Saudade

sentimento
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Saudade é uma das palavras mais presentes na poesia de amor da língua portuguesa e da galega[1][2] e também na música popular.[3] "Saudade" descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim "solitatem" (solidão), passando pelo galego-português "soidade", que deu origem às formas arcaicas "soidade" e "soudade", que sob influência de "saúde" e "saudar" deram origem à palavra atual.

Saudade (1899), por Almeida Júnior.

No Brasil, o dia da saudade é comemorado oficialmente em 30 de janeiro.[4][5]

Etimologia

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O termo "saudade" provém da palavra latina "solitas", pela sua forma declinada "solitate(m)".[6][7] Passou ao galego-português como "soedade" > "soïdade"[8][9] que deu origem a "soidade" e "saudade" em língua galega,[10] "suidade" em língua mirandesa[11] e "soidade" / "soudade" em língua portuguesa.[7][9] Pensa-se que por influência de "saúde" e "saudar", surgiu a variante "saudade" que atualmente predomina em português.[6][9] O étimo latino foi produtivo em outras línguas românicas, por exemplo no castelhano "soledad", mas em nenhuma delas adquiriu o mesmo significado que na língua lusa.[9]

A origem etimológica das formas atuais "solidão", mais corrente e "solitude", forma poética, é o latim "solitudine" declinação de "solitudo, solitudinis", qualidade de "solus". Já os vocábulos "saúde, saudar, saudação, salutar, saludar" provêm da família "salute", "salutatione", "salutate", por vezes, dependendo do contexto, sinônimos de "salvar, salva, salvação" oriundos de "salvare, salvatione".[carece de fontes?]

Na formação do termo "saudade", o vocábulo sofreu uma interfluência entre o estado de estar só, sentir-se solitário - oriundo de "solitarius" que por sua vez advém de "solitas, solitatis", possuidora da forma declinada "solitate(m)", e a associação com o ato de receber e acalentar este sentimento traduzido com os termos oriundos de "salute e salutate", que na transição do latim para o português sofrem uma síncope e perde a letra interna l, simplesmente abandonada, enquanto o t não desaparece, mas passa a ser sonorizado como um d.[carece de fontes?]

No caso das formas verbais, existe a apócope do e final. O termo saudade acabou por gerar derivados como a qualidade do "saudosismo" e seu adjetivo "saudosista" - apegado a ideias, usos, costumes passados, ou até mesmo aos princípios de um regime político decaído, e o termo adjetivo de forte carga semântica emocional, "saudoso" - que é aquele que produz o sentimento de saudade, podendo ser utilizado para entes falecidos, ou para substantivos abstratos como em "os saudosos tempos da mocidade", ou, ainda, não referente ao produtor, mas aquele que sente e que dá mostras de saudades.[carece de fontes?]

Intraduzível

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Existe um mito multissecular segundo o qual a palavra 'saudade' só existe na língua portuguesa e como tal não tem vocábulos equivalentes em outras línguas, impossibilitando uma correta tradução. Contudo, isso não é verdade.[9] A teoria ganhou renovada popularidade quando a empresa britânica Today Translations promoveu uma listagem das palavras mais difíceis de traduzir adequadamente, com as opiniões de mil tradutores profissionais, onde "saudade" granjeou o sétimo lugar.[12] Isto acontece, segundo Carolina Michaëlis por ser uma palavra corrente, indissociável da cultura portuguesa e com um significado complexo:

“[Saudade é a] lembrança de se haver gozado em tempos passados, que não voltam mais; a pena de não gozar no presente, ou de só gozar na lembrança; e o desejo e a esperança de no futuro tornar ao estado antigo de felicidade.”[9]
 
Carolina Michaëlis, "A Saudade Portuguesa".

Como já referido na Etimologia, a língua galega e a mirandesa, possuem variações do mesmo vocábulo.[9] No cabo-verdiano, uma língua crioula cuja base lexical é o Português, existe a palavra "sodade" que também se espalhou pelo mundo, pela voz de Cesária Évora.[13] Afora todos os sinônimos de melancolia ou nostalgia, a procura de termos equivalentes ou apenas semelhantes noutras línguas tem agrupado os vocábulos seguintes:

