Usuário:JMagalhães/Guerra Peninsular

Invasão napoleónica de Espanha

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A batalha de Tudela
 
Somosierra: a cavalaria polaca ataca artilheiros espanhois num passo de montanha.
 
A batalha de Somosierra.
 
Oficiais espanhois entregam Madrid a Napoleão.

Em consequência das tensões sociais e políticas provocadas pela rebelião, o tecido social espanhol entrou em declínio e os patriotas encontravam-se divididos em todas as questões. Com a queda da monarquia, o poder constitucional foi entregue às juntas locais, as quais interferiam com os assuntos militares, sabotavam as tentativas de formar um governo central em Madrid, e demonstravam ser tão perigosas umas para as outras como o próprio exército francês.[1] A junta de Sevilha chegou a declarar-se o supremo governo de Espanha e tentou anexar as juntas vizinhas pela força.[2][nota 1]

Passaram-se vários meses de inatividade na frente de combate. A revolução bloqueou a Espanha num momento em que uma ação decisiva poderia ter mudado o curso da guerra. Os franceses, que em junho dominavam Espanha, mantinham-se imobilizados em Navarra e na Catalunha. Por volta de outubro de 1808, as forças francesas em Espanha contavam com 75 000 soldados, contra 86 000 soldados espanhois[4] e 35 000 soldados britânicos em trânsito.[5] O exército britânico em Portugal encontrava-se também imobilizado devido a dificuldades logísticas e conflitos administrativos.[6]

Após a perda de Portugal e a rendição de um corpo francês na batalha de Bailén, Napoleão apercebeu-se do risco que corria em Espanha. A rendição de Bailén constitui um momento de viragem histórica. Foi a primeira vez, desde 1801, que uma força considerável francesa se rendeu em batalha. A notícia deste evento correu rapidamente por Espanha e por toda a Europa e representou um duro golpe na aura de invencibilidade do exército francês, inspirando movimentos de resistência à ocupação napoleónica. O próprio papa publica uma carta aberta de denúncia em relação a Napoleão e na Áustria começam-se a organizar esforços para desafiar o Império Francês.[7]

O exército francês em Espanha foi reforçado com 100 000 veteranos da Grande Armée, liderados pelo próprio Napoleão e pelos seus marechais.[8] No total, estavam mobilizados a norte do rio Ebro 278 670 soldados franceses, que enfrentavam cerca de 80 000 soldados espanhois, impreparados e mal organizados.[9] Em novembro de 1808, Napoleão encetou uma brilhante ofensiva com envolvimento duplo das linhas espanholas.[10]

O terreno montanhoso a norte da capital atrasou o avanço de Napoleão até que, em 30 de novembro, a vitória na batalha de Somosierra sobre a artilharia de Benito de San Juan permitiu às tropas francesas atravessar finalmente a serra de Guadarrama. Napoleão chegou às portas Madrid no dia 1 de dezembro e entrou na cidade triunfante no dia 4, tendo o trono sido restituído a José Bonaparte. San Juan retirou para oeste para Talavera, onde foi morto num motim. A Junta, que tinha sido forçada a abandonar a capital em novembro, exilou-se nos Alcázares de Sevilha entre 16 de dezembro de 1808 e 23 de janeiro de 1810.[nota 2][11]

A presença da marinha britânica nas costas de França e Espanha atrasou a entrada francesa no leste e sul de Espanha e esgotou os recursos militares na região. Em outubro de 1808, o exército de Napoleão na Catalunha foi reforçado com 17 000 homens, liderados por Laurent de Saint-Cyr, com o objetivo de apoiar Duhesme em Barcelona. Em 7 de novembro, Saint-Cyr iniciou um cerco à cidadela de Rosas. O lado anglo-espanhol, liderado por Thomas Cochrane resistiu durante um mês até à capituação em 5 de dezembro.[12] A vitória abriu aos franceses o caminho para sil, que contornou Girona até confrontar o exército espanhol na batalha de Cardadeu, nos arredores de Barcelona, em 16 de dezembro.[13] Cinco dias mais tarde, Saint-Cyr derrotou os espanhois liderados pelo Conde de Caldagues e Theodor von Reding, capturando 1200 homens na batalha de Molins de Rey.[14]

Campanha de Moore

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Morte de Sir John Moore em 17 de janeiro de 1809.
 
Ataque ao mosteiro de Santa Engrácia durante o Segundo Cerco de Saragoça em 1809

Em novembro de 1808, o exército britânico liderado por Moore avançava para Espanha com ordens para prestar assistência aos exércitos espanhois em combate contra as forças de Napoleão.[15] Moore recebia apelos desesperados do embaixador britânico e da Junta Central para apoiar a causa dos Patriotas. No entanto, as forças de Moore encontravam-se dispersas, pelo que a sua capacidade de ação era limitada. Embora o principal exército de Moore tivesse avaçado até Salamanca, em 28 de novembro nenhuma das suas tropas tiinha ainda passado Astorga em direção a norte, enquanto John Hope se encontrava ainda 70 km a este[16][17] com toda a cavalaria e artilharia de Moore.[18] Em 3 de dezembro, um destcamento de Hope juntou-se ao principal exército de Moore, dando-lhe conhecimento das sucessivas derrotas dos espanhois. Moore concluiu que para evitar uma tragédia teria que desistir e retirar para Portugal.[19]

