Titanomaquia (álbum)

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Titanomaquia é o sétimo álbum de estúdio da banda brasileira de rock Titãs, lançado em 10 de julho de 1993. É o primeiro álbum da banda sem o vocalista e fundador Arnaldo Antunes, embora três faixas ainda tragam contribuições suas na escrita. É também o primeiro a ser produzido por Jack Endino.[2][3]

Titanomaquia
Titanomaquia (álbum)
Álbum de estúdio de Titãs
Lançamento 10 de julho de 1993[1]
Gravação Setembro de 1992 - Março de 1993 em Nas Nuvens
Gênero(s) Punk rock, grunge, hardcore punk
Idioma(s) Português
Formato(s) LP e CD
Gravadora(s) WEA
Produção Jack Endino
Cronologia de Titãs
Tudo ao Mesmo Tempo Agora
(1991)
Domingo
(1995)
Singles de Titanomaquia
  1. "Será que É Isso que Eu Necessito?"
    Lançamento: 8 de junho de 1993[2]
  2. "Nem Sempre se Pode Ser Deus"
    Lançamento: 1993
  3. "A Verdadeira Mary Poppins"
    Lançamento: 1994
  4. "Taxidermia"
    Lançamento: 1994

Até dezembro de 1994, havia vendido 125 mil cópias no Brasil e 3,5 mil na Argentina.[4]

Contexto

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Saída de Arnaldo Antunes

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Entre o disco anterior (Tudo ao Mesmo Tempo Agora) e este, o vocalista Arnaldo Antunes comunicou sua saída da banda, o que pegou os membros de surpresa. O vocalista e baixista Nando Reis diria mais tarde que essa separação acenderia nele mesmo algo que mais tarde se tornaria uma vontade de sair também. Segundo ele, o guitarrista Marcelo Fromer também manifestou essa vontade à época.[5]

Nando diria também que foi neste disco que o seu "isolamento" dentro da banda ficou evidente, pois, segundo ele, nenhuma das suas sugestões era acatada; a banda insistiu para que ele se limitasse a dobrar os riffs de guitarra com o seu baixo (o que iria contra o "raciocínio musical" dele); e ele canta apenas uma das 13 faixas, enquanto que cada um dos outros três vocalistas cantou quatro.[5]

Direcionamento musical e busca por um produtor

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O álbum foi concebido numa época em que parte da imprensa decretava o fim do rock brasileiro como se havia ouvido nos anos 80.[1] Além disso, segundo Nando, os ensaios foram tensos e a agressividade do disco reflete isto.[5]

Nando e uma reportagem da Folha de S.Paulo afirmam que quem sugeriu e convidou Jack Endino foi o baterista Charles Gavin, mas o próprio diz que a banda toda, após pesquisa, convergiu no estadunidense.[1] Ainda brigados com Liminha, partiram em busca de um nome estrangeiro e que condissesse com a sonoridade cada vez mais agressiva do então septeto (acreditavam que não havia nenhum nome brasileiro capaz de fazer o que eles queriam[3]). Após pesquisarem discos da época, concordaram que Jack seria um nome interessante, tanto pela contribuição para grupos de rock pesado (Nirvana, Soundgarden, Screaming Trees e seu próprio grupo Skin Yard) quanto por ser um profissional ligado à cena independente e, portanto, mais acessível financeiramente. A gravadora recomendou que eles escolhessem um segundo nome, caso o primeiro não desse certo, e eles elegeram Butch Vig, o produtor que sucedeu Jack no Nirvana e assinou o legendário Nevermind.[5]

Por meio da gravadora WEA, eles enviaram o disco Õ Blésq Blom a Jack. A princípio, ele não entendeu por que a banda achou que ele seria adequado para esse tipo de som, mas depois eles enviaram faixas mais recentes, e aí ele demonstrou interesse:[6][7]

