Mein Kampf

Obra autobiográfica e teórica de Adolf Hitler

Mein Kampf (em português: Minha Luta) é o título do livro de dois volumes de autoria de Adolf Hitler, no qual ele expressou suas ideias antissemitas, anticomunistas,[1] antimarxistas,[2] racialistas e nacionalistas de extrema-direita,[3][4][5] então adotadas pelo Partido Nazista. O primeiro volume foi escrito na prisão e editado em 1925, o segundo foi escrito por Hitler fora da prisão e editado em 1926. Mein Kampf tornou-se um guia ideológico e de ação para os nazistas, e ainda hoje influencia os neonazistas, sendo chamado por alguns de "Bíblia Nazista".[6]

Mein Kampf
Mein Kampf
Autor(es) Adolf Hitler
Idioma alemão
País  Alemanha
Gênero Autobiografia
Teoria política
Editora Eher Verlag
Lançamento 18 de julho de 1925 (98 anos)
Páginas 720
ISBN 0-395-92503-7
Cronologia
Zweites Buch
(não publicado)

As ideias propostas em Mein Kampf não surgiram com Hitler, mas são oriundas de teorias e argumentos então correntes na Europa. Na Alemanha nazista, era uma exigência não oficial possuir o livro. Era comum presentear o livro a crianças recém-nascidas, ou como presente de casamento. Todos os estudantes o recebiam na sua formatura.[7]

Título editar

É importante notar a flexibilidade conotativa e contextual da língua alemã da palavra "Kampf", que traz diversas possibilidades de traduções do título para o português. A palavra também pode ser traduzida como "luta", "combate", ou até mesmo como "guerra", o que é evidenciado por vários exemplos, como os nomes alemães de diversos tanques ("Panzerkampfwagen", traduzido como "Veículo de guerra blindado") ou por nomes de bombardeiros ("Sturzkampfflugzeug", traduzido como "Avião bombardeiro de guerra"). A grande maioria dos linguistas, entretanto, ainda julgam "Minha Luta" a tradução correta.

História editar

Hitler começou a ditar o livro para Emil Maurice enquanto estava preso em Landsberg, e depois de Julho de 1924 passou a ditar para Rudolf Heß, que posteriormente, com a ajuda de especialistas, aos poucos editou o livro. Por sua peculiar natureza verbal, a obra original mostrou-se repetitiva e de difícil leitura, por isso precisou ser editada e reeditada antes de chegar à editora. Ele foi dedicado a Dietrich Eckart, membro da Sociedade Thule.

O título original da obra era "Viereinhalb Jahre [des Kampfes] gegen Lüge, Dummheit und Feigheit" ("Quatro anos e meio de luta contra mentiras, estupidez e covardia"), porém Max Amann, o encarregado das publicações nazistas, decidiu que o título era muito complicado e achou melhor abreviá-lo para Mein Kampf - Minha Luta. Amann ficou desapontado com o conteúdo da obra, pois esperava uma história pessoal de Hitler detalhada e com ênfase no Putsch da Cervejaria, que acreditava se tornaria uma ótima leitura; Hitler, porém, não entrou em detalhes sobre sua vida pessoal e não escreveu nada sobre o Putsch.[7]

 
Sobrecapa da edição de 1926-1928

O primeiro volume, intitulado Eine Abrechnung, é essencialmente autobiográfico e foi publicado em 18 de julho de 1925; já o segundo volume, Die Nationalsozialistische Bewegung (O movimento nacional-socialista), é mais preocupado em expressar a doutrina nazista e foi publicado em 1926.

Conteúdo editar

As principais ideias do livro são aquelas que mais tarde foram aplicadas durante a Alemanha nazista e a Segunda Guerra Mundial. Hitler desejava transformar a Alemanha num novo tipo de Estado, que se alicerçasse com o conceito de raças humanas e incluísse todos os alemães que viviam fora da Alemanha, estabelecendo também o Führerprinzip - conceito do líder -, em que Hitler dita que ele deveria deter grandes poderes, estabelecendo uma ideologia universal (Weltanschauung).

O livro é dominado pelo antissemitismo. Hitler diz, por exemplo, que a língua internacional Esperanto faz parte da conspiração dos judeus, e faz comentários a favor da antiga ideia nacionalista Alemã do "Drang nach Osten": a necessidade de ganhar o Lebensraum (espaço vital) para o leste, especialmente na Rússia.

