José Míguez Bonino
Esta página ou se(c)ção precisa ser formatada para o padrão wiki. (Fevereiro de 2017) |
José Míguez Bonino (Santa Fé (Argentina), 5 de março de 1924 — 30 de junho de 2012) chegou a cursar dois anos na faculdade de medicina, mas abandonou os estudos, ao reconhecer que sua vocação era ser pastor[1] [2]. Em 1948, obteve licenciatura em teologia pela Faculdade Evangélica de Teologia de Buenos Aires, (atualmente ISEDET) e foi ordenado ministro da Igreja Evangélica Metodista. Foi pastor em Cochabamba (Bolivia), Mendoza e Buenos Aires (Argentina). Em 1960, obteve doutorado em teologia pelo Union Theological Seminary em Nova Iorque York). Foi integrante Comissão de Fé e Constituição e do Comitê Central do Conselho Mundial das Igrejas. Foi observador da Igreja Metodista no Concílio Vaticano II. Entre 1954 e sua aposentadoria, foi professor de ética e de teologia na Faculdade Evangélica de Teologia (atualmente ISEDET), tendo sido reitor desta instituição entre 1960 e 1970. Foi professor visitante no Union Theological Seminary em Nova Iorque, na Faculdade Valdense de Teologia em Roma e no "Selly Colleges" em Birmingham (Grã-Bretanha). Recebeu o título de Doutor honoris causa em diversas universidades.
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8f/JoseMiguezBonino1974.jpg/220px-JoseMiguezBonino1974.jpg)
Enquanto metodista, em sua formação foi muito influenciado pelas ideias de John Wesley, também foi influenciado pela "teologia do evangelho social", pela teologia liberal e pela teologia neo-ortodoxa de Karl Barth, Reinhold Niebuhr e Emil Brunner. Nos primeiros anos, também foi influenciado por Foster Stockwell, Paul Tillich, Helmut Richard Niebuhr, Dietrich Bonhoeffer e Visser’t Hooft. Em 1945, participou do I Encontro Ecumênico do Pós-Guerra, numa conferência de juventude celebrada na Noruega[2]. Posteriormente foi influenciado por Rudolf Karl Bultmann, Jürgen Moltmann e pela teologia do processo.
Em 1947, casou-se, e desse matrimônio teve três filhos. Após ser ordenado como pastor metodista, foi encaminhado para a congregação metodista de San Rafael em Mendoza, onde exerceu um pastorado com preocupações sociais. Após retornar à Buenos Aires, participou de várias instituições ecumênicas como a Associação de Seminários e Instituições Teológicas (ASIT), Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL), Comunidade de Educação Teológica Ecumênica Latino-Americana e Caribenha (CETELA), Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL), Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Em 1975, foi eleito como um dos presidentes do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e desse modo contribuiu para o ecumenismo na América Latina. Ajudou a funda a Assembleia Permanente dos Direitos Humanos na Argentina. Em 1984, foi eleito como candidato independente para a Convenção Nacional Constituinte que reformulou a Constituição da Argentina após a ditadura militar na Argentina entre 1976 e 1983[2].
Um dos centros de sua reflexão teológica é a relação entre o compromisso social e a transcendência do Reino de Deus, na qual procurou integrar, substancialmente, e não apenas formalmente, a eclesiologia, a cristologia e a responsabilidade social. Afirmava que a construção do Reino de Deus teria lugar no interior da história humana e que a colaboração do ser humano se realizaria também no coração da historia por meio de suas opções e compromissos históricos
Analisou de modo crítico e construtivo temas temas relativos: à globalização, às pretensões do modelo neoliberal, às novas manifestações religiosas (com foco movimentos carismáticos dentro do mundo evangélico), a missão específica da Igreja e dos cristãos e a busca de novos valores para a construção da sociedade.
Afirmou que:
“ | "A condição do pobre é a pedra de toque que mostra a legitimidade de uma concepção cristã." | ” |
.
