Sunrise: A Song of Two Humans
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Sunrise - A Song of Two Humans é um filme mudo de 1927, o primeiro dirigido por F. W. Murnau em Hollywood.[1] Seu roteiro foi adaptado a partir do conto Viagem a Tilsit, do escritor alemão Herrman Suderman, embora nele possam ser inegavelmente encontrados vários elementos do romance Uma história americana, de Theodore Dreiser, lançado dois anos antes e o sucesso comercial literário daquela época nos Estados Unidos.
Sunrise - A Song of Two Humans | |
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Cartaz promocional | |
![]() 1927 • p&b • 95 min | |
Direção | F. W. Murnau |
Produção | Fox Film Corporation |
Roteiro | Carl Mayer |
Elenco | Janet Gaynor George O'Brien Margaret Livingston |
Gênero | drama romântico |
Música | Hugo Riesenfeld |
Cinematografia | Charles Rosher Karl Struss |
Estreia | 4 de novembro de 1927 |
Idioma | inglês (intertítulos) |
Um dos mais importantes filmes da cinematografia mundial, e o até então mais caro lançado pela Fox Film Corporation, Aurora foi laureado com três Oscar em 1929. Recebeu, em 1989, a classificação de significância histórica, estética e cultural pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos[2] e foi selecionado para preservação pelo British Film Institute.[3] Numa pesquisa feita entre críticos para este mesmo instituto, Aurora foi considerado o sétimo maior filme da história do cinema, ao lado de O encouraçado Potemkin, do cineasta soviético Sergei Eisenstein.[4] Em 1967, a revista Cahiers du Cinéma escolheu Aurora como "a maior obra-prima da história do cinema".[5]
SinopseEditar
Durante as férias de verão, uma excursão vinda da cidade chega a um bucólico vilarejo situado às margens de um lago. Fazia parte dessa excursão uma mulher que, semanas após todos regressarem à cidade, permaneceu no vilarejo porque havia se tornado amante de um fazendeiro.
Numa noite, a mulher da cidade se encontra com o fazendeiro. Em meio a beijos, ela pede a seu amante que venda a fazenda e que venha a viver com ela na cidade. Eles, então, tramam matar a esposa dele afogada, simulando um acidente.
Na manhã seguinte, o fazendeiro convida sua esposa para um passeio de barco. Durante o passeio, ele parte, ameaçadoramente, em direção a ela. A esposa, percebendo a real intenção de seu marido, se coloca em posição de clemência. Ele, então, desiste de matá-la e rema até a margem.
Em terra, a esposa foge e entra num bonde, seguida pelo marido. Chegam à cidade e logo entram em uma igreja onde está sendo celebrada uma cerimônia de casamento. As palavras do padre parecem dirigidas a eles, o que os leva à reconciliação.
Saem para passear. Primeiro chegam a um salão de beleza, depois tiram uma fotografia e, por fim, entram em um parque de diversões.
Enquanto isso, a mulher da cidade, que ficou no vilarejo, marca, na seção de classificados de um jornal, uma nota de alguém que anuncia interesse em comprar fazendas à vista.
O casal, ainda no parque de diversões, após capturar um porquinho fugitivo, baila Dança Camponesa, um dos nove movimentos compostos por Felix Mendelssohn como música incidental para a peça teatral Sonhos de uma noite de verão, do dramaturgo William Shakespeare.
O casal toma um bonde até o lago e inicia o regresso a casa em um barco.
Uma forte tempestade cai e agita as águas do lago. Quando o barco começa a balançar violentamente, o marido amarra no corpo de sua esposa dois feixes de seixos, para que, no caso de ela ser lançada na água, possa usá-los como boia.
A tempestade aumenta e o barco vira. Ao cessar a chuva, o marido consegue atingir a terra firme, ileso, mas não encontra sua esposa. Todos do vilarejo saem em seus barcos para auxiliar o fazendeiro desesperado na busca pela esposa, porém tudo com o que se deparam são os seixos espalhados, boiando sozinhos na superfície do lago.
Toda essa tentativa de resgate é assistida de longe pela mulher da cidade, que pensa tratar-se da concretização do plano que ela tramou em conjunto com o fazendeiro.
O fazendeiro chega amargurado em casa, onde é chamado pela mulher da cidade. Ele a persegue e, alcançando-a, começa a agredi-la. É interrompido pelos gritos de uma empregada que lhe avisa que sua esposa fora encontrada viva, boiando agarrada a um dos feixes de seixos.
