Maçaranduba-do-pará

espécie de árvore da família das Sapotaceae, nativa da América do Sul

Maçaranduba-do-pará[4] (nome científico: Manilkara huberi), também conhecida popularmente como maçaranduba-verdadeira, maçaranduba-amarela, maçaranduba-mansa, maçaranduba-de-leite, maçaranduba-preta e paraju,[5][6] é uma árvore da família das sapotáceas (Sapotaceae) nativa da América do Sul.[7][8] É facilmente reconhecida por ter folha abaxial grande e amarela, porém é facilmente confundida com outras espécies do gênero devido semelhante do tronco.[6]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaMaçaranduba-do-pará


Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: asterídeas
Ordem: Ericales
Família: Sapotaceae
Género: Manilkara
Espécie: M. huberi
Nome binomial
Manilkara huberi
(Ducke) A.Chev.
Sinónimos[1][2][3]

Etimologia editar

O nome popular maçaranduba deriva do tupi mosarandi'ïwa, com sentido definido para designar plantas da família das sapotáceas.[9] Foi registrado em 1618 como masaranduba, 1627 como mussuranduba, 1663 como maçarãdúbas, 1759 como masaradumba e em cerca de 1777 como maçaranduba.[10] Paraju é uma provável alteração de maparajuba,[11] que se originou do tupi mara'pa, com metátese, e -juba (do tupi yuwa, "amarelo"). Foi registrado em 1911.[12]

Gênero Manilkara editar

Manilkara[6] é um género botânico da família das sapotáceas (Sapotaceae), descrito por Carlos Lineu como Mimusops em 1753. Em 1915, Marcel Marie Maurice Dubard descreveu a primeira espécie da Manilkara denominada Manilkara kauki.[5] Os gêneros Mimusops e Manilkara foram temas de muitas debates devido as relativas semelhanças, estabelecendo-se que as espécies americanas atribuídas ao Mimusops pertenceriam ao Manilkara, enquanto Mimusops restringiu-se a África e Ásia. Manilkara é provavelmente o mais importante gênero das sapotáceas, sendo maçaranduba o nome clássico atribuído às suas espécies.[5]

Das 30 existentes na Região neotropical, a maioria está localizada na amazônia brasileira:[5] identata (maparajuba ou balata); paraensis (Huber) Standley (maçarandubinha); cavalcantei Pires & Rodr. ex Penn (maparajuba-douradinha); inundata (Ducke) Ducke (maparajuba-da-várzea), excelsa (Ducke) Standley (maparajuba-do-tapajós). Dentre as espécies deste gênero, huberi (Ducke) Chevalier (maçaranduba) é a mais conhecida, e a que tem maior ocorrência na América Latina, por ser considerada a verdadeira maçaranduba.[5][6]

Distribuição geográfica editar

A maçaranduba-do-pará é nativa da região norte da América do Sul, América Central e Antilhas,[13] com ocorrência geralmente em regiões de terra firme da Amazônia (com altitudes abaixo de 700 metros em relação ao nível do mar). [13][6] No Brasil, ocorre nos estados do Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.[14] Habita em áreas de mata pluvial de grande porte, na terra firme e em várzeas pouco inundáveis. Pode se adaptar a solos argilosos, pobres em nutrientes, bem estruturados e bem drenados. Desenvolve-se melhor em locais cuja precipitação anual varia de 1 500 a 2 500 milímetros, bem como com temperatura média entre 24 e 28°C.[15]

Descrição editar

A maçaranduba-do-pará é uma árvore de grande porte, que atinge em média entre 30 e 40 metros de altura, as vezes chegando a 50 metros, com diâmetro de 60 à 120 cm.[5][15] Possui fuste reto aproveitável desde a base. Possui copa arredondada e aberta.[16][17] As folhas são simples e concentradas na extremidade dos ramos.[16] Possuem formato oblongo, com aproximadamente 1–2 decímetros (3,9–7,9 in) de comprimento. A parte inferior da folhagem tem uma cor amarelada-pálida.[7] As flores são hermafroditas, de coloração branca-esverdeada a amarelada. As flores inicialmente passam por uma fase feminina. Os estames liberam pólen quando passa para a fase feminina. O período em que florescem varia, de um a cinco anos.[14] O fruto é arredondado ou globoso-depresso.[16][8] Tem um diâmetro de cerca de 3,5 centímetros.[18] Conta com uma polpa carnosa e adocicada; há de uma a quatro sementes.[16] A madeira é pesada, sendo muito dura e possuindo cor vermelho-sangue. Sua qualidade é considerada superior.[15] É resistente ao ataque de fungos apodrecedores e cupins subterrâneos.[19]

Usos editar

A madeira dessa espécie (em inglês beefwood e bulletwood) atinge o maior DAP,[6] sendo assim valiosa comercialmente por apresentar alta densidade (dureza) e grande resistência ao ataque de fungos apodrecedores e cupins,[5] sendo utilizada na construção em geral, incluindo navios e casas. e na construção industrial, como dormentes e pisos.[6] É considerada como moderadamente difícil de ser trabalhada quando está verde e, quando está em condição de ar seco, seu manuseio é difícil.[20][21] Seu fruto é semelhante ao sapoti e é comestível. São vendidos em mercados e feiras brasileiros desde ao menos a década de 1930. A maçaranduba-do-pará produz o látex comestível, equivalente ao leite de vaca,[6] que pode ser utilizado para receitas que envolvam chás, mingau, farinhas e até tônico. Nos anos 1950 era utilizado à produção da goma de mascar. O látex conta com ácido cinâmico que serve à preparação de ésteres, os quais, por sua vez, são muito usados em produtos cosméticos e de perfumaria.[15]