Acreditava que mais importante do que se ligar a uma ideologia ou a um programa político ou econômico, seria gerar as convicções éticas que inspiram, dentro das condições históricas os programas mais eficazes tendo em vista a opção pelos pobres[3].
Análise do desenvolvimento histórico do cristianismo na América Latina
editarBonino dividiu as etapas pelas quais passou o cristianismo latinoamericano, do seguinte modo:
- etapa colonial: na qual a fé cristã atuou como legitimadora e sacralizadora da estrutura sócio-econômica e política, estrutura que começou a desmonorar com a Revolução Industrial na Inglaterra e com o Iluminismo francês que contaminou a América Latina com os ideais de emancipação política e pela liberdade de pensamento, de comércio, de religião e individual;
- etapa da modernização: que foi influenciada pela filosofia iluminista que libertou os povos latinoamericanos do fatalismo, da rigidez da moralidade eclesiástica e da esterilidade da filosofia escolástica; essa etapa foi caracterizada pela luta da intelectualidade liberal contra a Igreja Católica Romana; nesse momento o protestantismo foi um aliado na luta contra o domínio clerical, ajudou a quebrar o monopólio religioso católico e, em sua modalidade puritana, a afirmar as virtudes necessárias para integrar-se no mundo moderno: responsabilidade pessoal, capacidade empreendedora, honestidade e seriedade moral; por outro lado, o processo de modernização na América Latina não foi linear, pois teve seus aspectos sombrios, pois a emancipação política da Espanha não resultou em plena emancipação e libertação, mas na submissão ao regime neocolonial anglo-saxão, que tinha a ideologia liberal como instrumento de dominação.
Também afirmou que:
- os problemas sociais na América Latina fizeram com que o catolicismo progressista e o protestantismo liberal entrassem em crise, a crise da ideologia liberal-modernizadora. Essa crise ocrreu na medida em que protestantes e católicos descobriram que sua igrejas estavam a serviço de interesses de uma estrutura desumana. Essa percepção abriu caminho para uma nova busca: a da compreensão pos-colonial e pos-neocolonial do Evangelho de Cristo, quando se passou da defesa do desenvolvimentismo para a defesa da libertação, surgiu a Teologia da Libertação, que é uma corrente teológica que teve como ponto de partida o descobrimento da própria realidade por meio da análise crítica da sociedade.
- essa análise resultou em duas tendências: a populista, que destacava conceitos como: "popular" e "antipular", e a marxista, que destacava os conceitos de classes e o conflito entre elas.
- a consciência cristã transformadora tem sua base na análise da realidade, sendo que tal análise deve ser feita com base no marco do compromisso transformador.
Em 1973, publicou uma obra denominada: "Visión del cambio social y sus tareas desde las iglesias cristianas no católicas", na qual refletiu sobre a relação entre a fé cristã e a sociedade no protestantismo da América Latina, com base nas perspectivas sociológica e teológica; e analisou o projeto histórico do protestantismo na história latinoamericana e o marco ideológico e teológico no qual esse projeto se integra, que seria, em um primeiro momento, a ideologia liberal burguesa e, posteriormente, o "evangelho social"[3].
Análise sobre o pentecostalismo
editarBonino destacava cinco características do pentecostalismo:
- a salvação pela graça de Deus e a experiência pessoal dessa salvação;
- o batismo pelo Espírito Santo;
- a cura divina como promessa a todos os crentes;
- uma escatologia apocalíptica que inclui a segunda vinda de Cristo, reino milenário, juízo final e reino eterno;
- a restauração dos milagres.
Em outra perspectiva de análise, dividia em pentecostalismo em pentecostalismo clássico, representado por Igrejas como a Assembleia de Deus e neopentecostalismo, que enfatiza quase que exclusivamente a cura divina e a teologia da prosperidade.
Sustentava que o pentecostalismo poderia ser entendido como uma rebelião contra a racionalidade e que em conjunto com os movimentos carismáticos, presentes tanto em Igrejas Evangélicas tradicionais como na Igreja Católica, buscariam uma espiritualidade que transcenda as rígidas estruturas eclesiásticas,dogmáticas e racionalizadas de tais Igrejas[3].
