Abursã Artaxirufre
Abursã Artaxirufre (em grego clássico: Αβουρσαμ Αρταξιρουφρ; romaniz.: Abursam Artaxirouphr) ou Abursã Ardaxir-Far (em persa médio: ’pwrs’n ZY ’rthštrprry; em parta: ’pwrs’m ’rthštrpry) foi um oficial sassânida do século III, ativo sob o xá Artaxes I (r. 224–242). Ao que parece pelas inscrições e referências islâmicas posteriores, foi um dos mais elevados oficiais na corte e importante seguidor de Artaxes em suas guerras para derrubar a dinastia reinante do Império Parta. Alega-se que teve papel central no nascimento de Sapor I (r. 240–270), filho e sucessor de seu senhor.
Abursã Artaxirufre | |
---|---|
Baixo-relevo de Artaxes I recebendo o anel da realeza de Aúra-Masda em Naquexe e Rustã. A figura de a esquerda é entendida como sendo Abursã | |
Nacionalidade | Império Sassânida |
Etnia | Persa |
Religião | Zoroastrismo |

VidaEditar
As origens de Abursã são desconhecidas. De acordo com Tabari, foi um oficial de alto escalão do futuro xá Artaxes I que serviu como seu principal ministro (grão-framadar) e argapetes após a conquista de Estacar. Esta alegação, contudo, é atualmente refutada, pois outro indivíduo chamado Pabeco ocupou tal posição sobre Artaxes e Sapor I (r. 240–270). A ele foi atribuída a derrota do rei de Avaz, que foi enviado contra Artaxes pelo xá Artabano IV (r. 213–224).[1] No Feitos do Divino Sapor, aparece na 15.ª posição entre os trinta e um dignitários da corte e é registrado que utilizava o título de Artaxirufre / Ardaxir-Far.[2] Estudos recentes têm sugerido que ele deve ser a figura sem barba que aparece atrás de Artaxes em seus baixos-relevos em Naquexe e Rajabe, Firuzabade e Naquexe e Rustã. Abu Hanifa de Dinavar afirmou que, por sua lealdade ao xá, recebeu a honra de ser representado nos dracmas e carpetes. Sendo o caso, foi proposto que parte da cunhagem conhecida de Artaxes na qual há dois bustos se entreolhando, sendo que um deles é de um homem sem barba, seja parte das moedas aludidas por Dinavar. Anteriormente, a figura sem barba foi erroneamente identificada como sendo Sapor I. O fato de sempre ser registrado sem barba parece confirmar as alegações de fontes muçulmanas posteriores de que era um eunuco. Algumas destas fontes colocam que ele era mobede (sumo sacerdote).[3] Por fim, algumas fontes ainda citam a anedota pouco credível na qual Artaxes, Abursã e Sapor teriam decidido se converter ao cristianismo, mas decidiram se reconverter ao zoroastrismo pelo risco de revolta da aristocracia.[1][4]
Nascimento de SaporEditar
Dinavar e Tabari afirmaram que Abursã foi responsável por salvar a vida de Sapor. Segundo relataram, recebeu ordens de executar a mãe do futuro xá por ela pertencer à dinastia arsácida que fora derrubada. A dama lhe contou que estava grávida de Artaxes, com quem teve intercurso sexual, e Abursã (ali chamado Harjande ibne Sã) confirmou a veracidade da alegação com as parteiras.[5] A levou a uma cela subterrânea e então cortou sua própria genitália, colocou numa caixa e selou. Retornou ao rei e ele lhe perguntou, "O que você fez?" e Harjande respondeu: "Eu a consignei para as entranhas da terra" e entregou a Artaxes a caixa, pedindo que selasse com o seu selo pessoal e colocasse em seus tesouros; Artaxes assim o fez. Ela ficou com Harjande até dar a luz a seu filho. Ele não queria dar um nome inferior à sua posição, nem contar sobre suas origens até que fosse uma criança crescida e tivesse concluído sua educação e adquirido boas maneiras (adabe). Determinou as conjunções astrais no momento do nascimento e montou para ele seu horóscopo; ao fazê-lo descobriu que a criança seria rei, então decidiu lhe dar um nome que seria uma descrição e também um nome pessoal. Assim, chamou-o Sapor, que significa "filho do rei" (ibne Maleque). Segundo outros autores o futuro xá também foi batizado como Axabur ("filho de Ársaces"), em referência a linhagem de sua mãe.[6] Tabari diz que por vários anos Artaxes não teve filhos e estava desesperado com a possibilidade de não ter descendentes. Harjande então teria se aproximado do rei e após breve conversa, pediu que Artaxes trouxesse a caixa que anos antes pediu que guardasse. Artaxes o fez e então a abriu. Dentro dela, além das genitálias cortadas, havia um documento no qual o homem explicava tudo o que fez.[7]
Referências
- ↑ a b Yarshater 1982, p. 67-68.
- ↑ Weber 2019.
- ↑ Shavarebi 2017, p. 627-628.
- ↑ Shavarebi 2017, p. 628.
- ↑ Tabari 1999, p. 23-24.
- ↑ Tabari 1999, p. 24-25.
- ↑ Tabari 1999, p. 25-26.
BibliografiaEditar
- Shavarebi, E. (2017). The so-called ‘Thronfolgerprägungen’ of Ardashīr I reconsidered XV International Numismatic Congress Taormina 2015 Proceedings Volume I. Roma e Messina: Conselho Internacional de Numismática e Comitê Organizador do XV Congresso Internacional de Numismática
- Tabari (1999). Bosworth, C.E., ed. The History of al-Tabari Vol. V - The Sasanids, The Byzantines, the Lakhmids and Yemen. Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque
- Weber, Ursula (2019). «Abursām ‚Ardašīr-Farr'* [ŠKZ III 15]» (PDF). Prosopographie des Sāsānidenreiches im 3. Jahrhundert n.Chr.
- Yarshater, E. (1982). «Abarsām». Enciclopédia Irânica Vol. I, Fasc. 1. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia