Pigmaleão e a Imagem (Burne-Jones)

segunda série de quatro pinturas a óleo sobre tela de Edward Burne-Jones, pintadas entre 1875 e 1878, sobre a história de Pigmaleão e Galateia

Pigmaleão e a Imagem (em inglês: Pygmalion and the Image) é o segundo conjunto de quatro pinturas a óleo sobre tela do pintor inglês pré-rafaelita Edward Burne-Jones, pintadas entre 1875 e 1878, relativas à história de Pigmaleão e Galateia, pinturas que se encontram no Museu e Galeria de Arte de Birmingham.[1]

Pigmaleão e a Imagem: Os Desejos do Coração
Pigmaleão e a Imagem (Burne-Jones)
Autor Edward Burne-Jones
Data 1875-78
Técnica Pintura a óleo sobre tela
Dimensões 99 cm × 76,3 cm 
Localização Birmingham Museum & Art Gallery, Birmingham

O conjunto de pinturas conta a história de Pigmaleão, um escultor de Chipre que recorreu ao apoio de Afrodite para alcançar a esposa ideal, história que consta de Metamorfoses de Ovídio, e que William Morris incluira no seu poema épico O Paraíso Terrestre (The Earthly Paradise) publicado entre 1868 e 1870 antes portanto de Burne-Jones ter criado a série.[2]

Neste conjunto sobre Pigmaleão (1875-1878), Edward Burne-Jones corporiza a história clássica do amor e das aspirações humanas numa sequência narrativa de quatro imagens. Na história antiga, Pigmaleão, que não encontra nenhuma mulher suficientemente bela para amar, esculpe uma estátua de uma mulher ideal e acaba apaixonado por ela, pedindo a Afrodite que lhe dê uma mulher tal qual a estátua. A Deusa responde ao pedido dele dando vida à estátua a que dá o nome de Galateia e com quem ele se casa.[3]

Pintado em tons delicados e suaves que contrastam com a rica paleta de trabalhos anteriores, como A Canção do Amor (Le Chant d´Amour, em Galeria) e Laus Veneris (1869), Burne-Jones trata esta alegoria grega com elementos do amor cortesão medieval. Pode-se considerar a série como um clara homenagem à escultura grega no tratamento pelo artista das figuras nuas e da roupagem. O pintor também expressa a busca romântica do amor puro e ideal com tons melancólicos de desejo ardente e não satisfeito, evidente na expressão do escultor, bem como nos títulos das obras. [4]

Edward Burne-Jones havia pintado anteriormente entre 1868 e 1870 um idêntico conjunto de quatro pinturas a óleo sobre o mesmo tema que é propriedade de Andrew Lloyd Webber, podendo os dois conjuntos ser vistos e comparados em Galeria.[5]

Nesta segunda série, Burne-Jones usa tons mais suaves, cores mais claras e linhas mais fluidas do que na primeira e apesar de ter sido pintada a óleo tem o brilho e os tons suaves do giz.

A Série editar

Pigmaleão e a Imagem I: Os Desejos do Coração editar

A primeira imagem reproduz a primeira de quatro pinturas da série, Os Desejos do Coração. Pigmaleão está pensativo avaliando a sua vida solitária, tendo decidido permanecer celibatário face ao estilo de vida que lhe desagrada das mulheres locais. As estátuas atrás dele (uma emulação das Três Graças) são como que o eco das mulheres curiosas que o espreitam pela abertura da porta. Todas as cinco parecem fluidas, lânguidas e nada tímidas. Pigmaleão, olhando por cima da proliferação de tornozelos, coxas e nádegas refletidos no chão e no pedestal em frente dele, está a ponderar a sua próxima criação. Na sua meditação ignora as mulheres à sua volta enquanto imagina a estátua da mulher perfeita.

