Usuário(a):Giovanna Bronze/Testes

João Batista da Costa editar

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João Batista da Costa
Nascimento 24 de novembro de 1865

Itaguaí

Morte 20 de abril de 1926 (60 anos)

Cidade do Rio de Janeiro

Cidadania Brasil
Alma mater Academia Julian
Ocupação professor, pintor, desenhista
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Casa e Capela de Antônio Raposo Tavares em Quitauna, Osasco. Pintura de João Batista da Costa (Museu do Ipiranga, São Paulo).

João Batista da Costa (Itaguaí, 24 de novembro de 1865Rio de Janeiro, 20 de abril de 1926) foi um pintor, desenhista, professor e ilustrador brasileiro.

Biografia editar

Filho de Francisco José da Costa e Emília da Costa, o pintor nasceu pobre e ficou órfão aos 8 anos de idade[1]. Ele passou um tempo morando com parentes, mas não conseguiu se adaptar e decidiu fugir para o Rio de Janeiro em 1873[1]. João Batista passou então a viver no Asilo de Menores Desamparados, onde aprendeu música, encadernação e desenho[1].

Sua formação artística começou em 1877[1], quando começou a estudar desenho com Antônio de Souza Lobo.[1] Ao perceber a aptidão do menino, Lobo estimulou João Batista da Costa a continuar a estudar artes[1]. Em 1885, com o apoio de Ambrósio Leitão da Cunha, o barão de Mamoré, Batista da Costa ingressou em 1885 na Academia Imperial de Belas Artes[1], onde foi aluno de Zeferino da Costa, com quem aprendeu pintura. Depois, foi aluno de Rodolfo Amoedo[1], de quem continuou a assistir as aulas até se formar em 1889[1].

Durante seu período de aula na Academia, Batista foi vivendo o processo de transição que a escola estava sofrendo[1]. De uma orientação que se baseava no neoclassicismo, o aluno agora entrava no mundo da arte realista[1]. Esse processo é considerado um reflexo da mudança que estava acontecendo no Brasil no momento[1], que transitava do Segundo Reinado para a República[1] - e da Academia Internacional de Belas Artes para a Escola Nacional de Belas Artes[1].

Suas pinturas, então, passar a tratar temas menos rebuscados e pomposos[1],

Em 1894, ele recebeu o prêmio de viagem ao exterior na 1ª Exposição Geral de Belas Artes[1]. Depois, mudou-se para a França em 1896[1], onde assistiu aulas de pintura de Tony-Robert Fleury e Jules Joseph Lefebvre na Académie Julian[1].

Durante sua temporada na Europa, Batista da Costa aproveita para conhecer a Alemanha e a Itália.[1] Ele retornar ao Brasil em 1898, após perder sua primeira esposa.[1]

De volta ao Brasil, ele passa a expor anualmente nos salões nacionais.[1] Em 1900, recebe a medalha de segunda classe; quatro anos depois, recebe a de primeira classe, em 1904, e a grande medalha de ouro em 1908.[1]

Em 1906, seu trabalho elimina os personagens e passa a se dedicar inteiramente a paisagens.[1]

Em 1906, se tornou professor da Escola Nacional de Belas Artes, substituindo Rodolfo Amoedo na cadeira de pintura. Batista da Costa teve alunos como Candido Portinari, Orlando Teruz e Quirino Campofiorito.[1] De 1915 até 1926[1], o artista assumiu a direção da Escola Nacional de Belas Artes[1].

Retornando ao Brasil em 1898, expôs na Casa Postal, no Rio de Janeiro, apresentando a sua produção européia. Em 1900, ganhou medalha de ouro de segunda classe na Exposição Geral de Belas Artes. Em 1904, recebeu a medalha de ouro de primeira classe com o quadro Fim de jornada.

Casou no Rio de Janeiro, em 23 de setembro de 1905 com Noêmi Gonçalves Cruz, filha do Bento Gonçalves Cruz, irmã do médico e sanitarista Osvaldo Cruz. O casal teve quatro filhos.

