Maníaco da Bicicleta

Assassino em série e pedófilo brasileiro (1952-2013)
(Redirecionado de Monstro de Rio Claro)

Laerte Patrocínio Orpinelli (Araras, 1952Iaras, 2013), conhecido vulgarmente como Maníaco da Bicicleta ou Homem do Saco, foi um Assassino em Série pedófilo brasileiro que chegou a admitir ter cometido mais de 100 homicídios. Entretanto, foi formalmente acusado por espancar, violentar e estrangular cerca de 10 crianças, matando-as com requintes de crueldade em quatro cidades do interior de São Paulo, sendo Rio Claro a cidade com maior ocorrência de óbitos. Os crimes perduraram entre o início da década de 1970 e o final da década de 1990. [1][2]

Laerte Patrocínio Orpinelli
Maníaco da Bicicleta
Pseudônimo(s) Maníaco da Bicicleta; Homem do Saco
Data de nascimento 10 de outubro de 1952
Local de nascimento Araras  São Paulo
Data de morte 03 de janeiro de 2013
Nacionalidade(s) brasileiro
Crime(s) estupro, atentado violento ao pudor, homicídio e ocultação de cadáver
Pena 100 anos
Situação encontrado morto na prisão
Assassinatos
País  Brasil
Alvo(s) Crianças
Preso em 10 de janeiro de 2000

Biografia editar

Infância e adolescência editar

Laerte nasceu na cidade de Araras, interior de São Paulo. Era o sétimo filho de uma família de nove irmãos. Possuía um comportamento agressivo com a família, vizinhos e, sobretudo, com a própria mãe. Esta, por sua vez, na tentativa de puni-lo, o amarrava ao pé da mesa, o que só provocava ainda mais sua ira. [3]

No início da adolescência, começou a viciar-se em bebidas alcoólicas, o que, com o tempo, se transformou em alcoolismo. Esta seria a causa principal de diversas internações, sendo a mais longa com duração de cinco anos na Clínica Psiquiátrica Antonio Luiz Sayão, em sua cidade natal. [4] [5]

Vida adulta editar

Laerte era um andarilho. Durante muito tempo viveu de cidade em cidade na região norte do Estado de São Paulo, onde oferecia serviços de aplicação de graxa em portas de bares ou estabelecimentos comerciais. Sempre descuidado em relação a seu aspecto, sujo e maltrapilho, sem despertar suspeitas, simplório e de jeito rústico, aqueles que o conheciam nem imaginavam o que escondia por trás de tudo. Possuía um caderno onde anotava as datas e as cidades por onde passava. Mais tarde, o mesmo caderno foi utilizado pela polícia para determinar a compatibilidade dos momentos dos crimes com o maníaco.[5]

No início da década de 1990, a população de Rio Claro ainda se recuperava de uma série de crimes bárbaros cometidos contra crianças, cuja autoria era de Francisco de Marco - vulgo Chico Vidraceiro - acusado de matar quatro crianças na década de 1980. Em virtude disso, à medida que as crianças desapareciam da cidade, tendo suas ossadas encontradas meses depois (a maioria no Horto Florestal de Rio Claro), a população logo atribuiu as mortes ao assassino anterior, preso desde 1984. A cidade de Rio Claro passou a ficar alerta, o que gerou uma cautela maior no sentido de proteger as crianças da cidade.

Crimes editar

Laerte utilizava uma bicicleta vermelha (por isso o pseudônimo de Maníaco da Bicicleta). Quando chegava a uma cidade nova, logo procurava saber das condições, identificava um alvo e até descobria se uma criança costumava brincar longe dos pais.

Em alguns casos, o criminoso se fazia amigo dos pais da possível vítima, tornando mais fácil convencer as crianças a segui-lo. Quando já longe da supervisão dos responsáveis, as crianças presumiam ser Laerte um conhecido dos pais e não manifestavam muito receio a aceitarem o convite. Ainda para convencê-los, Laerte oferecia-lhes balas e doces. Com a promessa de oferecer muito mais doces guardados em sua casa, dava carona em sua bicicleta e assim guiava os menores a lugares ermos, que variavam de bosques até abrigos abandonados onde as violava em seguida.[1]

Uma vez com o domínio da criança, Laerte se transformava em um agressor possuído pela raiva. Atacava com brutalidade, violentava, torturava e por fim, matava por agressões físicas ou estrangulamento. Também usava pedras e deixava os corpos expostos ou enterrados parcialmente. Chegou a afirmar que havia bebido o sangue de algumas das vítimas já mortas. Quando interrogado, também afirmou ser influenciado por um espírito maligno que o fazia a todo custo perseguir e matar crianças. Ao mesmo tempo atribuía os delitos ao seu alcoolismo, alegando que quando “tomava algumas” ficava fora de si.