A maioria dos estudiosos concorda, com base num trecho das Memórias de Georgiana Burne-Jones, que a figura de Pigmaleão nesta segunda série foi baseada no designer William Benson, enquanto Antonio Corsi fora o modelo da primeira série. No primeiro quadro da primeira série há quatro figuras esculturais no fundo representando as Quatro Estações e na segunda série há apenas três esculturas, sendo agora as Três Graças.[6]

O quadro Os Desejos do Coração pode ser interpretado como um prólogo da história. Burne-Jones retrata o jovem escultor perdido em pensamentos, e o trio das Graças esculpidas em fundo dá uma indicação dos seus pensamentos, pois estas figuras iluminadas por uma fonte de luz que jorra da direita, e que se vê pelo espelho no chão do lado esquerdo, estão refletidas no chão de mármore brilhante e servem para ajudar o escultor a alcançar o ideal artístico por que anseia.[7]

Pigmaleão e a Imagem II: A Mão Detém-se (The Hand Refrains) editar

 
A Mão Detém-se (The Hand Refrains, 1878), segunda série, 98.7 cm x 76.3 cm, óleo sobre tela, Museu e Galeria de Arte de Birmingham

Nesta segunda imagem, Pigmaleão tem a revelação da mulher perfeita. Procedendo como um Deus, ele criou a mulher e agora recua para admirá-la, com a mão que segura o cinzel frio encostada ao rosto como que admirado com a revelação e receoso de tocar a sua criação novamente. A expressão do escultor é mais suave do que no primeiro quadro, Os Desejos do Coração, sendo o olhar revelador que se apaixonou por uma mulher feita de mármore.

Pigmaleão criou Galateia numa posição clássica de Vénus, mas ao contrário das três estátuas e das duas mulheres do primeiro quadro, Galateia parece consciente e embaraçada pela sua nudez, como que a tentar cobrir-se. Pigmaleão, apesar do seu desprezo pelo mundanismo das mulheres locais, criou-a deliberadamente nua e agora assume o papel de voyeur. Embora Pigmaleão esteja agora a olhar, e não a tocar, as várias ferramentas na base da estátua mostram quanto trabalho ele dispendeu para finalizar a estátua, tendo usado na criação de Galateia um maço pesado, um cinzel e lima, bem como uma escova com cerdas macias e quase transparente.

O segundo quadro mostra Pigmaleão em frente da sua obra concluída. A luz que entra pela janela destaca novamente a beleza da estátua, que representa também a limitação do poder humano - o trabalho árduo do artista produziu uma figura ideal, mas o seu esforço enquanto mortal não pode dar vida ao seu ideal.[8]

Pigmaleão e a Imagem III: A Divindade Dá Vida (The Godhead Fires) editar

 
A Divindade Dá Vida (The Godhead Fires, 1878), 2ª Série, 143.7 x cm x 116.8 cm, no Museu & Galeria de Arte de Birmingham

Na versão da história por Ovídio, a cena é situado quando Pigmaleão está no templo de Afrodite a orar pedindo perdão pelos anos que a esqueceu e implorando por uma esposa tão perfeita como a sua criação de mármore. Na sua ausência, Afrodite aparece no estúdio para dar vida a Galateia. Em termos físicos, as duas mulheres apresentam pouca diferença: a mesma expressão facial inatingível, a tonalidade de mármore, uma estatura de amazonas. Ironicamente, os braços entrelaçados delas e o olhar penetrante de Afrodite copiam as mulheres enlaçadas, tão desprezadas por Pigmaleão em Os Desejos do Coração.

Afrodite é identificada pela presença de pombas e rosas - símbolos usualmente associados à Deusa - e pela água a seus pés, o que é uma reminiscência do nascimento dela a partir do mar. Isto também representa o nascimento de Galateia, logo como mulher adulta. Nesta cena, que é fortemente evocativa da A Criação de Adão por Michelangelo no teto da Capela Sistina, a deusa traz cor e sensualidade ao estúdio austero de Pigmaleão e como que ampara a hesitante Galateia.[9] As cortinas coloridas que envolvem sugestivamente uma coluna trabalhada na esquerda não constam das outras imagens da série.[10]

Esta terceira pintura da série, A Divindade Dá Vida, demonstra o poder divino quando a deusa dá o sopro da vida. Sustentada numa nuvem de pombas e rosas, Afrodite ampara Galateia enquanto esta desperta ainda confusa. Metade mulher e metade estátua, os seus braços procuram apoio estando em transformação, enquanto os pés ainda estão colados ao pedestal sobre o qual foi criada.[11]

Pigmaleão e a Imagem IV: A Alma Conseguiu (The Soul Attains) editar

 
A Alma Conseguiu (The Soul Attains, 1878), 2ª Série, 99.4 cm x 76.6 cm, BM&AG

Quando regressa a casa, Pigmaleão descobre que a sua estátua ganhou vida e ajoelha-se a seus pés.