Academia de Belas Artes editar

Os pintores e artistas eram agraciados com medalhas e prêmios no Salão da Belas Artes.[2] As exposições no salão costumavam ser concorridas entre os artistas.[2]

Em 1915, por causa da crise política econômica resultada pela Primeira Guerra Mundial, poucos artistas frequentaram o salão da Academia de Belas Artes, onde eram entregadas as medalhas e prêmios de viagem.[2]

Na Escola, ocorreu mudança na direção. Em 1906, ele é convidado pela Academia Internacional de Belas Artes a substituir Rodolf Amoedo na coordenação do ateliê de pintura[1] De 1915 até 1926[1], João Batista assumiu a direção da Escola Nacional de Belas Artes[1], substituindo Rodolpho Bernardelli[2].

Em solidariedade ao antigo diretor, muitos artistas pararam de participar do salão.[2]

João Batista da Costa deveria ter ficado no posto até 1918, mas sua gestão acabou se prolongando até 1926, ano de sua morte.[3]

Prêmio de Viagem nas Exposições da Belas Artes editar

Os Prêmios de Viagem da Escola Nacional de Belas Artes eram entregues por concursos internos realizados dentro da academia.[3] Durante a República, no entanto, a premiação não ficou restrita as competições dentro da escola.[3] Ele participou da Exposição Geral de Belas Artes em 1890[1]. Em 1894, João Batista da Costa foi o primeiro a receber o prêmio de Viagem, com sua tela Em repouso, a qual foi premiada por apresentar "o tipo brasileiro, o caipira" (VALLE). [3] Na pintura, é dada mais espaço ao ambiente, demonstrando o interesse paisagista do pintor.[1]

Primeira Exposição Brasileira de Belas-Artes editar

A primeira exposição brasileira feita pela Academia de Belas Artes de São Paulo reuniu artistas de todo o Brasil[2], incluindo os pintores paulistas que estavam em Paris na época.[2] Artistas como Nicola Bayeaux, Antônio Perreiras, Pedro Weingartner, Lucílio e Georgina Albuquerque e Henrique Bernardelli enviaram seus trabalhos.[2]

A exposição foi dividida em quatro setores[2]: pintura, escultura, arquitetura e arte decorativa. A mostra foi inaugurada no dia 24 de dezembro de 1911 às 14h, no andar superior do Liceu de Artes e Ofícios[2]. A inauguração recebeu recebeu personalidades políticas da época[2]. A primeira sala era dedicada a arquitetura, seguida pela sala das pinturas, com obras de 67 expositores[2].

João Batista da Costa foi do Rio de Janeiro à São Paulo para a inauguração da exposição, assim como Lucílio e Georgina de Albuquerque, Fernandes Machado, Virgílio Maurício e Artur Timóteo da Costa.

A exposição foi um sucesso, resultando na venda de vários quadros logo no primeiro dia.[2] O público também recebeu bem a mostra da Academia de Belas Artes, com o número de visitantes chegando a 400 pessoas diariamente, fazendo com que a exposição prorrogasse a hora de fechamento das salas.[2] A sociedade paulista também frequentou a exposição, fazendo dela um evento social que tomou as páginas dos jornais. O Estado de S. Paulo dedicou quase todos os dias uma coluna em referência à mostra; os outros jornais, no entanto, não dedicavam espaço à ela, principalmente os do Rio de Janeiro.[2]

O sucesso na inauguração, no entanto, não se deu ao longo dos outros dias da exposição.[2] A crítica também não ajudou: produziu apenas elogios genéricos. As vendas acabaram não sendo muitas, o que, de acordo com a imprensa da época, é porque uma exposição espanhola acontecia no mesma época e outras que aconteceram um pouco antes da Exposição de Belas Artes, acabaram por saturar o mercado de arte de São Paulo, que era fraco.[2]

Das artes vendidas, 90% eram de paisagens[2]. O governo do Estado adquiriu o quadro Quaresmas, de Batista da Costa, assim como a Velha Figueira, de Maria Luísa de Camargo.[2]

Durante a Exposição, João Batista da Costa vendeu mais sete obras.[2]

Segunda Exposição Brasileira de Belas-Artes 1912 - 1913 editar

Já na Segunda Exposição Brasileira de Belas Artes, participaram 54 pintores e 9 escultures.[2] O crítico João Paulo aponto a "ausência de obras-primas" na exposição[2].

Na mostra, haviam quadros de Antônio Parreiras, Carlo de Servi, Eliseu Visconti, Enrico Vio (cuja obra A Mãe hoje se encontra na Pinacoteca), Nicola Bayeux, Rodolpho Amoedo, Dario Barbosa, Oscar Pereira da Silva, Alfredo Andersen e Gustavo Kopp.[2]

As obras de paisagens e com temas marítimos ocupavam a maior parte da exposição, com a maioria dos artistas exibindo quadros com essas temáticas. Durante a exposição, Batista da Costa foi considerado o "pintor da verdura", por conta das paisagens verdejantes que apresentou na mostra[2].

