Renata Cilene Martins (São Paulo, 12 de janeiro de 1978), conhecida como Renata Martins, é uma autora, diretora, roteirista, produtora cultural, educadora e cineasta brasileira premiada nacional e internacionalmente. Criadora da premiada websérie Empoderadas, e organizou o livro Empoderadas - Narrativas Incontidas no Audiovisual Brasileiro lançado em 2021, como um dos muitos desdobramentos do projeto da websérie.

É roteirista da série Pedro e Bianca, ganhadora dos Prêmios Emmy Internacional, Prix Jeunesse Ibero-americano e Internacional. Compôs a equipe de roteiro da novela Malhação - Viva a Diferença, TV Globo, ganhadora do Prêmio ABRA de Roteiro, Troféu UOL, Prix Jeunesse Internacional e do Prêmio Emmy Internacional, em 2018. Dirigiu e roteirizou os premiados curtas-metragens Aquém das Nuvens, que foi exibido em mais de dez países; e Sem Asas - Melhor curta de ficção na 19ª Edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, melhor roteiro na 4ª edição do Prêmio ABRA de Roteiro e melhor roteiro no FRAPA - Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre dentre outros.

Em 2022 foi uma das cineastas negras e negros homenageados na edição comemorativa de 15 anos do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul.

Biografia editar

Renata Martins nasceu na Zona Leste, região periférica de São Paulo. Filha de Maria do Rosário Martins e José Elói Martins, é a caçula de quatro irmãos. Neta por parte paterna de de Natividade Procópio Ferreira Martins e Antônio Afonso Martins, e por parte materna, de Geralda da Glória da Silva com José Lativo da Silva[1], cresceu rodeada pela família no bairro de Itaquera e desde a infância era apaixonada por ouvir e contar histórias: "Entre papéis, tintas e lápis de cor, desde a infância gostava de ouvir e contar histórias, as noites passadas com luzes apagadas ao som da peça radiofônica “Jonathan Gaivota” ficaram marcadas em sua memória. Outro ritual constante dessa época era “ir para a cidade”51 de transporte público com sua tia e madrinha, Tatida, para assistir aos lançamentos no cinema do centro de São Paulo e depois lanchar no Mcdonald’s. Nas telas do cinema assistia aos filmes da Xuxa e dos Trapalhões, e em casa a Sessão da Tarde e os filmes de VHS eram bons companheiros"[2].

Durante a juventude, teve como meta o ingresso na universidade, e para alcançar o objetivo começou a trabalhar e estudar num cursinho no Butantã. Sonhava já em fazer cinema, mas quase desistiu do curso: “Conversando com um professor de história amigo meu, eu disse que se eu tivesse dinheiro eu faria cinema. Na USP a nota de corte era maior do que medicina e tinha na FAAP, muito cara. Eram as duas únicas universidades que tinham a formação (...) E esse professor de história viu e praticamente me inscreveu. Eu tinha colocado geografia ou sociais na PUC, publicidade no Mackenzie, e o Prouni ia acabar amanhã. Ele viu e era esse sistema que dava para alternar. E quando eu passei, foi ele que soube, que veio me falar. Então tem essa história do Carlão, Carlos Machado, professor de história”[3]

Formação editar

Por meio do sistema de políticas afirmativas, Renata ingressou no curso de Comunicação Social com habilitação em cinema da Universidade Anhembi Morumbi, em 2005 e, a partir dessa vivência na universidade, iniciou uma reflexão sobre identidade, gênero, raça e classe no audiovisual brasileiro: "Não foi com essa clareza ancestral que entrei na faculdade, mas foi lá que comecei a questionar a minha existência quanto a ser mulher negra, periférica e futura cineasta"[1].

Já nos primeiros semestres ao perguntar para um professor sobre quantas mulheres negras no cinema nacional, recebeu como resposta que, caso se formasse, talvez fosse uma das primeiras. O professor também mencionou o trabalho da cineasta Lilian Solá Santiago e da montadora Cristina Amaral, que na época estavam trabalhando no filme Família Alcântara, dirigido por Lilian e Daniel Solá Santiago. Por iniciativa prórpia, Renata enviou um email para Lilian, e assim acabou iniciando seu primeiro estágio na área.[3]

Essa inquietação que surgiu com os estudos sobre audiovisual se refletiu na sua escrita e olhar cinematográfico[4]; reverberando na sua carreira e também numa atuação política e intelectual ativa no mercado audiovisual: “Temos um desafio muito grande de onde queremos chegar, mas estamos caminhando. Nossos passos vêm de longe e eles já têm reverberado. Nossa presença aqui hoje já diz muito sobre isso”[5].

