Nicolau da Maia Azevedo

Nicolau da Maia Azevedo (Lisboa, c. 1591[1] - ?, depois de 1643[2]) foi um clérigo português, pároco da igreja de São Mamede, figura proeminente dos Conjurados, e uma das principais figuras do levantamento no dia da Restauração da Independência, e cruciferário da Procissão do Milagre do Crucifixo, na manhã do 1.º de Dezembro[3]. Dá-se, a si, a autoria de Relação de tudo o que passou na felice aclamação de El-Rei D. João IV (1641)[4] e Rosário das Almas do Purgatório (1643).[5][6][7][8]

Nicolau da Maia Azevedo
Presbítero da Igreja Católica
Info/Prelado da Igreja Católica
Padre Nicolau da Maia de Azevedo, representado por gravura no jornal "o Occidente" (N.º 106)
Atividade eclesiástica
Diocese Lisboa
Serviço pastoral Igreja Paroquial de S. Mamede
Ordenação e nomeação
Dados pessoais
Nascimento Lisboa
c.1591
Morte depois de 1643
Nacionalidade portuguesa
Residência Lisboa
Progenitores Mãe: Antónia Francisca Figueira
Pai: João Rodrigues da Maia
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Biografia

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Início de Vida

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A data do seu nascimento é incerta, no entanto é dada a data de 1591[1][9][10], nascido em Lisboa, filho de João Rodrigues da Maia e de Antónia Francisca Figueira.[11][12] Por volta de 1615, é licenciado, e ordenado presbítero.[13]

Posteriormente, é lhe dada a dirigir a antiga paróquia de S. Mamede, em Lisboa.[1][3]

Reuniões com os Conjurados

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A partir de 1638, passa a estar diretamente envolvido nas reuniões clandestinas dos Conjurados, fazendo parte deste grupo, de forma enérgica e comprometida.[14][15][16][9]

Durante a escolha de quem encabeçaria o golpe, e seria aclamado Rei de Portugal, durante um período breve de tempo, equacionou-se Duarte de Bragança, irmão do Duque de Bragança, como alternativa ao próprio D. João (futuro rei D. João IV), que se aparentava reticente ao golpe. A tarefa de trazer D. Duarte para Portugal, estaria a cargo do próprio Nicolau da Maia.[14][10]Durante a preparação do 1.º de Dezembro, Nicolau da Maia era o elo de ligação entre os nobres conjurados e a população. Sendo imprescindível o apoio popular e a aclamação de um novo rei de Portugal, foi escolhido pela sua aproximação com as classes populares.[14]

Dias antes do golpe, Nicolau da Maia deu conhecimento da preparação de um golpe aos juízes do Povo, aos escrivães, aos vinte-quatros e aos misteres, e a muitos oficiais de confiança.[14][1]

Porém, com o exemplo do mau sucesso da Revolta do Manuelinho, em Évora, muitos dos conjurados temiam represálias por parte de Castela aos nobres portugueses, caso o golpe falhasse. Foi, portanto, o padre Nicolau que garantiu a todos, em reunião em casa de D. Antão de Almada, que o povo estaria com eles, e que os apoiaria no dia da insurreição, desde que os conjurados mantivessem a sua palavra de comprometimento com a causa restauracionista, e que encabeçassem a revolta.[14][17]

Dia da Restauração da Independência

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A planificação do golpe estaria, então, dividida em várias componentes. Primeiramente, pelas 09 da manhã, seria dado um sinal sonoro (através do disparo de uma arma de fogo) de modo a iniciar a revolta. Os nobres conjurados, localizados no Paço da Ribeira e na área circundante teriam, então, a tarefa de ocupar o Paço da Ribeira, neutralizar as duas companhias de soldados espanhóis lá presentes, aclamar o duque de Bragança como rei, atrair a população e defenestrar o odiado Miguel de Vasconcelos. O padre Nicolau da Maia estaria, portanto, incumbido de espalhar a mensagem pela população, e trazer o Arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, juntamente com a população para o Paço.[12][14][17]

 
Representação do padre em combate contra forças castelhanas, no dia 1.º de Dezembro, presente no periódico "o Occidente"

Pelas 08 horas, começa a juntar-se um contingente de fidalgos portugueses, nos seus coches e população perto do Paço da Ribeira, muitos deles chamados pelo padre Nicolau. Bateram, finalmente, as nove horas. De súbito, abrem-se as portinholas dos coches, com os fidalgos armados. Seguem-nos de perto outros conjurados, e sobem as escadas do paço. Jorge de Melo com seu primo Estevão da Cunha, António de Melo e Castro, muitos nobres, e os populares convocados por Nicolau da Maia, aguardam impacientes, que um tiro da pistola, disparado do palácio, que lhes dê o sinal de travarem também a luta.[14]

Assim que a mesma é dada, rapidamente os Conjurados atacam os guardas do Paço, juntamente com um assalto ao Paço da Ribeira, de modo a entrar no gabinete de Miguel de Vasconcelos, que lá se encontrava.[14] Depois de defenestrado, o padre Nicolau vai à Sé de Lisboa, armado com uma espada e carregando uma cruz processional de prata de modo a exortar o Arcebispo ao apoio da revolta e que saísse para o Senado da Câmara. Com o alvoroço e as notícias começa a criar-se uma multidão perto das escadas da Sé de Lisboa, na qual o padre Nicolau da Maia aproveita para exortar a população à revolta, indicando o apoio da nobreza.[1][14]

Com isto, é o próprio, juntamente com o Arcebispo, que organizam uma procissão pela cidade (a Procissão do Milagre do Crucifixo), o que incita a população a crer que existe intervenção Divina para a Restauração.[4] [3]