Neste ano, assim como no anterior, a exposição não recebeu ajuda do governo e foi fruto da iniciativa privada.[2]

Embora a ideia fosse que a exposição se tornasse anual, também de modo a incentivar os artistas, ela não aconteceu.[2] As salas do Liceu foram ocupadas pela Exposição da Arte Francesa, fazendo com que a possibilidade de manter anualmente uma mostra da Academia de Belas Artes fosse anulada.[2]

Exposição Brasileira de Belas Artes 1916 editar

A exposição realizada em 1916 coincidiu com a comemoração do centenário do ensino artístico no Brasil. Na mostra, foram exibidos quadros que artistas já tinham colocado em mostras anteriores ou em estabelecimentos comerciais.[2]

João Batista foi o organizador da exposição, da qual participaram Carlos Oswald, Hélios Seelinger, Lucílio e Georgina de Albuquerque, Rocco, Enrico Vio, Paulo Valle Jr., Beatriz Pompeu Camargo e Helena Pereira da Silva.[2]

Não participaram desta edição os cariocas Visconti, Amoedo, Belmiro de Almeida e H. Bernardelli.[2]

Em uma crítica, Otávio Filho lamentou a qualidade dos trabalhos expostos, mas elogiou os irmãos Timótheo, Carlos Oswald, Levino Fanzeres e Batista da Costa.[2] Classificou Batista como o grande intérprete da nossa natureza[2], ao contrário de João Luso, em quem tinha notado anteriormente a impossibilidade de perfeição ou a preocupação com a "verdade absoluta", anteriormente mencionada por Monteiro Lobato.[2]

Obras compradas e expostas em galerias editar

Além da obra Quaresmas, que foi adquirida pelo governo do Estado[2], outras obras de João Batista da Costa foram compradas para serem expostas em galerias.

Galeria Jorge editar

Um de seus quadros foi comprado pela Galeria Jorge, a segunda galera especializada em obras de arte, inaugurada no dia 20 de dezembro de 1923 por Jorge Sousa Freitas[2].

A Jorge ficava na rua São Bento, sendo uma filial da galeria já existente no Rio de Janeiro.[2] Ela se tornou uma das mais importantes do ramo, sendo o único local com obras nacionais e internacionais para os colecionadores paulistas[2] Além das obras de João Batista da Costa, a galeria também matinha obras de Visconti, Rodolpho Amoedo, dos portugueses Silva Porto, Sousa Pinto, Carlos Reis, dos franceses Chabas, E. Maxence, Zien, Yarz, Prévot-Valery, Allaume, Geoggrey e outros pintores espanhóis e italianos.[2]

A Galeria Jorge também era considerada um ponto de encontro entre os amadores da pintura de São Paulo.[2] Quando surgiu, na época, que a galeria seria fechada, o público reclamou e protestou contra o fechamento temporário da Jorge. A casa costumava fazer de duas a três grandes exposições por ano, cada uma com mais de 150 quadros.[2]

A galeria trazia regularmente pintores cariocas para São Paulo, assim como mostrava obras de estrangeiros e viajantes que passassem pela capital paulista.[2] Mantinha uma mostra quase imutável de obras de Batista da Costa, Edgar Parreiras, Aníbal de Matos, Garcia Bento, Pedro Bruno, Hans Paap, João Reis, Theodoro Braga, Levino Franzeres, Henrique Cavalheiro, Carlos Oswald e A. Luiz de Freitas.[2]

Museu do Ipiranga editar

Em 1882, foi apresentado o projeto do Museu Paulista, que depois se tornaria o Museu do Ipiranga. Somente em 1884 o projeto foi aprovado, e a construção, que foi iniciada em 1885, ficou parada entre 1890 e 1894. Em 1894, mesmo que ainda estivesse inacabada, sem portas e janelas.[2]

Muitos artistas contribuíram para o acervo do Museu, incluindo João Batista, que ofereceu vários quadros de paisagens.[2]


Alunos editar

Entre os alunos que aprenderam pintura e desenho com João Batista da Costa, se destaca Paulo Fonseca, que, após uma viagem à Europa, expôs suas obras em São Paulo, em 1926.[2]