Saudade e razão

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A saudade é típica dos mamíferos sociais: ocorre entre semelhantes, como em tantos primatas, como na afeição dedicada ao homem no caso do cão. A saudade sugere a observação do conhecimento fundado na "imitação do outro" (como no caso do pássaro que transmite melodias de uma geração para outra com fidelidade) e está "... permanentemente sob a ação de vozes internas, impregnados de palavras, constantemente submetidos a discursos mentais cuja textura linguística é impressa por nossos pais quando aprendemos a falar".[19]

A distância, ou afastamento de quem se ama pode provocar efeitos psicológicos no organismo e desencadear reações que vão da sensação de angústia até o desenvolvimento de um quadro depressivo.[20]

Em 2009, estudos e experiências de separação em animais e humanos exibiram resultados que "indicam uma ligação específica entre separação e aumento do cortisol" e sugerem a possibilidade de desenvolver-se uma droga que promova o bloqueio do hormônio causador da saudade e ajude as pessoas durante a separação ou ausência do objeto de amor.[20]

A expressão "matar a saudade" (ou "matar saudades") é usada para designar o desaparecimento (mesmo temporário) desse sentimento. É possível "matar a saudade" relembrando, vendo fotos ou vídeos antigos, conversando sobre o assunto, reencontrando a pessoa que estava longe etc. "Mandar saudades", por exemplo no sul de Portugal, significa o mesmo que mandar cumprimentos.

A saudade pode gerar sentimento de angústia, insatisfação, nostalgia e tristeza, e quando "matamos a saudade" geralmente sentimos alegria.

Em Portugal, o Fado, oriundo do latim "fatum", destino, está diretamente associado com este sentimento. Do mesmo modo, a sodade cabo-verdiana está intimamente ligada ao gênero musical da morna. No Brasil, esse sentimento está muito retratado no samba de fossa e na bossa nova.

Em Portugal, o termo também é usado para descrever a sensação de " simplesmente estou muito bem na minha vidinha e de repente sou trucidado com qualquer coisa que vejo, ouço ou cheiro e te põem à minha frente".

Em galego, além do termo saudade, existe o próximo "morrinha", que em português é igualmente associado à chuva miudinha ou à doença animal.


Referências

  1. «"Saudade", unha palabra galega única no mundo». Galicia Confidencial. Consultado em 11 de maio de 2022 
  2. «Dicionario». Real Academia Galega (em galego). Consultado em 11 de maio de 2022 
  3. Nascimento, A. R. A. & Martins, A. S. (2009). A saudade amorosa na canção brasileira: um estudo exploratório (1927- 1964). Psicologia Argumento, 27, 161-173.
  4. Dia da Saudade, Dias Comemorativos, Porto Web (web de Porto Alegre)
  5. Dia da Saudade - 30 de Janeiro, Brasil Escola
  6. a b «saudade (Verbete Original e Verbete Atualizado)». Dicionário Caldas Aulete (Aulete Digital). F(orma) lat(ina) Solitas, solitatia, que deu soedade, soidade, suidade, com infl(uência) de saudar. 
  7. a b «soidade». Dicionários Porto Editora (Infopédia) 
  8. «soidade». Dicionario de dicionarios do galego medieval 
  9. a b c d e f g h i j Michaëlis, Carolina (1914). A Saudade Portuguesa. Porto: Renascença Portuguesa 
  10. «soidade». Dicionario da Real Academia Galega 
  11. «suidade». Dicionário da Língua Mirandesa (Dicionairo) 
  12. Saudade "é a 7ª palavra mais difícil de traduzir", Londres: BBC, 2004 junho 23.
  13. Magalhães, Chissana (14 de dezembro de 2016). «Cabo Verde nas bocas do mundo». Expresso das Ilhas (785) 
  14. a b c Williams, Richard (7 de novembro de 2014). «From bop to żal: how jazz became the voice of freedom in Poland». The Guardian 
  15. a b c d e Boleman-Herring, Elizabeth (15 de julho de 2016). «At A Loss: Last Words». The Huffington Post 
  16. Adams, Tim (9 de novembro de 2014). «Look back in joy: the power of nostalgia». The Guardian 
  17. Mansfield, Greer (setembro de 2011). «Notes on hiraeth: the work of Jan Morris». Bookslut 
  18. «Como expressar saudade em japonês? - Suki Desu». Suki Desu. 28 de dezembro de 2016 
  19. Revista Viver Mente&Cérebro - "O corpo da saudade" por Sidarta Ribeiropágina 26.
  20. a b Revista Mente e Cérebro - "Por que dói tanto ficar longe de quem amamos?" (Acesso em 01 de Julho de 2012)
 
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