Os termos micromariposas ou microlepidópteros, no vulgar como "pequenas mariposas"[1] [2] se referem ao agrupamento artificial (sem classificação e não monofilético) de mariposas Microlepidoptera. O termo surgiu por oposição ao agrupamento Macrolepidoptera (que tem maior suporte e estabilidade taxonômica), que representa aqueles Lepidoptera dentro de Heteroneura, Ditrysia, de maior porte e melhor estudados. As mariposas microlepidópteras são significativamente menores em comprimento de outras da mesma ordem, medindo, geralmente, em torno de 20 milímetros de envergadura. Desta feita, são mais difíceis de estudar por morfologia de fenótipos externos quando comparados com Macrolepidoptera. Alguns lepidopteristas referem-se ao esse grupo como 'mariposas primitivas'.

Cinco micromariposas típicas: na parte de cima, um alucitídeo; ao centro, um pteroforídeo branco (mariposa-pluma)

O uso da terminologia persiste pela praticidade, principalmente por estudiosos não-acadêmicos, dado que organiza uma sistematização simplificada das numerosas subdivisões da taxonomia científica dos lepidópteros. De qualquer maneira, este agrupamento não encontra suporte em caracteres taxonômicos, por reunir linhagens não aparentadas. Um conceito mais amplo de "não-macrolepidópteros" dos microlepidópteros incluiria cerca de 37 das cerca de 47 superfamílias.[3][4]

Espécies notáveis incluem as chamadas mariposas-plumas e várias espécies de traças ou mariposas-das-roupas.[2][4]

Etimologia editar

Na nomenclatura científica, Microlepidoptera deriva de uma combinação de dois termos oriundos do grego antigo, sendo estes μικρός, mikrós, que significa "algo muito pequeno, microscópico";[5] e o substantivo neolatino lepidoptera, que, por sua vez, é uma junção dos termos gregos antigos, λεπίδος, lépidos, que significa "escama"; e πτερά, pterá, significando "asas".[3]

Com isso, os termos "micromariposa" e "microlepidóptero"[6] são um aportuguesamento do nome em latim científico, utilizados na nomenclatura vernácula, que faz referência ao tamanho milimétrico da envergadura destes insetos.[2]

Diversidade editar

Conforme a classificação vernácula, Lepidoptera é subdividida entre as mariposas mais e menos primitivas, ou alternativamente, na subdivisão entre as mariposas menores e as mariposas maiores: microlepidópteros e macrolepidópteros, respectivamente. Com isso, são classificados como microlepidópteros quaisquer mariposas que não se encaixam como macrolepidópteros, constituindo um grupo de "saco de gatos", conforme dito na área técnica[7]. A exemplo do estado parafilético do agrupamento, há a inclusão das superfamílias Zygaenoidea, Sesioidea e Cossoidea, que são consideradas por muitos como parte de Macrolepidoptera. A recém proposta superfamília Andesianoidea é outro caso em questão: essas têm uma envergadura até uma ordem de magnitude maior (de cerca de 5,5 cm) do que a maioria dos outros 'micros' monotrisianos anteriormente conhecidos.

Embora sendo geralmente menos populares, os micros incluem uma maior diversidade filogenética. Enquanto estes não incluem borboletas, os 'micros' também incluem um número surpreendente de grupos de voo diurno, e o advento de recursos de identificação online em muitos países (como por exemplo, "UK moths") combinado com o uso generalizado da macrofotografia digital, está tornando mais fácil identificá-las.[2][4]

Biologia editar

Microlepidópteros podem ser encontrados em uma variedade de habitats e nichos ecológicos pelo mundo, desde terrestres a aquáticos de água doce (como por exemplo, Acentropinae). Eles têm uma grande variedade de hábitos alimentares nas fases de vida larval e adulta. As lagartas se alimentam de uma variedade de tecidos vegetais e muitos grupos de plantas, desde hepáticas a angiospermas. São mais comumente herbívoros que alimentam-se internamente aos tecidos ('endófagos'), como minadoras ou escavadoras, mas há alguns alimentadores externos ('exófagos'). Alguns se alimentando de fungos, de animais mortos, e outros poucos são parasitóides de outros insetos (alguns Zygaenoidea) ou são detritívoros. Um caso de predadores seria Hyposmocoma molluscivora que se alimenta de caracóis. Na fase adulta, as mariposas podem se alimentar de esporos e pólen (Micropterigidae mandibuladas) além de orvalho (por exemplo, Eriocraniidae); aquelas com probóscides alimentam-se de néctar (maioria das espécies, por exemplo Choreutidae) ou simplesmente não se alimentam, apresentando peças bucais reduzidas ou ausentes.

Diversas larvas de micromariposas são consideradas pragas econômicas ou domésticas, causando danos às plantas ornamentais ou de plantações, bem como perdas materiais em tecidos e objetos, ou mesmo de alimentos armazenados.

Principais grupos editar

A listagem abaixo é ordenada de acordo com o consenso mais usual da aproximada de diversidade de espécies e abundância ecológica do grupo. As quatro primeiras subfamílias listadas compõem cerca de 90% das espécies de micromariposas. Caracteres listados podem ser úteis para classificá-los, particularmente na forma do palpo labial e da probóscide.[4] Números de espécies são estimativas totais.

1. gelequíideos, lecitocerídeos, coleoforídeos e afins – 16.250 espécies

2. pirálidas, mariposas-da-grama – 16.000 espécies

  • Pyraloidea: cabeça com escamas ásperas, tromba escamada, órgãos timpânicos no abdome; palpos labiais geralmente não recurvados, segmento terminal geralmente rompido. As veias das asas posteriores estão próximas ou fundidas no meio da asa; postura de repouso geralmente com as asas bem enroladas ou mantidas bem planas para a superfície em forma triangular e com palpos labiais muitas vezes projetando-se para frente, dando aparência de concorde; antenas muitas vezes varridas paralelas sobre o corpo. São considerados o grupo mais próximo de Macrolepidoptera, e talvez ancestral a ele.