Já trabalhando no mercado audiovisualm 2012 ingressou na Pós-Graduação em Linguagens da Arte no Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo - USP.

Carreira editar

Ainda na faculdade, Renata Martins realizou dois curtas experimentais, Reificação (2007), premiado como Melhor curta-metragem experimental no 4º PUTZ! Festival Universitário de Cinema e Vídeo de Curitiba e selecionado para os festivais 1º Cara Mundo - 1º Festival de Cinema Brasileiro de Roterdã, 18º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo e Mostra do Filme Livre; e Margarida (2008), selecionado para o Festival de curtas-metragens em Madrid e para o Festival Curta.Com.

Em 2009, Renata foi contemplada com o prêmio estímulo para realizar seu primeiro curta-metragem profissional como diretora e roteirista, o Aquém das Nuvens, lançado em 2012. O filme foi premiado e selecionado em diversos festivais, chegando a ser exibido em mais de 10 países. Em paralelo, participou como assistente de direção dos documentais Sertão Progresso (2011) e Dia de Jerusa (2012).

Em 2012, Renata lançou seu segundo curta metragem como diretora e roteirista, o Sem Asas, protagonizado por Grace Passô, Kaik Pereira e Melvin Santhana. O filme também acumulou diversas seleções para festivais nacionais e internacionais, além de receber prêmios relevantes, como de Melhor Curta de Ficção no 19º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, Melhor Roteiro na 4ª Edição do Prêmio ABRA de Roteiro e melhor roteiro no Festival Internacional de Roteiro de Porto Alegre, dentre outros.

Como roteirista, em 2014 esteve na sala de desenvolvimento da série Pedro e Bianca, , ganhadora dos Prêmios Emmy Internacional e Prix Jeunesse Ibero-americano e Internacional. Nesse período a pergunta “onde estão as mulheres negras no audiovisual?”, que surgiu no início da faculdade, se tornou ainda mais pulsante.

Em 2013, coordenou o desenvolvimento da série de ficção Rua Nove contemplada pelo edital de desenvolvimento da Spcine. O projeto, realizado em parceria com o cineasta Renato Cândido, buscou mapear profissionais negras brasileiras no audiovisual e de responder o questionamento. A bíblia de Rua Nove e os primeiros tratamentos dos roteiros foram desenvolvidos por roteiristas e escritores negros.

Empoderadas editar

Influênciada por todas essas inquietações e buscando ampliar ainda mais a compreensão sobre o cinema feito por realizadores negras e negros no Brasil recente, criou a websérie documental Empoderadas. O projeto, que teve como objetivo ampliar a representatividade de mulheres negras diante e atrás das câmeras, contou ainda com mais 3 temporadas lançadas em 2016, 2017 e 2018. A cada episódio, a série documentou a história de mulheres negras das mais variadas áreas.

A primeira temporada da websérie foi co-criada em parceria com Joyce Prado. Lançada em 2015 no Youtube, contou com 14 episódios de cerca de 6 minutos, e chegou ao todo a mais de 1 milhão de visualizações. Também acumulou vários prêmios, entre eles o Prêmio Almerinda Farias e a Medalha Theodosina Ribeiro, ambos de 2016.

Renata foi curadora, produtora e diretora artística da primeira edição do projeto Gritem-me Negra!, ocupação cultural do Sesc Pompeia com performances artísticas e atividades que convidaram o público a refletir sobre temas como feminismo negro, ancestralidade afroindígena e questões raciais no Brasil[6]. Este evento foi desdobramento do projeto Empodaradas, e foi realizado em mais cinco edições.

O projeto Empoderadas também foi contemplado em vários editais nacionais e internacionais: Proac Culturas Negras, Fundo Elas, VAI - Valorização de Iniciativas Culturais e PROAC - difusão audiovisual. Esse último possibilitou a realização do 1º Encontro Nacional Empoderadas: Mulheres Negras no Audiovisual. O encontro foi composto por mulheres de vários estados do Brasil e por mesas temáticas, produção audiovisual e exibição. Por conta da grande repercussão, o Empoderadas se tornou um projeto educomunicativo, tanto de referência em questões de genêro e raça, quanto de formação audiovisual. Além disso, em 2021, foi lançado o livro "Empoderadas - Narrativas Incontidas no Audiovisual Brasileiro", com organização de Renata Martins como mais um dentre tantos desdobramentos do projeto.

