Adolf Brand (Berlim, 14 de novembro de 1874 – Berlim, 2 de fevereiro de 1945) foi um escritor alemão, anarquista egoísta e activista pioneiro da aceitação da homossexualidade e bissexualidade masculina.

Adolf Brand
Adolf Brand
Adolf Brand, ca. 1930
Nascimento 14 de novembro de 1874
Berlim
Morte 2 de fevereiro de 1945 (70 anos)
Berlim
Sepultamento Berlim
Cidadania Alemanha
Ocupação jornalista, editor, escritor, ativista LGBTQIAPN+, fotógrafo
Primeira edição do "Der Eigene", um dos primeiros periódicos homossexuais, publicado por Adolf Brand em (1896)

Biografia editar

Nascido em Berlim em 14 de Novembro de 1874, Brand foi durante algum tempo professor, antes de se fundar uma editora que publicou o jornal homossexual alemão Der Eigene em 1896, a primeira publicação regular homossexual no mundo,[1] que se manteve até 1931. O nome do jornal foi inspirado nos escritos do filósofo do ego, Max Stirner, que havia influenciado fortemente o jovem Brand, e refere-se ao conceito de Stirner de "soberania individual". Der Eigene baseava-se em materiais culturais e acadêmicos, e deve ter tido cerca de 1500 subscritores por edição ao longo da sua existência, embora os números exatos não sejam conhecidos. Entre os contribuidores para o jornal contam-se Erich Mühsam, Kurt Hiller, John Henry Mackay (com o pseudónimo Sagitta) e os artistas Wilhelm von Gloeden, Fidus e Sascha Schneider. Brand contribuiu com vários poemas e artigos.

Em 1899/1900 Brand publicou uma antologia influente de literatura homoerótica, Lieblingminne und Freundesliebe in der Weltliteratur, editada por Elisar von Kupffer, que foi reimpressa em 1995.

Em 1899 Brand foi condenado a um ano de prisão por ter atacado um membro do parlamento com um chicote de cão.

Brand envolveu-se com o Wissenschaftlich-humanitäres Komitee ("Comité Científico-Humanitário") de Magnus Hirschfeld, a primeira organização pública de direitos dos homossexuais), até que se deu uma cisão em 1903; nesse ano Brand liderou a organização da Gemeinschaft der Eigenen (GdE) com os cientistas Benedict Friedlaender e Wilhelm Jansen. Para este grupo o amor homem-homem era visto como um simples aspecto da panóplia de opções viris disponíveis para todos os homens; rejeitavam as teorias médicas, como as de Hirschfeld, que defendiam que um gay era um certo tipo de pessoa, o sexo intermédio. O GdE era uma espécia de movimento de escuteiros que ecoava as doutrinas guerreiras de Esparta, os ideais de pederastia da Grécia Antiga e as ideias sobre o eros pedagógico de Gustav Wyneken. O GdE envolveu-se fortemente em campismo e montanhismo, praticando ocasionalmente nudismo, este último como parte da Nacktkultur ("cultura da natureza") que varria a Alemanha, e que nos anos 1920s acabaria por se desenvolver na Freikörperkultur ("cultura da liberdade do corpo") de Adolf Koch.

O GdE era um grupo semelhante a vários outros dessa época na Alemanha, tais como o Wandervogel. Wilhelm Jansen, o co-fundador do Gemeinschaft der Eigenen, era também um dos principais patrocinadores financeiros do Wandervogel, que também liderava.[2]

Os escritos e teorias do anarquista romântico John Henry Mackay (1864-1933) tiveram significativa influência no GdE a partir de 1906.[3] Mackay tinha vivido em Berlim durante uma década e tinha feito amizade com Friedlaender, que não partilhava as inclinações anarquistas de Brand e Mackay, adoptando, em vez disso, as teorias sobre direitos naturais e a reforma agrária, então em discussão na Alemanha.