  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae Enciclopédia Itaú Cultura: João Batista da Costa.
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ak al am an ao ap aq ar as Pintores paisagistas: São Paulo, 1890 a 1920. TARASANTCHI, Ruth Sprung. Páginas: 43; 52; 56; 66; 384
  3. a b c d VALLE, Arthur Gomes. A pintura da Escola Nacional de Belas Artes na 1ª República (1890-1930): da formação do artista aos seus modos estilísticos. Março, 2007


Giovanna Bronze/Testes

Referências






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O trabalho do ano passado tá tão lindo que estou com dó de apagar

 
Retrato da Baronesa de Vassouras, Museu Imperial

Augusto (August) Müller (Baden, Alemanha, 1815Rio de Janeiro, 1883) foi um pintor e professor de artes alemão radicado no Brasil.[1]

Aluno e posteriormente professor da Academia Imperial de Belas Artes[2], dentre suas obras conservadas pelo Museu Nacional de Belas Artes destacam-se os trabalhos: Jugurta na Prisão, Retrato de um mestre de Sumaca e o Retrato de Grandjean de Montigny[3]. Museu Imperial possui o retrato da Baronesa de Vassouras e diversas obras de paisagem do artista, como Rio de Janeiro visto da Ilha das Cobras.[3]

Biografia editar

 
Rio de Janeiro Visto da Ilha das Cobras

Imigrante alemão, e irmão do pintor Guilher Mïller, chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1820, juntamente com seu pai. Matriculou-se em 1829 na Academia Imperial de Belas Artes, tendo sido um destacado discípulo de Debret.[1]

Premiado na exposição de alunos de 1834, Muller foi, no ano seguinte, nomeado professor substituto, por concurso, da cadeira de Paisagem,[1] recebendo o título definitivo em setembro de 1851, com a aposentadoria de Félix-Emile Taunay.

Lecionou até 1860 na Academia, mas pouco afeito ao que considerava mediocridade do ambiente cultural em que vivia, foi se retraindo, até que abandonou de todo a pintura. Entre seus discípulos, figurou Antônio Araújo de Sousa Lobo.[1]

Müller é considerado um dos principais pintores paisagistas da época, além de ter tido um papel significativo na Academia Imperial de Belas Artes.[4]

Nas palavras dos críticos:

"Sem nunca ter saído do país, foi o mais notável artista da sua geração e um dos mais notáveis artistas brasileiros. (...) De uma feita, endereçando-lhe Porto-Alegre, então diretor, algumas reflexões acerca do seu programa de ensino, apresentado à Congregação em sessão de 29 de outubro de 1855, lhe respondera desta forma: 'Sou artista - as economias obtidas na exibição de meus trabalhos assegurarão-me de a muito. Sou professor -a preferibilidade conseguida num concurso, afirmou-me: Devo ser respeitado: - esse tríplice quesito garante semelhante invulnerabilidade. . . 'Os nossos artistas devem ser americanos'. É assim que se exprime o Sr. Diretor sobre meu programa. Ora, porque os discípulos copiem quadros europeus para entrar na mescla das tintas, não obsta a que se nacionalizem na arte; os princípios elementares da arte têm uma só pátria, e essa é o mundo: e para refutar esta proposição, basta-me apontar o Sr. Motta que, não só estudou a paisagem na Europa, como também principiou pelo sistema rotineiro, e no entanto é artista americano e pinta o nosso país com verdade!!!'" FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. 1983.[5]

Embora nem todos tenham uma visão totalmente positiva da arte acadêmica no Brasil no século XIX:

"Na sua constituição artística são flagrantes os efeitos dos ensinamentos da Academia, que desviava os alunos da observação direta da vida brasileira, subtraía-os às influências do meio, ministrando-lhes uma concepção estética convencional. Muller foi um artista. (...) Portanto, se a sua educação artística tivesse sido orientada no sentido realista da vida, o seu pincel seguro teria deixado obras de valor refletindo o ambiente brasileiro. Mas a educação acadêmica prevaleceu. E a sua palheta, rica de colorido, ao invés de fixar tipos ou costumes locais, se diverte em composições da história antiga: JURUTA NA PRISÃO, RETRATO DE UM MESTRE DE SUMACA. Temperamento concentrado e altivo, a incompreensão do meio prostrou-o em um ceticismo desalentador, no qual sucumbiu, com a alma confrangida pela indiferença dos contemporâneos". REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. 1944.[6]