Outro aspecto importante é o posicionamento político claramente anti-comunista, e uma preocupação evidente com a expansão da ideologia marxista. Hitler usou como tese principal o "Perigo Judeu", que fala sobre a conspiração dos Judeus para ganhar a liderança na Alemanha. No entanto, o livro também é autobiográfico: dá detalhes da infância de Hitler e o processo pelo qual ele se transformou em um nacionalista, depois num antissemita, e finalmente num militarista, tendo sido marcado pela sua juventude em Viena, Áustria.

Popularidade editar

A apreensão dos extratos de conta dos direitos autorais da Eher Verlag - a editora nazista - feitas pelos Aliados em 1945, revelou que em 1925, ano de seu lançamento, Mein Kampf (custando 12 marcos cada volume) vendeu 9 473 exemplares, a partir de então as vendas caíram gradativamente para 6 913 em 1926, para 5 607 em 1927 e somente 3 015 em 1928. Com as vitórias nas eleições pelos nazistas, a partir de 1929 as vendas cresceram, alcançando 7 669 naquele ano, e saltando para 54 086 em 1930, ano em que surgiu uma edição popular de oito marcos. Em 1931, 50 808 exemplares foram vendidos, e 90 351 em 1932. Em 1933 quando Hitler se tornou chanceler, as vendas saltaram para um milhão de exemplares. Em 1940, seis milhões de exemplares do Mein Kampf foram vendidos.[8] O Partido nazista afirmou que o livro antes disso já era um grande vendedor. Hitler possuía rendimento de 10% dos direitos autorais sobre o livro (sua principal fonte de renda a partir de 1925), 15% a partir de 1933, quando o rendimento da venda do livro superou um milhão de marcos.[7]

Direitos autorais editar

Os direitos do livro, que pertenciam a Adolf Hitler, foram entregues ao Estado da Baviera, por ordem do próprio Hitler. O Estado da Baviera recusou-se a republicar e permitir republicações do livro, por isso este não se encontrava mais à venda, porém tais direitos caíram em domínio público no dia 31 de Dezembro de 2015, podendo ser editado e traduzido por outras editoras.[9] Ainda assim, a divulgação de uma obra de impacto tão negativo ainda causa polêmica, com direito a uma versão digital sendo retirada de lojas brasileiras em janeiro de 2016 após uma ação judicial.[10][11]

Em Portugal, em Junho de 2016 o célebre Mein Kampf – A Minha Luta, de Adolf Hitler, foi o maior êxito de vendas da editora Guerra & Paz durante a Feira do Livro de Lisboa.[12] A obra onde estão enunciados os princípios ideológicos do nazismo deixou de ter direitos de autor em dezembro de 2015, o que inspirou a editora a lançar uma trilogia: além da obra de Hitler, Manuel S. Fonseca, o editor, publicou ainda o ‘Manifesto Comunista’ de Marx e Engels e o ‘Pequeno Livro Vermelho’ de Mao Tsé-Tung.

Índices editar

O arranjo dos capítulos é como segue:[13][14]

  • Introdução
  • Volume I: Uma conta
    • Capítulo 1: Na casa paterna
    • Capítulo 2: Anos de aprendizado e de sofrimento em Viena
    • Capítulo 3: Reflexões gerais sobre a política da época de minha estadia em Viena
    • Capítulo 4: Munique
    • Capítulo 5: A Guerra Mundial
    • Capítulo 6: A propaganda da guerra
    • Capítulo 7: A revolução
    • Capítulo 8: O começo de minha atividade política
    • Capítulo 9: O Partido Trabalhista Alemão
    • Capítulo 10: Causas primárias do colapso
    • Capítulo 11: Povo e Raça
    • Capítulo 12: O primeiro período de desenvolvimento do Partido Nacional Socialista
  • Volume II: O movimento nacional-socialista
    • Capítulo 1: Doutrina e partido
    • Capítulo 2: O Estado
    • Capítulo 3: Cidadãos e súditos do Estado
    • Capítulo 4: Personalidade e concepção do Estado Nacional
    • Capítulo 5: Concepção do mundo e organização
    • Capítulo 6: A luta nos primeiros tempos - A importância da oratória
    • Capítulo 7: A luta com a frente vermelha
    • Capítulo 8: O forte é mais forte sozinho
    • Capítulo 9: Ideias fundamentais sobre o fim e a organização dos trabalhadores socialistas
    • Capítulo 10: A máscara do federalismo
    • Capítulo 11: Propaganda e organização
    • Capítulo 12: A questão sindical
    • Capítulo 13: Política de aliança da Alemanha após a Guerra
    • Capítulo 14: Orientação para leste ou política de leste
    • Capítulo 15: O direito de defesa
  • Conclusão
  • Índice