Conservação editar

A maçaranduba-do-pará é ameaçada pela extração de madeira. Como muitos madeireiros agrupam várias espécies diferentes sob o nome popular maçaranduba, as cortam da mesma forma, ignorando as dinâmicas específicas de cada população e comprometendo a futura reconstituição dos estoques exploráveis. Estima-se que, se o processo prosseguir, em cerca de 30 anos não haverá árvores grandes de maçaranduba-do-pará e as remanescentes serão em grande parte das outras espécies do gênero. Como ela faz parte da alimentação de vários animais (aves, mamíferos, répteis), sua diminuição pode acarretar na extinção de algumas espécies de animais.[14] A maçaranduba-do-pará ocorre em várias listas de conservação do Brasil. Em 2007, foi classificada como em perigo na Lista de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção do Estado do Pará;[22][23] e como em perigo na Lista Vermelha de Ameaça da Flora Brasileira 2014 do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora).[24][25]

Referências

  1. «Manilkara huberi (Ducke) Standl.». Plants of the World Online. The Trustees of the Royal Botanic Gardens, Kew. N.d. Consultado em 8 de abril de 2023. Cópia arquivada em 14 de abril de 2023 
  2. «Manilkara huberi (Ducke) Standl.». Catalogue of Life. Species 2000. N.d. Consultado em 8 de abril de 2022. Cópia arquivada em 14 de abril de 2023 
  3. «Manilkara huberi». Tropicos. Consultado em 23 de julho de 2012. Cópia arquivada em 14 de abril de 2023 
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete maçaranduba-do-pará
  5. a b c d e f g Gomes, Patrícia Bezerra (2006). Química e atividade antimicrobiana de Manilkara huberi (Ducke) A. Chev. (maçaranduba) (PDF) (Dissertação de Pós-Graduação em Bioteconologia de Produtos Bioativos). Recife: Universidade Federal de Pernambuco. Consultado em 15 de maio de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 19 de março de 2020. Resumo divulgativo 
  6. a b c d e f g h «Manilkara huberi (Ducke) Chevalier - Portal Embrapa». Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Consultado em 16 de maio de 2023. Cópia arquivada em 16 de maio de 2023 
  7. a b «Características essenciais das folhas de Manilkara huberi» [Essential characteristics of the leaves of M. huberi]. Espécies Arbóreas da Amazônia. Agência de Informação Embrapa. Consultado em 23 de julho de 2012. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2019 
  8. a b «Flores de Manilkara huberi». Espécies Abóreas da Amazônia. Agência de Informação Embrapa. Consultado em 23 de julho de 2012. Cópia arquivada em 22 de março de 2022 
  9. Manso, Laura Vicuña Pereira (2013). Dicionário da língua Kwazá (PDF). Guajará-Mirim: Universidade Federal de Rondônia. Consultado em 11 de maio de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 16 de janeiro de 2023 
  10. Grande Dicionário Houaiss, verbete maçaranduba
  11. Grande Dicionário Houaiss, verbete paraju
  12. Grande Dicionário Houaiss, verbete maparajuba
  13. a b «Maçaranduba (Manilkara huberi. ITTO. 2023. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2023 
  14. a b c «Centro Nacional de Conservação da Flora». www.cncflora.jbrj.gov.br. 18 de outubro de 2011. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2023 
  15. a b c d Rios, Mary Naves da Silva; Pastore Jr, Floriano (2011). Plantas da Amazônia: 450 espécies de uso geral. Brasília, Brasil: Universidade de Brasília. ISBN 978-85-64593-02-2 
  16. a b c d «Maçaranduba - Portal Embrapa». Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 1 de maio de 2022 
  17. «Maçaranduba, também conhecida como Parajú | Carga Pesada - Arraial d'Ajuda». Carga Pesada. 2 de março de 2020. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2023 
  18. Cavalcante, Paulo B. (1974). Frutos comestíveis da Amazônia (PDF). Belém, Pará: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Museu Paraense Emílio Goeldi. p. 28-29. Consultado em 11 de maio de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 11 de agosto de 2022 
  19. «Manilkara huberi». Prefeitura de Belém. 2023. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2023 
  20. «MAÇARANDUBA». Laboratório de Produtos Florestais. 2023. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2022 
  21. Gall, Joana (28 de junho de 2019). «Maçaranduba possui madeira forte e resistente às pragas». Agro20. Consultado em 2 de maio de 2023. Cópia arquivada em 2 de maio de 2023 
  22. Extinção Zero. Está é a nossa meta (PDF). Belém: Conservação Internacional - Brasil; Museu Paraense Emílio Goeldi; Secretaria do Estado de Meio Ambiente, Governo do Estado do Pará. 2007. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022 
  23. Aleixo, Alexandre (2006). Oficina de Trabalho "Discussão e Elaboração da Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção do Estado do Pará (PDF). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; Conservação Internacional; Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM). Consultado em 5 de maio de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 19 de junho de 2022 
  24. «Lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçada de extinção (Official list of endangered flora of Brazil» (PDF). Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 3 de abril de 1992. Consultado em 15 de abril de 2023. Arquivado do original (PDF) em 27 de abril de 2011 
  25. «Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach.». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 11 de maio de 2023. Cópia arquivada em 11 de maio de 2023