Em entrevista à revista Isto É, ao ser indagado sobre o porquê matava criança, Orpinelli respondeu:

"Eu gosto de ver o corpinho delas. Gosto da beleza que elas têm. Quando bebo incorporo o Satã, fico nervoso e sinto esse desejo. Sinto prazer em vê-las aterrorizadas.[2]

As vítimas eram todas crianças de classe média baixa, na faixa de 3 a 11 anos e de ambos os sexos. As cidades onde o maníaco cometia crimes também eram próximas umas das outras. Ao certo, Orpinelli fez vítimas fatais em Rio Claro, Monte Alto, Pirassununga e Franca, embora haja possibilidade de ocorrências em outros municípios, pelo fato dele ter confessado crimes dessa natureza em outras cidades da região.

Segundo a revista Manchete, Laerte Orpinelli teria cometido seu primeiro crime aos 19 anos, nos anos 1970. Entretanto, não indicou a localização de ossadas de crimes anteriores à década de 1990. [5]

Investigação editar

Foi necessário muito tempo para identificação do criminoso, uma vez que, os crimes relacionados a menores cresciam cada vez mais e não havia pistas. Entretanto, em dezembro de 1998, em Rio Claro, a polícia recebeu uma denúncia sobre um indivíduo que havia sido visto agarrando duas menores. Após deterem o suspeito, ele foi liberado, abrindo-se apenas um boletim de ocorrência. [1]

Embora o caso parecesse encerrado ali, a delegada Sueli Isler Batelochi, que atuava em outro departamento, se interessou e, com base nas informações prestadas pelo suspeito quando foi detido, visitou o local indicado na ficha como sua moradia e, a partir daí, teve acesso a informações importantes que garantiram um ponto inicial na busca pelo homicida. Contudo, só em 1999 a delegada teve permissão para se dedicar ao caso (que era de competência de outro delegado especialista). Assim, pôde relatar as informações obtidas pelos familiares e divulgar um nome e retrato falado a outras delegacias regionais acerca do suspeito Laerte Patrocínio Orpinelli. Logo, jornais e outros meios de comunicação também transmitiam informações acerca do criminoso.[1]

Prisão e julgamento editar

Em 10 de janeiro de 2000, Laerte estava na cidade de Itu e passou a noite no Albergue Noturno de Itu, local onde se hospedam moradores de rua e indigentes. Lá se hospedou por três noites, seguindo viagem para o município de Leme, onde foi preso num posto de gasolina em uma operação realizada pela Polícia Militar.

Após confessar onze assassinatos, Laerte indicou a localização das ossadas para a Polícia Civil, tanto na cidade de Rio Claro, quanto em cidades vizinhas onde assumiu ter cometido crimes. Entretanto, não foram encontrados restos mortais em alguns dos locais apontados.[6]

Além disso, delelgados de outras cidades buscaram verificar se Orpinelli teria sido autor de crimes ocorridos mesmo em décadas anteriores, baseados no histórico de sua passagem por esses lugares. Como exemplo, toma-se o caso da menina Mara Lúcia Vieira, morta em 1970 em Bauru[7], e da menina Renata Helena Lobrigatti, desaparecida em 1997 em Araraquara [6]. Sua participação nesses crimes nunca foi provada.

Laerte foi a júri em 2001 e em 2008 foi condenado a penas acumuladas nas cidades onde ocorreram os crimes.

Vítimas confirmadas editar

Osmarina Pereira Barbosa, 10 anos editar

Marina, como era conhecida, foi abordada por Laerte em 17 de janeiro de 1990, no bairro de Santa Maria, Rio Claro. Estava junto a seu primo, José Fernando. Laerte a levou a um canavial, onde ela foi estuprada e espancada até a morte. Sua ossada foi achada em setembro do mesmo ano. Laerte foi condenado a 15 anos de prisão em 2008 pelo assassinato.