Ele também ouviu Cabeça Dinossauro e Tudo ao Mesmo Tempo Agora antes de começar seu trabalho.[1] Ele ressaltou ainda a decisão da banda de ir de um rock mais leve para algo mais agressivo, indo na contramão do caminho tradicional de começar pesado e eventualmente abrandar o som.[1][7] Segundo Nando, a iniciativa de direcionar ainda mais peso para o som do grupo era encabeçada pelo vocalista Branco Mello e pelo vocalista/tecladista Sérgio Britto.[5] Este último afirmou em uma entrevista na época do lançamento que "o último disco foi apenas a ruptura que possibilitou a realização do Titanomaquia".[8]

Na época de lançamento, o grupo rejeitou o rótulo de "grunge" e as comparações com Nirvana.[9]

Produção

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Gravações

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Sobre a ausência de Arnaldo, Jack comentou que o clima da banda não era tenso e que o grupo, por ter ainda sete integrantes, não estava preocupado com a saída do membro, embora demonstrassem muito carinho por ele.[6] Jack ficou ao menos 44 dias capitaneando a criação do disco.[10]

A banda chegou a gravar vocais em inglês para algumas faixas do álbum para um possível lançamento internacional.[1][5][11] As versões são assinadas por Brian Butler, então colega da banda no Banguela Records.[5] Nando, Sérgio e Charles afirmam que foram apenas algumas faixas, possivelmente as que foram originalmente cantadas por Sérgio ("Agonizando", "Fazer o Quê" e "Será que É Isso que Eu Necessito?"),[5] mas uma reportagem da época publicada no Jornal do Brasil afirma que alguns integrantes embarcaram para a cerimônia do MTV Video Music Awards em Los Angeles com uma fita demo com 11 faixas (todas cantadas por Sérgio). Uma das que ficaram de fora foi "Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia", pois a banda traduziu as letras de forma literal somente até o limite do possível.[12]

A fita seria entrega a Jack, que foi quem sugeriu as versões. O grupo admitiu, na época, uma intenção de se lançarem internacionalmente, mas sabiam que o caminho seria difícil.[8] Com efeito, o próprio produtor os desestimulou posteriormente, alegando que nos Estados Unidos havia "100 bandas a cada esquina".[5]

Capa e título

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A capa, novamente assinada por Fernando Zarif, traz uma colagem de sete cores (representando os sete integrantes) e vinha envolta por outra capa, como se o disco estivesse em um saco de lixo.[5]

O primeiro título considerado para o álbum foi A Volta dos Mortos-Vivos, mas a banda não conseguiu pagar pelos direitos sobre o nome, já utilizado em um filme de 1985.[1] Foi de Zarif a ideia de usar o termo "titanomaquia", a guerra entre os titãs e os deuses da mitologia grega.[13] Segundo Nando, o termo é representativo das guerras que os Titãs viviam na época: a do grupo contra a imprensa e a dos seis outros integrantes contra ele.[5]

Informações das músicas

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Uma das faixas criadas para o disco, "Meu Aniversário", escrita por Nando, terminou vetada pela banda, mas seria lançada mais tarde no seu primeiro disco solo e também na coletânea de raridades E-collection.[5]

Imitando um gesto realizado no disco anterior, o grupo assina como um todo todas as faixas, exceto "Disneylândia", "Hereditário" e "De Olhos Fechados", em que Arnaldo aparece como coautor. Para Nando, isso era uma "distorção", pois ele próprio oficialmente assinou todas as faixas, mas não escreveu (tampouco arranjou), de fato, nenhuma.[5]

As duas primeira faixas do disco ("Será que É Isso Que Eu Necessito?" e "Nem Sempre se Pode Ser Deus") foram selecionadas para divulgarem o trabalho e receberem clipes (ambos dirigidos por Beto Brant e Ralph Strelow).[5] O clipe da primeira foi premiado no MTV Video Music Awards.[14]

"Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia", homônima a uma obra de Marquês de Sade, lista uma série de assassinatos "bizarros".[15]

A faixa "Disneylândia", que segundo a banda fala sobre o acesso ao conhecimento mundial,[15] foi usada como base para uma questão do ENEM de 2013, especificamente "Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné / Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul. / (...) / Crianças iraquianas fugidas da guerra / Não obtém visto no consulado americano do Egito / Para entrarem na Disneylândia", para que os examinados avaliassem as relações de consumo e produção no mundo. A faixa foi erroneamente creditada apenas a Arnaldo Antunes, quando na verdade ela foi coescrita por ele e toda a banda.[16]

