Preexistência de Cristo

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A preexistência de Cristo se refere à doutrina da existência pessoal ou ontológica de Cristo antes de sua concepção. Uma das passagens relevantes da Bíblia sobre o assunto é João 1:1–18, onde, na visão trinitária, Cristo é identificado como a hipóstase divina preexistente chamada Logos ou Verbo. Porém, outros pontos de vista não trinitários questionam a preexistência pessoal ou a sua divindade ou ambos.

Jesus no Jardim do Éden, um evento anterior à encarnação;
O Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, no Museu do Prado, em Madri.

Esta doutrina é reiterada em João 17:5, em que Jesus se refere à glória que ele tinha com o Pai "antes que houvesse mundo" durante o seu discurso final.[1] João 17:24 também se refere ao Pai amando Jesus "antes da fundação do mundo".[1]

Crença trinitária

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 Mais informações : Logos
 
A criação do homem, no teto da capela sistina. (Gn 1:26)

O conceito da preexistência de Cristo é um ponto central da doutrina da cristologia. A crença trinitária explora a natureza da preexistência de Cristo como a hipóstase divina chamada Logos ou Verbo, descrita em João 1:1–18, que começa assim:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele.
 

Este Ente é também chamado de Deus Filho ou Segunda Pessoa da Trindade. O teólogo Bernard Ramm nota que "Tem sido o ensinamento padrão na cristologia histórica que o Logos, o Filho, existiam antes da encarnação. Esta existência do Filho antes da encarnação tem sido chamada de preexistência de Cristo.".[2] Outros aspectos desta cristologia exploram a encarnação deste Ente divino como o homem Jesus. Nas palavras do credo niceno, Cristo "desceu dos céus e se encarnou". Alguns cristãos acreditam que Deus Filho "esvaziou-se" (veja Filipenses 2:7) de seus atributos divinos para se tornar um homem, num processo chamado kenosis, tese rejeitada por outros.[3]

Douglas McCready, em sua análise e defesa da preexistência de Cristo, nota que ainda que ela "seja tomada como fato pela maior parte dos cristãos ortodoxos,[4] e assim foi desde os tempos do Novo Testamento",[5] durante o século passado esta doutrina tem sido cada vez mais contestada por teólogos e acadêmicos menos ortodoxos.[5]

 
Abraão e os Três Anjos (aquarela de 1896 a 1902 de James Tissot)

James D.G. Dunn, em seu livro Christology in the Making,[6] examina o desenvolvimento desta doutrina durante o cristianismo primitivo,[7] notando que era "indisputável" que em João 1:1–18 "o Verbo era preexistente e Cristo é o Verbo preexistente encarnado",[7] mas seguindo na exploração de possíveis fontes para os conceitos expressados ali, como as obras de Fílon.

Quando a Trindade aparece representada na arte cristã, o Logos é por vezes mostrado de uma forma que lembra o homem Jesus (em representações do Jardim do Éden, demonstra uma encarnação ainda por vir). Algumas vezes se distingue o Logos pela barba, "que lhe permite parecer antigo, mesmo preexistente".[8]

Alguns autores veem na obra "Contra Marcião" (cap. 21), de Tertuliano, uma aparição de Cristo preexistente na fornalha, como alguém que é "como o filho do homem (mas ele ainda não é realmente o filho do homem)".[9] A identificação de aparições específicas de Cristo é cada vez mais comum na literatura evangélica de 1990 em diante. Como exemplo, em Alpha Teach Yourself the Bible in 24 Hours, W. Terry Whalin afirma que a quarta pessoa na fornalha é Cristo e que "estas aparições de Cristo no Antigo Testamento são chamadas de 'teofanias' ("aparições de Deus")".[10] É importante ficar claro que este não é o uso mais comum da palavra teofania. O Mormonismo ensina a preexistência de Cristo como sendo a primeira e a maior entre os espíritos-filhos,[11] o que não deixa de manter a crença na trindade, porém como seres distintos e não uniforme como a maioria da cristandade.

Crença não trinitária

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A luta de Jacó com o Anjo, de Paul Baudry (1853)

É possível aceitar a preexistência de Cristo sem aceitar a sua divindade completa no sentido trinitário. Por exemplo, é provável que Ário e a maior parte dos primeiros defensores do arianismo aceitassem a preexistência de Cristo da mesma forma,[12] Michael Servetus, ainda que negando a doutrina da Trindade como ela é classicamente formulada, aceitou a preexistência pessoal de Cristo.[13]

Hoje em dia, diversas denominações não trinitárias também compartilham a crença em alguma forma de preexistência de Cristo, inclusive as Testemunhas de Jeová e a Igreja Adventista do Sétimo Dia (estes são trinitários) que identificam Jesus com o Arcanjo Miguel. No caso das Testemunhas de Jeová,[14] João 1:1–18 é interpretado trocando a forma "o Verbo era Deus" para "o Verbo era um deus" em sua tradução da Bíblia.[15] John Locke e Isaac Newton parecem ter mantido uma crença na preexistência de Cristo apesar de rejeitarem a Trindade.[16] Ainda outros afirmam que Isaac Newton não acreditava na preexistência.[17] Isso é especulado.