José Fernando de Oliveira, 9 anos editar

José Fernando de Oliveira foi morto junto a sua prima Marina. Laerte conta que matou primeiramente Marina e em seguida espancou José Fernando até a morte. Em interrogatório, o assassino afirmou que o garoto demorou mais para morrer que a prima. Laerte foi condenado a 15 anos de prisão em 2008 pelo assassinato de José Fernando.

Aline Cristina dos Santos Siqueira editar

No dia 28 de agosto de 1996, Aline Cristina dos Santos Siqueira desapareceu em Rio Claro. Segundo relatos, foi vista pela última vez ao lado de um indivíduo montado numa bicicleta. Laerte confessou que raptou e matou a menina, embora o corpo dela nunca tenha sido encontrado.

Edson Silva de Carvalho, 11 anos editar

Em 26 de maio de 1998, Edson desapareceu da cidade de Monte Alto, tendo seu corpo sido achado numa casa abandonada, já em avançado estado de decomposição. Foi a primeira vítima de Laerte fora de Rio Claro. Segundo Laerte, na tentativa de violar sexualmente a criança, esta gritou em desespero, desencadeando a raiva do criminoso que, em fúria, bateu a cabeça da criança contra a parede, causando morte instantânea. Por esse crime, Laerte foi condenado em 2001 a 18 anos de prisão.

Crislaine dos Santos Barbosa, 3 anos editar

A vítima mais nova até o momento, Crislaine foi raptada em Pirassununga, cidade do interior de São Paulo. Além disso, o crime teve outro diferencial que foi o fato do criminoso adentrar a casa da vítima para raptá-la (já que sempre abordava suas vítimas na rua). Em interrogatório, Laerte conta que na noite de 25 de abril de 1999, seguiu a mãe da menina até a casa dela e, sem ser notado, esperou o momento oportuno: sabia que a mãe de Crislaine logo sairia de casa. A mãe da criança a deixara dormindo no sofá da sala e saiu deixando a porta encostada. Quando retornou algum tempo depois a menina já havia sumido. Nos meses seguintes ao desaparecimento, foi encontrada uma ossada compatível com a criança em um canavial, nos fundos de um motel. Por esse crime confesso, Laerte foi condenado em 2001 a 16 anos de prisão pela justiça de Pirassununga.

Jéssica Alves Martins, 9 anos editar

Jéssica foi raptada por Laerte na cidade de Franca, interior de São Paulo, em 21 de novembro de 1999. Após praticar o estupro, Laerte estrangulou a criança, sendo o corpo da vítima achado dois dias depois. Julgado em 2001 por mais esse crime, Laerte foi condenado a 27 anos de prisão.

Morte editar

Em 16 de janeiro de 2013, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo informou que, após transferência, o criminoso havia sido encontrado morto pelos carcereiros da Penitenciária de Iaras. Laerte morreu de causas naturais, devido ao histórico de diabetes e hipertensão. [2]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d Documentário Instinto Assassino: "O Monstro de Rio Claro", T2:E2, Canal Investigation Discovery, às 16h10, de 04/06/2022.
  2. a b c «Andarilho da morte». IstoÉ. 2 de fevereiro de 2000. Consultado em 17 de setembro de 2022 
  3. «Condenado por matar 10 crianças, 'maníaco da bicicleta' morre na prisão». G1. 16 de janeiro de 2013. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  4. «Laerte Patrocínio Orpinelli: O andarilho da morte». Noite Sinistra. 20 de março de 2015. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  5. a b c «Mais um maníaco do parque». Republicado por Hemeroteca Digital Brasileira. Manchete (n.2493): 92. 29 de janeiro de 2000 
  6. a b Moita, Marcos (29 de janeiro de 2000). «Falta de provas traz dúvidas ao caso do andarilho». O Estado de São Paulo: p.23. Consultado em 9 de novembro de 2022 
  7. Aceituno, Jair (27 de janeiro de 2000). «Delegado de Bauru investiga andarilho». O Estado de São Paulo: p.30. Consultado em 9 de novembro de 2022 

Ligações externas editar

  • Episódio no canal especializado Operação Policial