Trabalhos mais recentes editar

Como roteirista, Renata escreveu ainda a série Cartas da Terra do Futuro, documental em 08 episódios que teve direção geral de Cristian Cancino.

Em 2018 foi roteirista colaboradora da novela Malhação - Viva a Diferença, TV Globo, ganhadora do Prêmio ABRA de Roteiro, Troféu UOL, Prix Jeunesse Internacional e do Prêmio Emmy Internacional, em 2018.

Atualmente desenvolve Poros, seu primeiro projeto de longa em parceria com a produtora RT FEATURES e projetos autorais na Rede Globo.

Mahin Produções editar

Renata também é sócia-proprietária da Mahin Produções Culturais e Audiovisuais, onde trabalha como roteirista, produtora executiva, curadora e diretora artística de projetos culturais como “Gritem-me negra”, “Boteco da Diversidade - Vidas Negras e Indígenas Importam”, “II Mostra SESC de Cinema” dentre outros. Fundada em 2016, a produtora tem o nome em homenagem a Luisa Mahin.

Filmografia editar

Cinema editar

Ano Título Função Nota
2007 Reificação Direção e Roteiro Videoarte/Experimental
2008 Margarida Direção e Roteiro Videoarte/Experimental
2011 Sertão Progresso Assistência de Direção Longa Metragem Documental
2012 Dia de Jerusa Assistência de Direção Curta Metragem
2012 Aquém das Nuvens Direção e Roteiro Curta Metragem
2015 Flores de Baobá Assistência de Direção Longa Metragem Documental
2019 Sem Asas Direção e Roteiro Curta Metragem
- Poros Roteiro Longa Metragem em Desenvolvimento

Televisão editar

Ano Título Função Nota
2014 Rua Nove Cordenadora e Roteirista Série - 02 episódios
2014 Pedro e Bianca Roteirista Série - 04 episódios
2017 Cartas da Terra do Futuro Roteirista Série Documental
2017 Malhação - Viva a Diferença Roteirista Colaboradora Telenovela - 213 capítulos

Web editar

Ano Título Função Nota
2015 Empoderadas Co-criação e Coordenação Geral do Projeto Temporada 1, 14 episódios
2016 Empoderadas Formato e Coordenação Geral do Projeto Temporada 2, 11 episódios
2017 Empoderadas do Samba Formato e Coordenação Geral do Projeto Temporada 3, 08 episódios
2018 Empoderadas Quilombolas Formato e Coordenação Geral do Projeto Temporada 4, 04 episódios

Referências editar

  1. a b MARTINS (org.), Renata (2021). Empoderadas: Narrativas Incontidas de mulheres negras. Ilustrado por Daisy Serena; Prefácio de Janaina Damaceno. São Paulo: Oralituras, Spcine, Mahin Produções. p. 165 
  2. Costa, Lygia Pereira dos Santos. «Direções do olhar: um estudo sobre as poéticas e técnicas de diretoras negras do cinema brasileiro». Consultado em 15 de novembro de 2022 
  3. a b Borges, Pedro (31 de Janeiro de 2018). «"Você talvez seja uma das primeiras mulheres negras a se formar em cin». Alma Preta Jornalismo. Consultado em 15 de novembro de 2022 
  4. PEREIRA, Lygia (2021). «"Quanto mais personagens negros eu criar e atribuir subjetividade melhor": Entrevista com Renata Martins». Verberenas, Vol. 7, nº 08, 2021. Consultado em 15 de novembro de 2022 
  5. MARTINS, Renata (16 de julho de 2022). «Especial Negritudes 22: Viva as Narrativas Pretas». Plataforma Gente - GLOBO. Consultado em 15 de novembro de 2022 
  6. «Gritem-me, Negra!: últimos dias do projeto que reúne mulheres negras e indígenas no Sesc - Todos Negros do Mundo». todosnegrosdomundo.com.br. 18 de novembro de 2016. Consultado em 16 de novembro de 2022