Academia de Belas Artes editar

A Academia de Belas Artes tem, então, não apenas um papel fundamental para o desenvolvimento artístico de August Müller, mas também para diversos dos artistas contemporâneos do pintor alemão.[7]

O Império Brasileiro, durante o Segundo Reinado, destacou-se por investir em criar uma imagem nacional, o que planejava construir com a atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e com a Academia Imperial de Belas Artes. Ambas ficaram encarregadas em dar uma nova cara para a monarquia brasileira.[7]

Como o Rio de Janeiro era considerada a metrópole do Segundo Reinado, ele acabou por se tornar o polo artístico do país na época, unindo a Academia Imperial de Belas Artes, a Corte e o patrocínio de Dom Pedro II, o que permitia o estudo e desenvolvimento das artes no Brasil. A Academia polarizava o movimento artístico brasileiro na época através do ensino acadêmico, suas exposições e sua colaboração com o governo.[2]

O surgimento da escola de artes deve-se, em grande parte, à Missão Artística Francesa, a qual surgiu em torno de 1815. Com a chegada alguns dos idealizadores e participantes da missão francesa no Brasil, foi feito o decreto de 12 de agosto de 1816, o qual estabeleceu a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que depois se tornou Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura, em 1820; por fim, foi nomeada Academia das Artes, em 23 de novembro do mesmo ano por conta de outro decreto. Após a queda da monarquia no país, a escola de artes recebeu o nome oficial de Escola de Belas Artes.[2]

Nicolas-Antoine Taunay é considerado o símbolo da Missão Artística de 1816.[2] Taunay teria deixado a França após a queda de Napoleão pois ele, como bonapartista, achou a situação de seu país insustentável. Após passagem por Portugal, o pintor francês optou por escolher o Brasil para sua estadia. Outras fontes afirmam que Joachin Lebreton, por ser o chefe da Missão Artística Francesa e fundador do Louvre, teria iniciado a missão também no Brasil, ao desembarcar no Rio de Janeiro em 26 de março de 1816, juntamente com Tunay e com Jean Baptiste Debret, o arquiteto Grandjean de Montigny e o escultor Auguste-Marie Tauney, irmão de Nicolas-Antoine.[2]

Mas o foco volta para Nicolas-Antoine Tunay: o parisiense dedicou-se à paisagem e se tornou um dos artistas favoritos de Napoleão. Suas habilidades para retratar as cenas ao ar livre se tornaram um dos exponentes para o trabalho paisagista realizado na Academia Imperial de Belas Artes, o qual August Müller iria posteriormente se inspirar[2], embora o principal motivo que tenha levado a escola artística dedicar grande parte do ensino de paisagem ao nacionalismo.[7] Baseando-se na literatura que se formava no Brasil, a qual focava na formação de identidade nacional, a produção iconográfica da época, como diz Lilia Schwarcz:

"(...) ficção e dos novos épicos de cunho oficial, que, por sua vez, servem de pretexto para as grandes telas dos pintores acadêmicos, que também selecionam a natureza como marca de originalidade. Dessa maneira a arte surge como “mapa unificador, tratado descritivo, paisagem útil” (Süssekind, 1990, p. 22), nesse processo que faz da diferença algo a mais: um ícone de nacionalidade. Como matéria-prima da originalidade a natureza se convertia em paisagem, em modelo para idealização. A própria nação aparecia descrita como paisagem; uma paisagem só natural e exuberante, longe de uma sociedade que fazia questão de se vestir à européia e afastava a imagem da escravidão e da violência: falas mudas nesse cenário." SCHWARCZ, Lilia.[7]

Tendo sua primeira exposição em 1829, a Academia de Belas Artes teve turbulências em sua direção, até que, em 1845, o progresso das artes recebeu uma conquista decisiva: a instituição dos prêmios de viagem. A partir dessa época, as exposições e concursos de viagem passaram a ser mais comuns, permitindo ao ensino artístico no Brasil ser considerado organizado e avaliador fundamental para a competência e dedicação dos componentes da missão francesa e de seus discípulos brasileiros.[2]

