Lordose

anatomia
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Lordose é um transtorno devido a uma curvatura excessiva da coluna para dentro. Ela difere das curvas normais da coluna nas regiões cervical, torácica e lombar, as quais são, até certo grau, cifóticas ou lordóticas. As curvas naturais da coluna posicionam a cabeça acima da pelve e trabalham como amortecedores de choque para distribuir o stress mecânico durante o movimento.

Lordose
Lordose
Especialidade reumatologia, genética médica
Classificação e recursos externos
CID-10 M40.3-M40.5
CID-9 737.2
CID-11 444559306
MedlinePlus 003278
MeSH D008141
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A lordose pode ser encontrada em todas as faixas etárias. Afeta principalmente a coluna lombar, mas também ocorre no pescoço (cervical). Quando na coluna lombar, o paciente pode parecer excessivamente curvado nas costas, com a região das nádegas mais proeminente, com uma postura em geral exagerada. A lordose lombar pode ser dolorida e algumas vezes afeta o movimento.

O termo lordose aplica-se a todas curvaturas internas consideradas exacerbadas que se manifestam sobre a coluna vertebral. Esta condição pode ser encontrada em todos os grupos etários sem exceção[1][2]. É uma condição que afeta o normal funcionamento do sistema músculo-esquelético humano e a região da coluna vertebral é comumente mais afetada por esta condição é a região lombar[3].

Evolução da lordose lombar e o bipedismo

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O ser humano apresenta uma curva normal da coluna vertebral à qual se dá o nome de curvatura lordótica[1][4]. Essa curvatura natural perfaz valores entre os 10º a 30º na região das vertebras cervicais e de 34º e 42º no caso das vertebras lombares. A lordose lombar é única da coluna humana e facilita a manutenção da postura bípede[1][5].

A distinta curvatura lordótica da zona lombar é criada através da saliência de ambos os corpos e os discos vertebrais. Em média 10% da curvatura lombar é atribuída à saliência dos corpos vertebrais, enquanto os restantes 90% são atribuídos aos discos vertebrais[6]. A evolução da lordose lombar para os níveis do Homem anatomicamente moderno ocorreu em paralelo com outras mudanças esqueléticas: alongamento dos membros, restruturação da pélvis e reorganização da musculatura espinal para suportar o bipedismo[5][6].

O bipedismo está datado de 4.4 milhões de anos, com o Ardipithecus ramidus. Métodos para o cálculo do ângulo lordótico baseado na orientação do processo anterior do corpo da vértebra lombar mostram que nos Australopithecus o ângulo é de 41º ± 4º, no Homo eretus 45º, no Homo neanderthalensis 29º ± 4º e no homem moderno 54º ± 11º[6].

Considerando a proximidade genética e semelhança anatómica entre neandertais e humanos modernos é surpreendente que a coluna dos neandertais seja hipolordótica. Uma das hipóteses desta diminuição do ângulo é atribuída a uma melhor funcionalidade em ambientes montanhosos, na qual se sabe que neandertais viviam em ambientes montanhosos da Eurásia[6].

Degeneração da lordose

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A região lombar é usualmente chamada de “ponto fraco evolutivo” da coluna vertebral e é a zona mais propensa a alterações degenerativas nas vértebras e discos intravertebrais[7]. No entanto, alterações degenerativas em colunas vertebrais de grandes símios em cativeiro ocorrem na mesma proporção que nos humanos, apesar da inexistência de lordose lombar[8]. Em contrapartida, populações de grandes símios na natureza demonstram uma ausência de alterações degenerativas[9]. A dificuldade de sobrevivência e atingir uma idade avançada nos grandes símios que vivam na natureza, torna difícil saber se esta diferença é atribuída a uma esperança média de vida maior em grandes símios em cativeiro ou uma mudança no estilo de vida[8]. Curiosamente, grandes símios em cativeiro passam grande parte do seu dia sentados, em contraste com os que vivem na natureza, que estão em constante movimento[8].

A zona lombar da coluna vertebral adaptou a sua configuração ao longo do período evolutivo. Esqueletos de Australopithecus mostram a zona lombar possuía 6 vértebras, enquanto a dos homens anatomicamente modernos foi reduzida para 5 vértebras, tendo a 6º vértebra passado para o sacro[10].

A determinação dos efeitos do estilo de vida moderno na degeneração da coluna vertebral é difícil. Vários estudos demonstram a presença de patologias degenerativas como a osteoartrose em populações datadas de 3500 anos até populações medievais (800 anos atrás)[6]. Estas evidência sugerem que a degeneração da coluna vertebral não pode ser atribuída isoladamente ao estilo de vida sedentário característico das populações ocidentalizadas[6].

Causas

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Certos processos de enfermidades podem afetar de modo negativo à integridade estrutural da coluna, contribuindo para a lordose. Algumas causas comuns incluem acondroplasia, discite, cifose, obesidade, osteoporose e espondilolistese.