Traduções em português editar

[15][16]

  • 1934 - Ed. Livraria do Globo Porto Alegre (Brasil)
  • 1962 - Ed. Mestre Jou (Brasil)
  • 1976 - Ed. Afrodite (Portugal - baseada na brasileira de 1934)
  • 1983 - Ed. Moraes (Brasil)
  • 1987 - Ed. Pensamento (Brasil - baseada na de 1934)
  • 1990 - Ed. Revisão (2 tomos) (Brasil)
  • 1998 - Ed. Hugin (Portugal)
  • 2001 - Ed. Centauro (Brasil)
  • 2014 - Ed. LeYa (Portugal, disponível em e-book)
  • 2015\2016- Ed. E-Primatur (Portugal, baseada na edição da editora Afrodite, de 1976).
  • 2016 - Geração Editorial (Brasil, versão comentada)[10]
  • 2016 - Ed. Crimideia (Portugal).
  • 2016 - Ed. do Carmo (Brasil)

Ver também editar

Referências

  1. «Os trechos do "Mein Kampf" que derrubam o mito do "nazismo ser de esquerda"». Pragmatismo Político. 16 de agosto de 2017. Consultado em 18 de julho de 2022 
  2. Pensador - Adolf Hitler - Mein Kampf: A doutrina judaica do marxismo repele o princípio aristocrático na natureza.
  3. Parlamento da Alemanha, ed. (Março de 2006). «The political parties in the Weimar Republic» (PDF). Consultado em 2 de março de 2017. Following the failed Munich Beer Hall Putsch of 9 November 1923, Hitler’s arrest and imprisonment and a temporary ban on the party, the right-wing extremist NSDAP, which had tasted little electoral success before 1930, polling between 2.6% and 6.5% of the vote, switched to a pseudo-legal approach. 
  4. "Fritzsche, Peter 1998"
  5. «Maidenhead far-right 'extremist' jailed for terrorism offences». BBC News (em inglês). 25 de maio de 2021. Consultado em 18 de julho de 2022 
  6. "Mein Kampf" será publicado pela primeira vez desde a guerra
  7. a b c Ascensão e queda do Terceiro Reich Triunfo e Consolidação 1933-1939. Volume I. William L. Shirer. Tradução de Pedro Pomar. Agir Editora Ltda., 2008. Pág.: 320-321. ISBN 978-85-220-0913-8
  8. Adolf Hitler: Tax-payer (Adolf Hitler: contribuinte) publicado no The Americal Historical Review, julho de 1955, Oron James Hale.
  9. Anna Virginia Balloussier (4 de Dezembro de 2015). «'Bíblia de Hitler' cai em domínio público, e livrarias estudam venda». Consultado em 5 de Janeiro de 2016 
  10. a b Livro escrito por Hitler volta às livrarias brasileiras em meio a polêmicas
  11. Ministério Público do Rio de Janeiro pede apreensão de livro de Hitler
  12. «Livro de Hitler é êxito de vendas». www.cmjornal.xl.pt. Consultado em 15 de junho de 2016 
  13. «Mein Kampf work by Hitler». Encyclopædia Britannica. Consultado em 17 de julho de 2019 
  14. Colin Choat (Fevereiro de 2016). «Mein Kampf (My Struggle)». Project Gutenberg Australia. Consultado em 17 de julho de 2019 
  15. «Versão integral de "Mein Kampf" pela primeira vez no mercado português». Diário de Notícias. 31 de dezembro de 2015. Consultado em 17 de julho de 2019 
  16. Leonardo Neto (7 de janeiro de 2016). «Pelo menos três edições de 'Mein kampf' devem sair no Brasil nos próximos meses». Publish News. Consultado em 17 de julho de 2019 

Ligações externas editar