Pentecostais do Nome de Jesus

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Pentecostais do Nome de Jesus são cristãos pentecostais não trinitários que não aceitam a preexistência de Cristo como sendo distinta da de Deus Pai, acreditando que antes da encarnação apenas "o atemporal Espírito de Deus (o Pai)" existia.[18] Depois disso, Deus "residiu simultaneamente como um Espírito atemporal e dentro do Filho do Homem na Terra.".[18]

Mesmo que os Pentecostais do Nome de Jesus aceitem que "Cristo é a mesma pessoa que Deus",[18] eles também acreditam que o Filho nasceu, o que significa que ele teve um começo.[18] Em outras palavras, "os crentes entendem que o termo [Filho] se aplica a Deus apenas após a encarnação".[19] Eles foram,[20] consequentemente,[21] descritos como tendo uma doutrina unitarista distinta e de negarem a preexistência de Cristo.[22] Porém,[23] alguns membros do movimento negam esta interpretação de suas crenças[24].

Negação da doutrina

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Por toda a história existiram grupos e indivíduos que acreditavam que a existência de Jesus começou quando ele foi concebido. Os que negavam a preexistência de Cristo podem ser divididos em duas grandes correntes, de acordo com a crença no nascimento virginal de Jesus.

Os Cristadelfianos, por exemplo, negam que Jesus tenha preexistido no Céu. Eles afirmam que, segundo a Bíblia, há um entendimento equivocado a cerca da origem de Jesus. Afirmam que Jesus nunca existiu até o seu nascimento por meio de Maria. Afirmam que ele seria a personificação carnal das promessas de Deus. Após a sua morte ele ganhou a imortalidade e só então passou a viver ao lado de Deus nos céus.

Os que de alguma forma aceitam o nascimento virginal

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Entre estes estão os socinianos e os primeiros unitaristas como John Biddle e Nathaniel Lardner.[25] Hoje em dia,[26] este ponto de vista é majoritariamente mantido pelos cristadelfianos.[27] Estes grupos tipicamente consideram que Cristo foi previsto (profetizado) no Antigo Testamento,[28] mas ele não existia ainda.[29]

Os que negam o nascimento virginal

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Entre eles estão os ebionitas e os unitaristas posteriores, como Joseph Priestley,[30][31][32], Thomas Jefferson,[33][34], e também os modernos universalistas unitaristas. Este ponto de vista é geralmente descrito como adocionismo e, no século XIX, foi também chamado de psilantropismo. Samuel Taylor Coleridge se descreveu como tendo sido psilantropista um dia, acreditando que Jesus era "o verdadeiro filho de José".[35] Friedrich Schleiermacher,[36] também chamado de "pai do cristianismo liberal era um dos muitos teólogos alemães que abandonaram a ideia da preexistência pessoal e ontológica de Cristo, ensinando que "Cristo não era Deus, mas foi criado como um homem ideal e perfeito, cuja ausência de pecado constitui a sua divindade".[36] De forma similar, Albrecht Ritschl rejeitou a preexistência de Cristo, afirmando que Ele era o "Filho de Deus" apenas no sentido de que "Deus se revelou em Cristo"[36] e Cristo "realizou uma obra religiosa e ética que apenas Deus poderia ter feito".[36] Posteriormente, Rudolf Bultmann descreveu a preexistência de Cristo como "não apenas irracional, mas completamente sem sentido".[37]

