Amazofuturismo

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Amazofuturismo (Amazônico + futurismo) é um subgênero da ficção científica cujo enfoque é o domínio de tecnologia avançada pelos índios da selva amazônica. Tem por objetivo explorar as possibilidades de tecnologias, conhecidas ou não, dentro do contexto social, cultural e mitológico dos povos indígenas da Amazônia. O termo foi criado em 2019 pelo ilustrador brasileiro João Queiroz e se expandiu para a literatura, em primeiro lugar, por meio de autores brasileiros[1]. O subgênero surge, portanto, da junção entre a cultura indígena da Região Norte do Brasil com o solarpunk. De acordo com João Queiroz, essa amalgama surgiu da seguinte maneira: “criei um simples retrato de três-quartos de uma moça com feições indígenas e elementos robóticos. Por pura curiosidade e impulso. Logo em seguida, conheci o solarpunk, um movimento que busca pensar em um futuro sustentável para a humanidade. As ideias se casaram. E o amazofuturismo nasceu.[2]


Características

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O Amazofuturismo possui características próprias que combinam a cultura e a estética das diferentes tribos amazônicas com tecnologias limpas e ecologicamente corretas. Para o escritor Rogério Pietro, o Amazofuturismo enquanto literatura apresenta quatro características fundamentais que o diferenciam de outros gêneros.

Primeiro. Ele deve envolver os índios da selva amazônica, justificando o nome do subgênero;

Segundo. A tecnologia dever ser futurística e inovadora, e não se prender apenas a tecnologias já existentes em outros povos; do contrário, seria apenas uma descaracterização da cultura indígena, e não amazofuturismo;

Terceiro. A tecnologia amazofuturista deve estar em harmonia com a natureza, sem agredi-la. Se a tecnologia avançada prejudicar a natureza, o conceito deixa de ser amazofuturismo e passa a ser amazopunk.

Quarto. Os índios devem ser os protagonistas, ou seja, a visão de mundo deve tê-los como ponto de vista. Afinal, histórias com sociedades avançadas perdidas na selva, sempre analisadas do ponto de vista do explorador europeu, americano ou brasileiro já existiam muito antes do Amazofuturismo[3].

Literatura

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O Amazofuturismo tem suas raízes nas antigas lendas dos povos indígenas das Américas. Um exemplo clássico disso é a fantástica Eldorado, uma cidade maravilhosa supostamente coberta de ouro. Os conquistadores espanhóis e portugueses, ao terem contato com tais lendas, absorveram a ideia de alguma civilização grandiosa perdida na selva. A partir disso, o imaginário ampliou as lendas, influenciando escritores e cineastas.

No Brasil, o escritor Augusto Emílio Zaluar publicou no jornal O Globo as histórias fantásticas de O Doutor Benignus em 1875. Ali já é possível ver a semente da ideia de uma civilização avançada e perdida em algum lugar do país. Também Arthur Conan Doyle escreveu em 1912 O Mundo Perdido, uma aventura que se passa na Amazônia. Jerônymo Monteiro, considerado o pai da ficção científica brasileira, publicou A cidade perdida em 1948, em que a ideia de uma civilização avançada e escondida nas selvas brasileiras está presente. Gastão Cruls foi outro que trabalhou o tema em seu livro Amazônia misteriosa (1925). Esses são alguns exemplos de literatura que carrega a ideia do amazofuturismo em forma de embrião[4].

Com o surgimento do neologismo, nasceu também uma ideia mais ampla e definida do que é o amazofuturismo. As cidades exóticas e misteriosas perdidas na selva, recorrentes nas expressões artísticas pré-amazofuturísticas, deixam de ser lendas maravilhosas e passam a ser o cenário onde os protagonistas – os índios – ganham espaço para se expressar. Surge em 2020 a coletânea de contos chamada Encantarias: Histórias de uma Amazônia futurista, publicada pelo Coletivo Visagem. O livro é composto por seis contos e um posfácio escrito pelo próprio João Queiroz, criador do movimento amazofuturista[5].

Em 2021, o escritor Rogério Pietro publicou o livro Amazofuturismo unindo os elementos do futurismo amazônico com antagonistas steampunk e alicerçando as bases do novo gênero literário[6].

O Amazofuturismo enquanto subgênero da ficção científica, portanto, nasceu das próprias lendas indígenas da Amazônia pré-descobrimento. Porém, ele se consolidou enquanto estilo visual, cultural e literário somente a partir do novo ponto de vista adotado pelos artistas que o desenvolveram.

Referências

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  1. Dutra, Mari (11 de março de 2020). «Amazofuturismo imagina um futuro indígena e cyberpunk». Hypeness (em inglês). Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  2. «Livro Encantarias conta história sobre folclore e ficção científica.». portalnortedenoticias.com.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  3. «Amazofuturismo». Rogério Pietro. 26 de janeiro de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  4. «O sonho do Eldorado amazônico». revistapesquisa.fapesp.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  5. «Livro gratuito e acessível sobre folclore e ficção científica é lançado por escritores nortistas». Portal de Notícias D24am - Amazonas. 30 de dezembro de 2020. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  6. «AMAZOFUTURISMO | Subgênero da ficção científica ganha seu primeiro romance por Rogério Pietro». 3 de fevereiro de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2021