Em A Alma Conseguiu, Burne-Jones representa a etapa final da lenda estando Pigmaleão ajoelhado em adoração diante da sua mulher acabada de se tornar realidade. Ela estende as mãos para ele, mas não o olha diretamente, mantendo uma expressão pensativa. Característico de muitas das mulheres de Burne-Jones, e das mulheres da pintura dos Pré-Rafaelistas, o seu olhar expressa um sentimento de mistério e de espiritualidade. É como se ela ainda não compreendesse a sua razão de ser e o que o seu criador conseguiu alcançar.[7]

Outras séries de Burne-Jones editar

Burne-Jones criou outras séries de pinturas, nelas se incluindoː

  • O Mito de Perseu (em inglês: The Perseus Cycle ) (1875-90s) constituido por quatro pinturas a óleo sobre tela e dez estudos a guache (incluindo os que deram origem às pinturas a óleo), pintados entre 1875 e a década de 1890, através dos quais representa a história mitológica de Perseu, estando as pinturas a óleo na Galeria Municipal de Estugarda, e os estudos a guache na Galeria Municipal de Arte de Southampton.

Ver também editar

Galeria editar

Pigmaleão e Galateia (primeira série)

Pigmaleão e a Imagem (segunda série)

Referências editar

  1. A Série Pigmaleão no BM&AG, [1]
  2. William Morris, Pygmalion and the Image, incluido em O Paraíso Terrestre (The Earthly Paradise), 1868-70, acessível no sítio Victorianweb, [2], e no Gutenberg Project, [3]
  3. Nota sobre a Série na victorianweb, [4]
  4. http://www.victorianweb.org/painting/bj/paintings/hikim7.html
  5. A primeira série foi pintada quando Burne-Jones teve um caso com a sua aluna e também pintora Maria Zambaco. Burne-Jones que estava casado com Georgiana Burne-Joneʂ deixou-se apaixonar pelo seu modelo e musa, o que lhe provocou um conflito interno violento. Ver também a biografia do artista no sítio do BM&AG, [5]
  6. Birmingham Museu & Art Gallery, [6]
  7. a b http://www.victorianweb.org/painting/bj/paintings/hikim7.html
  8. Nota na Victorianweb sobre o quaro, http://www.victorianweb.org/painting/bj/paintings/hikim7.html
  9. S. Wildman, Edward Burne-Jones: Victorian Artist-Dreamer, Yale University Press (1998), passim.
  10. O BM&AG tem também uma fotogravura deste quadro, de uma carteira em couro com 91 fotogravuras de pinturas originais. A gravura está assinada pelo filho de Burne-Jones, Philip. Cf.[7]
  11. http://www.victorianweb.org/painting/bj/paintings/hikim7.html

Bibliografia editar

  • Essaka, J., Pygmalion and Galatea: The History of a Narrative in English Literature, Ashgate, 2001.
  • Gross, K., The Dream of the Moving Statue, Cornell University Press. 1992, (Uma ampla pesquisa de "estátuas vivas" na literatura e nas artes).
  • MacCarthy, F., The Last Pre-Raphaelite: Edward Burne-Jones and the Victorian Imagination, Faber and Faber (2011).
  • Parry, Linda (ed.), William Morris, Abrams (1996).
  • Wildman, Stephen: Edward Burne-Jones: Victorian Artist-Dreamer, Metropolitan Museum of Art, 1998, ISBN 0-87099-859-5, [8]
  • Wood, Christopher (1981), Pre-Raphaelites, Londres: Weidenfeld and Nicolson, p. 119.
  • Wood, Christopher, Burne-Jones, Phoenix Illustrated (1997).

Ligações externas editar

 
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