na parede lateral até o assoalho atrial próximo ao folheto septal da válvula tricúspide. A frente de onda que circula por este trajeto, pode apresentar rotação horária, ou seja, descendo pelo septo interatrial, assoalho atrial, subindo pela crista terminallis e fechando o circuito no teto do átrio direito, causando assim o surgimento de uma atividade elétrica atrial contínua no eletrocardiograma, denominada ondas P, com polaridade positiva. A resposta ventricular é determinada pelo grau de bloqueio átrio-ventricular, e corresponder a metade da frequência atrial (razão 2:1), tipicamente ao redor de 150 batimentos por minuto ou a um terço da frequência atrial (razão 3:1), ao redor de 100 batimentos por minutos.

Fatores de risco

editar

Cerca de 30% ocorrem em indivíduos com coração normal. Fatores de risco para o flutter atrial incluem[2]:

Sinais e sintomas

editar
 
Flutter atrial com razão 3:1 (três ondas atriais F para cada onda ventricular Q ou R).

O aumento da frequência cardíaca normalmente é bem tolerado em pessoas com corações saudáveis e acostumadas a exercícios, sentido apenas como palpitações anormais. Porém, em pessoas com outras doenças cardíacas os sintomas podem incluir[2]:

Complicações

editar

Quanto mais persistentes e maior quantidade de fatores de risco, maior o risco de complicações. Caso as contrações cardíacas não ejetem sangue suficiente, pode causar insuficiência cardíaca. O distúrbio da frequência cardíaca também aumenta o risco de formação de coágulos que causam tromboembolismo pulmonar e acidente vascular cerebral. Se a irrigação sanguínea é insuficiente pode desencadear um infarto agudo do miocárdio. [4]

Epidemiologia

editar

Representa aproximadamente 10% dos casos de taquiarritmias supraventriculares. A incidência aumenta com a idade. É mais comum em homens. Pode aparecer em pessoas com corações saudáveis e sem causar sintomas.[4]

Tratamento

editar

O tratamento tem três objetivos: regular do ritmo cardíaco, prevenir novos episódios e prevenir tromboembolismos.

O controle do ritmo pode ser feita com fármacos Antiarrítmicos da classe III (como amiodarona, ibutilida ou sotalol intravenosos) ou por meio da cardioversão elétrica. O flutter atrial é consideravelmente mais sensível à cardioversão elétrica de corrente direta do que a fibrilação atrial. Um choque de apenas 20 a 50J geralmente é suficiente para causar um retorno ao ritmo cardíaco normal (ritmo sinusal).[5]

Para prevenir novos casos, deve-se reduzir fatores de risco como hipertensão e obesidade. Recomenda-se que os pacientes sejam previamente anticoagulados para reduzir o risco de tromboembolismo. Além dos Antiarrítmicos da classe III, medicamentos alternativos para controlar o ritmo cardíaco incluem beta-bloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio e digoxina.[6]

Quando é secundário a outra doença, como tirotoxicose, alcoolismo ou pericardite, o flutter desaparece quando a causa é tratada.

A grande dificuldade é a manutenção do ritmo cardíaco normal posteriormente, já que a chance de recorrência da arritmia é elevada mesmo com medicamentos antiarrítmicos. Sem os medicamentos a probabilidade de recorrência é ainda maior.

Ablação com radiofrequência

editar

O conhecimento do mecanismo macroreentrante do flutter atrial permitiu que se delineasse seu tratamento definitivo através do procedimento denominado ablação com radiofrequência utilizando cateteres especiais. A radiofrequência é concentrada na região do istmo entre veia cava inferior e válvula tricúspide (local vulnerável dentro circuito) onde está localizada a área de condução lenta que mantém a reentrada do impulso elétrico. A chance de cura definitiva com esta técnica está ao redor de 90% dos casos, com risco de recorrência em torno de 10%.[7]

Ligações externas

editar

Referências

  1. Atrial Flutter - Classification. https://lifeinthefastlane.com/ecg-library/atrial-flutter/
  2. a b Dr Colin Tidy. Atrial Flutter. Junho de 2014. https://patient.info/doctor/atrial-flutter#ref-3
  3. Schmidt M, Christiansen CF, Mehnert F, et al; Non-steroidal anti-inflammatory drug use and risk of atrial fibrillation or BMJ. 2011 Jul 4 343:d3450. doi: 10.1136/bmj.d3450.
  4. a b Wellens HJ; Contemporary management of atrial flutter. Circulation. 2002 Aug 6 106(6):649-52.
  5. Kirkland, S; Stiell, I; AlShawabkeh, T; Campbell, S; Dickinson, G; Rowe, BH (July 2014). "The efficacy of pad placement for electrical cardioversion of atrial fibrillation/flutter: a systematic review.". Academic Emergency Medicine. 21 (7): 717–26. doi:10.1111/acem.12407.
  6. Andrew P, Montenero AS; Atrial flutter: a focus on treatment options for a common supraventricular tachyarrhythmia. J Cardiovasc Med (Hagerstown). 2007 Aug 8(8):558-67.
  7. Lee G, Sanders P, Kalman JM; Catheter ablation of atrial arrhythmias: state of the art. Lancet. 2012 Oct 27 380(9852):1509-19. doi: 10.1016/S0140-6736(12)61463-9.