Pinturas e Gêneros editar

 
CATETE E PRAIA DO FLAMENGO VISTOS DA GLÓRIA Data: 1840 - 1845 Dimensões físicas: w119 x h84 centimeters Procedência: Casa Geyer/Museu Imperial/Ibram/Minc Tipo: Óleo sobre tela

Os estudos na Academia Imperial de Belas Artes foram determinantes para os estilos artísticos praticados por August Müller durante sua vida. Com a vinda de membros da Missão Artística Francesa ao Brasil, recebeu-se também a influência direta da arte francesa do início do século XIX, a qual é baseada no estilo Napoleônico e neoclássico.[2] No Brasil, os franceses encontraram não apenas o estilo colonial, mas como também o Barroco português, fazendo nascer a reprodução artística na Academia de Belas de obras influenciadas por todos esses estilos.[2]

Praticou a pintura histórica (Jugurta no fosso de Túlia é sua obra mais conhecida no gênero, tendo-lhe valido a Ordem da Rosa quando exposta) e o retratismo , principalmente o da baronesa de Vassouras, o do Mestre de uma Samuca - encomendado pelo governo imperial - e o do arquiteto Grandjean de Montigny, o qual foi incluído na Exposição da História do Brasil, realizada em 1881 no Rio de Janeiro.[1]

Foi também um paisagista, destacando-se nesse último gênero as vistas do Rio de Janeiro que, entre 1835 e 1840, executou por encomenda do cônsul dos Estados Unidos da América, William Wright, na capital do Império, e que lhe garantem uma situação privilegiada entre os pioneiros da pintura paisagística no Brasil.[1] O paisagismo teve um grande papel durante o Segundo Reinado, exatamente por exaltar a imagem do país e ajudar na formação de identidade nacional, como diz Lilia Schwarcz[7]: "o paisagismo, em especial aquele que destaca a exuberância tropical ou cenas do cotidiano e, mais especialmente, da própria história nacional que, nesse momento, é também redefinida e sujeita a novo calendário."

Quando professor, Müller levava seus alunos ao ar livre para praticar o paisagismo, mas somente após exercícios de cópias de estampas e obras de paisagens europeias. A prática foi criticada por Manuel Araújo Porto Alegre, em uma carta direcionada ao professor, que criticava a demora para a ida ao ambiente natural e que o método utilizado poderia viciar os alunos a apenas reproduzirem cenas da Europa, enquanto as paisagens do Rio de Janeiro apresentavam mais cores e um ambiente completamente diferente.[8]

Müller também usa do artificio da fotografia, como vários de seus contemporâneos. Baseando-se em fotos, o pintor alemão podia usar uma imagem congelada para a produção de suas obras.[9]

Müller foi gracejado com medalha de ouro em 1834, 1840 e 1864 por causa de suas obras apresentadas nas Exposições Gerais de Belas Artes da Aiba.[1]

Principais obras editar

Como paisagismo era a técnica que ensinava na Academia de Belas Artes[1], Müller se destacava com as pinturas que fazia das paisagens do Rio de Janeiro[4], mas, além disso, o pintor alemão também se sobressaia como retratista, pintando figuras do cenário brasileiro da época sob encomenda do Império ou retratando personagens históricos de forma a ajudar na formação de identidade nacional através da arte.[7]

 
Pintura de Jugurta, imperador da Numídia preso pelos romanos.

Jugurta editar

Uma das principais pinturas de Müller é a obra Jugurta na Prisão, um retrato do imperador da Numídia Jugurta no que seria uma prisão romana, conhecida como Carcere Mamertino[10]. A prisão, também chamada de carcere Tulliano, é a prisão mais antiga de Roma e, considerada por alguns, a mais antiga do mundo.[10]

Localizada no Fórum Romano, o carcere Mamertino recebeu por mais de mil anos os maiores do povo e Estado de Roma, tais como o Pôncio, o rei dos gauleses Vercingetorix, São Pedro e os conspiradores de Catilina.[10]

Retratado na pintura de Müller, o imperador aprece despido de roupas com exceção de um pedaço de pano vermelho que lhe cobre as genitais. As cores escuras indicam o formato da prisão Mamertina, assim como a presença de mãos de uma pessoa ajoelhado no canto superior esquerdo da tela. Diz-se que, ao ser jogado na prisão, o rei da Numídia, teria gritado: "Como é legal esse seu banheiro, Romanos!"[10]

Os inimigos que ficavam aprisionados no carcere Mamertino eram mantidos ali até que os romanos decidissem ser a hora de sua execução ou, como no caso de Jugurta, permaneciam até sua morte.[10]

Mestre de Sumaca editar

Retrato de um mestre de Sumaca, Manuel Correia dos Santos foi encomendado pelo governo imperial para August Müller e apresentado na Primeira Exposição Geral de Belas Artes no Rio De Janeiro.[1]

 
Mestre de Sumaca, 1839.