  • Acondroplasia é um transtorno de crescimento ósseo de herança genética que pode causar um tipo de nanismo.
  • Discite é a inflamação do espaço intervertebral dos discos.
  • Cifose (por ex., a corcunda) pode forçar a parte inferior das costas para compensar uma falta de equilíbrio criada por uma curvatura ocorrida em um nível mais elevado da coluna (por ex., na região torácica).
  • Obesidade pode fazer com que algumas pessoas que estejam com sobrepeso se inclinem para trás para melhorar o equilíbrio. Isso causa um impacto negativo na postura.
  • Osteoporose é um distúrbio na densidade óssea que pode causar perda de força das vértebras, comprometendo a integridade estrutural da coluna.
  • Espondilolistese ocorre quando uma vértebra escorrega para frente em relação a uma vértebra adjacente, geralmente na coluna lombar.

Para entender as potenciais causas de degeneração lombar é importante conhecer os benefícios funcionais da lordose. Enquanto a lordose lombar é importante para uma eficiente locomoção bípede, o achatamento da região lombar também é necessário para a realização de outras atividades[6]. Entender a influência da lordose e a flexibilidade lombar nas diferentes atividades é essencial para perceber o melhor tratamento necessário para a correção da postura ou curvatura[6].

A lordose pode estar ligada a fatores genéticos e fatores comportamentais. No caso dos fatores genéticos, existe uma maior frequência em indivíduos com doenças ósseas manifestadas desde o nascimento ou que desenvolveram essa condição ao longo da vida. Os fatores comportamentais que normalmente podem propiciar o desenvolvimento de lordose excessiva são a obesidade, a má postura, a gravidez e o sedentarismo ou ainda algumas práticas desportivas desgastantes[4]. Um estudo também chegou à conclusão de que grandes pesos nas malas da escola de crianças aumenta a prevalência de virem a demonstrar problemas como a cifose e lordose[11]. O angulo da lordose lombar é também significativamente associado a espondiloses e espondilolistese ístmica[1]. A degeneração da coluna está atribuída ao uso excessivo, à subutilização e à má utilização da coluna vertebral[6].

Sinais e sintomas

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Os sintomas mais comuns são dor no pescoço, dor na região lombar, incapacidade de movimentos e cansaço. [12]

Dada a importância da lordose lombar na transição evolutiva da coluna para o bipedismo, não é surpreendente que um desalinhamento sagital da coluna vertebral cause dores e incapacidades. Um desalinhamento sagital causa um aumento do consumo energético e induz uma resposta compensatória que inclui a flexão do joelho, retroversão (descaimento para trás) da pélvis e cifose torácica[6]. O achatamento da região lombar resulta em alterações degenerativas da coluna. Ambas as fraturas osteoporóticas das vértebras e doença dos discos vertebrais estão relacionadas com a redução da lordose lombar[6].

Diagnóstico

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Exame Físico

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Um exame físico completo revela muito sobre a saúde e as condições físicas do paciente. O médico desejará saber quando a curvatura foi notada pela primeira vez, a progressão no passado e outros sintomas relativos observados pelo paciente. O exame proporciona uma base a partir da qual o médico pode medir a evolução do paciente durante o tratamento. O exame físico pode incluir: 1. Manipulação, para determinar anormalidades na coluna pelo toque. 2. Alcance do movimento, para medir o grau de extensão que o paciente consegue alcançar com relação a movimentos de flexão, extensão, curvatura lateral e rotação da coluna. A assimetria também é observada.

Avaliação neurológica

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A avaliação neurológica inclui uma análise dos seguintes sintomas: dor, adormecimento, parestesia (por ex., zumbido), sensação nas extremidades e função motora, espasmo muscular, fraqueza e alterações nos intestinos e/ou na bexiga.

Rraio X da coluna

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O paciente fica em pé para expor toda a extensão da coluna para realizar o exame de raios X em PA (posterior/anterior, ou frente e costas) e lateral. Algumas vezes são utilizados raios X de curvatura lateral AP para avaliar a flexibilidade da coluna. Pode ser solicitada uma ressonância magnética se a medula espinhal estiver comprometida (ou se houver suspeita). Além disso, o método do ângulo de Cobb pode ser utilizado para medir a curva da lordose em graus, através de um exame de raios X AP panorâmico padrão.

O paciente sentir dores pode ser um sinal que o dano na coluna já é bastante significativo. Para além de considerar os sintomas relatados pelos pacientes, a função do ortopedista será de realizar um exame físico e clínico minucioso, onde deve observar o indivíduo em todos os ângulos para identificar o desvio patológico da coluna vertebral, o que torna necessário a realização de exames radiológicos[3].

Em 1960 desenvolveu-se um método radiológico para avaliar a profundidade da curvatura lordótica da coluna cervical em que são traçadas três linhas, uma desde a zona proximal posterior do processo odontoide, na segunda vertebra, até à zona distal posterior do corpo da terceira vertebra, a segunda ao longo da zona posterior dos corpos cervicais e a terceira que interceta a primeira no posto de maior distância entre as primeiras linhas[4]. A medida desta última linha será a profundidade da lordose cervical. Com esta método podemos perceber se há um aumento, perda ou inversão da curvatura[4].