Ver também

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Referências

  1. a b Creation and Christology by Masanobu Endo 2002 ISBN 3161477898 page 233
  2. Bernard L. Ramm, An Evangelical Christology: Ecumenic and Historic, 1983, reprinted by Regent College Publishing, 1993, ISBN 1573830089, p. 47.
  3. O papa Pio XII a condenou em 1951 na encíclica Sempiternus Rex Christus (disponível em inglês aqui. Da mesma forma, o teólogo protestante Wayne Grudem nega esta crença em sua obra Systematic Theology (Inter-Varsity Press, 1994, ISBN 0-85110-652-8, pp. 549–552).
  4. Douglas McCready. He Came Down From Heaven: The Preexistence of Christ and the Christian Faith. Downers Grove: InterVarsity, 2005.
  5. a b McCready, p. 11.
  6. James D. G. Dunn, Christology in the Making: A New Testament inquiry into the origins of the doctrine of the Incarnation, 2nd ed, Eerdmans, 1996, ISBN 0802842577.
  7. a b Dunn, p. 239.
  8. Heidi J. Hornik and Mikeal Carl Parsons, Interpreting Christian Art: Reflections on Christian art, Mercer University Press, 2003, ISBN 0865548501, pp. 34–35.
  9. Robert, Rev. A. The Ante-nicene Fathers: the Writings of the Fathers Down to A.d. 325 p381
  10. W. Terry Whalin Alpha Teach Yourself the Bible in 24 Hours Page 119
  11. McConkie, Bruce R. The Millenial Messiah. Bookcraft 1982 p165.
  12. Hastings, J. Encyclopedia of Religion and Ethics Part 2, Part 2‎ p.785 2003 -"Arius and all his disciples acknowledged the preexistence of our Lord"
  13. Carl Theophilus Odhner, Michael Servetus, His Life and Teachings‎, 1910 (reprinted 2009 by BiblioBazaar, LLC), p77
  14. Norman Geisler and Ron Rhodes, Conviction Without Compromise: Standing Strong in the Core Beliefs of the Christian Faith, Harvest House Publishers, 2008, ISBN 0736922202, p. 55.
  15. «New World Translation.». Consultado em 8 de agosto de 2011. Arquivado do original em 5 de agosto de 2012 
  16. John Marshall, Locke, Socinianism, "Socinianism", and Unitarianism, from p. 111 in M. A. Stewart (editor), English Philosophy in the Age of Locke (2000),
  17. Maurice F. Wiles, Archetypal Heresy: Arianism through the centuries, Oxford University Press, 1996, ISBN 0198269277, p. 83.
  18. a b c d The Incarnation at ApostolicTheology.com (Oneness Pentecostal theological website), accessed 27 May 2010.
  19. Jason Dulle, The Oneness/Trinity Debate--Areas of Agreement and Disagreement.
  20. W. David Buschart, Exploring Protestant Traditions: An invitation to theological hospitality, InterVarsity Press, 2006, ISBN 083082832X, p. 239: "Oneness Pentecostals affirm a christologically unitarian understanding of God."
  21. Douglas Gordon Jacobsen, A Reader in Pentecostal Theology: Voices from the first generation, Indiana University Press, 2006, ISBN 0253218624, p. 14: "many Jesus-only pentecostals began to champion a decidedly unitarian, or oneness, view of the Godhead."
  22. Richard G. Kyle, The Religious Fringe: A history of alternative religions in America, InterVarsity Press, 1993, ISBN 0830817662, p. 164: "They deny the preexistence of Christ."
  23. John Ankerberg and John Weldon, Encyclopedia of Cults and New Religions: Jehovah's Witnesses, Mormonism, Mind Sciences, Baha'i, Zen, Unitarianism, Harvest House Publishers, 1999, ISBN 0736900748, pp. 366-387
  24. Mark. W. Bassett, Answering Gregory Boyd's "Sharing Your Faith with a Oneness Pentecostal", accessed 27 May 2010
  25. Stanford Encyclopedia of Philosophy: Trinity > Unitarianism.
  26. J. Biddle A Twofold Catechism Arquivado em 12 de junho de 2011, no Wayback Machine., chap. 4
  27. Lardner N. Letter on the Logos (1759) in The works of Nathaniel Lardner in five volumes, Volume 5, p. 380-3. Online, p. 82-3)
  28. Alan Hayward, Did Jesus Really Come Down from Heaven?, pamphlet from the Christadelphian Auxiliary Lecturing Society, 1975.
  29. Tennant, H. Christ in the Old Testament Arquivado em 30 de agosto de 2010, no Wayback Machine., CMPA, Birmingham 1996
  30. Joseph Priestley An history of early opinions concerning Jesus Christ 1786 Vol3‎ Chapter 3 "Of the Conduct of our Saviour himself, with respect to his own supposed Pre-existence and Divinity." p64. The Corruptions of Christianity
  31. Sanford, Charles B. The religious life of Thomas Jefferson 1984 p112.
  32. Priestley, J., 1791c [1783], A General View of the Arguments for the Unity of God; and against the Divinity and Pre-Existence of Christ; from Reason, from the Scriptures, and from History, in Tracts. Printed and Published by the Unitarian Society for Promoting Christian Knowledge and the Practice of Virtue. Vol. 1, London: The Unitarian Society, pp. 179–214. [Reprint: in Three Tracts by Joseph Priestley, Morrisville, North Carolina: Lulu.com, 2007.]
  33. Smith, Gary Scott Faith and the presidency: from George Washington to George W. Bush 2006 p463
  34. Steven Waldman Founding faith: providence, politics, and the birth of religious freedom in America 2008 p72
  35. Samuel Taylor Coleridge, Biographia Literaria, Vol. I (1817), chapter 10: [1]. Ele mudou de opinião posteriormente (chapter 24): [2]
  36. a b c d Robert Paul Lightner, Handbook of Evangelical Theology: A historical, Biblical, and contemporary survey and review, Kregel Publications, 1995, ISBN 082543145X, pp. 74–75.
  37. Rudolf Bultmann, "New Testament and Mythology," in Craig A. Evans (ed), The Historical Jesus: Critical Concepts in Religious Studies, Volume 1, Routledge, 2004, ISBN 0415327512, p. 328.