Isaac de Castro Tartas

Isaac de Castro Tartas (Tartas, entre 1623 e 1625Lisboa, 15 de dezembro de 1647) foi um judeu marrano que veio a tornar-se mártir por obra do Tribunal da Inquisição de Portugal.

Isaac de Castro Tartas
Nascimento 1626
Tartas
Morte 1647 (20–21 anos)
Cidadania França
Religião Judaísmo
Causa da morte morte na fogueira

Por volta de 1623[1] ou 1625[2] Isaque nasceu na cidade francesa de Tartas e foi nomeado Tomás Luís. Sua família era oriunda de Portugal e mudou-se novamente, desta vez para Amsterdã, em 1640. Lá os judeus poderiam praticar sua religião sobe restrições relativamente menores: os homens eram circuncidados e frequentemente recebiam nomes em língua hebraica.[2]

Irmão do editor David de Castro Tartas, Isaac conhecia filosofia e línguas clássicas[1] e aparentemente começou a estudar Medicina em Leiden.[2] Entretanto, ao matar um jovem nobre (aparentemente em um duelo), teve de fugir para Recife. À época, a cidade estava sob domínio holandês e muitos judeus se mudaram para lá, formando a primeira comunidade judaica na América.[2]

Em Recife, Isaac praticava judaísmo abertamente, por vezes até entrando em conflito com padres católicos. Quando seus inimigos na Holanda descobriram seu paradeiro e foram atrás dele, Isaac mudou-se, contra a vontade de sua família, para Salvador, no Brasil Português.[1][2]

Testemunhos afirmam que, na Bahia, Isaac propagava ensinamentos judeus entre os marranos e cristãos-novos. Aos interrogadores, porém, dizia ser um judeu buscando ser batizado. Ainda assim, os tefilins que possuía sugeriam que Isaac seria ainda um judeu praticante.[2]

Como consequência de sua fé, foi capturado pela Inquisição em 1644; no ano seguinte foi enviado a Lisboa.[1][2]

No tribunal da Inquisição, Isaque não renegou sua fé: declarou-se judeu e, apesar de todas as manobras dos inquisidores, recusou-se a converter-se ao cristianismo.[1] Segundo a historiadora Miriam Bodian, Isaac defendeu-se mencionando um "direito universal natural à liberdade de consciência", e esta seria a primeira vez que tal defesa foi apresentada.[2]

Infelizmente, porém, tal defesa, como era de se esperar, não foi aceita, de modo que Isaac foi condenado à morte na fogueira em 15 de dezembro de 1647 com mais outras cinco vítimas. Diz-se que suas últimas palavras, em meio às chamas, foi "Shemá Israel! O Senhor nosso Deus é um!"[1]

Influência

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Segundo a Enciclopédia Judaica, as últimas palavras de Isaque passaram a ser repetidas como declaração de fé judaica por judeus convertidos, durante vários anos, em Lisboa. A Inquisição, porém, teria proibido tal confissão submetendo-a a penas severas.[1]

Em Amsterdã, onde havia uma grande e influente comunidade de judeus da nação portuguesa, sua morte trágica e extemporânea foi muito lamentada. Seu irmão David o homenageou em várias de suas publicações.[2] O rabi Saul Levi Morteira lhe dedicou um sermão memorial, e elegias lhe foram dedicadas por Salomão de Oliveira e Jonas Abravanel.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i «CASTRO TARTAS, ISAAC DE». Enciclopédia Judaica. 1906. 1906. Consultado em 4 de fevereiro de 2014 
  2. a b c d e f g h i j David B. Green (5 de dezembro de 2013). «This Day in Jewish history / The Portuguese burn a converso backslider». Haaretz. Consultado em 5 de fevereiro de 2014