Alberto Cipiniuk, em seu livro A Face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira[11] classifica a pintura:

"Embora o retrato de Manuel Correia dos Santos (Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro) seja uma obra pertencente ao 'pequeno gênero', o pintor valeu-se da sintaxe do 'grande gênero', ou o gênero histórico para realizá-lo. O gênero histórico era utilizado para a representação dos santos da igreja católica, personagens bíblicos do Antigo e Novo Testamentos, e virtuosas mitologias greco-romanas. Caso a hierarquia dos gêneros artísitcos fosse seguida de forma estrita, tal com exigiam as regras da Academia Imperial, um retrato de um mortal seminu, tal como o deste marinheiro, não poderia ser representado." CIPINIUK, Alberto. A face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira.[12]

No capítulo 1. O biografo e o seu assunto, o retratista e seu modelo, Alberto Cipiniuk [11] coloca em pauta o motivo que teria feito o império encomendar a pintura:

"um simples marujo", que "pôde ser tratado com os mesmos princípios de uma pintura do gênero história e ser destinado a uma exposição geral pública do nascente Império brasileiro? Por qual motivo o governo mandou August Müller tirar o retrato, como se dizia na época, de uma bangalafumenga, uma criatura seminua, para ser exibida assim de forma imprudente, sem ser um santo homem das sagradas escrituras, um deus grego ou um herói da mitologia coberto de honras por façanhas insuperáveis? Do ponto de vista artístico, já que se tratava da mais importante exposição artística do Império, não seria este retrato a representação pura e simples dos dotes concretos ou naturais de um modelo desprezível e que, por esta razão, deveria ser evitado para se alcançar a tão almejada perfeição artística? Não estaria o artista desconsiderando intencionalmente o decoro da composição necessário à grandeza do gênero histórico? Por qual motivo um simples retrato seguiria os preceitos gerais do grande gênero? Não estaria o pintor fazendo cair por terra o esteio da tradição artística?" CIPINIUK, Alberto. A face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira.[11]

Após ter apontado suas próprias indagações como elitistas[11], Cipiniuk justifica:

"O retrato foi e ainda pode ser entedido como o meio de representação que acata o princípio de fidelidade naturalística, através do qual certo indivíduos de determinados grupos se fazem figurar. Diferentes dos termos correlatos, como pintura e biografia, parece que o retrato faz parte de um emaranhado de vasos comunicantes, equivalente à forma como os indivíduos coletivamente se organizam para regular e estabelecer valores para uma sociedade. É necessário compreender o retrato não apenas individualmente como um gênero pictórico, mas derivando e pertencendo a todo um sistema de relações, tal como quando examinamos outras práticas sociais. Se tomarmos como exemplo o casamento, precisamos considerar sua correspondência com o status, o gênero ou a classe social dos nubentes, para entendermos por quais motivos pessoas se casam e como se casam. Com o retrato se dá o mesmo." CIPINIUK, Alberto. A face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira.[11]

 
Gradjean de Montigny, c. 1843, MN Belas Artes

Retrato da Baronesa de Vassouras editar

O Retrato da Baronesa de Vassouras exibe Eufrásia Teixeira Leite, uma herdeira e investidora financeira que investiu grande parte de sua fortuna a instituições assistenciais e educacionais da cidade de Vassouras. Sobrinha do barão de Vassouras, Eufrásia acabou por herdar o título, assim como a fortuna feita por seu pai e tio, que faziam as intermediações financeiras com os prósperos fazendeiros de café.[13]

Retrato de Gradjean de Montigny editar

 
Retrato de Luísa Francisca Panasco, 1843.