Na aurora do dia seguinte, a mulher da cidade vai embora do vilarejo, enquanto o casal, ao lado de seu filho lactente, se beija apaixonadamente.
ElencoEditar
- George O'Brien - fazendeiro
- Janet Gaynor - esposa
- Margaret Livingston – mulher da cidade
- Bodil Rosing – empregada do fazendeiro
- Gibson Gowland – motorista raivoso que retira o casal da rua
- Gino Corrado – gerente do salão de beleza
- Ralph Sipperly - barbeiro
- Jane Winton - manicure
- Arthur Housman – homem importuno no salão de beleza
- J. Farrell MacDonald - fotógrafo
- Barry Norton - dançarino
- Sidney Bracey – diretor do salão de baile
- Sally Eilers – mulher no salão de baile
- Phillips Smalley – garçom
- Fletcher Henderson – músico
- Eddie Boland
- Clarence Wilson
- Bob Kortman
- Harry Semels
EstiloEditar
Depois do grande sucesso comercial e artístico de A última gargalhada, o diretor alemão F. W. Murnau foi convidado para trabalhar em Hollywood pelo produtor William Fox, sob contrato com a Fox Film Corporation. O produtor da Fox pretendia colocar à disposição de Murnau todos os melhores recursos humanos, técnicos e financeiros do estúdio para que ele rodasse um filme americano com a estética do cinema expressionista alemão, que usava uma direção de arte distorcida como efeito simbólico.
O roteiro de Carl Mayer foi desenvolvido com base nos romances de formação, gênero tipicamente alemão em que o protagonista, por meio da análise das consequências de uma série de erros por ele cometidos, atinge a maturidade de sua personalidade humana.
O resultado foi um filme que trata da infidelidade, do arrependimento e do progressivo retorno à realidade que o personagem havia abandonado, tudo conduzido por um do jogo sublime de imagens filmadas em enormes e exagerados cenários estilizados, brilhantemente trabalhado por Rochus Gliese. Essa nova perspectiva estética da cinematografia muda, executada primorosamente por Charles Rosher e Karl Struss, dispensava o uso de intertítulos, os quais eram substituídos por poderosas imagens que despertavam ideias e sensações no espectador, tornando a história intelingível, mesmo sem som. Para ampliação da realização artística, também foi utilizada uma trilha sonora revolucionária para a época.
LocaçõesEditar
O vilarejo foi construído às margens do lago Arrowhead, localizado na Floresta Nacional de San Bernadino, a cerca de 160 km de Los Angeles. As tomadas do barco foram feitas no lago Big Bear.
A praça da cidade foi montada em um terreno da Fox Film Corporation, em Beverly Hills.
Os ambientes internos foram rodados no estúdio endereçado a 1401 N. Western Avenue, Hollywood, Los Angeles.[6]
PremiaçõesEditar
OscarEditar
Venceu:
- Oscar de melhor produção cinematográfica única e artística, prêmio nunca mais concedido novamente, uma espécie de consolação pelo segundo lugar na disputa pelo Oscar de melhor filme laureado a Asas, de William A. Wellman
- Melhor Atriz – Janet Gaynor, por sua atuação em Aurora, O anjo da rua e Sétimo Céu
- Melhor Cinematografia - Charles Rosher e Karl Struss.
Indicado:
- Melhor direção de arte - Rochus Gliese
Kinema Junpo AwardsEditar
- Melhor filme em língua estrangeira – F. W. Murnau
LegadoEditar
Aurora é um das obras cinematográficas mais admiradas e influentes de todos os tempos.[carece de fontes] Dentre os cineasta que o têm como seu filme favorito, estão John Ford, que o considerou "o maior filme alguma vez já produzido";[carece de fontes] o cineasta francês François Truffaut, que o elegeu o "filme mais belo do mundo";[carece de fontes] João César Monteiro, cineasta português, por sua vez, o listou entre os dez filmes de sua vida;[7] já Martin Scorsese classifica Aurora não como um filme, e sim como um "poema visual".[8]
Sua influência se estende por um sem-número de filmes. A cena do beijo do casal que interrompe o trânsito foi copiada à exaustão, com muitas variações.