Obras
editar- "Hombre y Dios en el siglo XVI: estudio e interpretación de las relaciones ente Renacimiento y Reforma en la persona, obra y pensamiento de Lutero y Erasmo de Rotterdam; su influencia en la actualidad" (Buenos Aires, 1948);
- "El nuevo mundo de Dios: estudios bíblicos sobre el sermón del Monte" (Buenos Aires, 1955);
- "Concilio abierto: una interpretación protestante del Concilio Vaticano II" (Buenos Aires, 1967);
- "Integración humana y unidad cristiana" (Porto Rico, 1969);
- "Ama y haz lo que quieras. Hacia una ética del hombre nuevo" (Buenos Aires, 1972);
- "How does God act in history", em "Christ and the younger churches. Theological contributions from Asia, Africa and Latin America" (Londres, 1972), pp. 21-31;
- "Visión del cambio social y sus tareas desde las iglesias cristianas no-católicas", em "Fe cristiana y cambio social en América Latina" (Instituto Fe y Secularidad, Barcelona, 1973), pp. 179-202;
- "Teología y liberación" (fichas ISAL, 26/3);
- "El futuro del ecumenismo" (Buenos Aires, 1975);
- "Espacio para ser hombres: una interpretación del mensaje de la Biblia para nuestro tiempo" (Buenos Aires, 1975);
- "Christians and marxists. The mutual challenge to revolution" (Londres, 1975);
- "Unidad cristiana y reconciliación social: coincidencia y tensión", em "Panorama de la teología latinoamericana I" (Salamanca, 1975), pp. 151 ss;
- "Doing theology in a revolutionary situation" (Filadélfia, 1975; tradução para o castelhano, em versão corrigida e atualizada: "La fe en busca de eficacia: una interpretación de la reflexión teológica latinoamericana de liberación" (Salamanca, 1977) trad. para o português publicada em 1987 pela Editora Sinodal: São Leopoldo;
- "Jesús, ni vencido ni monarca celestial: imágenes de Jesucristo en América Latina" (Buenos Aires, 1977);
- "Praxis histórica e identidad cristiana", em "La nueva frontera de la teología en América Latina" (Rosino Gibellini (ed.)) (Salamanca, 1977), pp. 240-260;
- "Puebla y Oaxtepec: una crítica protestante y católica" (Buenos Aires-México, 1980);
- "Teología catolicorromana" (Buenos Aires, 1980);
- "Protestantismo y liberalismo en América Latina" (San José, 1983);
- "Toward a Christian political etics" (Filadélfia, 1983);
- "Luta pela vida e evangelizaçâo: a tradição metodista na teologia latinoamericana" (São Paulo, 1985);
- "El cristianismo y las sectas. Entrevista a José Míguez Bonino" Servicio de Información Religiosa (SIR), setembro de 1987 (ed. especial) (Buenos Aires, 1987), pp. 15 ss;
- "Para que tengan vida: encuentros con Jesús en el Evangelio de Juan" (Nova Iorque, 1990);
- "Universidad y pensamiento cristiano" (Rosário, 1993);
- "Rostros del protestantismo latinoamericano" (Buenos Aires, 1995);
- "Polémica, diálogo y misión: catolicismo romano y protestantismo en la América Latina" (Uruguay, 1996) (editor);
- "Pentecostalismo" em "Nuevo Diccionario de Teología", (Juan Jose Tamayo (org.)), (Madri, 2005), pp. 740-745[3].
Referências
- ↑ Perda de José Míguez Bonino deixa lacuna na teologia latino-americana, acesso em 10 de julho de 2016.
- ↑ a b c A pergunta que mudou a trajetória de José Míguez Bonino, acesso em 10 de julho de 2016.
- ↑ a b c d La Teologia de La Liberacion Juan Jose Tamayo, em espanhol, acesso em 08 de julho de 2016.