Imigração alemã na região Nordeste do Brasil

Este artigo diz respeito ao movimento migratório de alemães para a região nordeste do Brasil.

Imigração Alemã no Nordeste Do Brasil
Deutscher Klub, em Recife, Pernambuco.
População total

Desconhecida

Regiões com população significativa
Pernambuco
Bahia
Paraíba
Ceará
Maranhão
Línguas
Português e Alemão.
Religiões
Cristianismo.
Etnia
Alemães

Antecedentes editar

A imigração alemã no Nordeste brasileiro tem início entre 1566 e 1572 com a chegada do nobre alemão Christoph Linz Von Dondorf, primeiro integrante desta família a chegar ao país, e logo após, chegaram seus primos e os irmãos Konrad Linz, Roderich Linz e Cibaldo Lins, tendo, esta família, dado origem a milhares de descendentes brasileiros. Todos eles pertenciam à antiga família nobre alemã, os Dondorf.[1]

A presença alemã na região, também ocorreu durante o período de ocupação holandesa (1630-1654). A participação de uma empresa holandesa — Companhia das Índias Ocidentais — na ocupação, contribuiu para a chegada e mais imigrantes alemães, já que a maioria dos soldados e trabalhadores eram recrutados em outros países europeus. João Maurício de Nassau, ele mesmo alemão de nascimento, escreveu cartas requisitando que fossem contratados alemães para a colonização da nova região.

Relatos do período de colonização holandesa descrevem um alto grau de miscigenação entre indígenas, portugueses, pretos, judeus, neerlandeses, alemães e franceses. A maioria dos soldados, marinheiros e demais homens livres que viviam na Nova Holanda eram de origem holandesa, alemã, norueguesa, escocesa e judaica. A ausência de mulheres na Colônia explicou o alto grau de miscigenação.

Houve dezenas de exemplos de alemães que permaneceram após o fim da ocupação e deixaram descendência, tais como Abraham Tapper, Johan Heck, Albert Gerritsz Wedda, Wensel Smith que aportuguesou seu nome para "Bento Farias", Gaspar Wanderley, e muitos outros alemães que permaneceram e deixaram milhares de descendentes. Apesar de majoritariamente não deixarem impacto genético significativo, sua marca cultural permanece na ancestralidade e nas famílias da população de toda a região da antiga Capitania de Pernambuco.[2]

No Ceará, houve a presença nesta mesma época de Pedro Lelou de Lannoy, um nobre flamengo, cujo território de nascimento (em 1642) fazia parte do Sacro Império Romano Germânico, em Bruxelas, Bélgica e falecido por volta de 1716 em Siupé, São Gonçalo do Amarante, Ceará. Pedro Lelou de Lannoy, nobre e soldado, buscou as terras portuguesas no solo colonial do Brasil, para ser militar com o alto posto de mestre de campo e Capitão-Mor Governador da província do Ceará durante o período de sua conquista. Foi casado com a portuguesa Joana Lobo de Albertim, filha de pai militar, português da mais alta nobreza, que veio ao Brasil a serviço do Rei Dom João IV de Portugal. Atualmente centenas de famílias da região do Vale do Acaraú, no Ceará, e da região da Serra do Ibiapaba descendem desde casal.[3]