3. torticídeos – 6.200 espécies

  • Tortricidae: cabeça escamosa, palpos labiais com segmento apical curto e rompido, metade basal da probóscide não escamada; asas apoiadas nas costas em posição de tenda ou achatada; costa anterior muitas vezes fortemente convexa ou sinuada em muitos Tortricinae com forma de sino.

4. traças-das-roupas, psiquídeos e aliados – 4.200 espécies

  • Tineoidea: cabeça muitas vezes com tufos de escamas eretas; os palpos labiais geralmente apresentam cerdas no segmento médio e o segmento terminal é longo; asas geralmente mantidas sobre as costas em posição de tenda e cabeça perto da superfície.

5, 6. mariposas minadoras – 3.200 espécies

7. yponomeutídeos, mariposas-de-yucca e afins – 1.500 espécies

8, 9. mariposas-pluma – 1.160 espécies

  • Pterophoridae – mariposas-pluma, pteroforídeos – 1.000 espécies
  • Alucitidae – alucitídeos – 160 espécies

10. mariposas-folha tropicais – mais de 1000 espécies

  • Thyrididae: micromariposas de voo majoritariamente diurno, tiridídeos

11. mariposas-fada, mariposas de yucca e afins – 600 espécies

12. coreutídeos – 402 espécies

13. micropterigídeos – 180 espécies

Micropterigoidea

14. eriocraníideos – 24 espécies

Superfamílias menos comuns de serem encontradas:

15. mariposas-da-fruta tropicais – 318 espécies

16. epermeníideos – 83 espécies

17. esqueletizadores das ameixeiras e afins – 8 espécies

18. imídeos – 250 espécies

19. urodídeos – 60 espécies

20. mariposas-de-teca tropicais – 20 espécies

21. mariposas-malgaxes-de-whalley – 2 espécies

Famílias "primitivas" mais raramente encontradas:

22. mariposas-de-kauri – 2 espécies

22. mariposas-das-faias-do-sul ou mariposas-valdivianas arcaicas – 9 espécies

23. mariposas-douradas arcaicas – 4 espécies

24. mariposas-douradas arcaicas australianas – 6 espécies

25. mariposas-sino arcaicas – 12 espécies

26. mariposas endêmicas neozelandesas – 7 espécies

27. mariposas-de-gondwana – 60 espécies

28. minadoras de embaúba – 107 espécies

29. simaetistídeos – 4 espécies

30. galactóides ou galacticídeos – 17 espécies

"Micros" de maior porte editar

Grupos de posicionamento controverso, entre "micros" e "macros", usados por amadores. 'Macros arcaicos e primitivos' não é um nome recomendado para estes, pois pode criar confusão de seu posicionamento em alguns sistemas de classificação.

31. hepialídeos e afins – 544 espécies

Não classificados em superfamílias:

32. mariposa-mística-de-meyrick – 1 espécie

  • Prodidactidae – mariposa-mística-de-meyrick, prodidactídeo

Micros monotrisianos maiores:

33. mariposas endêmicas andinas – 3 espécies

  • Andesianidae – andesianídeos

Micros ditrisianos maiores (anteriormente 'macros primitivos'):

34. zygaenídeos, limacodídeos, mariposas-bruxa, dalcerídeos e afins – 2,600 espécies

35. sesídeos, castnídeos, bracodídeos e afins – 1,300 espécies

36, 37. cossídeos e afins – 676 espécies

Referências

  1. «Microlepidóptero». Michaelis On-Line. Consultado em 21 de agosto de 2023 
  2. a b c d Zorzetto, Ricardo (janeiro de 2018). «Mariposas invisíveis» (PDF). Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Revista Pesquisa (263): 62–68. Consultado em 14 de setembro de 2022 
  3. a b Ruggiero, Michael A.; Gordon, Dennis P.; Orrell, Thomas M.; Bailly, Nicolas; Bourgoin, Thierry; Brusca, Richard C.; Cavalier-Smith, Thomas; Guiry, Michael D.; Kirk, Paul M. (11 de junho de 2015). «Correction: A Higher Level Classification of All Living Organisms». PLOS ONE (em inglês) (6): e0130114. ISSN 1932-6203. PMC 5159126 . PMID 26068874. doi:10.1371/journal.pone.0130114. Consultado em 14 de setembro de 2022 
  4. a b c d Gaden S; Robinson, Kevin; R. Tuck; Schaffer Michael (junho de 1995). «A field guide to the smaller moths of south-east Asia». Malásia: Malaysian Nature Society. Bulletin of Entomological Research (2): 303–304. ISBN 983-9681-13-3. ISSN 0007-4853. doi:10.1017/s0007485300034441. Consultado em 14 de setembro de 2022 
  5. Harper, Douglas (10 de janeiro de 2019). «micro-». Online Etymology Dictionary (em inglês). Consultado em 14 de setembro de 2022 
  6. «microlepidóptero». Dicionário Online de Português. Consultado em 14 de setembro de 2022 
  7. Carvalho, Eros Moreira de (28 de fevereiro de 2019). «Goodman e o projeto de uma definição construtiva de "indução válida"». Principia: an international journal of epistemology (3): 439–460. ISSN 1808-1711. doi:10.5007/1808-1711.2018v22n3p439. Consultado em 21 de agosto de 2023