Rui Maggiolo Gouveia

Rui Alberto Maggiolo Gouveia († 7 de Dezembro de 1975 em Timor Português) foi um tenente-coronel das Forças Armadas Portuguesas em Timor e comandante da Policia de Segurança Publica (PSP) em Timor.

Antes de prestar serviço em Timor, Maggiolo Gouveia esteve em serviço de combate na guerra colonial em África.


Percurso militar

Nascido a 11 de Outubro de 1929 na freguesia urbana de Santa Maria e São Miguel, concelho de Sintra, filho de Maria Guilhermina Maggiolo Gouveia e de António Vicente Teixeira de Gouveia.

Em 24 de Outubro de 1949 ingressa na Escola do Exército, a fim de iniciar o curso de infantaria.

Em 6 de Junho de 1960, Capitão de Infantaria, tendo sido mobilizado pelo Batalhão de Caçadores 5 (BC5 - Campolide) para servir Portugal na Província Ultramarina de Angola, embarca em Lisboa no NTT 'Uíge' rumo a Luanda.

Em 18 de Março de 1962 regressa à Metrópole, ficando colocado no Batalhão de Transmissões 3 (BTm3) «UBIQUE» da Escola Prática de Engenharia (EPE – Tancos).

Em 12 de Maio de 1963, tendo sido mobilizado para 2ª comissão na Região Militar de Angola (RMA), embarca em Lisboa rumo a Luanda.

Em 20 de Março de 1965 regressa à Metrópole, ficando colocado no Regimento de Infantaria 2 (RI2 - Abrantes).

Em 23 de Janeiro de 1966, tendo sido mobilizado pelo Batalhão Independente de Infantaria 19 (BII19 - Funchal) para servir novamente em Angola, embarca rumo a Luanda a fim de comandar a Companhia de Caçadores 1522 (CCac1522).

Em 13 de Fevereiro de 1968 agraciado com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma. Em 7 de Abril do mesmo ano, regressa à Metrópole e ao Regimento de Infantaria 2 (RI2 - Abrantes). Em Setembro é promovido a Major por distinção.

Agraciado com a Medalha da Cruz de Guerra , colectiva, de 1.ª classe, pelo Decreto n.º 48621, publicado no Diário do Governo n.º 239/1968, Série I, de 10 de Outubro de 1968.

Em 16 de Abril de 1969, tendo sido mobilizado pelo Regimento de Infantaria 1 (RI1 - Amadora) para servir novamente na Região Militar de Angola (RMA), embarca em Lisboa no NTT 'Vera Cruz' rumo a Cabinda, como 2.º comandante do Batalhão de Caçadores 2871 (BCac2871). Em 7 de Julho de 1971 regressa ao RI1-Amadora Regimento GNR de Infantaria 1 (RI1 - Amadora).

Em 20 de Junho de 1973, encontrando-se colocado na Guarda Nacional Republicana (GNR), regressa ao Ministério do Exército por ter sido nomeado para servir Portugal na Província Ultramarina de Timor. Em 9 de Julho de 1973 agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis.

Em 1 de Dezembro de 1974, encontrando-se em Dili como comandante da Polícia de Segurança Pública (PSP), promovido a Tenente-Coronel. [1]


O golpe de 1975

A 11 de Agosto de 1975, a União Democrática Timorense (UDT) tentou tomar o poder na colónia para impedir a formação de um governo de esquerda da FRETILIN. O governador Mário Lemos Pires ameaçou então a UDT com o envio de pára-quedistas, mas a 12 de Agosto, Maggiolo Gouveia declarou através do emissor da Rádio Díli que se demitia da polícia e do exército e se juntava à UDT. [2]

"É para Sua Excelência o Governador, é para todos os camaradas militares, oficiais da mesma Escola, e Portugueses como eu, que falo. Respeito as ideias de todos os camaradas. Alguns poder-me-ão considerar traidor, mas um homem só é traidor quando trai a sua consciência. Eu não podia mais continuar a trair-me a mim próprio. Eu vou repetir, para aqueles que não ouviram, a minha mensagem, que é uma tomada de posição. "O ex-Comandante de Polícia de Segurança Pública de Timor comunica que aderiu ao movimento da U.D.T. depois de feito prisioneiro pelas forças operacionais daquele movimento. O Comandante da Polícia de Segurança Pública informa que aderiu completamente consciente, certo de que a sua atitude é a única digna como oficial do Exército Português que foi. A partir deste momento, eu confio-me aos timorenses e a Deus, e peço a todos os camaradas Portugueses, camaradas de armas, e àqueles que ainda são meus amigos, que saibam respeitar a minha família. Viva o Partido Socialista Português. Viva Portugal. Viva Timor. Falou-vos Rui Alberto Maggiolo Gouveia, ex-Tenente Coronel do Exército Português." - mensagem de Maggiolo Gouveia através da rádio [3]

