Rui Gomes da Silva, 1.º alcaide de Campo Maior

Fidalgo do século XV, pai de Santa Beatriz da Silva

Rui Gomes da Silva (c. 1391 - c. 1450)[1], 1.º Alcaide de Campo Maior e Ouguela na linhagem dos Silvas, foi um nobre português do século XV, que se distinguiu por serviços militares prestados em Ceuta e Tânger. É o pai de Santa Beatriz da Silva e do Beato Amadeu da Silva, duas figuras de relevo na história do catolicismo no século XV.

Rui Gomes da Silva
1.º Alcaide-mor de Campo Maior e Ouguela
Rui Gomes da Silva, 1.º alcaide de Campo Maior
Nascimento c. 1391
Morte 1450 (59 anos)
Pai Aires Gomes da Silva
Mãe Senhorinha Martins Redondo
Ocupação Fidalgo, Militar
 Nota: Se procura outros significados, veja Rui Gomes da Silva.

O cronista Rui de Pina, na sua "Crónica de El-rei D. Duarte", descreve-o como sendo "homem prudente e bom cavaleiro" tendo sido, por essas qualidades, enviado em 1436 pelo Infante D. Henrique ao Rei de Fez, a fim de negociar a retirada da expedição portuguesa a Tânger.[2]

Biografia editar

Pela sua linhagem paterna, era descendente de nobres e ricos-homens do noroeste da Península que já serviam no Reino de Leão no século X. Como a nobreza da sua casa e linhagem era mais antiga que a fundação do Reino de Portugal, diz-se que era de "nobreza imemorial".

Controvérsia sobre filiação editar

Segundo o Nobiliário do Conde D. Pedro seria filho primogênito de Aires Gomes da Silva, o Velho (c. 1298 - c. 1357), com Senhorinha Martins Redondo, e neto de Martim Gomes da Silva. Anselmo Braamcamp Freire, porém, baseado em considerações de ordem cronológica, duvida desta filiação - embora não a considere, rigorosamente, impossível - pois, nesta hipótese, Rui Gomes da Silva teria combatido em Tânger com perto de 90 anos de idade e falecido já quase centenário.[1]

O genealogista espanhol Salazar y Castro, escrevendo no ano de 1685, havia argumentado que Rui Gomes seria filho de um outro Aires Gomes da Silva, denominado o Grande, ou o Moço,[3] Alcaide do Castelo de Guimarães em 1385 (falecido pouco depois desta data) e primo direito do primeiro - mas estudiosos posteriores, incluindo o referido Anselmo Braamcamp Freire, escrevendo no século XX e Manuel Abranches de Soveral, escrevendo já no século XXI, consideram também implausível esta hipótese.

Para Abranches de Soveral, o mais provável será que Rui Gomes da Silva, Alcaide de Campo Maior, fosse neto - e não filho - de Aires Gomes da Silva, o Velho, através do filho primogênito deste, também chamado Rui Gomes da Silva, que aparece documentado em mercês régias que recebeu e atos jurídicos que praticou, respectivamente, nos anos de 1364 e 1404. Estaríamos, assim, perante mais uma instância de um "fenómeno usual em genealogia, de concentrar dois homónimos numa mesma pessoa".[4]

Carreira militar em Ceuta e Tânger editar

Participou na conquista de Ceuta, em 1415, sendo um dos capitães da armada que conquistou a praça. Por ordem de D. João I, foi um dos cavaleiros designados para lá ficar prestando serviço militar, em apoio a D. Pedro de Meneses, 1.º capitão-general de Ceuta e futuro 1.º Conde de Vila Real. Residiu assim em Ceuta, de forma ininterrupta, entre 1415 e 1434."[3]

 
O Castelo de Campo Maior, de que Rui Gomes da Silva foi Alcaide-mor, no Livro das Fortalezas de Duarte de Armas

Rui Gomes da Silva casou com Isabel de Meneses, filha natural do referido D. Pedro de Menezes, Conde de Vila Real, um dos primeiros homens da corte, sob as ordens do qual servira em Ceuta.

Foi armado cavaleiro, na mesma praça de Ceuta, em agosto de 1426, na defesa da mesma.[1]

Em 1433, era já membro do conselho do rei D. Duarte, que por carta de 8 de abril de 1435[5] o fez alcaide da vilas alentejanas fronteiriças de Campo Maior[6] e Ouguela, alcaidarias que haviam pertencido a Martim Afonso de Melo, entretanto falecido.[1]

Em 1436, como acima referido, Rui Gomes participou com os Infantes na malograda expedição a Tânger, tendo assumido papel de relevo nas negociações que permitiram a retirada da força expedicionária portuguesa, comandada pelo Infante D. Henrique, que se encontrava cercada.[2]

Os últimos documentos que se referem a Rui Gomes da Silva datam do final de 1449[5], sendo de presumir que terá falecido pouco depois dessa data.[7]

Casamento e descendência editar

Rui Gomes da Silva e Isabel de Menezes casaram em Ceuta no ano de 1418[8] ou, segundo outras fontes, a 13 de Novembro de 1422[9].

Do seu casamento deixou numerosa descendência, nomeadamente:[10]

Referências

  1. a b c d «Brasões da Sala de Sintra, Livro Segundo : Freire, Anselmo Braamcamp». pp. 15 – 18. Consultado em 13 de julho de 2020 
  2. a b Pina, Rui de. «Chronica de El-Rei D. Duarte, Porto, 1914 - Biblioteca Nacional Digital». purl.pt. p. 177 ["...o Ifante (...) enviou (...) a El Rey de Feez (...) Ruy Gomez da Silva, Alcayde Moor de Campo Mayor, por ser prudente e boõ Cavaleyro ..."]. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  3. a b Salazar y Castro, Luis de (1685). Historia genealogica de la casa de Silva. II Parte (em Spanish). National Central Library of Rome. Madrid: [s.n.] p. 10 
  4. «Casa da Trofa. Lemos. Genealogia - 'Lopo Dias de Azevedo e D. Joana Gomes da Silva'.». www.soveral.info. Consultado em 2 de dezembro de 2021 
  5. a b «Carta de confirmação de D. Afonso V de carta de doação a Rui Gomes da Silva, conselheiro régio e alcaide do castelo de Campo Maior, de todos os foros, rendas e direitos do dito lugar. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 13 de julho de 2020 
  6. Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p. 18
  7. Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit. pp. 18 - 19
  8. Salazar y Castro, op. cit., p. 10
  9. Breves Notas Sobre Dona Beatriz Da Silva E Isabel, A Católica: Duas Mulheres Em Projectos De Santidade E De Reforma Da Igreja Na Hispânia Quatrocentista (1424-1492), por Margarida Garcez Ventura, Universidade de Lisboa
  10. Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., pp. 19 - 20

Bibliografia editar

  • FREIRE, A. Braamcamp. Brasões da Sala de Sintra. Volume II.Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2ª edição. Lisboa, 1973
  • GAYO, Felgueiras. Nobiliário das Famílias de Portugal. Carvalhos de Basto, 2ª Edição. Braga, 1989