Paper Excellence

A Paper Excellence é uma empresa de origem sino-indonésia que atua na produção de celulose, papéis, embalagens e produtos à base de madeira. Ela está posicionada em mercados globais como China, Europa, Estados Unidos e Japão.

No Brasil, a Paper detém 49,41% das ações da Eldorado Brasil Celulose. A empresa brasileira, que se posiciona como um dos principais players globais do setor de celulose, tem como principal acionista a J&F Investimentos.

História

A Paper Excellence foi fundada em 2006 pelo empresário indonésio Jackson Wijaya, a terceira geração de uma família de origem chinesa dona do grupo Sinar Mas. Entre os negócios da família estão a produtora de papel e celulose Asia Pulp & Paper e a produtora de óleo de palma Golden Agri Resources.

A Paper Excellence opera com mais de 60 fábricas e instalações pelo mundo. Com histórico de aquisições de concorrentes, o Grupo Paper Excellence é um dos maiores produtores globais de papel e celulose.

Em 2021, a Paper realizou a aquisição da americana Domtar, maior comercializadora de papel para imprimir e escrever dos Estados Unidos. A compra, no valor de US$ 3 bilhões, consolidou a Paper como líder do setor, ampliando o alcance global da companhia e expandindo a sua linha de produtos.

A Domtar Corporation, desde sua aquisição pela Paper, tem sofrido uma crise de credibilidade no mercado em virtude da mudança de controle. A nota de crédito da empresa (que indica a capacidade da empresa de cumprir seus compromissos financeiros) já foi rebaixada em cinco níveis pela Moody’s e em quatro pela Standard&Poor’s, duas das principais agências de classificação de risco.

Em julho de 2022, a Paper Excellence iniciou a aquisição da empresa Resolute Forests Products, do Canadá, operação finalizada em março de 2023. A empresa possui 7 mil funcionários e 40 instalações, no Canadá e nos Estados Unidos. Sua compra colocou a Paper Excellence entre os 10 maiores players globais da indústria de produtos florestais.

Em 2021, a empresa realizou a aquisição da americana Domtar. Já em 2023, a Paper Excellence finalizou a compra da Resolute Forest Products, gigante norte-americana que opera 40 instalações e conta com um time de 7 mil pessoas, tornando-se um dos dez maiores players do mundo na indústria de produtos florestais.

A respeito da aquisição da Resolute, em maio de 2023 Jackson Widjaja foi convocado para depor pelo Parlamento do Canadá, para esclarecer a estrutura de controle obscura da Paper – mas não compareceu à audiência, e os executivos enviados para substituí-lo não responderam às principais perguntas dos parlamentares.

A convocação foi motivada por uma investigação do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) que concluiu que a Paper Excellence seria, na verdade, uma empresa de fachada da Asia Pulp & Paper. Na audiência, foram ouvidos ativistas do Greenpeace e o professor Christian Leuprecht, do Royal Military College of Canada, que se disse preocupado também “com o ritmo com que ela [a Paper Excellence] adquiriu uma parte significativa de uma empresa canadense”.

Paper Excellence no Brasil

Dirigida pelo diretor-presidente Cláudio Cotrim no país, o grupo indonésio está em expansão. O grupo possui 49,41% das ações da Eldorado Brasil Celulose, desde 2017, quando fechou um contrato para adquirir 100% do capital da empresa das mãos do grupo J&F. O negócio não foi concluído no prazo de um ano, previsto em contrato, e deu origem a uma das maiores disputas empresariais da história do Brasil.

A Eldorado é proprietária de 249 mil hectares de florestas de eucalipto plantadas em áreas rurais nacionais. A propriedade dessas terras está no cerne de uma ação popular em curso na Justiça Federal. A transferência da totalidade das ações à Paper Excellence foi suspensa em abril de 2024, por decisão do Tribunal Regional da 4ª Região, sob alegação de que a empresa violou leis brasileiras que limitam a aquisição ou arrendamento de terras rurais por estrangeiros.

