Lagar de Varas de Fojo

edifício histórico em Moura

O Lagar de Varas de Fojo, atualmente Museu do Azeite, no Alentejo, localiza-se na freguesia de Moura (Santo Agostinho e São João Baptista) e Santo Amador, no município de Moura, distrito de Beja, em Portugal.[1]

Antigo lagar de tipo comunitário, encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1986.[1]

História editar

Antecedentes editar

A reputação de excelência do azeite produzido na região de Moura é muito antiga, conforme atestam os "Anais de Moura", onde se refere: "Desde muito tempo, que a qualidade do azeite de Moura o põe a par dos melhores de Portugal, porque vemos que Flandres, Alemanha, Castela, Leão, Galiza, se proviam de azeite de Santarém, Lisboa, Abrantes, Moura, Elvas e Coimbra." Isso é atestado no imaginário coletivo pela expressão: "Tão fino como o azeite de Moura!"

Na década de 1930 existiam 26 lagares em funcionamento em Moura e até uma Rua dos Lagares, o que também testemunha a importância dessa atividade económica.

O lagar de Varas de Fojo editar

Trata-se de um antigo lagar, de tipo comunitário, que trabalhava à maquina, ou seja, qualquer pessoa que tivesse azeitona poderia trazê-la a este lagar e transformá-la, deixando em compensação uma parcela do azeite produzido ao dono do lagar.

Evolui do sistema romano de produção de azeite e conheceu um período activo de laboração de exactamente um século, entre 1841 e 1941.

Atualmente encontra-se requalificado como museu, aberto ao público. Em seu acervo conserva a maquinaria original deste edifício, e apresenta um conjunto de informações que permitem um conhecimento aprofundado com relação não apenas ao modo de funcionamento do lagar, como do quotidiano do lagareiro e da história do azeite.

Características editar

Este lagar é um testemunho fiel do fabrico tradicional do azeite em que a força motriz era a força animal.

Neste lagar podem identificar-se três espaços distintos:

  1. a zona das tulhas onde a azeitona era depositada;
  2. a sala de moagem onde a azeitona era transformada numa pasta;
  3. a zona das varas onde a massa da azeitona era prensada.

A produção de azeite no Lagar de Varas do Fojo editar

As azeitonas chegavam ao Lagar e eram encaminhadas para as tulhas onde permaneciam até serem prensadas. Por ordem de chegada as azeitonas iam sendo levadas em cestos para a sala de moagem onde iam sendo moídas.

Com o trabalho do burro que acionava o engenho da moenda, as azeitonas eram moídas até constituírem uma pasta. O pavimento do lagar destinado a este trabalho era de terra batida para facilitar a tarefa do animal. Quando moída, a massa de azeitona era retirada pela abertura existente na base do farneiro e levada em gamelas para ser enseirada.

Após o enchimento das seiras (enseiramento) com a massa de azeitona, o lagareiro sobrepunha um conjunto de seiras sobre o estrado da prensa a que se dá o nome de algués. Sobre as seiras ainda se colocava a porta e os malhais, sobre os quais iria assentar a extremidade mais pesada da vara. Em seguida seria accionado o mecanismo da vara, que a faria baixar. Dois homens introduziriam uma alavanca, ou panca, na base do fuso da vara, fazendo com que o mesmo girasse sobre o eixo, assente no peso. Fazendo subir a ponta da vara, que em forma de forquilha atua ao longo do fuso, baixa a outra extremidade, transformando a vara numa espécie de alavanca inter-resistente. Quando a extremidade oposta ao fuso baixa, exerce pressão sobre as seiras, fazendo-as libertar azeite e água-ruça.

Depois de escorridas as seiras, a vara subia novamente para que se pudesse proceder à caldeação. Nesta operação era utilizada a caldeira do lagar, onde era aquecida a água necessária a esta operação. Depois de "quebrada" e remexida a massa do interior das seiras, estas eram abertas, e era-lhes colocado uns paus ao alto que as mantinham abertas, e de seguida era-lhes deitada água bem quente. Esta água quente fluidificava a massa de azeitona que já havia sido prensada, e ao mesmo tempo iria permitir o desprender de azeite que esta massa ainda continha. Esta operação permitia que a vara fosse novamente accionada, por forma a realizar novo "aperto". Juntamente com a água quente iria correr pelo bueiro até à tarefa, mais algum azeite à mistura.

Para a separação do azeite da água ruça é necessário proceder à decantação destes líquidos, por forma a purificar o azeite o mais possível. Era na zona das tarefas que se procedia a esta operação, que, como referido, era da responsabilidade do mestre do lagar e era determinante para a qualidade do azeite e para a própria reputação do lagar.

O azeite corre das seiras pelo boeiro até às tarefas, de mistura com a água ruça. Sendo mais leve que a água, o azeite sobrenada na tarefa, enquanto que a água ruça permanece por baixo. O azeite desta tarefa passa a uma outra tarefa, a que está ligada por um pequeno canal, a "galeira". A água ruça é libertada para fora da primeira tarefa, destapando um buraco que possui próximo da base e que levará a água ruça para um tanque subterrâneo conhecido como “inferno” ou “ladrões”. Com o auxilio de uma candeia e de uma vara de marmeleiro o mestre de lagar mede o nível de água ruça, para conhecer o momento ideal de a escoar, destapando o “espicho”.

À tarefa para onde vai só o azeite dá-se o nome de “tesoiro”, ou pilão, e o azeite era retirado daí para outros recipientes, pelo lagareiro, com o auxílio de uma concha. Um buraco na parede facilita o acesso do lagareiro ao fundo da tarefa, de onde retira também manualmente os assentos ou “borras” do azeite. Estas borras eram levadas para umas tarefas que apenas serviam esta finalidade.

Ver também editar

Referências

Ligações externas editar

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