Kãkwã

etnia da Amazônia

Kãkwã, Cacua ou Bará-macu é um povo indígena que habita no noroeste da Amazônia, entre os rios Uaupés, Querarí e Papurí, na Colômbia, próximo à fronteira com o Brasil, dentro do Resguardo indígena Grande Vaupés. Os Kãkwã são aproximadamente 250 pessoas, que falam sua própria língua, que faz parte da família macu e está estreitamente relacionada com a língua nukak.[2][1]

Kãkwã
População total

 Colômbia 250

Regiões com população significativa
Wacará 183 [1]
Nuevo Pueblo 45 [1]
Línguas
Cacua
Religiões
Evangélica
Grupos étnicos relacionados
Nukak, Hupda

Clãs editar

Cada kãkwã pertence a um clã patrilinear exógamo, com nome de um animal, planta ou objeto cultural. Cada clã faz parte de uma das metades que realizam trocas matrimoniais e que se consideram baih, cunhados ou primos cruzados bilaterais.[3]

Caçadores-coletores editar

Os Kãkwã eram nômades caçadores-coletores e possuíam pequenas hortas itinerantes, quando outros povos chegaram ao Uaupés. A subsistência dos kãkwã dependia da caça. Eles caçavam e ainda caçam diferentes espécies de primatas e pássaros com zarabatanas; queixadas com lanças; e tinamus com laços. Pescavam e pescam com arco e flecha, anzol, armadilhas e barbasco e pegam as enguia-d'água-doce com armadilhas feitas com varas finas e cordas que manipulam dentro dos ninhos, sob as margens dos riachos.[3]

Subordinação editar

Por volta de 1882, foi registrado que os antigos habitantes, designados como "Macus", foram submetidos a relações de servidão pelos povos que chegaram nos séculos posteriores.[4] Para 1902, trabajaban para los cubeo, desano y guanano, aunque también cazaban y recolectaban en la selva.[5] A situação de subordinação e a contínua exploração de sua força de trabalho, provocou uma ideologia de baixa estima em relação ao "macú" e sua língua por parte dos demais indígenas e dos colonizadores.[6]

Embora os kãkwã continuassem a acampar e viajar para a selva e caçar, geralmente residiam nas proximidades das aldeias dos povos indígenas de outras etnias para as quais trabalhavam e até mesmo sob os andares elevados nas casas de seus "senhores".[7]

Em 1970 viviam em três grupos regionais que se autodenominavam, todos como Bára e que além de sua própria língua falavam a de seus respectivos "patrões". Um dos grupos estava localizado ao longo dos afluentes do rio Papurí; eram 69 pessoas pertencentes a dois clãs diferentes, sob "patrões" desasno. O segundo grupo, com 34 indivíduos pertencentes a cinco clãs diferentes, estava localizado ao longo dos igarapés Wacará e Churubi, afluentes dos rios Querarí e Vaupés, e possuía "padrões" Wanano e Cubeo. O terceiro, 21 pessoas que às vezes trabalhavam para os desano, estava localizado nas cabeceiras dos igarapés Carguero e Cucura, no Alto Vaupés.[3]

Últimas décadas editar

Em 1966, apenas 19 pessoas do segundo grupo viviam no igarapé Wacará.[7] Duas missionárias evangélicos incentivaram e ajudaram as famílias a se estabelecerem em Wacará. Em 2000, vários grupos kãkwã haviam-se estabelecido definitivamente na vila de Wacará, que fica entre os rios Vaupés e Querarí, cerca de 100 quilômetros a leste de Mitú. A partir daí, a população cresceu à medida que pessoas de grupos que haviam permanecido no interior da selva se juntaram às de Wacará. Em 2009, havia 123 habitantes lá e em 2015, seu número aumentou para 183 pessoas. Outros kãkwã vivem em Nuevo Pueblo, uma aldeia entre os rios Vaupés e Papurí.[1]

Actualmente,os kãkwã do Wacará hoje dependem fundamentalmente da agricultura e produzem principalmente mandioca ou mandioca amarga, inhame, banana, banana, pupunha e outras frutas, embora continuem a caçar, pescar e colher frutos silvestres. Eles superaram a dependência econômica de seus "patrões" anteriores. Agora, a maioria dessa população é kãkwã monolíngue.[1]

Cosmologia editar

A cultura tradicional concebe o cosmos como composto de varias camadas ou discos em uma coluna vertical, dividida em três mundos: acima estão Idn Kadmi, a casa do trovão, as estrelas, papa-figos, sanhaço, tesourinhas, gaviões, urubus-rei e imediatamente acima da terra ficam as casas de caça aka mɨɨ̃ e seus donos que controlam os animais e sua abundancia. No meio neste mundo, os humanos compartilham a terra com plantas, animais, e com demônios (nemep) e monstros (yehep). No mundo de abaixo vive o povo da fruta umarí, peixes e outros animais muito pequenos. O sol cruza o céu desse mundode oeste para leste e os rios vão de leste pata oeste. Quando é noite no nosso mundo, lá é dia. O conjunto dos três mundos do cosmos está envolto portam pele e tem forma de ovo, porem ninguém sabe o que está por trás dessa pele.[3]

Normalmente só podemos ver os seres dos otros mundos quando eles se apresentam neste mundo, e humanos podem viajar a outro mundo somente nas viagens espirituais deliberadas de aquele que aprende as artes do xamã, que também aprende a curar restaurando el equilibrio entre a tsa?litna do sol, carne e sangue) e a kama?litna da agua, tierra, floresta e suas frutas, das quais vem o elu, uma capa ou aura que protege cada pessoa e deve envolver a todo indivíduo sadio. Na curação o xamã remove a causa da doença e renova o elu que fortalece o espírito e da a saúde.[3]

Referências

  1. a b c d e Bolaños, Katherine (2016). A Grammar of Kakua (em inglês). Utrecht: LOT. pp. 1–18. ISBN 978-94-6093-215-1 
  2. Cathcart, Marylin (1979). «Fonología del Cacua». Sistémas Fonológicos Colombianos (em espanhol). IV. Lomalinda: Townsend. pp. 9–45 
  3. a b c d e Silverwood-Cope, Peter L. (1990). Os Makú: Povo cazador no noroeste da Amazònia. [S.l.]: Universidade de Brasília. ISBN 85-230-0275-8 
  4. Stradelli, Ermanno (1890). «L'Uaupés e gli Uaupés». Boletim da Società Geografica Italiana (em italiano). III. pp. 425–453 
  5. Koch-Grünberg, Theodor (1906). «Die Maku». Anthropos (em alemão). 1. pp. 877–906 
  6. Jackson, Jean E. (1983). «Tukanoans and Makú». The Fish People (em inglês). Cambridge, Massachusetts: Cambridge University Press. pp. 148–163. ISBN 0-521-27822-8 
  7. a b Cathcart, Marilyn (1973). «Cacua». Aspectos de la cultura material de grupos étnicos de Colombia (em espanhol). I. Lomalinda: Townsend. pp. 101–123