No entanto, antes da retirada Moore recebeu informações secretas de que as forças de Soult estavam dispersas e isoladas em Carrión de los Condes e que os franceses desconheciam a posição do exército britânico.[20] Em 15 de dezembro, iniciou a marcha em direção aos franceses perto de Madrid com o objetivo de derrotar Soult. No dia 20, Moore junta forças com Baird, proveniente da Corunha, dispondo agora de uma força de infantaria com 23 500 homens, uma força de cavalaria com 2 400 homens[21] e 60 peças de artilharia.[22]{{Nota de rodapé: segundo Neale et al. 28.900 homens (2450 na cavalaria) e 50 peças de artilharia (Neale et al. 1828, p. 171)</ref> O ataque foi aberto com um raide bem sucedido da cavalaria de Henry Paget sobre os piquetes franceses na batalha de Sahagún em 21 de dezembro.[23] No entanto, apesar de Soult ser apanhado de surpresa, Moore não conseguiu concretizar a sua parte do ataque, tendo esperado dois dias durante os quais Soult consegiu concentrar as suas tropas.[24] Assim que foram emitidas as ordens para avançar, chegaram notícias dramáticas de que a sul as tropas francesas conseguiram atravessar em massa a serra de Guadarama em direção à planície de Castela a Velha. Ao mesmo tempo, Napoleão soube da presença do exército britânico e virou para norte para o confrontar.[25] No entanto, Moore encontrava-se de tal forma a norte que as forças provenientes de Madrid não teriam sido capazes de o confrontar. Moore estava consciente deste perigo e retirou para oeste mal soube do avanço de Napoleão, requisitando que fosse enviado transporte marítimo de Lisboa para a Corunha. Um ataque de Soult poderia ter atrasado Moore o suficiente para que as forças de Napoleão chegassem à sua retaguarda. No entanto, Soult esperou por reforços de Burgos e foi atrasado por chuva torrencial.[26] Embora La Romana tenha tentao cobrir a retirada de Moore, foi derrotado por Soult na batalha de Mansilla. A retirada de Moore foi marcada por numerosos atos de indisciplina em vários regimentos e ações de combate rebelde na retaguarda, o que permitiu a Paget capturar Lefebvre-Desnouettes na batalha de Benavente, com Napoleão a observar à distância.[27]

As tropas britânicas conseguiram escapar para o mar depois de terem resistido a um ataque francês na batalha da Corunha, na qual Moore foi morto. Cerca de 26 000 soldados conseguiram fugir para a Grã-Bretanha, tendo morrido 7000 ao longo de toda a expedição.[28] Com a morte de Moore, mais de um quinto do exército desaparecido e vários milhares de feridos e doentes, a intervenção britânica terminou em humilhação e tragédia. Embora o exército tenha salvo todas as peças de artilharia, perdeu grande prte da bagagem e foi forçada a abater praticamente todos os cavalos que conseguiram chegar à Corunha. Durante a evacuação, o exército perdeu ainda mais algumas centenas de homens em tempestades de inverno no golfo de Biscaia e no canal da Mancha. Os franceses ocupavam agora a região mais populosa de Espanha, incluindo as importantes cidades de Lugo e Corunh].[29] Para além das perdas materiais dos aliados, as relações anglo-espanholas sofreram bastante com estes eventos. Enganados por jornalistas que alegavam que o exército de Moore era muito maior do que na realidade e que descreviam Sahagun como uma vitória, os espanhois estavam em choque com a retirada britânica. Esta situação foi ainda agravada pelos relatos furiosos do marquês de La Romana e outros observadores, que acusavam Moore de traição e má-fé.[30]

Entretanto, Saragoça, já desfigurada pelos sucessivos bombardeamentos de Lefebvre-Desnouettes durante o verão de 1808, foi novamente cercada em 20 de dezembro. Apesar de Lannes e Moncey terem enviado dois corpos do exército com 45 000 homens e uma quantidade considerável de equipamento, os cidadãos-soldado espanhois foram capazes de aguentar a cidade ao longo de dois meses, o que deu à cidade aclamação nacional e internacional.[31] Os espanhois resistiram com determinação, enfrentando doenças e fome, incendiando as próprias casas e entrincheirando-se em conventos. Da guarnição de 44 000 soldados, sobreviveram apenas 8000, mas conseguiram impedir o exército francês de avançar para além das margens do rio Ebro.[28]

  1. Chandler 1995, p. 625.
  2. Esdaile 2003a, pp. 304–305.
  3. Chandler 1995, p. 621.
  4. Richardson 1920, p. 343.
  5. Oman 1902, pp. 647–648.
  6. Chandler 1995, p. 628.
  7. Chandler 1995, p. 617.
  8. Gates 2002, p. 487.
  9. Glover 2001, p. 55.
  10. Chandler 1995, p. 631.
  11. Martínez 1999.
  12. James 1826, pp. 131-132.
  13. Oman, Sir Charles William Chadwick (1908). A History of the Peninsular War: Sep. 1809 – Dec. 1810 II. Oxford: Clarendon Press. pp 58-60
  14. Smith, Digby (1998). The Napoleonic Wars Data Book. London: Greenhill. ISBN 1-85367-276-9. p. 273
  15. Oman 1902, p. 492.
  16. Esdaile 2003, p. 143.
  17. Haythornthwaite 2001, p. 27.
  18. Oman 1902, p. 598.
  19. Moore, John. Major General Sir J.F. Maurice, ed. The Diary of Sir John Moore. II. London: [s.n.] p. 358 
  20. Fremont-Barnes 2002, p. 35.
  21. Haythornthwaite 2001, p. 45.
  22. Hamilton, p. 385
  23. Gates 2002, p. 108.
  24. Chandler 1995, p. 648.
  25. Esdaile 2003, p. 146.
  26. Esdaile 2003, p. 150.
  27. Fletcher 1999, p. 97.
  28. a b Gates 2002, p. 114.
  29. Esdaile 2003, p. 155.
  30. Esdaile 2003, p. 156.
  31. Glover 2001, p. 89.


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