A imigração editar

Apesar de a imensa maioria dos europeus a imigrarem ao Brasil durante o período colonial serem ibéricos, alguns alemães se aventuraram às terras do nordeste brasileiro. Além da presença de muitos nobres portugueses de origem alemã, como exemplo, temos o marquês de Aracati, João Carlos Augusto de Oyenhausen Gravenburg, este nobre português filho de um alemão, tendo se assentado na região de Aracati, no Ceará, e deixado suposta descendência ilegitima por meio de um filho bastardo de mesmo nome, João Carlos Augusto, além de 11 filhos legítimos, com atualmente dezenas de famílias de descendentes na região do Jaguaribe no Ceará.[4] Também a família Giffenich no Maranhão, por intermédio do Tenente Coronel, Johann Benedictus Kaspar Giffenich[5]; a família Jansen, também no Maranhão, por intermédio de Theodoro Jansen Moller, filho de um alemão de Hamburgo e da parte materna, neto de belgas. Está família é a ancestral da política e empresária brasileira, Anna Joaquina Jansen Pereira também conhecida como "Donana".[6] No Maranhão, a família dinamarquesa de origem alemã e norueguesa, dos Boldt Hoyer, por intermédio de Martinus Hannibal Boldt e seus primos Peter Martinus Hoyer e João Frederico Hoyer[7]; a família Beckman, que chegou ao Brasil por intermédio dos irmãos Manuel Beckman e Thomas Beckman Filho, filhos de um alemão de Dortmund e uma portuguesa. Manuel se casou com Dona Maria de Almeida Alburquerque Pereira de Cáceres, deixando larga descendência, assim como seu irmão Thomas Beckman Filho, que se casou com Helena de Almeida Alburquerque Pereira Cáceres, também deixando larga descendência por todo o estado do Maranhão, esses dois irmãos foram os responsáveis por protagonizar a Revolta dos Beckman.[8] Outro exemplo, que podemos citar é a família sergipana dos Rollemberg, de grande poder político, esta família possuí origem em Manoel Rollemberg, português filho do alemão Immanuel Rollemberg, que imigrou ao Brasil no século 18, e seu primo Francisco de Pina, filho de seu tio alemão estabelecido em Lisboa Balthazar Weide, também se estabeleceu no nordeste brasileiro. Entre os descendentes ilustres desta família estão o Barão de Japaratuba e o Barão de Estância.[9]

A primeira colônia alemã no Brasil foi fundada ainda antes da independência do país. No sul da Bahia, em 1818, o naturalista José Guilherme Freyreiss criou a colônia Leopoldina, onde foram distribuídas sesmarias para colonos alemães, porém o projeto não foi bem sucedido. Os colonos se dispersaram e a mão de obra imigrante nas sesmarias foi substituída pela escrava. Uma pequena parte destes imigrantes, se assentou em outros estados nordestinos.[10]

Nos fins do século XIX e início do século XX, houve a presença de muitas outras famílias alemãs no nordeste, como as famílias Van der Linden e Von Sohsten por intermédio do Nobre holandês de origem alemã, Pieter Cornelius Von Söhsten.

Em Pernambuco, segundo o censo brasileiro de 1920, dos 52.870 alemães residentes no Brasil, 1.550 estavam em Pernambuco. As duas guerras mundiais do século XX impulsionaram a colônia alemã no Recife, que já contou com 1200 imigrantes. Esta presença alemã pode ser observada no Deutscher Klub Pernambuco, fundado em 1920, e que antes era restrito apenas à colônia alemã e seus descendentes. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Deutscher Klub Pernambuco, que tinha ligação com o Partido Nazista, foi considerado propriedade alemã e sofreu uma desapropriação pelo Governo Federal, devido à mudança de posição do presidente Getúlio Vargas, que deixou de apoiar o Eixo para apoiar os Aliados. Após o final do conflito a colônia alemã pernambucana pode reaver sua propriedade. Com o apoio brasileiro aos Aliados, os alemães e seus descendentes foram confinados em um campo de concentração em Araçoiaba. A partir de 1960, o clube passou a organizar a sua Oktoberfest, a tradicional festa da cerveja do sul da Alemanha.[11]

As famílias Hainer, Landois, entre diversas outras na Paraíba. A cidade de Rio Tinto, no mesmo estado, foi povoada inicialmente tanto pelas famílias dos trabalhadores alemães como pelas famílias dos trabalhadores originários do próprio estado empregados na Companhia de Tecidos Rio Tinto. As famílias alemãs chegaram a constituir a única colônia germânica de fato, acima do Centro-Sul do Brasil no século XX.