Lançamento e divulgação

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Titanomaquia saiu ao preço médio de Cr$ 1 milhão.[17] Apesar dos custos com a capa especial, o produtor estrangeiro e a divulgação para a imprensa, a banda afirma que Titanomaquia custou três vezes mesmo que o Õ Blésq Blom.[3]

A turnê do disco envolvia um palco com cenário assinado por Zarif e inspirado num trabalho do artista francês Francis Picabia para o pianista Erik Satie.[11]

Uma das apresentações da banda durante a turnê, realizada no Olympia, foi gravada e depois exibida pela MTV num especial no dia 10 de dezembro de 1993.[18]

Faixas

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Todas as faixas escritas por Titãs, exceto "Disneylândia", "Hereditário" e "De Olhos Fechados", coescritas por Arnaldo Antunes[5]

  1. "Será que É Isso Que Eu Necessito?" – 2:49
  2. "Nem Sempre se Pode Ser Deus" – 2:20
  3. "Disneylândia" – 2:46
  4. "Hereditário" – 2:06
  5. "Estados Alterados da Mente" - 3:42
  6. "Agonizando" – 3:35
  7. "De Olhos Fechados" – 2:11
  8. "Fazer o Quê?" – 3:27
  9. "A Verdadeira Mary Poppins" – 2:18
  10. "Felizes são os Peixes" – 2:13
  11. "Tempo pra Gastar" – 3:45
  12. "Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia" – 3:08
  13. "Taxidermia" – 3:37

Recepção da crítica

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Em matéria em que repercutia o anúncio da exibição do especial da MTV, Sérgio Sá Leitão opinou que a banda não tinha mais o mesmo talento que exibia em Cabeça Dinossauro e que agora apostava na "farofa" e que ela "já fez sentido, em algum lugar do passado".[18]

Escrevendo para O Estado de S. Paulo, Marcel Plasse elogiou a atitude da banda em partir para o rock em vez do pop, mas considerou a agressividade e as críticas muito vazias se comparadas às do disco Cabeça Dinossauro.[15]

Tom Leão, n'O Globo, elogiou a qualidade do disco por valorizar o aspecto rock das músicas, embora concordasse que não se trata de um clássico do mesmo nível de Cabeça Dinossauro.[19]

Na seção "Em questão", do Jornal do Brasil, Jamari França e Hélio Muniz tiveram opiniões distintas sobre o disco. Enquanto o primeiro considerou o disco muito melhor do que o anterior, elogiando o instrumental e a produção e criticando apenas os vocais (que para ele parecem gritados como se os integrantes estivessem "levando uma britadeira na barriga"); o segundo ficou satisfeito somente com a produção da guitarra e do baixo, chamando o disco de "bobo" e ridicularizando o que chamou de tentativa de "ser a banda de rock mais pesada do Brasil".[20]

Créditos

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Titãs
Participações especiais
  • Jack Endino: guitarra (acordes finais em "Agonizando", guitarra rítmica e feed back em "Disneylândia")
Ficha Técnica