Após o golpe do 1.º de Dezembro, existe a certeza quase unânime da autoria do clérigo sobre o livro Relação de tudo o que passou na felice aclamação de El-Rei D. João IV(1641). Não obstante, esta obra poderá ter sido escrita por outro clérigo, o padre Manuel de Galhegos. Apesar disto, Nicolau da Maia, presumivelmente, pedira a D. João IV a necessária autorização para que nenhum outro senão Lourenço de Anvers, que pudesse imprimir o livro, apontado para ter sido o próprio, o autor da mesma relação.[18][19][20]

É dado também a si, a autoria do livro Rosário das Almas do Purgatório, publicado em 1643[2], desconhecendo-se o paradeiro posterior, nem a data de morte do clérigo.[21]

Foi representado por Eduardo Portugal, numa gravura intitulada "Lisboa 1640. O padre Nicolau da Maia atacando uma das portas dos Paços da Ribeira"[22]

Referências

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  1. a b c d e Martins, Francisco da Rocha (1940). Os grandes vultos da restauração de Portugal: obra comemorativa do tricentenário da independencia. [S.l.]: Empresa Nacional de Publicidade 
  2. a b Os "últimos fins" na cultura ibérica dos sʹecs. XV a XVIII: Porto, 19 a 21 de outubro de 1995. [S.l.]: Instituto de Cultura Portuguesa. 1997 
  3. a b c «Trabalhos da Associação de Arqueólogos Portugueses» (PDF). 1941 
  4. a b «Relaçaõ de tudo o que passou na felice aclamaçaõ do mui alto, & mui poderoso Rey Dom Joaõ o .IV. nosso senhor, cuja monarquia prospere Deos por largos annos..., Em Lisboa, [1641] - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. Consultado em 30 de julho de 2024 
  5. Grande enciclopédia portuguesa e brasileira: ilustrada com cêrca de 15.000 gravuras e 400 estampas a côres. [S.l.]: Editorial Enciclopédia. 1959 
  6. Almeida, Fortunato de (1926). História de Portugal. [S.l.]: F. de Almeida 
  7. Independenica. [S.l.]: Palácio da Independencia. 1940 
  8. Coelho, José Ramos (1889). Historio do infante D. Duarte: irmão de el-rei D. João IV. [S.l.]: Por ordem e na typographia da Academia real das sciencias 
  9. a b Almeida, A. Duarte de (1938). Enciclopédia histórica de Portugal. [S.l.]: J. Romano Torres & c.a 
  10. a b Enciclopédia brasileira Mérito: Com milhares de desenhos a traço, ilustraçoẽs, muitas a côres, um atlas universal completo e mapas dos estados e territórios do Brasil. [S.l.]: Editôra Mérito. 1957 
  11. Silva, Innocencio Francisco da (1862). Diccionario bibliográphico portuguez: Estudos. Applicaveis a Portugal e ao Brasil. Man. Jgn. da Silva - Pedro de Sousa. [S.l.]: Impr. Nacional 
  12. a b «A Restauração de Portugal em 1-12-1640». arlindo-correia.com. Consultado em 29 de julho de 2024 
  13. Data aproximada, através da data de nascimento dada
  14. a b c d e f g h i Verdelho, Evelina (2007). «RELAÇÃO DE TUDO O QUE PASSOU NA FELICE ACLAMAÇÃO DO MUI ALTO E MUI PODEROSO REI DOM JOÃO O IV». Universidade de Coimbra. Consultado em 30 de julho de 2024 
  15. Valladares, Rafael. Por toda la terra, España y Portugal: globalización y ruptura (1580-1700). Lisboa: [s.n.] p. 204. ISBN 978-989-8492-39-5 
  16. Freire Costa, Leonor (2008). D. João IV. [S.l.]: Temas e Debates. p. 12. ISBN 9789727599684 
  17. a b Lendas de Portugal: Lendas heróicas. [S.l.]: Editorial Universus. 1963 
  18. Nacional, Biblioteca (1880). Anais da Biblioteca Nacional. [S.l.: s.n.] 
  19. Boléo, Manuel de Paiva (1996). Revista portuguesa de filologia. [S.l.]: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Românicos 
  20. Cópia da Petição feita a D. João IV, supostamente pelo padre Nicolau da Maia: "D• JOÃO por graça de Deos , Rei de Portugal, e dos Algarves , da quem , e dalém mar em Africa, Senhor de Guiné Faço saber que havendo respeito , ao que na Petição atraz escrita , diz o Licenciado Nicoláo da Maia , e visto as causas que alega. Ei por bem, e me praz , que nenhuma pessoa, com pena de duzentos cruzados , possa imprimir a Relação de tudo o que se passou na felice Acclamação minha, de que na dita Petição faz menção, senão Lourenço de Anveres Jiella nomeado, como pede : E mando ás justiças , Olficiaes, e pessoas a que esta Provisão for mostrada , e o conhecimento delia pertencer , que a cumprão , e guardem inteiramente como nella se contém. EIRei nosso Senhor o mandou pelos Doutores Sebastião Cezar de Menezes, e Antonio Coelho de Carvalho, ambos do seu Con¬ selho , e Desembargadores do Paço : e * 3*9 * Francisco Ferreira a fez cm Lisboa a 7 de Outubro de 1641.", em https://purl.pt/35850/2/
  21. 4.º volume da Historia de Portugal, Rebelo da Silva
  22. «"Lisboa 1640. O padre Nicolau da Maia atacando uma das portas dos Paços da Ribeira" - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 30 de julho de 2024