A colônia Fundada pelos herdeiros e filhos do sueco naturalizado brasileiro Herman Theodor Lundgren (Norrköping, c. 1835 – Recife, 1907) casado em 1877 com a então Alemã de Schleswig-Holstein, naturalizada brasileira Anna Elisabeth (Barmstedt, 14 de janeiro de 1847 – Recife, 12 de maio de 1934), entre os quais sobressai Frederico João Lundgren (Recife, 20 de junho de 1879 – São Paulo, 25 de fevereiro de 1946), o qual associado aos outros herdeiros planejou e fez executar o implemento do projeto fabril da Companhia de Tecidos Rio Tinto e a urbanização imprescindível para o assentamento populacional envolvente.[12]

No Ceará, houve a presença das famílias Hitzschky, Beuttenmüller, Ehrich e Seifert em Guaramiranga, na região serrana do estado, onde fundaram a Colônia Nova Germania.[13] Além dos Dodt, que chegaram ao Ceará por meio do alemão Gustavo Luiz Guilherme Dodt, avô de Gustavo Barroso, que deixou descendência do primeiro casamento em Fortaleza e do segundo casamento em Sobral.[14] Também houve as famílias Kruger, Chefe (Schäfer) na região do Vale do Acaraú, por meio do imigrante Joachim Immanuel Schäfer casado com a cearense Maria da Conceição da Silveira Dutra,[15] famílias Bezold e Wirtzbiki, entre muitas outras. [16] Além destas também houve a presença da família de origem suíça germáfona Herbster, em Sobral e Fortaleza, sendo que dela provem o celebre arquiteto e engenheiro Adolfo Herbster.[17] O imigrante norueguês Nils Olsen, também deixou descendência no estado, na região de Aracati e Jaguaribe, também no estado do Ceará, as famílias judias provindas da Alsácia Lorena, dos Gradvohl, Meyer e Klein. O imigrante João Joaquim Pagels, em Aracati, provindo de Hamburgo e o imigrante Fernando Hitzschky pertencente à família nobre austríaca dos Nitsche, que deixou descendência em Fortaleza e região.[18]

Referências

  1. «Domínio Público - Detalhe da Obra». www.dominiopublico.gov.br. Consultado em 14 de agosto de 2023 
  2. História, Revisando A. (23 de setembro de 2008). «Revisando a História: Conterrâneos de Van Gogh no Nordeste Brasileiro?». Revisando a História. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  3. «A Origem da família Lobo no Brasil:». Jusbrasil. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  4. «FAMILIA LEITE DA NÓBREGA: A CONVERGÊNCIA DE OLIGARQUIAS SERTANEJAS NO DISTRITO DE ALAGOINHA (IPAUMIRIM-CE) NO INÍCIO DO SÉCULO XX». IMPRESSÕES DIGITAIS. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  5. Domingues, Bruno Willian Brandão (9 de julho de 2019). «TRAÇOS DA CIDADE: RELEITURA DOS REGISTROS DE DEBRET NO RIO DE JANEIRO». Atena Editora: 171–182. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  6. Fernandes, Cecília (29 de outubro de 2021). «O mito maranhense da Ana Jansen? História e curiosidades a lenda». Segredos do Mundo. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  7. Os Órfãos da Casa de Belfort. [S.l.]: biblioteca24horas 
  8. «Conheça curiosidades sobre alguns dos monumentos de São Luís». O Imparcial. 6 de novembro de 2015. Consultado em 18 de dezembro de 2022 
  9. «Wayback Machine» (PDF). web.archive.org. 3 de março de 2016. Consultado em 20 de dezembro de 2022 
  10. «Helvécia - Antiga Colônia Leopoldina da Bahia». www.bahia-turismo.com. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  11. «JC OnLine». web.archive.org. 3 de março de 2016. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  12. Paraíba, Governo do Estado da. «Os Invasores do Século XX». Trilhas dos Potiguaras. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  13. «Imigração Internacional no Ceará». Consultado em 14 de junho de 2023 
  14. Oliveira, Carolina (1964). Biografia de Personalidades Célebres. Para uso escolar nos diversos níveis de ensino e dos estudiosos de história do Brasil. [S.l.: s.n.] p. 274 
  15. «O Cearense (CE) - 1846 a 1891 - DocReader Web». memoria.bn.br. Consultado em 11 de novembro de 2023 
  16. «Famílias Cearenses - Estrangeiros no Ceará.». www.familiascearenses.com.br. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  17. De castro, José Liberal (1994). Contribuição de Adolpho Herbster à forma urbana da cidade de Fortaleza. [S.l.]: Revista do instituto do Ceará 
  18. Livro paroquial de Aracati. Aracati: [s.n.] 1862