O retrato de Grandjean de Montigny feito por Müller é uma das obras mais famosas do pintor alemão. Grandjean, além de ter sido o responsável por trazer a arquitetura como um dos principais estudos na academia de Belas Artes no Brasil, foi o primeiro professor oficial de arquitetura do país. Membro da Missão Artística Francesa, o professor teve sua formação como artista na Escola de Belas Artes de Paris, sob a orientação de Delannoy, Percier e Fontaine.[14]

Grandjean desembarcou no Rio de Janeiro em março de 1816, juntamente com Jean Baptiste Debret, o escultor Auguste-Marie Taunaye o pintor Nicolas-Antoine Tunay.[2]

O retrato do arquiteto francês foi incluído na Exposição da História do Brasil, realizada em 1881 no Rio de Janeiro.[2]

Retrato de Luísa Francisca Grandjean editar

A esposa de Grandjean de Montigny é a mulher retratada em O Retrato de Luísa Francisca Panasco.[14]

Exposições editar

Como aluno e professor da Academia Imperial de Belas Artes, August Müller teve suas obras em diversas exposições da escola artística do país, assim como em exibições de outros institutos, museus e em exposições realizadas após sua morte[1]:

  • Exposição Pública dos Alunos da AIBA, 1831. Academia Imperial de Belas Artes. Rio de Janeiro, RJ - grande medalha em paisagem
  • Exposição Pública dos Alunos da AIBA, 1834. Academia Imperial de Belas Artes. Rio de Janeiro, RJ - medalha de ouro
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1840. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ - grande medalha de ouro
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1841. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1842. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ- condecorado com o Hábito da Rosa
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1843. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1845. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1846. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1847. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1848. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1852. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1859. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1864. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ - medalha de ouro
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1879. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Exposição Geral de Belas Artes, 1884. Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Retrospectiva da Pintura no Brasil, 1948. Museu Nacional de Belas Artes (MNBA). Rio de Janeiro, RJ.
  • Bienal Internacional de São Paulo, 1953. Pavilhão dos Estados. São Paulo, SP.
  • Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, 1984. Fundação Bienal. São Paulo, SP.
  • Pintores Alemães no Brasil durante o Século XIX, 1989. Museu da Casa Brasileira (MCB). São Paulo, SP.
  • Missão Artística Francesa e Pintores Viajantes: França - Brasil no século XIX, 1990. Fundação Casa França-Brasil. Rio de Janeiro, RJ.
  • Brasilien: entdeckung und selbstentdeckung, 1992. Kunsthaus Zürich. Zurique, Suiça.
  • O Brasil Redescoberto, 1999. Paço Imperial. Rio de Janeiro, RJ.
  • Brasil +500 Mostra do Redescobrimento, 2000. Fundação Bienal. São Paulo, SP.
  • A Paisagem Carioca, 2000. Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ.
  • Visões do Rio na Coleção Geyer, 2000. Centro Cultural Banco do Brasil. Rio de Janeiro, RJ.
  • Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, 2002. São Paulo, SP.
  • Missão Artística Francesa e as origens da coleção do Museu Nacional de Belas Artes, 2004. Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro, RJ.
  • Missão Artística Francesa Coleção Museu Nacional de Belas Artes, 2007. Pinacoteca do Estado de São Paulo. São Paulo, SP.

Referências

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  2. a b c d e f g h i j k Revista Eletrônica Avenida Nº 01. Maio 2016, do Museu Nacional de Belas Artes.
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  4. a b PEIXOTO, Maria Elizabete Santos. "Pintores alemães no Brasil durante o século XIX". 1989 - 2004.
  5. FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. 1983.
  6. REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. 1944.
  7. a b c d e f SCHWARCZ, Lilia. "A natureza como paisagem: imagem e representação no Segundo Reinado."
  8. CAVALCANTI, Ana Maria Tavares. "Pintura de paisagem, modernidade e o meio artístico carioca no final do século XIX Reflexões sobre Antônio Parreiras (1860-1937), Baptista da Costa (1865-1926) e Eliseu Visconti (1866-1944)"
  9. CHIARELLI, Tadeu. "História da arte / história da fotografia no Brasil - século XIX: algumas considerações."
  10. a b c d e Carcere Mamertino, da Wikipédia italiana.
  11. a b c d e CIPINIUK, Alberto. "A face pintada em pano de linho: moldura simbólica da identidade brasileira."
  12. REIS, Ronaldo Rosas. Educação e estética: ensaios críticos sobre arte e formação humana no pós-modernismo. São Paulo: Cortez, 2005.
  13. Eufrásia Teixeira Leite, na Wikipédia.
  14. a b Missão Artística Francesa: coleção Museu Nacional de Belas Artes

Ver também editar


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