Brand foi preso várias vezes por suas ações. Mesmo no tribunal, ele se identificou inequivocamente como bissexual.[4]

Outing e difamação editar

 
Gravura de Adolf Brand no vol. 7 de Der Eigene (1924)
 Mais detalhes em : Escândalo de Harden-Eulenburg

Brand era proponente do outing ("tirar do armário") de homossexuais famosos, muito tempo antes da expressão ser cunhada; quando em 1907 ele publicou que o Chanceler da Alemanha, o Príncipe Bernhard von Bülow (1849-1929) tinha uma ligação homossexual com o Conselheiro Max Scheefer, foi processado por difamação e condenado a dezoito meses na prisão. Justificando mais tarde a sua decisão de denúncia, Brand declarou: "Quando alguém (...) prefere perseguir os contactos mais íntimos dos outros (...) nesse momento os seus próprios romances deixam de ser assuntos privados."

Brand foi também condenado a dois meses de prisão ao abrigo do Parágrafo 175 do Código Penal Alemão, alegadamente por permitir que "escrita lasciva" fosse publicada no Der Eigene. Durante a Primeira Guerra Mundial, Brand e o GdE congelaram as suas actividades; Brand foi mobilizado para o exército alemão durante dois anos e casou com uma enfermeira, Elise Behrendt. Depois da guerra a aplicação do Parágrafo 175 foi sendo reduzida lentamente.

O GdE e outros grupos ativistas uniram-se para formar um Comitê de Ação com o grupo de Magnus Hirschfeld, para proporem a formulação de uma nova lei que substituísse o Parágrafo 175. Em 1925 novos grupos se juntaram e formou-se o mais abrangente "Cartel para a Reforma da Lei sobre Ofensas Sexuais". As suas propostas de lei, enviadas ao Parlamento, nunca foram votadas e, em 1929, com o crescente poder dos Nazis, perdeu-se a oportunidade de reformar a lei.

Adolf Brand abandonou o ativismo homossexual em inícios da década de 1930, após perseguições sistemáticas pelos nazis, que silenciaram Der Eigene destruíram o emprego da sua mulher e o deixaram na ruína financeira. Depois do incêndio dos livros e da ocupação do Institut für Sexualwissenschaft, Brand finalmente enviou uma carta aos seus seguidores, anunciando formalmente o fim da organização. Ele e a sua mulher foram mortos por uma bomba dos Aliados em 2 de Fevereiro de 1945.

Referências

  1. Karl Heinrich Ulrichs tinha lançado um jornal, chamado Prometheus, em 1870, mas apenas um número foi publicado. (Kennedy, Hubert, Karl Heinrich Ulrichs: First Theorist of Homosexuality, In: 'Science and Homosexualities', ed. Vernon Rosario (pp. 26–45). New York: Routledge, 1997.
  2. Mills, Richard.1980. A Man of Youth: Wilhelm Jansen and the German Wandervogel Movement. In: 'Gay Sunshine', 44/45
  3. Kennedy, Hubert. 2002. Anarchist of Love, 2nd Ed.
  4. Oosterhuis, H.; Kennedy, H. (1 de janeiro de 1992). Homosexuality and Male Bonding in Pre-Nazi Germany: The Youth Movement, the Gay Movement and Male Bonding Before Hitler's Rise: Original Transcripts From Der Eigene, the First Gay Journal in the World. London and New York: The Haworth Press/Harrington Park Press 

Bibliografia editar

  • James D. Steakley. The Early Homosexual Emancipation Movement in Germany. (1975).
  • John Lauritsen and David Thorstad. The Early Homosexual Rights Movement, 1864-1935. (segunda edição revista)
  • Günter Grau (ed.). Hidden Holocaust? Gay and lesbian persecution in Germany 1933-45. (1995).
  • Mark Blasius & Shane Phelan. (Eds.) We Are Everywhere: A Historical Source Book of Gay and Lesbian Politics (ver capítulo: The Emergence of a Gay and Lesbian Political Culture in Germany).
  • Harry Oosterhuis. (Ed.) Homosexuality and Male Bonding in Pre-Nazi Germany: The Youth Movement, the Gay Movement, and Male Bonding Before Hitler’s Rise: Original Transcripts from Der Eigene, the First Gay Journal in the World. (1991).

Ligações externas editar

 
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