Referências

  1. a b c d e f g Gonçalves, Marcos Augusto (7 de julho de 1993). «Titãs deixam o mundo dos mortos-vivos». Folha de S.Paulo. Grupo Folha. Consultado em 27 de março de 2017 
  2. a b ACM (9 de junho de 1993). «Titãs voltam a cantar palavrões em faixa de seu novo disco». Grupo Globo. O Globo. 21.749: Segundo Caderno 2, página 2. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  3. a b c Leão, Tom (10 de julho de 1993). «O Parque dos Titãs». Grupo Globo. O Globo. 21.780: Segundo Caderno 2, página 3. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  4. Ryff, Luiz Antônio (15 de abril de 1995). «Banda congrega músicos do Brasil e da Argentina em disco». Grupo Folha. Folha de S.Paulo (24118): Ilustrada 5-4. Consultado em 8 de julho de 2017 
  5. a b c d e f g h i j k l m n o Nando Reis - 50 fatos sobre Titãs (Parte V): Titanomaquia - Participação especial de Charles Gavin. YouTube. 30 de junho de 2021. Em cena em 5:22-6:22 (vontade de sair), 7:47-8:05 ("Meu Aniversário"), 10:47-15:17 (busca por produtor), 19:21-21:05; 25:06-25:27 (isolamento), 21:05-21:27 (direcionamento do som), 21:57-23:23 (autoria), 24:14-25:06 (baixo), 25:49-26:25 (título), 26:26-27:33 (capa), 28:32-30:45 (singles/clipes), 33:14-36:17 (versões em inglês). Consultado em 15 de agosto de 2021 
  6. a b Sarkis, Thiago Pinto Corrêa (4 de janeiro de 2004). «Jack Endino - Entrevista exclusiva com o produtor do Nirvana». Whiplash.net. Consultado em 12 de março de 2015 
  7. a b Plasse, Marcel (11 de março de 1993). «Pai do grunge baixa no rock paulista». Grupo Estado. O Estado de S. Paulo. 36.303: Caderno 2, página 83. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  8. a b Aizenman, Renato (10 de julho de 1993). «Sete titãs e um destino radical» (PDF). Jornal do Brasil (Ano CIII Nº 93): 30 (pdf) / Caderno B, página 1 (impresso). Consultado em 21 de agosto de 2021 
  9. Plasse, Marcel (10 de julho de 1993). «Titãs pegam pesado e põem tudo para fora». Grupo Estado. O Estado de S. Paulo. 36.424: Caderno 2, página 66. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  10. Só, Pedro (18 de abril de 1993). «O americano que toureou os Titãs» (PDF). Jornal do Brasil (Ano CIII Nº 10): 49 (pdf) / Caderno B, página 3 (impresso). Consultado em 19 de agosto de 2021 
  11. a b Antunes, Alex (10 de setembro de 1993). «"Titanomaquia" estréia em São Paulo». Grupo Folha. Folha de S.Paulo. 23.536. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  12. Moraes, Denise (27 de agosto de 1993). «Os Titãs sem papas na língua» (PDF). Jornal do Brasil (Ano CIII Nº 141): 42 (pdf) / Caderno B, página 1 (impresso). Consultado em 21 de agosto de 2021 
  13. «O novo ataque dos Titãs» (PDF). Jornal do Brasil (Ano CIII Nº 63): 41 (pdf) / Caderno B, página 7 (impresso). 10 de junho de 1993. Consultado em 19 de agosto de 2021 
  14. «Grupo inaugura nova fase em seus clips». Grupo Folha. Folha de S.Paulo. 23.541. 15 de setembro de 1993. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  15. a b c Plasse, Marcel (10 de julho de 1993). «Negação e enfado dentro da parede dura». Grupo Estado. O Estado de S. Paulo. 36.424: Caderno 2, página 66. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  16. Lima, Thaís (26 de outubro de 2013). «Prova do 1º dia do Enem tem música dos Titãs, índios e direito dos gays». G1. Grupo Globo. Consultado em 12 de março de 2015 
  17. Antunes, Alex (10 de julho de 1993). «Titãs aspiram ao rock mais sem vergonha». Folha de S.Paulo. Grupo Folha. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  18. a b Leitão, Sérgio Sá (10 de setembro de 1993). «MTV rompe com seus clichês em especial com show dos Titãs». Grupo Folha. Folha de S.Paulo. 23.627. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  19. Leão, Tom (10 de julho de 1993). «Pauleira contínua em disco intenso e marcante». Grupo Globo. O Globo. 21.780: Segundo Caderno 2, página 3. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  20. França, Jamari; Muniz, Hélio (15 de julho de 1993). «E mais uma caixa se vai / Para alguma coisa serve» (PDF). Jornal do Brasil (Ano CIII Nº 98): 36 (pdf) / Caderno B, página 6 (impresso). Consultado em 21 de agosto de 2021