Judá, o Príncipe

Judá, o Príncipe (em hebraico: יהודה הנשיא, Yehuda HaNasi) (c. 135 - Séforis, 1 de dezembro de 217) ou Judá I, também conhecido como Rabino ou Rabbenu HaQadosh (em em hebraico: רבנו הקדוש "nosso mestre, o santo"), foi um rabino do século II e principal redator e editor da Mishná. Ele era um líder da comunidade judaica durante a ocupação romana da Judeia. De acordo com o Talmude, era da casa de Davi,[1][2] a linha real de Davi, daí o título nasi "príncipe".[3] O título nasi também foi usado para presidentes do Sinédrio.[4] Judá morreu no dia 15 de Kislev, por volta do ano de 217 d.C..[5][6]

Judá, o Príncipe
Nascimento 135
Judeia
Morte 219
Séforis
Sepultamento Israel
Progenitores
  • Simeon ben Gamliel II
Filho(a)(s) Gamaliel III, Simeon ben Judah ha-Nasi
Ocupação Nasi (título hebraico), rabino
Obras destacadas Mishná
Religião Judaísmo

Biografia editar

 
A Galileia na Antiguidade Tardia

Judá, o Príncipe nasceu por volta do ano de 135. De acordo com o Midrash, ele veio ao mundo no mesmo dia em que o rabino Aquiba foi martirizado.[7] O Talmude sugere que este era um resultado da Divina Providência: Deus haveria concedido ao povo judeu outro líder de grande estatura para a sucessão do Rabino Aquiba. Seu lugar de nascimento é desconhecido. Ele é o único tanaíta conhecido como Rabeinu HaQadosh, "nosso santo mestre", devido a sua profunda piedade.[8]

Judá passou a sua juventude na cidade de Usha, hoje o vilarejo despopulado de Hawsha nos arredores de Haifa.[9][10][11] Seu pai presumidamente deu a ele a mesma educação que havia recebido, incluindo o idioma grego,[12] idioma este cujo conhecimento lhe permitiu tornar-se intermediário entre os judeus e as autoridades romanas. Ele favoreceu o grego como a língua do país em lugar do aramaico.[12] Diz-se que na casa de Judá apenas se falava o hebraico, mesmo entre as domésticas.[13]

O rabino Judá HaNasi, tendo como um exemplum um ato que ele ouviu realizado pelo Rabino Meir, libertou toda a região de Bete-Seã das obrigações de dízimo para os produtos cultivados em casa, e de observar o Shemitá em relação aos mesmos produtos.[14] Ele também fez o mesmo para as cidades de Kefar Tzemach, Cesareia e Beit Gubrin.[15]

De acordo com o Talmude (Avodah Zarah 10a-b), o Rabino Judá era muito rico e profundamente respeitado em Roma. Ele tinha uma amizade com "Antoninus", possivelmente o Imperador Antonino Pio,[16] embora seja mais provável que sua amizade era, na verdade, com o Imperador Marco Aurélio Antoninus[17] que consultaria Judá em várias questões, tanto mundanas quanto espirituais.

Judá teria passado os últimos 17 anos de sua vida em Séforis, buscando o clima saudável da cidade, onde faleceu em idade avançada. O Talmude registra a tradição de que foi enterrado na necrópole de Bete-Searim, na Baixa Galileia.[18] Foi também nesta região que ele estabeleceu um yeshivá.[19]

Compilador da Mishná editar

De acordo com tradição judaica rabínica, Deus deu a Lei Escrita (Torá) e a Lei Oral a Moisés no Monte Sinai. A Lei Oral seria a tradição oral como transmitida por Deus a Moisés e, a partir dele, transmitida e ensinada aos sábios de cada geração subsequente.

Durante séculos, a Torá apareceu apenas como um texto escrito transmitido em paralelo com a tradição oral. Temendo que a tradição oral pudesse ser esquecida, no entanto, Judá assumiu a missão de consolidar as diversas opiniões em um corpo legal que ficou conhecido como Mishnah. Este concluiu um projeto que tinha sido na sua maioria esclarecido e organizado por seu pai, e por Natã, o Babilônio, um tanaíta do século II.[17]

A Mishná consiste de 63 tratados codificando a lei judaica, que são a base do Talmude. De acordo com Abraham ben David, rabino provençal do século XII, a Mishná foi compilada pelo Rabino Judá, o Príncipe, no anno mundi 3949, que corresponde ao fim de 188 e à maior parte de 189 d.C..[20]

Referências editar

  1. Avi-Yonah, M. (1976). The Jews of Palestine. English translation. New York: Schocken. p. 58. ISBN 0-8052-3580-9 
  2. Urbach, Ephraim E. (1979). The Sages. English translation. Jerusalem: Magnes Press. p. 599. ISBN 965-223-319-6 
  3. Talmud Yerushalmi, quoted in Tosafot, Sanhedrin 5a.
  4. Mishna Chagiga 2:2.
  5. Goldin, Judah (1970). «The Period of the Talmud». In: Finkelstein, L. The Jews: Their History. New York: Schocken. p. 172. ISBN 0-8052-0271-4 
  6. Margolis, L.; Marx, A. (1980). A History of the Jewish People. New York: Atheneum. p. 225. ISBN 0-689-70134-9 
  7. Midrash Genesis Rabbah 53; Midrash Ecclesiastes Rabbah 1:10.
  8. Mordechai Katz (2000). Understanding Judaism: a basic guide to Jewish faith, history, and practice. [S.l.]: Mesorah Publications. p. 362. ISBN 1-57819-517-9. Consultado em 7 de setembro de 2011 
  9. Tudela, Zunz, and Lebrecht, 1841, p. 428.
  10. PEF and Stewardson, 1838, p. 35.
  11. Driver, 2004, p. 653.
  12. a b Sotah 49b.
  13. Megillah 18a; Rosh Hashana 26b; Naz. 3a; 'Er. 53a.
  14. Babylonian Talmud, Hullin 6b; Jerusalem Talmud, Demai 2:1.
  15. Jerusalem Talmud (Demai 2:1)
  16. A. Mischcon, Abodah Zara, p.10a Soncino, 1988.
  17. a b 'Codex Judaica' Kantor, second edition, NY 2006, page 146
  18. Babylonian Talmud (Talmud Bavli), Tractate Bava Metzia 85a, Tractate Pesachim 49b; Jerusalem Talmud, Tractate Kelaim 9, 32a-b.
  19. Babylonian Talmud, Sanhedrin 32b.
  20. Abraham ben David, Seder Ha-Kabbalah Leharavad, Jerusalem 1971, p.16 (Hebrew)