Tratamento

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Não Cirúrgico

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As medidas do tratamento conservador não cirúrgico incluem: 1. Medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios. 2. Fisioterapia para permitir que o paciente desenvolva força, flexibilidade e aumente o alcance do movimento. O terapeuta pode indicar um programa de exercícios personalizado para ser realizado em casa. 3. Coletes podem ser usados para controlar a evolução da curva em adolescentes. 4. Redução do peso corporal ao nível ideal. 5. A cirurgia pode ser indicada se a curva lordótica for grave com envolvimento neurológico.

Cirurgia da coluna

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A intervenção cirúrgica é indicada se a curva lordótica for grave, quando existe envolvimento neurológico, ou se o tratamento conservador não cirúrgico não foi satisfatório para proporcionar um alívio. Um cirurgião da coluna decide qual procedimento cirúrgico e qual abordagem (anterior/posterior, frente ou costas) será melhor para o paciente. Suas decisões são baseadas no histórico médico do paciente, sintomas e achados radiográficos. São utilizadas diversas opções de tratamentos cirúrgicos. Você deve discutir o que é melhor para sua condição com seu cirurgião.

Normalmente, opta-se por um tratamento conservador dado que a cirurgia na coluna vertebral é algo clinicamente complexo. A significativa degeneração da postura requere uma intervenção cirúrgica cara e complicada, que inclui riscos ao nível de danos neurológicos, para aliviar dores nas costas e má postura[6].

Entre outras opções existentes, estão o uso de analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares por um período determinado pelo médico e coletes que podem ser usados para controlar a evolução da curva em adolescentes. A adesão ao tratamento medicamentoso é essencial para diminuir o desconforto. Outras estratégias igualmente eficazes incluem os exercícios de fisioterapia para permitir que o paciente desenvolva força, flexibilidade e aumente o alcance do movimento, tais como os de reeducação postural global e técnicas específicas de alongamento tal como a estimulação elétrica direcionada[3].

Investigação

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Em agosto de 2002 Fornaciari e Ciranni apresentaram um estudo no âmbito do 14º encontro europeu da associação de paleopatologia em Coimbra na qual chegaram a conclusão de que o famoso artista Luigi Boccherini (1743-1805), sofreu uma perda da lordose fisiológica da coluna cervical e lombar entre outras patologias[13].

Um outro trabalho encontrou provas da existência desta condição em Homo neanderthalensis. Mais em concreto, o espécime de Neandertal, que foi encontrado na França em La Chapelle-aux-Saints 1 em 1908 por Bardon e colegas, tinha uma lordose patológica lombar[14]. A articulação das vértebras cervicais também estava comprometida podendo este espécime também ter sofrido de lordose anormal cervical[14]. Este indivíduo também tinha evidência de uma doença de etiologia ainda desconhecida, que se pensa ser o resultado da lordose excessiva, a doença de Baastrup[14].

Referências

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  2. Been, Ella; Shefi, Sara; Soudack, Michalle (junho de 2017). «Cervical lordosis: the effect of age and gender». The Spine Journal (em inglês) (6): 880–888. doi:10.1016/j.spinee.2017.02.007. Consultado em 21 de junho de 2021 
  3. a b c saúde, Grupo InfinitaNo blog da Infinita-Diagnóstico por Imagem você encontra os melhores conteúdos sobre; Vida, Qualidade De; exames; Doenças, Diagnósticos E. Prevenção De. «AFINAL, O QUE É A TÃO FALADA LORDOSE? – Infinita Diagnóstico Por Imagem – Saúde e Qualidade de Vida». Consultado em 21 de junho de 2021 
  4. a b c d Borden, A. G. Boreadis; Rechtman, A. M.; Gershon-Cohen, J. (maio de 1960). «The Normal Cervical Lordosis». Radiology (em inglês) (5): 806–809. ISSN 0033-8419. doi:10.1148/74.5.806. Consultado em 21 de junho de 2021 
  5. a b Whitcome, Katherine K.; Shapiro, Liza J.; Lieberman, Daniel E. (13 de dezembro de 2007). «Fetal load and the evolution of lumbar lordosis in bipedal hominins». Nature (em inglês) (7172): 1075–1078. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/nature06342. Consultado em 21 de junho de 2021 
  6. a b c d e f g h i j k l Sparrey, Carolyn J.; Bailey, Jeannie F.; Safaee, Michael; Clark, Aaron J.; Lafage, Virginie; Schwab, Frank; Smith, Justin S.; Ames, Christopher P. (maio de 2014). «Etiology of lumbar lordosis and its pathophysiology: a review of the evolution of lumbar lordosis, and the mechanics and biology of lumbar degeneration». Neurosurgical Focus (5): E1. ISSN 1092-0684. doi:10.3171/2014.1.FOCUS13551. Consultado em 21 de junho de 2021 
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  14. a b c Kacki, S.; Villotte, S.; Knüsel, C.J. (outubro de 2011). «Baastrup's sign (kissing spines): A neglected condition in paleopathology». International Journal of Paleopathology (em inglês) (2): 104–110. doi:10.1016/j.ijpp.2011.09.001. Consultado em 21 de junho de 2021