Em 2023, a J&F votou contrariamente à distribuição de proventos na Eldorado Brasil, defendendo que o valor fosse aplicado na expansão da empresa brasileira. A Paper, por sua vez, votou a favor do pagamento integral dos lucros referentes a 2023 para os acionistas, e, ainda, pela distribuição de R$3,34 bilhões de lucros que estavam retidos desde o início do conflito com a J&F.

A atuação da Paper Excellence no Brasil tem sido marcada pela contratação de nomes importantes no cenário político nacional, como João Dória e Michel Temer, que atuam como lobistas dos interesses da empresa junto a autoridades.

Responsabilidade Socioambiental

Os produtos da Paper Excellence são certificados pelo Programa de Endosso da Certificação Florestal (PEFC) e pela Iniciativa Florestal Sustentável (SFI).

As certificações ambientais da empresa têm sido questionadas em razão da sua ligação com a empresa indonésia Asia Pulp & Paper (APP), responsável por desmatamento em larga escala naquele país. Em 2007, o Forest Stewardship Council (FSC), principal certificação global de produtos de origem florestal, cancelou o seu certificado ambiental, porque a empresa estava “associada a práticas florestais destrutivas”.

Em maio de 2024, o Greenpeace e a organização indonésia Auriga Nusantara apresentaram ao principal selo de produtos florestais do mundo, o Forest Stewardship Council (FSC), o pedido de cancelamento das certificações ambientais de empresas adquiridas pela Paper Excellence.

Especificamente em relação à vinda da Paper para o Brasil, o assessor estratégico do Greenpeace recomendou às autoridades brasileiras cuidado, advertindo que “A liderança importa, e o que vemos é um histórico ruim, de controvérsias e compromissos não cumpridos”.

Controvérsias

Fundada pelo indonésio Jackson Widjaja, a Paper Excellence enfrenta acusações de servir como fachada para a empresa indonésia Asia Pulp & Paper (APP), que integra o Sinar Mas Group – ambos controlados pela família Widjaja, uma das mais ricas da Indonésia. A expansão internacional da empresa e de outras do grupo Grupo Sinar Mars está acompanhada de acusações de lobby, suborno e corrupção, com casos já investigados nos Estados Unidos e na Europa.

A família Wijaya é apontada por ONGs como responsável por desmatar cerca de 1 milhão de hectares em seu país, através da atuação das diversas empresas que controlam, inclusive causando incêndios de grandes proporções, e está envolvida com conflitos com as comunidades locais e intimidação de ativistas. Além disso, a APP tem um histórico complicado também do ponto de vista financeiro: foi protagonista, em 2001, do maior calote do mercado emergente, deixando de pagar cerca de 12 bilhões de dólares em dívidas.

A afirmação de que a Paper Excellence seria utilizada como empresa de fachada pela Asia Pulp & Paper (que é acusada de cometer crimes ambientais, ao ponto de perder a certificação FSC em 2007), é corroborada por uma investigação realizada em parceria pela CBC News e pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), segundo o qual a Paper Excellence funciona como uma fachada para o “greenwashing” do grupo Sinar Mas. Um grupo de ambientalistas, integrantes do Greenpeace e de outras entidades não governamentais elaboraram, em outubro de 2022, um relatório denominado “Papering over corporate control: Paper Excellence’s relationship with Asia Pulp & Paper and the Sinar Mas Group”. Os ambientalistas afirmam que um “conjunto de fatores como laços familiares, problemas de gestão e registros de lobistas indicam que o Sinar Mas Group controla a Paper Excellence." Foram analisados pelo grupo registros corporativos de 10 países e dados de offshores, do período entre 2000 e 2021.

Em resposta ao relatório, a Paper Excellence afirmou que opera de forma independente da APP e que o fato de ambas as empresas “serem controladas por membros de uma mesma família não significa que as duas companhias apresentem qualquer relação comercial ou societária”.

A empresa indonésia também afirmou que a estrutura societária offshore apontada como um indicativo do esforço de ocultar proprietários seria, na realidade, uma configuração que permitiria a ter uma estrutura tributária mais eficiente.