A emissão terminou com cânticos de "Viva" para o Partido Socialista, Portugal e Timor. Mais tarde, diz-se que foi visto a arrastar uma bandeira da FRETILIN pela terra como troféu de guerra em Díli, o que provocou um grande ódio contra si por parte dos apoiantes da FRETILIN. No entanto, a UDT perdeu a guerra civil. Gouveia foi capturado pela FRETILIN no quartel-general militar em Taibesi, a 21 de Agosto.

Já na primeira semana de cativeiro, Maggiolo Gouveia foi chicoteado e testemunhas oculares relatam mais torturas. Testemunhas da Cruz Vermelha Internacional referem que Maggiolo Gouveia foi barbaramente espancado durante 3 meses, tendo nesse período entrado em coma muitas vezes. [4] Apesar disso, manteve as suas posições políticas. Quando os repórteres da RTP o visitaram no hospital de Lahane, declarou que "só o Partido Socialista e o General Spínola podem salvar Portugal". Mais tarde, mais quatro cartas chegaram à família através do Vaticano. [5]


Preso e morto pelos comunistas da FRETILIN

A 7 de Dezembro, no dia em que o exército indonésio começou a desembarcar na capital colonial de Díli, Maggiolo Gouveia, juntamente com 50 a 60 outros prisioneiros, foi morto a tiro por um pelotão de execução da FRETILIN na estrada que liga Aileu a Maubisse e enterrado numa vala comum. [6] Maggiolo Gouveia ajoelhou-se, rezou o terço e disse: "Morro por Timor, morro pela minha pátria e pela minha fé católica. Podem disparar". [7] Em Março de 1976, o bispo de Díli, José Joaquim Ribeiro, comunicou o triste acontecimento à esposa do militar por carta, em que declarava: ““neste vale de lágrimas”, deu a sua vida pela fé e pela Pátria, morreu como um autêntico cristão, como um homem inteiriço, como um militar da têmpera desses militares de antanho, que são o orgulho e exemplo da nossa gloriosa História”. [8]

Só em 1994 é que a FRETILIN assumiu a responsabilidade pelas vítimas. Anteriormente, tinha-se afirmado que os prisioneiros tinham sido deixados para trás quando a FRETILIN se retirou dos invasores indonésios.


Trasladação e homenagens

Em 2003, o seu corpo foi exumado e enterrado em Mação, Portugal. [9] Cristina Mendonça, um outro médico legista e o filho de Maggiolo, também médico, foram em 2003 a Timor para trazer os seus restos mortais. “Remexer naquilo foi muito complicado. A história é ainda sensível”, conta a médica. A equipa analisou vários corpos até identificar o português. Depois voltaram a enterrá-los. “Nem sequer àqueles que tínhamos analisado aceitaram que se fizesse algo. E eram todos mortos da mesma noite.[10]

As avaliações do comportamento de Maggiolo Gouveia no rescaldo do golpe da UDT variam. Muitos vêem Maggiolo Gouveia como um herói que não quis abandonar Timor a uma ameaça comunista. [11] No funeral de Maggiolo Gouveia, o Ministro da Defesa português, Paulo Portas, de direita e conservador, declarou que ele tinha lutado contra a "sovietização de Timor".

O concelho que viu Maggiolo Gouveia nascer, Sintra, Portugal, nomeou a Rua Tenente Coronel Maggiolo de Gouveia em sua homenagem. [12] O seu nome está ainda nas seguintes localidades: Marco de Canaveses (Travessa Tenente Coronel Maggiolo Gouveia e Rua Tenente Coronel Maggiolo Gouveia) e Porto Salvo (Rua Tenente Coronel Maggiolo Gouveia).

Referências