Outra passagem marcante é a que ocorre na igreja, quando o casal, ao presenciar uma cerimônia de casamento alheia, recupera sua identidade matrimonial. Esse mesmo trecho existe em Assim caminha a humanidade, filme estado-unidense de 1956, dirigido por George Stevens.
Seus efeitos especiais eram inovadores para a época. A reexposição do filme a novos takes, com o objetivo de formar imagens soprepostas, e o efeito Schüfftan, que emprega espelhos para inserir a imagem de atores em cenários em miniatura, ambos também utilizados no ano anterior por Fritz Lang em sua obra-prima Metrópolis, abriram muitas possibilidades para o cinema mundial, permitindo a exploração de temas antes inalcançáveis.
A iluminação contrastante, técnica trazida do cinema expressionista alemão, enfatizando a distinção claro-escuro, foi usada para destacar as diferenças entre a vida no vilarejo e na cidade e a dicotomia entre a amorosa esposa e a tentadora amante. Esse refinamento proporcionado pela técnica de iluminação e a personagem femme fatale, encarnada pela diabólica mulher da cidade, foram características presentes em quase todas as obras cinematográficas do gênero film noir, cujo protótipo é O falcão maltês, dirigido em 1941 por John Huston.
Talvez sua maior herança artística sejam seus avançados movimentos de câmera, cuja elaboração começou na rodagem de A última gargalhada, três anos antes. A sofisticada fluidez da sucessão de imagens cria uma inusual sensação de vastidão e profundidade.
Filmes notáveis sofreram forte influência dessa técnica cinematográfica primorosa, como O delator, rodado em 1935 por John Ford, e Cidadão Kane, filmado em 1941 por Orson Welles.
Aurora foi a primeira grande produção cinematográfica com som ambiente sincronizado, captado pelo sistema Fox Movietone, o qual já havia sido testado naquele mesmo ano no curta-metragem They're coming to get me. Também foi o primeiro a ter trilha musical incorporada, composta por Hugo Riesenfeld. Essas novidades sonoras de Aurora teriam igualmente feito escola, não tivesse seu lançamento ocorrido poucos dias antes de O cantor de jazz, do estúdio Warner Bros., o primeiro filme da história que, graças ao sistema Vitaphone, possuía todas as falas e cantos sincronizados, os quais eram gravados separadamente das imagens em um disco de acetato.
Exibições comerciaisEditar
A première de Aurora ocorreu em Nova Iorque no dia 23 de setembro de 1927. Sua estreia se deu em 4 de novembro de 1927, na cidade de Los Angeles. Ainda em 1927, em 17 de novembro, o filme chegaria a Berlim. Nos dois anos seguintes, cópias de Aurora seriam distribuídas por vários países europeus.
Em Portugal, o filme entrou em cartaz no dia 14 de fevereiro de 1929, na cidade de Lisboa, e foi relançado em 10 de maio de 1965, em 30 de outubro de 2005, também em Lisboa, e em 20 de janeiro de 2008, em Leiria.
O filme somente teve sua primeira exibição pública em cinema brasileiro no dia 19 de outubro de 2008, por ocasião da Programação Poemas Visionários: O Cinema de F. W. Murnau, ocorrida no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro em homenagem aos 120 anos de nascimento do diretor alemão.[9]
Referências
- ↑ LLOYD, Ann. 70 years at the movies: from silent films to today’s screen hits. Nova Iorque, EUA: Crescent Books, 1988.
- ↑ «Lista de filmes selecionados pelo National Film Registry, da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos». Loc.gov
- ↑ «Lista dos filmes preservados pelo British Film Institute» (PDF) (em inglês). Bfi.org.uk
- ↑ «Resultado da votação dos críticos de cinema no saite Sight and Sound» (em inglês). Bfi.org.uk
- ↑ «Artigo do roteirista R. Dixon Smith.» (em inglês). Eurekavideo.co.uk
- ↑ EISNER, Lotte. Murnau: shadows book. S.I., EUA: University of California Press, 1973.
- ↑ «Artigo no jornal A Página da Educação». Apagina.pt
- ↑ SCORSESE, Martin; WILSON, Michael Henry. A personal journey with Martin Scorsese through American movies, documentário. S.I., Reino Unido / E.U.A.: British Film Institute / Miramax Films, 1995, 225 min.
- ↑ «Programação Poemas Visionários: O Cinema de F. W. Murnau.» (em alemão). Goethe.de