Ogdóade (gnosticismo)
A palavra ogdóade vem do grego "ογδοάς" e significa "Óctuplo". O conceito apareceu no Gnosticismo durante o Cristianismo primitivo e foi depois trabalhado também pelo teólogo Valentim (cerca de 160 dC).
Conceito
editarO número oito tem um importante papel nos sistemas gnósticos e é necessário distinguir três diferentes formas no qual ele apareceu nos diferentes estágios de desenvolvimento do Gnosticismo.
7 + 1
editarO sistemas gnósticos mais primitivos (como os Ofitas) incluem uma teoria de sete céus e uma região supracelestial chamada 'Ogdóade'. A antiga astronomia ensinava que acima das sete esferas planetárias estava uma oitava, a esfera das estrelas fixas[1].
Quando o sistema Valentiniano firmou seu conceito de um lugar ainda mais alto, o espaço supracelestial foi chamado de região intermediária (Mesotes); Mas Ogdóade era claramente seu nome inicial.
6 + 2
editarNo sistema de Valentim, os sete céus e mesmo a região acima deles eram considerados como simplesmente o mais baixo e o último estágio do poder criativo. Acima deles estava o Pleroma, onde eram exibidas as primeiras manifestações de evolução da existência subordinada ao grande Primeiro Princípio. Nos estágios iniciais desta evolução[2] aparecem oito Aeons primários que constituem a Ogdóade.
A concepção final de Deus, chamado Pai Inefável e que existe desde antes do começo, é descrita como 'Profundidade' (Bythos). À volta de ele existe um poder feminino que foi chamado de 'Silêncio' (Sige) . Essas duas divindades, Profundidade e Silêncio, se tornaram a causa, através do processo de emanação, dos outros seres arquetípicos ou Aeons. Os Aeons sempre nascem em pares masculino-feminino (sizígias), cada uma é em si mesma um princípio divino e ao mesmo tempo representa um aspecto do Pai Inefável, que de outra forma não poderia ser descrito ou compreendido pois está acima de todos os nomes. A emanação aconteceu da seguinte forma: Profundidade e Silêncio geraram Mente e Verdade (Nous e Aleteia), que por sua vez geraram Verbo e Vida (Logos e Zoë), que geraram Homem e Igreja (Anthropos e Ecclesia). Nestes pares eônicos consiste a Plenitude de Deus (Pleroma) e os primeiros oito Aeons explicados aqui são os que compõem a Ogdóade Valentiniana.[3]
Embora este Ogdóade seja o primeiro na ordem evolutiva caso seja verdadeira a teoria Valentiniana, para os que seguem a história do desenvolvimento deste sistema o Ogdóade inferior deve claramente ser pronunciado primeiro e o superior apenas como uma extensão subsequente do que era previamente aceito como Ogdóade. Possivelmente a doutrina egípcia dos oito deuses primários (veja Ogdóade) contribuiu com a formação de uma teoria que foi formulada no próprio Egito (Valentim nasceu em Phrebonis, no delta do Nilo, e foi educado em Alexandria). De qualquer maneira, um Ogdóade 7 + 1 teria sido inconsistente com a teoria, cujo cerne era o acoplamento dos personagens em pares, masculino-feminino[4] conecta o sistema de Valentim com o de Simão Mago, para quem a origem de tudo segue de um princípio inicial central e de seis "raízes". Se substituirmos este princípio central por um princípio masculino e feminino, o 6 + 1 de Simão se torna o 6 + 2 de Valentim. Esta mesma questão, porém, se o primeiro princípio seria Uno ou Duo era uma em que os próprios Valentinianos discordavam entre si; e suas diferenças sobre como contar os números do primeiro Ogdóade confirma o que já foi dito sobre a origem tardia desta doutrina.
4 + 4
editarA doutrina de um Ogdóade de um princípio de existência finita tendo sido estabelecida por Valentim, aqueles dentre os seus seguidores que estavam imbuídos da filosofia pitagórica introduziram uma modificação. Nela, a filosofia da Tétrade foi considerada com peculiar veneração e aceita como fundação do mundo sensível[5].
Ver também
editar- Pensamento de Norea - um dos livros gnósticos encontrados na Biblioteca de Nag Hammadi
- Norea
- Arcontes
Referências
- ↑
Stromata (em inglês). IV.25.xxv. [S.l.: s.n.]
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em Authors list (ajuda) - ↑ Adversus Haereses (em inglês). I. [S.l.: s.n.]
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sem|sobrenome1=
em Authors list (ajuda) - ↑ David, Fideler (1993). Jesus Christ, Sun of God: Ancient Cosmology and Early Christian Symbolism. [S.l.]: Quest Books. isbn 9780835606967, página 128
- ↑ Refutação de todas as heresias (em inglês). [S.l.: s.n.] Texto "volume VI.20" ignorado (ajuda);
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em Authors list (ajuda). - ↑ Meursius, Johannes. Denarius Pythagoricus. Gronovs Jacob Thesaurus Graecarum antiquitatum. 9. [S.l.: s.n.], capítulo 7; ao qual pode ser adicionado Refutação de todas as heresias (em inglês). [S.l.: s.n.] Texto "volume VI.23" ignorado (ajuda);
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sem|sobrenome1=
em Authors list (ajuda)
Bibliografia
editar- van Reeth, Dr. A. Tirion (1994). Encyclopedie van de Mythologie. [S.l.]: Baarn. ISBN 9051213042
- Este artigo usa fontes do "A Dictionary of Christian Biography, Literature, Sects and Doctrines" de William Smith (lexicógrafo) e Henry Wace