Vanguardas positivas e vanguardas negativas

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Vanguardas negativas são movimentos artísticos que pregam a separação entre Arte e Sociedade, ao contrário das chamadas vanguardas positivas, que se desenvolveram na mesma época, isto é, a partir do final do século XIX e ao longo do século XX, até suas manifestações mais tardias, nos anos 1960 e 1970.

"Essas vanguardas, de sinais contrários, compartilharam, todavia, o mesmo objetivo de estetização do real, ainda que assumindo estratégias diversas. As vanguardas positivas, com sua fé na máquina, visavam [...] disseminar a arte no cotidiano." Já as vanguardas negativas, apostavam na poética do embaralhamento, do "enguiçamento da máquina". [1]

Para as vanguardas positivas, "construtivas", a estetização da vida seria decorrente do acesso a mercadorias produzidas em massa; por meio do design, a vida cotidiana se transformava em arte. Já para as vanguardas negativas, "destrutivas", a estetização da vida resultaria da crítica à fetichização da mercadoria.[1]

Para Peter Wollen, as vanguardas positivas concebiam a si próprias e o seu trabalho como sendo totalmente compatíveis com o projeto moderno do Iluminismo e com a modernização. Paralelamente, as vanguardas negativas se empenhavam na dissolução da cultura burguesa - aí incluído o projeto positivo iluminista.[2]

Segundo Terry Eagleton, a vanguarda negativa tenta evitar a sua própria incorporação pela ordem dominante não produzindo objetos.
"Não há obras de arte, só gestos, happenings, manifestações, provocações. Não é possível integrar isso que se consome no mesmo instante da produção." [3]

No entanto, no seu percurso, ambas as vertentes podem ter sido vítimas de uma espécie de armadilha inerente aos respectivos projetos, o que parece ter, em alguma medida, produzido a inversão do resultado final esperado, em cada caso. Segundo a interpretação de Ruivo Pereira, a "vanguarda positiva" visa a salvação, mas acaba, no processo de construção do caminho para isso, presa na lama da realidade contraditória, enquanto a "vanguarda negativa" abraça essas contradições apenas para transformá-las em um novo caminho para a mesma salvação.[4]

O Futurismo, o Construtivismo e a escola da Bauhaus são exemplos de vanguardas históricas positivas, afirmativas, comprometidas com desenvolvimento das forças produtivas e os valores da sociedade industrial. Já o Surrealismo,[5]360-367 o Dadaísmo[5] 353-360[6] e, mais tarde, o Situacionismo são vanguardas negativas - movimentos de crítica ao compromisso da arte com o progresso técnico; no caso da Internacional Situacionista, crítica à sociedade espetacular-mercantil e à "arte instituição".[7]

Referências

  1. a b FABBRINI, R.N.. O Fim das Vanguardas: da modernidade à pós-modernidade. Seminário Música Ciência Tecnologia. ISSN: 1982-9604
  2. FRAMPTON, Kenneth. Some reflections on postmodernism and architecture, in JENKS, Chris. Urban Culture: Critical Concepts in Literary and Cultural Studies], Volume 4, Taylor & Francis, 2004, p.216
  3. EAGLETON, Terry. A ideologia da estética. Rio de Janeiro: Zahar,1993, p.268.
  4. RUIVO PEREIRA, Ricardo (2018). Architecture and Counter-revolution: The Ideology of the Historiography of the Soviet "Avant-garde". PhD thesis. Architectural Association Graduate School of Architecture The Open University].
  5. a b ARGAN, G.C., Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  6. Segundo Argan, embora adotasse práticas semelhantes às do Futurismo e de outras vanguardas artísticas do início do século XX, o Dadaísmo "é uma vanguarda negativa, por não pretender instaurar uma nova relação, e sim demonstrar a impossibilidade e a indesiderabilidade de qualquer relação entre arte e sociedade."
  7. CASALE, L.G.. Guy Debord e vanguardas: combate à sociedade do espetáculo. São Paulo: PUC-SP, 2012.

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